A tentação, de uma ou de outra forma, aparece na experiência comum de quase todas as pessoas. Está de contínuo batendo à porta da consciência para, de alguma maneira, conseguir entrar e alojar-se. Porém, ainda que nem sempre tenhamos a capacidade de impedir que bata à nossa porta, nunca poderá entrar a não ser que nós mesmos puxemos o ferrolho.
Por muito grande ou muito insignificante que seja uma tentação, a defesa está sempre ao nosso dispor se estivermos alerta e em guarda e se usarmos as verdades espirituais que Mary Baker Eddy ensinou com tanto clareza. Não estamos à mercê de sugestões más, que argumentam tanto em favor do bem quanto do mal. O mal não é poder, pois Deus é o único poder, e o homem é sempre governado por Deus, a Mente única, a fonte divina do seu ser. Estamos divinamente equipados pela oração para utilizar essas verdades, para enfrentar e dominar a crença no mal e provar que o bem está sempre presente.
Quanto razão tinha o Mestre, Cristo Jesus, ao dizer aos seus discípulos: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.” Mateus 26:41; As Escrituras estão cheias de exemplos de tentações vencidas e de inspiração conseguida por aqueles que ficaram firmemete em guarda e encontraram o poder de Deus. Salienta-se o relato no Evangelho de S. Mateus, onde está dito que Jesus tinha estado jejuando no deserto durante quarente dias e quarenta noites, quando veio o diabo e o tentou. V. Mateus 4:1–11;
O significado comum da palavra jejuar — abster-se de comida — dificilmente terá sido a única coisa que Jesus experimentou durante esse período. Ele deve ter atendido à imperiosa exigência espiritual de silenciar os sentidos materiais, de se abster, de jejuar, de não admitir as pretensões do erro, daquilo que não é verdadeiro. Era uma ocasião em que podia achegar-se a Deus e reunir forças para enfrentar os problemas que lhe estavam à frente.
A definição de Mrs. Eddy para a palavra “deserto” no Glossário de Ciência e Saúde diz em parte: “o vestíbulo onde o sentido material das coisas desaparece, e onde o sentido espiritual revela as grandes verdades da existência”. Ciência e Saúde, p. 597; Nessa mesma ordem de idéias podemos concluir que o período em que Jesus jejuou, purificou-lhe de tal maneira os pensamentos — o sentido material das coisas havia se desvanecido tão completamente de sua consciência — que o sentido espiritual estava em pleno domínio, consubstanciando seu parentesco com Deus. É de admirar, então, que tenha voltado do deserto triunfalmente vitorioso? A narrativa diz: ”Com isto o deixou o diabo, e eis que vieram anjos, e o serviam.” Mateus 4:11;
Nessa experiência vemos que o diabo, o mal, estava tentando induzir Jesus a se separar de Deus e a agir independentemente de Deus. As primeiras duas tentações desafiaram Jesus a provar que ele de fato era o Filho de Deus, e a terceira foi um engodo sutil para que ele se desfizesse dessa filiação e aceitasse o oferecimento do diabo de governar o mundo — sob a aparência do bem, mas de fato sob o ditame do mal.
Jesus derrotou as três tentações ao assumir uma atitude radical e positiva de basear sua defesa inteiramente nas Escrituras. Ele não confiou no raciocínio humano, não proferiu palavra alguma de si mesmo, mas citou as Escrituras com ênfase e convicção. Então o diabo teve de deixá-lo, pois não encontrou no pensamento de Jeusu nada com que pudesse agir.
Se o diabo tivesse sido capaz de induzir Jeusu a falar — se Jesus tivesse ao menos tentado provar ao diabo que o mal não tinha poser — o diabo poderia ter conseguido um ponto de apoio, um meio pelo qual continuaria a tentá-lo. Mas como Jesus não proferiu palavra alguma de si mesmo, mas citou as Escrituras com convicção absoluta, ficou provado que o mal não tinha poder.
Como foi diferente o resultado das três tentações que vieram a Eva no Jardim do Éden e que estão descritas no Génesis! V. Gênesis 3:1–6; A serpente, símbolo do tentador, começou por objetar a validade daquilo que Deus havia dito, e imediatamente Eva quis corrigir isso, alongando-se numa conversa que terminou desastrosamente para ela. A serpente continuou assegurando-lhe que ela não haveria de morrer na certa, e por isso não havia necessidade de obedecer à advertência divina. Enquanto Eva ouvia, convenceu-se de que a advertência de Deus estava impedindo a ela e a Adão de conseguir alguma coisa boa — de conseguir sabedoria. E assim cedeu, comeu do fruto proibido e repartiu-o com Adão.
