Conheci os cães de caça da baía de Chesapeake por ter lido a respeito deles. A reputação de tenacidade e total lealdade desses animais muito me impressionou, mas eu nunca tinha visto nenhum, isto é, nunca, até que um amigo e eu passamos um verão numa antiga vila de pescadores. Na lagoa, um dos guias tinha um cachorro musculoso, de cor dourada, que parecia uma faísca elétrica. Era um puro pedigree Chesapeake. Desde o nosso primeiro encontro, percebi que aquele cachorro era particularmente incomum, o que se notava em seu olhar.
Para ele, como sem demora nos fez entender, o mundo girava ao redor de apanhar pedaços de madeira! Havia os compridos, os curtos, os ásperos, os lisos, até mesmo galharia e brotos quebrados de pequeno porte. (Surpreendemo-lo bem cedo, certa manhã, farejando em torno dos arbustos, mastigando as folhas, parecendo querer produzir o maior número de galhos que lá se pudessem aproveitar.) O fato é que qualquer pedaço de madeira o satisfazia, contanto que servisse a uma destas duas finalidades: jogo de medir forças (em que o cão era naturalmente invencível), ou arremesso no lago, desde a elevação onde se encontravam as cabanas (e, também nisso, à voz do "busca", o cão era não só insuperável, mas também incansável no seu tão determinado propósito de acertar o alvo).
Vimos claramente que, não importava quão longe os pedaços de madeira fossem jogados dentro do lago, ou com que freqüência fossem atirados, nosso amigo nunca se desviava de seu objetivo e nunca se cansava de correr, determinado, colina abaixo e de saltar de cabeça naquelas águas geladas. Parecia ter nascido não só para nadar, mas também para voar, e era óbvio que o fazia com muitíssimo gosto. Todo o seu esforço demonstrava lealdade. E ficava muito contente com qualquer oportunidade que tivesse de disparar colina abaixo e varar impetuosamente a superfície do lago. Nadava, então, em linha reta na direção daquilo que para ele provavelmente era um prêmio maravilhoso, o pedaço de madeira! Saía rápido da água e voltava às carreiras para o alto da colina, atento a outro arremesso e à ordem de "busca".
Aquele meu primeiro encontro com um cão Chesapeake me impressionou. O mais interessante foram as sucessivas associações de idéias que me ocorreram ao recordar-me daquele belo animal e do modo pelo qual perseverava tão maravilhosamente no seu propósito. Lembrei-me de alguns dos ensinamentos do Novo Testamento, algumas das coisas ditas por Cristo Jesus acerca de ser discípulo e fazer progresso espiritual. Lembrei-me também das palavras que o apóstolo Paulo dirigiu aos primeiros cristãos, sobre o mesmo tema.
Jesus ensinou a seus seguidores, por exemplo, o quanto era necessária a persistência e a dedicação leal à meta da salvação. Ensinou que o caminho é reto e estreito, contou a parábola do homem e do arado, explicou que não se deve olhar para tràs, se for nosso objetivo chegar ao reino do céu.
Também o apóstolo Paulo falou em participar de uma corrida e no prêmio que é de fato superior a todos os prêmios. Escreveu em uma de suas epístolas no Novo Testamento: "Irmãos, quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma cousa faço: esquecendo-me das cousas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus."
Não estarão essas palavras ensinando aos cristãos a importância fundamental de se empenharem diretamente pelo progresso, de olharem adiante com visão espiritual, de se consagrarem a trabalhar para Deus, não anuindo ao materialismo do mundo nem desviando-se por influência dele?
A vida humana, sem dúvida, parece às vezes bem diferente. Toda sorte de voltas e reviravoltas podem ocorrer na vida das pessoas. Talvez até saibamos claramente qual a atitude certa a tomar, contudo .... Ocorrem por vezes desafios, frustrações, barreiras e tentações que tornariam até nossas melhores intenções temporariamente estranhas, ou inacessíveis, ou, talvez, supostamente desnecessárias. Mesmo assim, sempre temos no fundo do coração algo que nos compele à liberdade, que nos faz abandonar os antigos modos de pensar, a fim de escutar algo novo, inédito, significativo. Chamemos-lhe sentido espiritual, intuição divinamente impelida, unção cristã intrínseca a cada pessoa. Seja qual for o nome desse sentimento, nenhum de nós se esquivará para sempre dessa força propulsora em sua vida, pois ela está sempre presente para nos conduzir pelo caminho estreito, mesmo quando o mundo pretende nos desviar.
Muitas pessoas talvez almejem ter mais constância no progresso espiritual, ter firmes propósitos espirituais e avançar com rapidez. Se nos for possível compreender, ainda que um pouquinho só, de nossa verdadeira relação com Deus, essa compreensão desenvolverá em nós uma força de caráter e uma integridade tais, que nenhuma tentação facilmente abalará, nenhuma vicissitude facilmente frustrará. Saber, pelos ensinamentos da Ciência Cristã, que fomos efetivamente criados para expressar a bondade de Deus, que verdadeiramente somos Sua semelhança espiritual, que Deus nos mantém continuamente no bom propósito de Sua bondade, assegura a estabilidade genuína de nossa vida. Dá-nos a convicção de que somos de fato capazes de realizar o propósito de Deus.
No livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, há um trecho em que a autora, a Sra. Eddy, fala no progresso como "a lei de Deus," que, afirma ela, "exige de nós apenas aquilo que com certeza podemos cumprir." Com a compreensão espiritual de nossas capacidades reais, outorgadas por Deus, e com o esforço para viver de acordo com as exigências morais e espirituais dessa compreensão, rompemos os limites auto-impostos pela noção de que a vida é material. Comprovamos, em certo grau, que as falhas inerentes à mortalidade não definem corretamente quem somos.
A suposição agressiva de que a vida individual não pode, por sua própria natureza, incluir progresso contínuo, mas sim, na melhor das hipóteses, apresentar apenas estágios intermitentes de desenvolvimento seguidos de períodos de estagnação ou de perda, é uma mentira. Quando a essa mentira contrapomos a oração e a compreensão espiritual, verificamos que a própria mentira é a única coisa a perder terreno em nossa vida.
O progresso espiritual pode ser constante, contínuo. É, de fato, a lei de Deus. E o "prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" não está fora do alcance de ninguém.
Finalmente, irmãos,. . .
tudo o que é de boa fama,
se alguma virtude há e se algum louvor existe,
seja isso o que ocupe o vosso pensamento.
O que também aprendestes,
e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticai;
e o Deus da paz será convosco.
Tudo posso naquele que me fortalece.
Filipenses 4:8, 9, 13