O Céu Estava feio. As nuvens negras se avolumavam e tornavam-se mais ameaçadoras. Enquanto eu observava, o céu ficou com um tom esverdeado e sobreveio um estranho silêncio, a “calmaria antes da tempestade”. Moro perto de uma região conhecida como “o corredor dos tornados” e já tinha visto acontecer isso outras vezes. Meus pensamentos estavam se tornando tão turbulentos quanto o céu tempestuoso.
Enquanto atravessava correndo o campo aberto, para chegar à escola primária de onde minhas duas filhas sairiam em poucos minutos, ocorreram-me duas perguntas que mudaram tudo. A primeira me obrigou a ter pensamentos mais espiritualizados e a segunda elevou-me a uma oração mais sagrada, que trouxe resultados práticos.
A primeira pergunta foi: “Você acha realmente que, só por estarem a seu lado, suas filhas estarão mais seguras em sua pequena casa de madeira do que no prédio da escola, que é feito de tijolos?”
Por medo, eu havia aceitado o conceito convencional do homem meramente material, limitado, vulnerável, sujeito a boas e más influências e circunstâncias. Esse quadro mental certamente incluía os problemas que eu estava enfrentando: uma tempestade violenta, a possibilidade de destruição e uma segurança questionável.
Essa, porém, não era a imagem verdadeira do homem como eu aprendera e comprovara inúmeras vezes, mediante o estudo da Bíblia e do livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, da Sra. Eddy. Eu havia começado a ver o homem de forma diferente, como foi exemplificado na vida de Cristo Jesus. Essa verdadeira identidade é descrita no livro do Gênesis como a própria imagem e semelhança de Deus, a quem Jesus conhecia como Espírito divino. Esse é o homem a quem foi dado o domínio sobre toda a terra, numa criação considerada por Deus muito boa.
A dúvida quanto à segurança de minhas filhas teve o efeito de desafiar a visão estritamente material a respeito de quem somos e de guiar-me a um ponto de vista mais espiritual: o homem como a imagem espiritual, idéia, de Deus, vivendo agora mesmo aos Seus cuidados.
Quando meu pensamento se voltou para o Espírito infinito, uma segunda pergunta surgiu imediatamente: “Joan, e as outras crianças?” Assim, meu coração elevou-se ao Deus universal que eu aprendera a conhecer como sendo o terno e poderoso Pai-Mãe Amor e procurei ver a bondade abrangente do Amor, que a tudo inclui. O Amor sempre presente não pode conhecer parcialidade, limites, no cuidado terno e amoroso que tem por todas as suas idéias.
O profundo amor que senti por todas as crianças fechou completamente a porta à turbulência mental que eu vinha sentindo e abriu-me um horizonte mais elevado. Comecei a compreender o que Deus estava revelando naquele momento: que o perfeito Amor expressa sua própria harmonia e totalidade em ordem e perfeição imaculadas, em bondade e paz. O homem e o universo, por serem a criação e a expressão de Deus, são amados, cheios de júbilo, livres e seguros. Isso se tornou para mim o fato, a realidade, e não mais senti medo da tempestade. Tenho certeza de que muitas outras pessoas, na comunidade, estavam também orando para ver e sentir o poder protetor do Amor divino.
Tudo isso levou apenas alguns minutos e quando olhei de novo, toda a cena havia mudado. O céu não estava mais esverdeado, as nuvens pretas haviam se espalhado e aluninhos alegres estavam saindo do edifício da escola.
A oração que cura produz uma mudança radical em nosso ponto de vista, propicia uma maneira totalmente nova de compreender o que acontece, elevando nosso pensamento para ver o que Deus está vendo, ou seja, Sua própria criação perfeita. É preciso ter um amor isento de egoísmo para abrir a porta a essa visão nova da realidade espiritual. A Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde: “A oração que reforma o pecador e cura o doente é uma fé absoluta em que tudo é possível a Deus — uma compreensão espiritual acerca dEle, um amor abnegado.” Ciência e Saúde, p. 1.
Mediante o amor abnegado alcançamos a consciência crística que conhece a presença perfeita de Deus e a perfeita unidade que existe entre Ele e o homem. O Cristo, a idéia eterna de Deus, é uma presença tão poderosa hoje como quando Jesus corporificou a Verdade salvadora.
Seja em seu ensinamento, seja por seu exemplo vivo, Jesus certamente mostrou que era preciso ter amor abnegado. Ele viveu a vida do amor espiritual, que cura tanto o amigo como o inimigo. Na noite anterior à crucificação, em sua aula final aos discípulos, ele ensinou: “O meu mandamento é este, que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando.” João 15:12–14.
Jesus deixou bem claro que o amor cristão não é uma opção, não é uma recomendação útil, mas é uma exigência, um mandamento. Para sermos seus seguidores, não podemos percorrer um caminho limitado pelo “eu”. Devemos viver uma vida mais ampla de amor abnegado.
Nossas orações, reconhecendo as leis espirituais de Deus e Sua presença, devem necessariamente expressar o Amor infinito que faz com que essas preces se tornem universais. Deus nunca vê Sua perfeição como sendo uma circunstância local ou uma condição especial para algumas pessoas apenas. Seu reino está sempre presente, inclui tudo. Portanto, para ser mais eficaz, a oração não pode parar no “eu”, mas deve se expandir para incluir a todos. Esse amor altruísta participa da natureza divina e é o próprio poder curativo. A Sra. Eddy escreve em seu livro Não e Sim: “A verdadeira oração não é pedir amor a Deus; é aprender a amar e a incluir todo o gênero humano em uma só afeição. Oração é a utilização do amor com o qual Ele nos ama.” Não e Sim, p. 39.
Desde aquele dia tempestuoso, já orei a respeito de muitas outras situações e com freqüência aquela segunda pergunta faz parte de minha oração: “Joan, e os outros?” Isso serve de lembrete de que os fatos espirituais, leis ou verdades são universais e se aplicam a cada homem, mulher ou criança, em toda parte. As orações que se ampliam e incluem a todos na verdade gloriosa de Deus, abençoam não só a você e a mim, mas a todo o mundo.
Amai-vos de coração uns aos outros ardentemente,
pois fostes regenerados, não de semente corruptível,
mas de incorruptível, mediante a palavra de Deus,
a qual vive e é permanente.
1 Pedro 1:22, 23
