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Quando é difícil amar determinada pessoa

Da edição de outubro de 1990 dO Arauto da Ciência Cristã


A vida para muita gente não é fácil. As pessoas se magoam. Fatos como o fechamento de indústrias, divórcios, famílias que se separam, assaltos mentais e físicos, causam feridas de fundo emocional que podem, através do ódio, facilmente resultar em cicatrizes.

Mas o ódio é uma prisão cujas paredes, se bem que invisíveis, mantém-nos confinados por velhas recordações e antigas mágoas. Entre seus companheiros de cela encontram-se a depressão, o desãnimo e a inércia. O ódio tem uma janela voltada para o passado, mas nenhuma porta de acesso a um presente e um futuro melhores. Existe, contudo, um poder que abre as portas dessa prisão. É o poder de Deus, o Amor divino. Esse poder está sempre presente e nos oferece a liberdade.

Eu gostaria de relatar aos leitores do Arauto uma experiência que mostra como um relacionamento de ódio foi curado. A cura não veio com o tempo nem com a distância nem com a força de vontade humana. Foi o toque do Cristo, o poder do Amor divino, que finalmente me purificou do ódio e do desejo de vingança. Isso me capacitou a seguir o conselho de Jesus: "Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste."

Quando estava no ciclo colegial, eu gostava muito de música e tencionava dedicar-me a uma carreira musical, seguindo esse campo de estudo. Ao chegar ao último ano, já havia tocado em diversos grupos musicais e orquestras e, até mesmo, estava praticando um pouco de regência, composição musical e dava aulas. Esse último ano, porém, transformou-se numa série de confrontos com o professor de música. Ele não simpatizava comigo e parecia querer que isso ficasse bem claro na maneira como procurava me ridicularizar, desafiar e confrontar-se comigo. Para ser franco, a antipatia era mútua. Eu o detestava. Toda atividade musical transformou-se, para mim, numa luta terrível.

Ao final do ano, eu me sentia mentalmente exausto e os planos de fazer carreira no campo da música foram totalmente afastados. Durante os anos na faculdade eu me divertia tocando num conjunto musical, mas decidi abraçar outra carreira, que me exigia bastante, intelectualmente. Eu achava que minha vida ia bem. Ouvi dizer que meu ex-professor se debatia com um problema de alcoolismo e que sua vida era muito infeliz. Lamento ter de confessar que me alegrava com isso. Minha vida seguia em rumo ascendente e eu pensava que ele, por sua vez, estava recebendo o troco por todo o mal que fizera. Meu sentimento de ódio por ele não diminuiu nos anos que se seguiram. Apenas ficou adormecido.

Depois de me formar na faculdade, comecei a trabalhar. Eu me sentia grato pelo emprego que havia arranjado, embora não exigisse muito de minha capacidade. Aí comecei a procurar outro trabalho. Como não o conseguisse, me consumia culpando o professor de música, ele que fora o responsável por eu haver abandonado a carreira musical. Todo o ódio latente voltou com muito mais intensidade. Comecei a ficar desanimado e profundamente deprimido. Um de meus colegas de empresa chegou a dizer que eu era temperamental: certos dias eu estava alegre e outras vezes ficava tão introvertido, que se tornava até difícil relacionar-se comigo.

As palavras de meu colega acertaram em cheio no balão de ódio que eu vinha nutrindo. Durante todo esse tempo eu tinha consciência de que era errado odiar o professor. Eu sabia que Jesus havia dito: "Amai os vossos inimigos" e também que, algum dia, teria de enfrentar esse sentimento de ódio. Percebia ainda que em geral eu era uma pessoa amável com os outros, era alegre na igreja e durante a maior parte do tempo que passava em casa. Ser chamado de temperamental era, no mínimo, chocante, se bem que eu soubesse que era dessa forma que eu me comportava.

Então orei e minha oração foi algo mais ou menos assim: "Pai, sinto muito por todo o ódio que venho expressando. Sei que Tu és Amor divino e estou abrindo meu pensamento e meu coração ao Teu amor. Estou disposto a deixar que o amor me purifique desse ódio e do desânimo e da inércia que dele resultam. Quero expressar Teu constante amor pelos outros em proporção maior do que expressei até agora." A oração do Salmista trouxe-me muito consolo: "Compadece-te de mim, ó Deus, segundo a tua benignidade; e, segundo a multidão das tuas misericórdias, apaga as minhas transgressões. Lava-me completamente da minha iniqüidade, e purifica-me do meu pecado."

Eu queria me purificar. De grande auxílio foi um artigo de autoria da Descobridora e Fundadora da Ciência CristãChristian Science (kris'tiann sai'ennss), Mary Baker Eddy, intitulado: "O lago e o propósito." Estudei esse artigo. Nele a Sra. Eddy descreve os estágios da purificação espiritual através do batismo. Esse batismo, explica ela, implica volver-nos a Deus em oração com o objetivo de purificar nossos pensamentos e nossas ações. Ela diz: "Na experiência mortal, o fogo do arrependimento começa por separar o ouro da escória e a reforma traz a luz que dissipa as trevas. Dessa forma, a atuação do espírito da Verdade e do Amor no pensamento humano, segundo as palavras de João, 'há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar'."

