"O mais importante, nos Jogos Olímpicos, não é vencer, mas competir, assim como na vida o mais importante não é o triunfo, mas a luta. O essencial não é ser vitorioso, mas sim ter lutado bem. A difusão desses preceitos contribuirá para o desenvolvimento de uma humanidade mais forte e destemida e, acima de tudo, mais escrupulosa e mais generosa” (Barão de Coubertin, 1908).
Numa época em que o mundo dos esportes parece dominado pelo poderoso dólar, ainda há muitos atletas olímpicos e milhares de aspirantes para quem a coroa de louros é recompensa mais do que suficiente.
Isso é confirmado por esta conversa que correspondente do The Christian Science Monitor, teve com treinadora de remo em escolas secundárias, na Califórnia.
Kim representou o sistema de radiodifusão do Monitor em Barcelona e, como jornalista, tem feito a cobertura de Jogos Olímpicos desde 1964.
Treanna trabalhou na Olimpíada de Los Ângeles, em 1984, nas competições de remo, e agora treina diariamente jovens interessados nos esportes olímpicos.
Treanna, você concorda com o Barão de Coubertin em que “o mais importante [no esporte] não é vencer, mas competir, ... o essencial não é ser vitorioso, mas sim ter lutado bem”? É lógico que concordo, Kim. Afinal, todos não podem vencer. Há muitos participantes, alguns têm de chegar em segundo ou terceiro ou até mesmo em último lugar.
Acho muito interessante que Coubertin, o fundador das Olimpíadas modernas — elas foram reiniciadas em 1896 — também afirmou que difundir essas idéias “contribuirá para o desenvolvimento de uma humanidade mais forte e destemida e, acima de tudo, mais escrupulosa e mais generosa.” Realmente, às vezes precisamos de uma atitude mais escrupulosa e generosa em relação à competição esportiva, não acha? Ah, sim, sem dúvida. Há muita coisa incluída nisso: aprender a trabalhar em conjunto, a progredir em conjunto e a ajudar-se mutuamente. Trabalho em equipe significa apoiar os companheiros, mesmo que você esteja competindo pela mesma posição, ou mesmo que eles recebam a glória e você fique sem ser notado. Podemos julgar nosso desempenho em bases espirituais: não o quanto estamos ganhando, mas o quanto estamos expressando a Deus. Isso é conseguido quando nos esforçamos continuamente para refletir qualidades de Deus: amor, força, vitalidade, inteligência. Com esse procedimento, aprendi a sinceramente desejar o melhor para meus adversários, assim como desejo para minha equipe. É o que ordena a Regra Áurea: "Fazer aos outros o que queremos nos façam”. Ver Lucas 6:31. Isso tem de levar a uma humanidade mais generosa.
Conte-nos sobre as exigências físicas de suas atividades. Bem, incluem muita corrida, na maioria das vezes subindo e descendo escadarias de estádios. E há um equipamento chamado máquina de remar, ou remo ergométrico, que provavelmente é o exercício mais pesado de todos. Ele mede a quantidade de força que você pode dar numa remada. Esse teste é aplicado com muita freqüência. Você acaba ultrapassando os limites físicos auto-impos-tos, mas não é fácil.
Como é que você fez, no início de seu treinamento? Orei muito. Durante meu primeiro ano na faculdade, todos os dias, antes de ir remar, eu lia a Lição Bíblica delineada no Livrete Trimestral da Ciência Cristã. Eu ansiava por essa lição e pelo que podia aprender e aplicar no treinamento da manhã e ao longo do dia todo.
Uma das coisas que precisei vencer foi o medo de certos exercícios físicos, principalmente daquele remo ergométrico. As duas primeiras vezes que treinei com esse aparelho, eu não sabia que havia motivo para ter medo. Na terceira vez, lembrava-me da dor que havia sentido antes e que não queria senti-la outra vez, por que era uma dor violentíssima.
Dois dias antes do exercício, eu já estava preocupada. Por isso telefonei a uma praticista da Ciência Cristã.Christian Science (kris´tiann sai´ennss) Ela me disse que a decisão de ingressar na equipe de remo tinha sido tomada mediante oração, com inteligência, portanto. Inteligência é um atributo de Deus, a Mente divina. Eu poderia fazer tudo o que tinha de fazer. Deus não me abandonaria com um “agora é tudo por sua conta”.
