A compreensão de que é uma teologia específica que torna possível a prática da cura na Ciência Cristã
Christian Science (kris'tiann sai'ennss), parece despontar lentamente a muitos de nós. Estamos dispostos a voltarmo-nos a Deus, o Espírito, buscando cura em tempos de necessidade física, mas, muitas vezes, ficamos mais impressionados com o que nós fazemos do que com a natureza de Deus, a quem recorremos. Contudo, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy, escrevendo sobre Cristo Jesus, declara: "Era essa teologia de Jesus que curava os doentes e os pecadores. É sua teologia neste livro [Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras] e a significação espiritual dessa teologia que cura os doentes e faz com que o perverso 'deixe. .. o seu caminho', e 'o iníquo os seus pensamentos.' "
Pode parecer surpreendente, mas ser criado na Ciência Cristã não garante necessariamente que se associe teologia e cura. De vez em quando, uma tarefa da Escola Dominical estimulava meu pensamento no rumo certo. Lembro-me de uma tarefa de memorizar duas frases de Ciência e Saúde, o livro-texto da Ciência Cristã, de autoria da Sra. Eddy. As frases eram: "Só há uma causa primária. Portanto, não pode haver efeito algum de qualquer outra causa, e não pode haver realidade naquilo que não proceda dessa causa grande e única."
Pode ser que tanto eu como meu melhor amigo, que morava do outro lado da rua, tivéssemos sido bem sucedidos nesse formidável projeto de memorização, porque nossa professora nos contara sua própria cura de tuberculose, cura essa obtida por meio da Ciência Cristã. Ela explicou como essas frases desempenharam papel importante em seu estudo e oração, tendo, como resultado, a cura.
A cura pela Ciência Cristã em nossa família era, sem dúvida, discreta, nada exibicionista ou dramática, apenas comedida, tranqüila e muito ferqüente. Não era algo arriscado, nem requeria esforço para ter "fé suficiente". Considerava-se normal e justo que um Deus que é Amor, ajudasse quando você Lhe cedia lugar em seu pensamento e em sua vida.
A mãe de meu melhor amigo, por exemplo, foi curada de paralisia nas pernas. Eu fui curado de prolongadas crises de asma, tão intensas que, de tempos a tempos, tinha de passar a noite sentado na cama, lutando para respirar. Meu pai foi curado de um tumor na cabeça, de um dedo do pé visivelmente esmagado, de uma perna dolorida que o fez necessitar usar uma bengala durante alguns meses. Um deslocamento discal do meu cachorro, diagnosticado por um veterinário como susceptível de piorar, foi curado através da Ciência Cristã.
Minha bisavó era praticista da Ciência Cristã. O irmão e o cunhado de meu pai eram praticistas. Portanto, às vezes, com naturalidade, relatavam-se curas durante as conversas mantidas quando nos reuníamos nas férias. Ouvíamos recontar, com freqüência, nessas ocasiões, histórias das curas que compeliram nossa família a conhecer a Ciência Cristã: a cura de hemorragia da minha tia, a cura de uma debilidade geral de meu pai, tão grave, que os remédios que lhe foram administrados atacaram-lhe os dentes. Durante muitos anos, no verão, era levado à praia por longos períodos, na esperança de que isso o ajudasse. Foi curado, não por essa terapia, mas pela Ciência Cristã.
Numa época algumas vezes descrita como de pensamento pós-teísta, a entretanto, a questão mais premente pode não ser se tais curas de fato aconteceram como se supõem, mas por que se imaginaria que Deus se tenha envolvido com as minúcias da vida de uma família comum, de classe média, enquanto bilhões de outros mortais no globo eram vítimas de fome, destruição e desastre. É uma questão que nos faz voltar à teologia da Ciência Cristã.
Subjacente à questão, talvez esteja um interesse mais profundo em saber se é possível esperar que a oração seja atendida em meio a tantas manifestações do mal, que nunca foram tão evidentes, na história, como hoje em dia. Será que a criança pequena de uma família que vive comparativamente bem, merece ser curada de dor de ouvido, por exemplo, quando alguém do outro lado do mundo não tem alimento suficiente e está à morte?
Se Deus é o criador do universo e se alguém O evoca com uma expectativa egoísta de tratamento especial para remediar algo no Seu universo, então o processo poderá parecer de moralidade duvidosa. E, se o mal é tão poderoso e real como parece, também se afigura natural que o bem seja fraco, que Deus seja forçado a coexistir com o mal e sofrer junto com a humanidade, como a teologia escolástica presentemente sugere. Se essa linha de pensamento fosse seguida, mesmo a oração que anseia por cura, pareceria cada vez menos natural.
