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Filho de alcoólatras, ou filho de Deus?

Da edição de fevereiro de 1990 dO Arauto da Ciência Cristã


Os filhos de alcoólatras são em geral considerados vítimas, porque se acredita que ou herdaram a propensão para a bebida, ou sofreram as conseqüências do alcoolismo de um dos pais e, por isso, cresceram num ambiente familiar degradado.

Os ensinamentos e curas de Cristo Jesus proporcionam conforto eficaz àqueles que se debatem com o problema de alcoolismo na família. As obras de Jesus apresentam e ilustram com inequívoca clareza a perspectiva espiritual do homem e da criação, da identidade como sendo inteiramente boa, jamais limitada por uma estrutura material (genes bons ou maus) ou por um ambiente material (boas ou más experiências durante a infância).

"A verdadeira teoria sobre o universo inclusive o homem, não está na história material, mas no desenvolvimento espiritual," Ciência e Saúde, p.547. escreve a Sra. Eddy no livro-texto da Ciência Cristã, o que sem dúvida está de acordo com a revelação bíblica. O Salmista o diz com outras palavras: "O Senhor é a porção da minha herança e do meu cálice; tu és o arrimo da minha sorte. Caem-me as divisas em lugares amenos, é mui linda a minha herança." Salmos 16:5,6.

É nesses fatos espirituais que se baseia a compreensão de nossa identidade e herança. Nossa estrutura não é elaborada para cumprir de modo inevitável um roteiro qualquer, delineado pela crença em genes ou temperamento de família, porque nem a teoria genética, nem o ambiente humano, nem as influências recebidas durante a infância determinam o que o homem é. Deus é quem determina o que o homem é. Por ser Deus o Espírito, o homem, a imagem de Deus, tem de ser como Ele: tem de ser espiritual. Compreender que essa realidade espiritual está presente agora, mostra que o alcoolismo não tem base nem possibilidade de existir na criação espiritual. O alcoolismo surge porque a realidade espiritual é fundamentalmente mal interpretada. Quando, porém, se começa a perceber que a matéria não determina o homem, que não é a matéria mas sim o Espírito, Deus, que governa a vida, então a cura ocorre.

Tanto os filhos como os netos de alcoólatras podem cobrar ânimo, porque, na realidade espiritual, ninguém é alcoólatra nem herdou a tendência de vir a sê-lo. E ninguém pode, em verdade, estar sujeito aos efeitos do alcoolismo no seio da família. Toda a nossa herança é muito boa, como a Bíblia menciona. Não contém nenhum elemento maligno, porque é espiritual e provém de Deus. Ver Gên. 1:26, 27, 31. Pode ser que os fatos espirituais pareçam esfumar-se diante do que acreditamos acerca de nós próprios, mas até mesmo um vislumbre de compreensão espiritual pode iniciar o processo de remover a ameaça e o aguilhão impostos pelo sentido mortal do passado de uma pessoa.

Talvez possa ilustrar esse ponto por meio de minha própria história. Tanto meu pai como, segundo creio, meu bisavô, eram alcoólatras. O hábito de beber de meu pai e seu comportamento imprevisível constituíram motivo de desgaste emocional à nossa família. O ambiente familiar era com freqüência tenso e gélido. Mais tarde, em meus primeiros anos de adulta, comecei a padecer de depressão e desespero crônicos. Nessa altura, eu já era estudante sincera da Ciência Cristã e não resta dúvida de que a compreensão de minha identidade espiritual, compreensão adquirida por intermédio da Ciência, impediu que me tornasse alcoólatra, porque nunca encarei o álcool como fonte de prazer, convívio social ou consolo. Eu estava aprendendo que todo o bem flui do Espírito, Deus, e nunca pode ser encontrado na matéria. No entanto, muitas vezes parecia que eu tinha herdado do meu pai alguns traços mentais e emocionais dos alcoólatras. Eu mesma me qualificava como alcoólatra que não bebe. Minhas emoções eram pouco estáveis ou maduras. O egocentrismo era a minha forma de viver.

Apesar de me sentir prisioneira de um temperamento de que não gostava, perseverei e aprofundei meu estudo da Ciência Cristã. A convicção da veracidade de seus ensinamentos aumentou com firmeza, embora, de vez em quando, eu tivesse ataques de depressão e dúvida. Enquanto o pensamento mortal falava de minha incapacidade, a verdade espiritual iluminava meu pensamento com os fatos sobre Deus e Sua criação, sobre a bondade e a benignidade de nosso Pai-Mãe Deus, sobre o poder de Seu Cristo para vencer tudo o que é dessemelhante de Deus. Persisti no estudo da Ciência Cristã, deixando que a luz da Verdade divina iluminasse minha consciência. Passo a passo, os fatos espirituais começaram a ter maior peso no meu pensamento, do que as asserções materiais.

Por vezes, era árdua a luta entre minha aparente natureza e aquilo que eu estava aprendendo ser a verdadeira natureza do homem à semelhança de Deus. Agarrei-me, porém, ao conhecimento de que era natural que eu fosse alegre, que amasse incondicionalmente, que abrigasse um amplo campo para meus afetos e que estivesse ciente de que meu valor residia em ser o reflexo do Pai e não o resultado em um padrão mortal de comportamento. Foi necessária grande espiritualização do pensamento, substituindo atitudes, crenças, preconceitos e inclinações materiais pela verdade espiritual. Descobri que eu tinha de estar disposta a pôr em prática essa compreensão, por meio da aprendizagem efetiva de como amar e expressar amor a todos. Não podia excluir dos meus afetos aquelas pessoas que, conforme eu pensava, me haviam excluído do deles. Numa ocasião, tive de cuidar de um parente que me tratava com frieza e desaprovação. Aprendi a exercer esse dever com imparcialidade e graça. Tive de aprender a vislumbrar o caráter verdadeiro dos que me eram próximos e a amálos por ser esse um sentimento natural, não porque o comportamento deles estivesse de acordo com as minhas expectativas.