Antes de enfrentar de novo o aparelho, aferrei-me realmente ao fato de que Deus é minha força e meu guia. Quando lá cheguei, fui capaz de realizar o exercício. Não posso dizer que não senti dor, mas pude completar a sessão com êxito e depois seguir com meus afazeres do dia. Daí por diante, quando tinha de passar por aquele teste, eu ia, fazia e não pensava mais nisso. Acho que foi a disposição de saber que Deus me acompanharia até o fim, que me ajudou a vencer esse problema.
Isso é bem parecido com as referências a “águias” que aparecem na Bíblia, não é mesmo? Em Isaías lemos: “O eterno Deus ... nem se cansa nem se fatiga .... Faz forte ao cansado, e multiplica as forças ao que não têm nenhum vigor. Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam.” Isaías 40:28–31. Essas palavras já me infundiram muita força. É tão reconfortante saber que verdadeiramente somos o reflexo de Deus, não somos seres humanos mortais limitados tentando vencer por nossos próprios esforços. Quando mantemos em mente o fato de que refletimos o poder de Deus, ao invés de tentarmos desenvolver energia humana por meio da força de vontade, percebemos que aquilo de que precisamos já é nosso por direito inato.
Esse assunto está intimamente ligado a um dos aspectos mais importantes no remo: a humildade. Não há astros nem estrelas em nosso esporte. Quando há no barco atitudes negativas ou de superioridade, cada integrante do time sente isso e esse fato faz com que o barco, de algum modo, ande mais devagar. A sensação é como se cada integrante da equipe estivesse trabalhando contra o outro. No papel de técnica do time, procuro curar essas atitudes através da humildade, sendo capaz de dizer: “Pai, não tenho certeza sobre o que fazer, mas estou disposta a ouvir, disposta a ser guiada.”
Procuro expressar persistência, paciência e vigilância mental, pronta a mudar de plano se houver necessidade, a expressar flexibilidade e a adotar uma nova abordagem a cada dia. Quando sentimos força espiritual, sabendo que nosso Pai nos guia, geralmente surge uma solução.
Falemos mais um pouco sobre a força divina. De fato, tive uma cura física, há cerca de um ano, quando senti uma dor repentina e muito forte nas costas, enquanto remava. Tive de parar imediatamente.
Meus companheiros levaram-me de barco até o embarcadouro e aí pedi a um amigo que telefonasse a uma praticista da Ciência Cristã para que orasse por mim. Em pouco tempo pude sentar-me, o que foi suficiente para poder ajudar no treinamento daquele dia, pelo que me senti muito grata. Meus colegas, porém, estavam muito preocupados comigo. A última coisa que a treinadora disse foi que não me deixaria remar de novo sem que antes eu consultasse um médico.
Bem, quando cheguei em casa, naquele dia, um grupo de colegas da faculdade com as quais morava, que também são estudantes da Ciência Cristã, disseram-me que haviam orado por mim naquela manhã. Acho que como fruto da oração, senti de repente como se saísse do meio das nuvens para o céu aberto, onde havia tanta esperança. Em certo grau, aquela esperança se tornou compreensão, comecei a perceber que sou uma idéia espiritual de Deus que está sempre intacta, sempre harmoniosa. Essa onda de compreensão foi tão avassaladora, que eu simplesmente não pude deixar de sentir sua influência.
Dentro de dois dias voltei a remar e nunca mais tive problemas. A cura foi permanente. Os companheiros de equipe e a treinadora simplesmente me perguntaram como eu estava, aceitaram a resposta de que estava bem e me deixaram remar. Acho que esse foi um toque final importante nessa cura.
Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, diz no livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras: “A obediência à Verdade dá ao homem poder e força.” Ciência e Saúde, p. 183. Tenho utilizado esse conceito ao longo de toda minha experiência esportiva. Inspira-me a obedecer à Verdade em minhas atividades diárias e a saber que assim agindo, no melhor de meu entendimento, terei a força espiritual e a vitalidade necessárias para tudo o que tiver de fazer.
Muitíssimo obrigado, Treanna. Quer você esteja correndo, remando ou dirigindo um time, espero que tenha águas calmas e céus claros. Obrigada, Kim. Gostei de falar com você.