Com que calreza esse trecho das Escrituras põe em destaque o fato de que a tentação só pode ter êxito se o consentirmos, isto é, se houver algo dentro de nossa própria natureza que responda ou corresponda às sugestões do mal! A Ciência Cristã dá ênfase ao fato de que o mal não faz parte do nosso verdadeiro ser. Uma vez que Deus é o único criador e o homem reflete tudo quanto Deus concede, o verdadeiro ser do homem é espiritual e não suscetível de acolher o mal. Portanto, a tentação pode ser refutada, podemos resistir-lhe, e podemos reduzi-la a nada quando reconhecemos nosso verdadeiro ser em Deus, o bem, e rompemos a conexão com o mal por nos recusarmos a tratar com ele.
Eva perdeu porque argumentou — entrou em conversação com a serpente como se essa fosse uma entidade real que pudesse raciocinar ou com a qual se pudesse discutir. Eva foi mal sucedida quando deixou de reconhecer que o mal nada é, que é mera pretensão. Olhou para a árvore proibida, conversou sobre a proibição que lhe dizia respeito, estava disposta a argumentar com o tentador. Assim, não levou tempo para que essa serpente de fala melíflua a convencesse de que Deus estivera privando-a de seu direito. Respondeu à tentação, sucumbiu a ela, e deixou que esta a separasse de Deus, o bem.
Alguns comentaristas da Bíblia notaram que as três tentações que se apresentaram a Eva e mais tarde a Jesus foram resumidas por João, o discípulo amado, nas palavras “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida”. 1 João 2:16; João exorta as pessoas com quem lidava, nas palavras: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo.” E continua dizendo: “Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele.” v. 15;
E que fazer se parece que o erro está constantemente tentando aos que com sinceridade procuram a Verdade, para que desistam, para que desçam do monte da revelação? No mal não há poder algum que possa obrigar-nos a responder, a ceder — ele apenas sugera que o façamos. Sem o nosso consentimento, o mal não pode fazer absolutamente nada. Cada um é responsável por si mesmo. Acatar a repetida advertência de Mrs. Eddy para que nos conheçamos a nós mesmos — e assim ficarmos habilitados a discernir no que consiste a nossa maior tentação e como destruí-la — é estarmos em guarda, alerta, firmes na nossa lealdade para com Deus, o bem. Isso traz proteção integral.
O erro está em brincar com a tentação, divertindo-nos aparentemente com a experiência, confiando tolamente em podermos voltar atrás num momento. Se brincarmos assim, não teremos calculado a sutileza do diabo, que deseja empurrar-nos além do nosso poder de resistência, para um ponto de onde não mais poderemos voltar. Como são, portanto, revigorantes palavras tais como estas, de Mrs. Eddy: “Aquele que proferiu o nome de Cristo, que aceitou virtualmente as exigências divinas da Verdade e do Amor na Ciência divina, aparta-se diariamente do mal; e todos os empenhos maldosos de supostos demônios nunca poderão mudar a carreira de tal vida, que flui ininterruptamente rumo a Deus, sua fonte divina.” Miscellaneous Writings, p. 10;
De tudo isso constatamos que não é pecado ser tentado, mas que ceder à tentação, ou brincar com ela, é. A libertação vem quando fechamos e trancamos a porta de nosso pensamento logo que a primeira sugestão do mal se apresenta. A experiência de Jesus consistiu em enfrentar e dominar a tentação sob todos os aspectos, mas ele não cedia porque a porta dos seus pensamentos estava sempre fechada e trancada contra a entrada do mal. Ele era categórico ao enfrentar e dominar o mal, com pensamento e ação estimulados por Deus.
Nós somos testados pela tentação, e tornamo-nos mais fortes à medida que silenciamos todo e qualquer apelo do mal. É assim que provamos a nós mesmos que nossa firmeza é inquebrantável, assim como Jesus comprovou sua firmeza quando se recusou a conversar com o diabo, mas confiou nas Escrituras. Mrs. Eddy lembra-nos: “O Amor não tem pressa de nos livrar da tentação, pois o Amor pretende que sejamos provados e purificados." Ciência e Saúde, p. 22; Nisto está a bênção — de andarmos sempre com o Amor e sairmos fortalecidos e purificados.
Quando passamos por graves provações, poderá vir a tentação de entrar num acordo, de escapar furtivamente da maneira mais fácil e despercebida. Mas há uma purificação e um fortalecimento moral aguardando todo soldado de Cristo. Todo desafio tem de ser enfrentado, todo combate tem de ser terminado, e não deixado pela metade, senão talvez nos encontremos a perguntar-nos por que a mesma tentação volta sempre outra vez. Como é reconfortante descobrir que Deus está sempre do nosso lado, sempre à mão para nos sustentar. Ele ampara nosso empenho de vencer toda tentação. Nunca estamos trabalhando sozinhos. Sabendo disso, podemos afirmar com confiança e alegria o nosso domínio e provar que sempre podemos estar em guarda. Tiago prometeu: "Bem-aventurado o homem que suporta com perseverança a provação; porque, depois de ter sido provado, receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam.” Tiago 1:12.
