Sem dúvida, todos gostaríamos de nunca na vida cometer erros, principalmente aqueles erros que nos prejudicam, a nós ou aos outros. A exigência de Cristo Jesus: "Sede vós perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celeste", implica que é possível atingir a perfeição espiritual. No entanto, talvez inquiramos como corrigir disparates do passado, ou até mesmo grandes erros, perdoar-nos a nós mesmos e dar passos significativos na direção de tal perfeição, especialmente quando a imperfeição parece ser tão comum.
Um amigo disse-me certo dia que o verdadeiro significado desse versículo bíblico é: "Sede perfeitos humanos." Seu ponto de vista teológico era o de que o homem, sendo um pecador inato, não pode evitar erros ou fracassos. Como se poderá, então, lidar com os fortes sentimentos de culpa e remorso ou com as conseqüências adversas de decisões equivocadas? Será possível sacudir os ombros frente a atitudes irrefletidas — pequenas e grandes — e dizê-las "normais"?
Há alguns anos passei por uma experiência que me impeliu a meditar nessa questão. Tive um acidente automobilístico e fui considerádo responsável por ele. Ao reviver, mentalmente, a cena do acidente, sobreveio-me um sentimento de culpa.
Comecei a sentir paz e cura ao pensar na vida do apóstolo Paulo. Sem dúvida, ele também teve de superar sentimentos de culpa e remorso por ter perseguido os cristãos. Após sua famosa visão e a conversão aos ensinamentos de Jesus, como terá ele lidado com as recordações de seu procedimento anterior?
Os escritos de Paulo nada revelam sobre essa questão, mas algumas passagens contêm uma resposta implícita. Por exemplo: "Esquecendo-me das cousas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus." "Que. .. vos despojeis do velho homem", enfatiza ele aos Efésios. E "vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão."
Os ensinamentos e as obras curativas de Cristo Jesus mostraram que o homem real é a imagem de Deus, o Espírito, não um mortal pecador. Essa percepção espiritual permitiu a Paulo ver o pecado como uma imposição ao homem, da qual cada um pode se despojar à medida que conhecer sua identidade verdadeira e imortal, o "novo homem", e cessar de acreditar em falsos conceitos.
A Sra. Eddy refere-se assim a esse processo de pôr de parte o "velho homem": "A perfeição, o objetivo da existência, não se obtém num momento; e a regeneração que a ela leva é gradual, porque culmina no cumprimento desta regra divina da Ciência: 'Sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste'."
Em meu próprio caso, o sentimento de culpa foi superado pela necessidade de encarar a falta de cuidado e desonestidade (e fatores impessoais tais como imprevistos e probabilidades) e saber que são falsos conceitos inerentes ao "velho homem", errôneo. Compreendi que tinha de despojar-me de conceitos do "velho homem", tanto no que tangia ao condutor do outro veículo, quanto a mim.
Na justiça fui declarado culpado, sob o ponto de vista técnico. Mas o juiz não assinou a condenação e determinou que nada constasse na minha ficha. Fiquei em paz com esse resultado. Percebi que, por meio da oração e regeneração espiritual, havia vislumbrado algo do caráter imaculado do homem à semelhança de Deus.
Quanto ganhei com essa experiência! Mais humildade, paciência e compaixão mais profunda. O mais importante foi que aprendi que a melhor maneira de perdoar a si próprio reside no esforço de, como Paulo, prosseguir "para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus". O que Deus quer para nós, isto é, a perfeição, nos apóia em nossos esforços de pensar e viver como o "novo homem".
A partir deste número, a bibliografia referente à maior parte dos artigos e editoriais do Arauto virá incorporada no texto, em vez de aparecer na nota de rodapé.