De acordo com a teologia da Ciência Cristã, porém, Deus não decide ajudar uma pessoa e não a outra, nem intervém na resposta de uma oração e não na de outra, como se dependesse de quão fino fosse Seu ouvido e do Seu julgamento pessoal decidir quem merece assistência. Deus apenas provê o bem a Seus filhos, igualitariamente. Como o Salmista escreve: "Como é preciosa, ó Deus, a tua benignidade! por isso os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas.. .. Pois em ti está o manancial da vida, na tua luz vemos a luz."
A oração pode remover a cegueira humana sobre essa verdadeira característica de Deus. A oração toca-nos com Sua realidade, expulsa o medo e alivia o sofrimento. A função real da oração não é fazer Deus agir devidamente, mas habilitar-nos a levar uma vida mais plena na luz de Sua verdadeira bondade real. Nessa base, não é uma questão de merecer alívio do sofrimento; o fato é que toda a criação de Deus "merece" e já tem o amor, a bondade e a graça com os quais o Criador, inevitavelmente, a envolve.
Se isso parece desafiar a experiência geral, aos Cientistas Cristãos, no entanto, parece preencher a razão moral e espiritual com muito mais acerto do que a concepção de um Deus que crie um mundo sujeito a terrível sofrimento e, então, seja o selecionador de quem Ele há de aliviar. Deus, para os Cientistas Cristãos, é Amor divino. O que sentimos na presença da bondade e do amor humanos, é só um indício muito pequeno do significado do Amor divino. Sem dúvida que a vontade de Deus é o bem, nunca a doença, a morte ou a destruição. Toda genuína cura espiritual não é, portanto, um sinal de merecimento pessoal, mas evidência da imensa bondade que está presente e pertence a todos.
Por incrível que pareça, o ser humano não percebe muito dessa perfeição e realidade divinas. No entanto, o ensinamento implícito de Cristo Jesus é que precisamos nos ater à espiritualidade que de fato discerne Deus. Se nos recusamos a viver moral e espiritualmente, nossos conceitos de Deus não podem deixar de ser delimitados por percepções imaturas e pecaminosas, os fundamentos responsáveis pela impressão avassaladora que a matéria e o mal sugerem.
Assim diz o autor de 1 João: "Deus é luz, e não há nele treva nenhuma." A Ciência Cristã explica que a verdade essencial sobre o mal é que, seja qual for a sutileza do disfarce sob o qual o mal se esconda ou a agressiva aparência de realidade que assuma, o mal não é criado por Deus. Portanto, não possui as qualidades da realidade, que descobrimos à medida que progredimos na luz de Sua infinita bondade.
Em um de seus primeiros sermões, intitulado de The People's Idea of God, a Sra. Eddy destaca, de modo simples, esse ponto: "No momento em que o sentido finito da Divindade, baseado em concepções materiais do ser espiritual, se desfizer de seus elementos mais grosseiros, aprenderemos o que Deus é e o que Deus faz." Ela falou em adquirir um sentido mais elevado do cristianismo. Não pensou em alterar o cristianismo, mas em despertar o pensamento de chavões religiosos paliativos, para reconhecer o ribombar daquilo que na realidade foi o cristianismo original, tal como Jesus o vivenciou. Mostrou que o significado de Deus foi sendo progressivamente obliterado, através dos séculos, por uma convicção da realidade material cada vez mais restritiva.
Deus não pode ser um mero elemento, assim como um eletromagnetismo fraco, a influenciar na superfície a vida humana, conferindo-lhe poesia e beleza tristes. Se a palavra Deus tem realmente algum significado, então só Deus define a vida, não vice-versa. A Ciência Cristã diz que temos de começar por Deus para compreender a vida e o universo. À medida que o fazemos, afastamo-nos da imaginação convencional daquilo que constitui nossa vida.
Mas a extensão dessa mudança de ponto de vista e o que seu alcance pressupõe, só se compreende gradualmente. O ímpeto e a necessidade absoluta do novo reconhecimento está descrito em uma passagem de um artigo intitulado "The New Birth", de autoria da Sra. Eddy. Ela escreve: "Eis aí, pois, o despertar do sonho de vida na matéria para a grande realidade de que Deus é a única Vida; que, portanto, temos de considerar um conceito mais elevado de Deus e do homem. Temos de aprender que Deus é infinitamente mais do que uma pessoa ou forma finita pode conter; que Deus é Totalidade divina e é Tudo, uma inteligência e um Amor que permeia tudo, um Princípio divino, infinito. E que o Cristianismo é uma Ciência divina. Essa consciência recém-despertada é totalmente espiritual, emana da Alma e não do corpo e é o novo nascimento que começa na Ciência Cristã."
