Aqueles que julgam algumas pessoas do seu convívio não inteiramente aceitáveis como seres humanos seus iguais devido à nacionalidade, raça, cor, classe, ocupação, religião ou qualquer outra classificação, defrontam-se com um problema!
Muitos aceitam a narrativa da criação como consta do primeiro capítulo do Gênesis: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança... Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou.” Gênesis 1:26, 27;
Depois de aceitarem, porém, essa narrativa da criação do homem espiritual, logo voltam seus pensamentos para a evidência material que apresenta a humanidade como sendo desigual, e admitem isso como um fato generalizado. Tentam reconciliar tal contradição dizendo que a criação espiritual é um ideal, ou algo a ser alcançado numa data futura e num lugar distante chamado céu.
Não obstante, lemos mais adiante no Gênesis: “Assim, pois, foram acabados os céus e a terra, e todo o seu exército.” 2:1; Não fomos deixados à espera de uma criação num mundo futuro, no qual todos os homens serão feitos iguais, à imagem de Deus. A fim de podermos apreciar a criação infinita, temos de reconhecer esse fato agora e corrigir nossos conceitos errados de que o homem seja material. A sr.a Eddy escreve em Ciência e Saúde: “Os mortais jamais poderão conhecer o infinito, enquanto não se despojarem do velho homem e alcançarem a imagem e a semelhança espirituais.” Ciência e Saúde, p. 519;
Em outra, parte, no mesmo livro, a sr.a Eddy escreve: “A identidade é o reflexo do Espírito, o reflexo em variadíssimas formas do Princípio vivente, o Amor.” ibid., p. 477;
Será que alguém pode justificar a incapacidade de aceitar outro ser humano, baseando-se somente nas diferenças superficiais de raça, cultura e classe social? “Ora,” talvez alguém proteste, “a questão tem um significado bem mais profundo. A raça de uma pessoa, sua nacionalidade e assim por diante, a identificam com certas características que não me agradam”. Talvez essa pessoa esteja lembrando-se de algum incidente desagradável que certa vez a atingiu, envolvendo alguém de raça diferente ou de nível social diverso. Se um gatinho preto ou branco arranhar tal pessoa, será que depois disso ela sempre evitará todos os gatinhos brancos, ou os pretos? É preciso considerar os seres humanos também como indivíduos. Limitamos a alegria da experiência humana por não estarmos dispostos a reconhecer o bem em outras pessoas que parecem diferentes de nós.
Cristo Jesus não tomava em consideração os preconceitos sociais, culturais, educacionais e nacionais do seu tempo. Entre os discípulos havia vários pescadores e um cobrador de impostos. Ele curou a filha de uma mulher cananéia e o servo de um centurião romano.
Acaso todos nós não nos perguntamos de vez em quando por que a humanidade se dividiu em tipos tão diferentes e por que algumas raças foram dominadas por outras? Essa luta pela dominação parece ser tão velha quanto o homem mortal. Em tempos antigos essa luta foi muitas vezes fisicamente cruel e humilhante, mas à medida que o tempo passava, a dominação e a humilhação assumiram formas mais sutis. Pelo fato de negar a certas raças e classes o direito a oportunidades iguais de instrução e de trabalho, outros privaram-nas de um padrão de vida equitativo, gerando desse modo as contendas de raça e de classe que há hoje em dia. Mas tal conflito é inteiramente sem fundamento no âmbito da lei de Deus, a qual é amor imparcial para todos.
Muitos gostariam de eliminar as injustiças ainda evidentes no mundo de hoje, mas são impedidos pelo orgulho nacional. Alguns ainda tentam justificar as ações dos seus ascendentes menos esclarecidos. Essa justificação, de um lado, encobre um sentimento de culpa; de outro, um de vergonha. Culpa, do lado daquelas raças cuja conquista de outros ainda repercute hoje em dia. Vergonha, por sua vez, entre aqueles que talvez sintam que seus ascendentes foram demasiado fracos ou insuficientemente atilados para evitar fossem subjugados.
Um lado insiste em que as ações dos seus ascendentes se originaram em elevados ideais cristãos. Isso, alegam, torna-os superiores àqueles a quem levaram os benefícios da instrução, do governo democrático e do cristianismo. O outro lado reluta em reconhecer que qualquer benefício tenha advindo de seus conquistadores, acreditando que só foram explorados e reduzidos a cidadãos de segunda classe, em alguns casos até mesmo na sua terra natal. A verdade, como acontece tantas vezes, está mais ou menos no meio termo. Se cada lado quisesse reconhecer esse fato, ter-se-ia dado um grande passo no sentido de curar as conseqüências perniciosas do passado, e o mundo seria um lugar mais feliz para todos.
O leitor talvez se pergunte em que experiência baseio este artigo. Este artigo baseia-se na experiência de toda a minha vida, não sobre um ou dois incidentes ocorridos aqui e ali. Não pertenço a nenhum dos lados em que se manifesta a “confrontação entre o preto e o branco”. Sou de tez escura, etnicamente, não uma mistura de preto e de branco. Com uma ascendência oriental, nasci num território colonial multi-racial do ocidente. Houve ocasiões em que pertenci à raça “superior”, e outras, à “inferior”, conforme o grupo de pessoas com que me acontecia estar em dado momento.
Tinha porém uma vantagem sobre muitos dos meus conterrâneos. Como freqüentei, em criança, uma Escola Dominical da Ciência Cristã, ensinaram-me a verdade acerca de Deus e do homem à qual me referi no início deste artigo. Sabendo que sou filha espiritual de Deus, o Amor divino, não tinha de carregar o fardo pesado do ressentimento quando outro indivíduo não reconhecia minha verdadeira identidade. Eu podia compreender que isso acontecia porque a pessoa também não conhecia sua própria identidade verdadeira como filha de Deus.
Qual é então a resposta? Ela está em nos voltarmos à verdadeira narrativa da criação, no primeiro capítulo do Gênesis. Está em compreendermos a falsidade da história da raça de Adão e em perguntarmo-nos: “Quem é meu verdadeiro ancestral? Quem é o verdadeiro ancestral da outra pessoa?”
A resposta está em dizermos, nas palavras da Bíblia: “Não temos nós todos o mesmo Pai? Não nos criou o mesmo Deus?” Malaq. 2:10.
Se a confiança na ascendência espiritual, nossa e do outro, tiver a primazia sobre o orgulho que temos da nossa ascendência humana (nacional ou racial), seremos bem sucedidos na cura de conflitos raciais. Isso não significa perder nossa identidade, porém adquirir um apreço maior pela identidade verdadeira de todas as pessoas. Não é preciso refazer o próximo à nossa imagem e semelhança a fim de aceitá-lo como igual. Nós já somos iguais! Seremos capazes de aceitar isso e de prová-lo?
 
    