Eu sentia que começara a abrir mão do ódio que me prendia. Surgiram-me três oportunidades nessa ocasião. Ofereceram-me outra colocação na área de vendas. O trabalho que eu estava desempenhando começou a exigir mais de mim e passei a reconsiderar a possibilidade de retomar o estudo de música, obtendo assim mais esse diploma universitário. Antes de ocorrer o batismo em meu pensamento, minha carreira parecia estática e sombria e eu não conseguia nem mesmo chegar perto da minha clarineta, sem sentir emoção profunda e dolorosa. Mas com a purificação do Cristo, eu estava presenciando os efeitos práticos do Amor divino em minha vida. Onde antes havia inércia, surgiam agora oportunidades.

A colocação que me foi oferecida na área de vendas, parecia ser a melhor opção. Um crescente sentimento de amor impulsionava minha vida e o progresso se fazia sentir. Uma lição muito importante que aprendi nessa época, foi a de perceber que eu não estava sozinho nessa luta para seguir o Cristo, sentindo-me incapaz de reunir toda a força e coragem para fazê-lo. Não estava lutando sozinho. Eu estava com Deus, deixando Seu amor fluir através de mim. Eu não precisava "inventar" o amor. Eu só precisava abrir meu pensamento ao amor de Deus e deixar aquele amor destruir os muros de ódio que eu tão bem havia construído. A força de vontade e a justificação própria derreteram-se quando reconheci a vontade divina do Amor e a ela me submeti.

Minha compreensão do Amor divino continuava a aumentar e eu percebia que minha vida florescia em obediência à orientação de Deus. O que parecera uma experiência terrível e cheia de ódio, veio a ser a mola propulsora do crescimento espiritual em minha vida. Aprendi em maior profundidade o que significava dizer "Deus é Amor", sentindo o consolo e a segurança desse Amor.

Nos anos que se seguiram, as oportunidades de trabalho continuaram a surgir. Minha atividade atual apresenta desafios e é muito gratificante, permitindo-me auxiliar outros por meio da oração. Certa feita, fiz parte de um grupo musical em minha comunidade e assim pude, uma vez mais, desfrutar da agradável participação em concertos, durante alguns anos. Realmente, a obediência à injunção do Mestre, de que amemos, redimiu minha vida. Hoje, com muita gratidão, posso dizer que o sentimento que dedico àquele professor é de amor e lhe desejo todas as bênçãos da graça divina.

Como essa experiência me demonstrou, precisamos definir a nós mesmos e aos outros como filhos de Deus. A Ciência Cristã mostranos que Deus é bom e que o homem não é um mortal formado por várias emoções e características físicas e psicológicas. O homem é a personificação das qualidades espirituais de Deus, de Seu Amor, Sua bondade e Sua inteligência. Logo, o homem é o herdeiro da graça, da paz e do vigor do Pai. Ora, o homem é espiritual, não é material, porque o homem é a expressão do Espírito em vez de ser uma criação da matéria. A humanidade necessita agora do mesmo que necessitava há séculos atrás, quando Paulo escreveu: "Quanto ao trato passado, [que] vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade."

Esse renascimento espiritual implica deixarmos as palavras e as obras de Cristo remodelarem nossa vida. Poderíamos descrevê-lo como colocar a "vestimenta do Cristo". Implica nos desfazermos de todas as mágoas, ódios e confusões e humildemente seguir a orientação de Jesus no sentido de amarmos nosso próximo e nosso inimigo. Desse modo, perceberemos que os muros do ódio e as limitações que os acompanham, começam a se desmoronar e novas oportunidades de fazer o bem abençoam nossa vida.

Reagir ao mal não o cura. A reação magnifica o mal. O mal é curado ao se defrontar com o Amor divino. Talvez seja necessária uma boa dose de humildade para amar e perdoar diante de perseguições, mas isso cura. Esse amor, demonstrado por Jesus, o capacitou a ressuscitar depois de três dias no túmulo. Celebramos esse fato hoje como o major e mais puro de amor aos nossos inimigos. Assim colhemos as amplas recompensas espirituais que advêm da obediência à lei de Deus. A declaração do Mestre: "Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" é o exemplo supremo de como considerar o filho perfeito de Deus, ou seja, vendo-o inocente e incontaminado pelo mal. Esse é o exemplo que devemos seguir, o qual não endossa o mal, mas derrota-o e nos faz ressuscitar para um padrão mais elevado de vida para nós e para os outros.

Esse mesmo poder do Amor está aqui hoje graças à Ciência do Cristo. A obediência às instruções do Cristo oferece a nós também a capacidade de amar todas as pessoas, mesmo quando isso parece difícil. Dessa forma abençoamos até aqueles que parecem nossos inimigos. Essa é a norma do Amor divino.

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