Nosso Pai celestial, o Amor divino, rega de bênçãos toda a Sua preciosa criação, desde a mais ínfima manifestação da Verdade ou da Vida, até a imagem e semelhança completa do Seu ser, Seus filhos e filhas espirituais — você e eu. Todos nós temos grande desejo de receber essa bênção, ansiamos por vivê-la, oramos e trabalhamos para obtê-la! Contudo, às vezes não recebemos o que pedimos, pelo menos não tão plenamente como quiséramos. Por quê?
Talvez, porque não focalizamos bem as nossas orações. Talvez porque, parafraseando o que diz o Apóstolo Tiago, não pedimos bem. Ver Tiago 4:3. Ora, aqueles a quem Tiago se referiu, ao dizer que não pediam bem, eram aberta e profundamente egoístas, tão concentrados em suas próprias ambições que virtualmente fechavam a porta às bênçãos pelas quais audivelmente pediam. Em contraste com isso, a maioria de nós aprendeu algo sobre o altruísmo, sobre o que é sentir genuíno afeto pelos que nos rodeiam, e sobre expressar esse afeto. Mesmo assim, haverá ocasiões em que não rogamos a Deus que abençoe os outros com o mesmo entusiasmo com que rogamos a Deus que nos abençoe a nós! Ao estreitar o alcance de nosso pedido, naturalmente restringimos a bênção que nos vem em resposta. Aliás, essa maneira unilateral de orar, ainda que inconsciente, afeta a nossa própria salvação.
Por quê? Porque orar para receber bênçãos e não incluir nessa oração o nosso próximo é algo que não está à altura daquele ideal crístico ao qual todos nós realmente aspiramos, na qualidade de seguidores do Mestre, Cristo Jesus. Essa maneira de orar carece do afeto envolvente que caracteriza a filiação divina tal como foi ensinada e vivida por Jesus, a natureza genuinamente divina que ele manifestava, esse extravasar imparcial, universal, de ternura, característico do próprio Deus, nosso terno Pai-Mãe.
Retrocedamos, no entanto, um pouco. Paulo nos incita: “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade.” Filip. 2:12, 13. Paulo se refere a vossa salvação, somente. Portanto, a salvação é individual.
Contudo não podemos desenvolvê-la sem estar a serviço dos demais. Diz a Sra. Eddy, acertadamente: “A condição inevitável para ser abençoados é a de abençoar os outros ....” Miscellaneous Writings, p. 127. Para que alcancemos completamente o nosso próprio bem, necessariamente teremos de buscar igualmente o bem de nosso próximo.
Nossa salvação exige que tanto nos acerquemos da fonte celestial de nosso ser, que Sua terna natureza se torne a nossa, como na realidade já é a nossa natureza. Então, amamos a todos, porque Deus nos ama a todos.
Evidentemente isso não pode significar abençoar somente aqueles que estão perto de nós. Significa incluir nessa bênção a todos, desde o nosso superior no escritório ou o nosso colega de trabalho ou de escola, até o estranho que se senta ao nosso lado no ônibus ou no avião, ou os olhos ansiosos das fotos na primeira página do jornal de hoje.
Esse desvelo tão simples e diário era claramente o padrão cristão estabelecido por Jesus. E era algo mais para ele do que simplesmente fazer a coisa boa e certa. Era a “condição inevitável” para sair-se da materialidade, para alcançar-se a bênção da salvação completa. Jesus consolava inúmeros sofredores. Elevava, salvava e curava as multidões. Numa palavra, abençoava todos aqueles com quem entrava em contato. Seus pensamentos ternos e firmes, envolventes e espontâneos, refletiam sua compreensão espiritual da verdade de sua relação inseparável com seu Pai-Mãe celestial.
Como Filho de Deus, Jesus expressava a idéia-Cristo, e é característica da própria natureza do Cristo procurar, envolver, salvar e abençoar. Abençoar outros, então, não se fazia luta para Jesus. Era-lhe natural, lógico, realmente inevitável. É da natureza do sol brilhar, irradiar calor para a terra, fazer com que as coisas floresçam e cresçam. Da mesma maneira, é da natureza do Cristo irradiar afeição vivificante, misericórdia, perdão, ir ao encalço dos corações de todos dentro de seu reino de pensamento — todos. Escreve a Sra. Eddy: “Na relação científica entre Deus e o homem, descobrimos que tudo o que abençoa um, abençoa todos, como Jesus o mostrou com os pães e os peixes — sendo o Espírito, não a matéria, a fonte do suprimento.” Ciência e Saúde, p. 206.
É sempre Deus quem abençoa. Mas ao afirmar, em oração, que todos nos relacionamos diretamente com Deus como Seus filhos e filhas igualmente amados, ajudamos a humanidade a despertar e reconhecer a abundância da bondade divina que já lhe pertence. E ao elevarmo-nos na compreensão dessas verdades essenciais, descobriremos que Deus nos incumbe de pequenas e ternas obrigações em favor daqueles que nos rodeiam, tarefas que nos abençoam tão ricamente como àqueles a quem ajudamos. Isso se resume em encontrarmos o nosso bem e o bem de nosso próximo, juntos.
Demonstrar, num só caso, o Amor que é divino, ajuda a estabelecer a universalidade do Amor como Princípio. Um gesto, como pedrinha atirada n’água, espalha seus bons efeitos em raios cada vez maiores e de alcance desconhecido.
De maneira alguma isso significa salvação em massa — não significa que de alguma maneira tenhamos de depender uns dos outros para ser salvos, ou que o mero “estar juntos” humanamente conduza à felicidade espiritual. As verdades que vivemos em comum nos indicam o rumo para o céu, não o caminho para só encontrar o nosso próximo ou para apegos pessoais excessivos. João nos adverte a que mantenhamos elevada a nossa visão. E assim explica numa de suas epístolas: “O que temos visto e ouvido anunciamos também a vós outros, para que vós igualmente mantenhais comunhão conosco.” E logo acrescenta: “Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo.” I João 1:3.
Ainda assim, a oração em prol de nosso próximo é muito mais do que teoria celestial. É de todo terra-a-terra, é prática. É a Ciência Cristã. A oração deita o alicerce para a ação cristã, para amor fraternal demonstrado, expressões simples e diárias de paciência, tolerância, confiança e verdadeira amizade. E, se bem que a expressão de afeição cristã seja inteiramente natural, não é algo que acontece automaticamente. Requer esforço persistente.
Não é de surpreender que a ação seja exatamente o que a mente carnal, aquela hipotética mentalidade oposta a Deus, gostaria de impedir. Mas ser a idéia de Deus significa mais do que ter aquilo que Deus tem, ou saber o que Deus sabe. Significa fazer, como Seu reflexo, o que Deus faz. A ação, a prova, a demonstração da verdade da filiação em nosso viver cotidiano, é o que nos traz a salvação e a graça bendita de discernir e reconhecer nosso elo indissolúvel com o Pai.
Viver o Cristo, abençoar todos, é o caminho seguro e único para o céu. Nada menos que isso nos trará plena salvação, filiação divina em sua inteireza jamais dividida.
Sede, pois,
imitadores de Deus,
como filhos amados;
e andai em amor,
como também Cristo vos amou.
Efésios 5:1, 2
 
    