Essa nova maneira de pensar também não excluía meu pai, apesar de, nessa altura, já ter falecido. Eu sempre sentira muito ressentimento contra ele, em virtude das duras provas a que submetera nossa família. Agora esse ressentimento se dissolveu, à medida que a verdade transformou meu pensamento. Comecei a ver que o homem de Deus é a idéia espiritual completa de um Deus bom. Por isso, é incapaz de uma atitude que seja menos do que benéfica para todos. Compreendi que em virtude de a história material não conter verdade alguma, dela não podem advir efeitos malignos. À medida que aprendi a amar desse modo e que persisti nessa atitude, mesmo quando me sentia tentada penosamente a proceder em contrário, preparei-me para o dia em que a conhecida sombra da depressão apareceu.

Eu estava lendo Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, o livro-texto da Ciência Cristã, de autoria da Sra. Eddy, quando pela primeira vez, me apercebi de que havia uma escolha. Podia deixar que a depressão me invadisse, como sempre acontecera no passado, ou controlar meus sentimentos por meio do domínio concedido pelo Criador ao homem. Ficou claro que eu podia largar a crença de ser governada por emoções e sentimentos de origem humana. Sendo o Amor divino o Tudo e o único, minhas emoções e sentimentos estavam sujeitos apenas ao Amor.

A libertação do pensamento convencional, baseado na biologia e psicologia, foi repentina. Muito aliviada, li a seguir um trecho de Ciência e Saúde, que fala na autoridade que Deus nos concedeu, de governar o corpo. Apercebi-me de que isso também era aplicável às emoções. A Sra. Eddy escreve: "O corpo parece agir por si mesmo só porque a mente mortal nada sabe de si mesma, de suas próprias ações e de seus resultados — não sabe que a causa predisponente, remota e excitante de todos os maus efeitos, é uma lei da assim chamada mente mortal, não da matéria." Vi, de imediato, que a causa dos "maus efeitos", a depressão crônica aparentemente ligada ao alcoolismo paterno, era "uma lei da assim chamada mente mortal", o oposto fictício de Deus, a Mente divina, que diz serem os genes materiais e/ou a influência na infância, que determinam a saúde e a felicidade. Tudo em mim se sublevou contra essa falsa lei e disse "NÃO!"

Continuei a ler, no mesmo parágrafo, a substituir "corpo" por "emoções". "A Mente exerce autoridade sobre os sentidos corpóreos e pode vencer a doença, o pecado e a morte. Exerce tu essa autoridade conferida por Deus. Toma posse de teu corpo e governa-lhe a sensação e a ação. Eleva-te na força do Espírito para resistir a tudo o que é dessemelhante do bem. Deus fez o homem capaz disso, e nada pode invalidar a faculdade e o poder divinamente outorgados ao homem." Ciência e Saúde, p.393.

Quando acabei a leitura, sabia que estava curada da depressão crõnica e do medo ao alcoolismo. A melancolia, a falta de iniciativa e a escuridão de muitos anos esvaíram-se. Senti-me transbordante de amor, carinho e felicidade. Desde essa hora, a alegria e o bom humor têm sido minha norma de vida. Acima de tudo, sei que isso não provém de minha natureza humana, mas é assim porque Deus, nosso Pai-Mãe, Se expressa por meio de você e de mim.

Graças a essa experiência, adquiri uma convicção inabalável de que o homem de Deus não possui herança, propensão ou vulnerabilidade malignas, mas tem, pelo contrário, todo o bem. A Sra. Eddy explica: "Em obediência à natureza divina, a individualidade do homem reflete a ordem e a lei divina do ser. Como alcançar nosso ser verdadeiro? Pelo Amor. O Princípio da Ciência Cristã é Amor. Sua idéia representa o Amor. Está demonstrado, na cura, que esse Princípio e idéia divinos são Deus e o homem real." Miscellaneous Writings, p. 104.

É sintomático que a cura do alcoolismo não torna a bebida permissível, nem mesmo com moderação. Por que? Porque mesmo com moderação, a bebida nega a natureza espiritual do homem, que está sempre satisfeito e em paz.

O Pai celeste está satisfeito com Seu filho. Ele concede-nos todo o bem e ama cada um de nós, sem medida. É o Espírito divino, Deus, não a genética ou a alimentação e a educação na infância, o que determina nosso ser e a nossa natureza. Qualquer sombra do mal em nossa constituição ou no caráter é uma imposição que pode ser anulada. Não temos de coexistir com o erro, desculpá-lo ou temê-lo, porque não é lei. Podemos insistir em nossa herança espiritual de bondade, pureza, inteireza, alegria e assim remover qualquer característica ou etiqueta mortal, inclusive a de "filho de alcoólatra". Cada um de nós é, agora e sempre, filho de Deus, herdeiro do bem, membro muito amado da família universal, perfeita e espiritual de Deus.

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