É essa revelação de Deus como Tudo-em-tudo e a totalidade do bem que, tão profundamente, liga a cura à teologia da Ciência Cristã. A natureza de Deus é tal, que a cura é o que, logicamente, se espera que ocorra à medida que obtemos um relacionamento mais estreito com Ele. Pode ser a cura de dor de ouvidos de uma criança de sete anos, ou pode ser a cura da perda de audição diagnosticada pela medicina a alguém de setenta anos. Poderia ter sua demonstração na resistência à tortura mental e física de um prisioneiro político ou no início de negociações dum tratado de armamento nuclear que implique a redução de armamentos. Mas cura concreta é o nome para o reconhecimento, por nosso sentido humano, da ação verdadeira do Deus verdadeiro, que é ilimitado e Tudo-em-tudo.
A finalidade da cura física através de meios espirituais não é nos proporcionar mais conforto na vida material, mas despertar-nos desse assim chamado mundo para nos mostrar a presença real de Deus e Seu reino, aí onde parece existir apenas um mundo material. Cristo Jesus disse àqueles que designou como sanadores: "Curai os enfermos. .. e anunciai-lhes: A vós outros está próximo o reino de Deus." A Ciência Cristã toma essa perspectiva como disposição para começar a orar. E aqueles que experimentaram tal cura, sentem geralmente uma convicção muito mais profunda da ativa presença de Deus, contradizendo as impressões habituais do mundo rotineiro.
Para muitos, isso pode significar mais do que um encontro curativo com o Princípio divino, por mais poderoso que seja para obrigar o ser humano a orientar-se na direção certa. Um dos mais difíceis paradoxos do tempo de Jesus ou do nosso próprio, é representado pela pessoa cuja vida foi literalmente restaurada e que, contudo, retorna a uma existência medíocre, medianamente espiritual. Isso pode servir para realçar a razão por que é a cura do pecado (o pecado fundamental de pensar que é possível viver sem o princípio-Deus) que a Ciência Cristã sustenta como seu principal propósito.
Todavia, curar os doentes não é nunca uma prática egoísta ou de interesse menor, como se deduz com suficiente clareza dos próprios atos de Jesus e suas instruções a seus seguidores. É a escola indispensável para aprender a realidade espiritual. A Sra. Eddy falou da necessidade de ter "a lei celestial da saúde" completamente estabelecida e de os Cientistas Cristãos terem "feito os mais simples exercícios de seu armamento espiritual." Isso proporciona uma base sólida de expectativa e eficiência para curar maiores desafios sociais. Como uma amiga minha certa vez perguntou: "Quem você preferiria que orasse pela anulação de um tratado nuclear, alguém que tenha curado um resfriado através da oração, ou alguém que jamais o tenha feito?"
Sem a teologia, ou Ciência da totalidade de Deus, por fundamento, a cura da doença talvez fosse uma opção cristã menor ou fugidia. Mas a descoberta da Ciência do cristianismo mostra como e por que a cura é tão inseparável da vida cristã. A teologia que expressa a realidade do Tudo que é Deus, em vez de especulação humana sobre a Deidade, proporciona agora, como no tempo de Jesus, a cura.
Considerar a cura cristã da doença como mero elemento, entre numerosos outros, seria retroceder da Ciência do Cristo que a Sra. Eddy descobriu e assim perder de novo a vitalidade da religião e a possibilidade do cristianismo restabelecido.
Sem essa teologia, a cura torna-se uma perigosa manipulação do pensamento humano, um desejo de ter saúde e integridade espiritual sem a regeneração do eu, tão básica ao Cristianismo. Isso explica por que a teologia da Ciência Cristã não pode ser uma matéria de instrução acadêmica. Ela precisa ser vivenciada e então somos curados, temos a própria revelação de Deus. Aprendemos que a verdadeira teologia não é tanto o que devemos acreditar acerca de Deus, como o que Deus está fazendo para que nós O conheçamos.
Mas, sem cura, a teologia é vulnerável ao ônus de ser uma teoria auto-enganadora. E sem a evidência específica da cura cristã, a marcha do materialismo continuaria, sem oposição. Falar de amor não é, de jeito nenhum, suficiente para contrabalançar o efeito gélido das asserções do materialismo biológico no coração humano. Obras de cura, não teoria, é o que mais ajudará a humanidade, agora.
A cura cristã que tem a teologia de Jesus como impulso, está revelando de novo a dimensão e operosidade do cristianismo dos primeiros tempos. Longe de ser um fenômeno em extinção, é a proa do pensamento humano, satisfazendo, como nenhum outro conceito, os anseios das pessoas por um significado eterno, um relacionamento com o cosmos, dos melhores dos valores humanos. Alimenta a crescente fome do mundo por experiência espiritual e realidade divina. É a conseqüência do cristianismo científico que se está desfazendo da superstição e conduz o pensamento para o século vinte e um.
 
    
