Em um momento de tensão, você já se fez a pergunta: "Por que quase sempre sou eu que tenho de me adaptar ao que os outros querem?"
Sei como você se sente. Já passei por isso. Tive, porém um vislumbre do que significa o amor real que dedicamos aos outros. O amor não impõe condições: você faz isso para mim e eu farei aquilo por você; ou, veja tudo que fiz por você, agora é a sua vez. Não é assim. O amor do qual comecei a tomar conhecimento há alguns anos e ainda estou descobrindo, não é egoísta, nem impõe condições. É um amor totalmente disposto a dar.
A Ciência Cristã ensina que atingimos o amor abnegado através de profunda regeneração espiritual, através do verdadeiro desejo de saber como podemos melhor servir a Deus. O amor desprendido é um amor espiritual, não possessivo. Evidencia-se quando pensamos mais no que é bom para os outros, do que no que é bom para nós. É poderoso, nada pode resistir a ele. Abençoa, cura, satisfaz. As recompensas são inúmeras.
A Sra. Eddy ajuda-nos a entender melhor o amor desprendido, ao explicar no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: "A oração que reforma o pecador e cura o doente é uma fé absoluta em que tudo é possível a Deus — uma compreensão espiritual acerca dEle, um amor abnegado." Num dos capítulos seguintes, ela escreve: "Tudo o que mantém o pensamento humano em linha com o amor abnegado, recebe diretamente o poder divino."
Quando comecei a orar para aprender mais sobre o amor desprendido e desembaraçar-me do egoísmo, achei grande conforto na história bíblica de Rute e Noemi. Vi que era um excelente exemplo do poder espiritual do amor desprendido e das possibilidades de recompensa que oferece.
Não foi por ter algum plano grandioso para instalar-se no novo país, que Rute se recusou a deixar sua sogra e voltar para seu próprio povo, depois da morte de seu marido. Longe de calcular os benefícios para si mesma, Rute pensou unicamente no modo de ajudar Noemi. "Aonde quer que fores, irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus." Não teria sido esse desprendimento o que atraiu Boaz, o parente de Noemi, que depois se casou com Rute?
Eis aí uma história gloriosamente gratificante, foi o que sempre pensei, com o final mais feliz possível. Falava diretamente a mim. Rute preocupava-se com o bem-estar de Noemi, sem pensar em si mesma. Ela não tomou nota de quantas vezes atendeu às necessidades de sua sogra, nem se preocupou sobre como suas próprias necessidades seriam atendidas. Apenas fez o que disse que faria.
Que lição regeneradora e purificadora para mim! Logo comecei a ver todas as maneiras pelas quais eu a podia pôr em prática. Por exemplo, tornou-se cada vez mais natural, para mim, sentir no coração e mostrar genuína solicitude pelo bem-estar de outras pessoas e por seus pontos de vista. Pouco a pouco, com essa disposição, iniciouse um abrandamento de caráter, as arestas ficaram mais suaves à medida que eu expressava mais paciência, compreensão e ternura.
Por certo foi preciso muita oração (e ainda é preciso), a humilde oração em nosso próprio benefício, que a Sra. Eddy menciona em Miscellaneous Writings: "Quando um coração faminto roga ao divino Pai-Mãe Deus por pão, não lhe é dada uma pedra — porém mais graça, obediência e amor. Se esse coração, humilde e confiante, fervorosamente pedir ao Amor divino para alimentá-lo com o pão celestial, saúde e santidade, estará capacitado a receber a resposta ao seu desejo. Então fluirão a ele 'as torrentes de suas delícias', o afluente do Amor divino. O resultado será grande progresso na Ciência Cristã — essa alegria que só provém do bem que estamos fazendo aos outros.
"Para amar e ser amado deve-se fazer o bem aos outros."
Quando eu justamente acabava de perceber a necessidade de expressar amor desprendido, lembro-me de ter indagado: "Tudo bem, admitimos que o fazer o bem aos outros, desinteressadamente, é o modo de vida cristão. Mas será que isso significa que em todos os pormenores da existência humana eu devo sempre me pôr em segundo plano, nunca defender meus direitos? Isso parece bastante covarde!"
Talvez você também esteja questionando esse ponto. No Sermão do Monte, porém, nosso Mestre, Cristo Jesus, não iguala mansidão com fraqueza, quando diz: "Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra." Quanto aos nossos "direitos" e a todas aquelas coisas que acreditamos serem tão essenciais, não precisamos nos preocupar em perdê-los por nossa obediência a Deus. O Mestre aconselha-nos: "Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino [o reino de Deus] e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas."
Quando perseverantemente buscamos esse reino celestial, aproximando-nos mais de Deus por meio da oração, e quando, fielmente, disciplinamos nossos pensamentos, torna-se cada vez mais fácil expressar amor abnegado. Isso não significa concordar calmamente com algo que está, de fato, errado, num esforço mal dirigido para agradar a alguém! Há ocasiões em que a coisa menos egoísta (e muitas vezes difícil) que podemos fazer é tomar uma posição firme contra os propósitos e ações de alguém, quando estes não são corretos.
Como podemos saber quando fazer isso? Através da prece: pedindo humildemente a Deus por Sua orientação e agindo de acordo com ela. A oração desperta-nos para a inteireza e a perfeição da idéia de Deus — o homem espiritual criado à Sua imagem (nossa identidade real). Reconhecendo tal inteireza, vivenciando-a através de mais graça e ternura, sendo gratos por ela, não podemos deixar de receber a orientação espiritual que buscamos.
Quando nos empenhamos, desinteressadamente, em fazer a vontade de Deus, encontrando nosso bem no bem-estar de outrem, nunca temos de nos preocupar em como, quando e em que medida o bem virá a nós. Encontrar-nos-emos "ouvindo", sentindo e regozijando-nos, hoje em dia, com o eco das palavras de Boaz para Rute: "O Senhor retribua o teu feito, e seja cumprida a tua recompensa do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas vieste buscar refúgio."
Então, nos múltiplos envolvimentos de nossa vida diária, haverá cada vez menos conciliações a fazer. Somente mais dedicação.