Encontrei umas cartas que mexeram profundamente comigo. São onze, dirigidas a mim, por aquela que havia sido minha professora na Escola Dominical da Ciência Cristã, antes de eu entrar na faculdade. As cartas abrangiam aqueles anos passados na universidade, respondendo de maneira especial aos assuntos sobre os quais eu lhe escrevera. Cada carta era uma página datilografada em papel cinzento (a fita da máquina apareceu nova apenas uma vez naqueles quatro anos) e assinada sempre: "Com muito amor."
Essa querida professora abordava as dificuldades de maneira diferente, quase com o mesmo prazer que um guerreiro tem diante de um desafio. A partir de seus comentários, posso imaginar os assuntos sobre os quais devo ter-lhe escrito: decisões a serem tomadas, um namorado, dificuldades nos estudos e outras aflições próprias daquela fase de crescimento. Em suas cartas, porém, ela se elevava muito acima de mim, descobrindo em todas as questões uma verdade universal. Teria ela jamais suposto que eu ainda não estava no mesmo nível de pensamento que o dela? Imagino que mesmo tendo percebido isso, jamais permitiu que esse fato a detivesse. Ela amava tanto e tão claramente o que ensinava que, de algum modo, despertou em mim o desejo de também amar o que estava sendo ensinado.
Quando ia para casa, nas férias, ia visitá-la algumas vezes para desabafar. "Que divertido!" dizia-me ela. "Nós vamos encontrar a solução!" Lembro-me bem do tom com que falava, de como prestava atenção e de sua maravilhosa risada, que me impressionaram mais do que suas palavras. (Gostaria de saber se os outros alunos daquela classe de Escola Dominical ainda se lembram da noite de verão em que todos nós decidimos oferecer-lhe uma serenata e ficamos do lado de fora de sua janela cantando hinos. Acho que naquela ocasião também ela riu).
Agora, um quarto de século mais tarde, encontrei essas cartas e as estou lendo como se fosse pela primeira vez. As verdades espirituais ali contidas me fazem pensar em Cristo Jesus, quando disse: "Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão." Mateus 24:35. Referindo-se a essa declaração, a Sra. Eddy diz das palavras de Jesus: "... e elas não passaram: ainda são vivas e constituem a base da liberdade divina, são o meio de comunicação da Mente, a esperança do gênero humano." Miscellaneous Writings, p. 163. As cartas de minha professora estão cheias de amor pelas palavras de Jesus, das quais ela sempre apreendia a mensagem imortal e a aplicava às profundas dúvidas de uma jovem. As cartas estão ainda vívidas, cheias de esperança, incentivando-me a achar as respostas na Mente, Deus, e a confiar nEle para encontrar a verdadeira libertação.
Constato agora que, já naquele tempo, quando eu sofria por falta de confiança, embora agisse de maneira corajosa para que ninguém notasse minha fraqueza, ela havia percebido algum valor em mim. Afinal, por qual outra razão teria ela partilhado de maneira tão aprofundada aquelas idéias, alimento sólido para uma aluna da Escola Dominical? Aí estava de novo sua singela confiança de que eu captaria as idéias, quando estivesse preparada. Quantas lições tiro disso!
Não costumo armazenar coisas, mas, por alguma razão, conservei essas onze cartas. Posso dizer que estou sendo agora reinstruída e reanimada enquanto fico maravilhada pelo amor que ela expressava. Além disso, essas cartas me servem de parâmetro para medir meu progresso. É realmente espantoso descobrir que uma pessoa tenha acreditado em você, há tantos anos. Isso me dá vontade de ser o que ela via em mim.
Assim que encontrei aquelas cartas, desejei dizer-lhe que agora consigo vislumbrar aquelas idéias, que ainda amo as verdades que ela ensinou e que, como ela, amo nossos livros-textos, a Bíblia e Ciência e Saúde, de autoria da Sra. Eddy, e mais, que eu também leciono aos domingos. Mas dizer-lhe tudo isso não é o que conta. Ela foi tão bom exemplo porque foi tão boa Cientista Cristã: uma excelente seguidora de nosso Mestre, Cristo Jesus. E fez tudo isso parecer divertido. Sua risada ficará para sempre gravada em minha memória, assim como o carinho de suas cartas.
Lemos em Isaías: "Assim será a palavra que sair da minha boca; não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a designei." Isaías 55:11. Essa é uma promessa. Podemos confiar nela, como fez minha querida professora da Escola Dominical quando, há tantos anos, partilhou comigo seu amor à Verdade.
Não há dúvida de que agora aquelas cartas chegaram ao destino.
