Uma Amiga Minha perdeu certa vez o emprego devido ao ressentimento. Não que ela tivesse alguma coisa contra os colegas. Estava feliz por ter o emprego e, embora fosse funcionária nova, progredira com rapidez. Entretanto, alguns colegas resistiam a aceitar o êxito que ela obtivera e o ressentimento deles atuou como veneno na atmosfera do local. Quando ela foi despedida, sentiu-se vítima e ficou desesperada. Precisava provar a si mesma que ela ainda tinha valor, e que, apesar do sucedido, o bem genuíno não lhe poderia ser injustamente subtraído pelas ações e pensamentos alheios. Como foi que ela se libertou desse sentimento? Orando e esforçando-se para manter só o amor crístico em seu próprio coração. Não foi fácil, mas fez constante progresso espiritual e sua vida se encaminhou para uma nova carreira.
O ressentimento certamente parece agir como um veneno a corroer toda manifestação de boa vontade. Põe vizinho contra vizinho, irmão contra irmão, coloca membros de uma igreja uns contra os outros. O mesmo sucede entre colegas de trabalho e até mesmo entre povos e nações. Mas há sempre um antídoto para esse veneno. E o encontramos na oração e na expressão, de nossa parte, da ação do Amor divino, ação essa que é pura, desprendida, inteligente e cheia de perdão. Jamais se cura o ressentimento pelo esforço da vontade humana de provar “quem está certo e quem está errado” e, sim, por aceitar a vontade de Deus, que está sempre certa.
Cristo Jesus ensinou que tanto o senso de orgulho farisaico como o ressentimento são totalmente inaceitáveis. Com seu próprio exemplo, demonstrou ser possível achar abrigo nas virtudes divinas, as que vêm de Deus. O amor inteiramente desprendido e o coração livre de toda forma ou sombra de ressentimento devem ser a marca do discipulado para os seguidores de Jesus. Esse padrão inerente ao cristianismo é ensinado em muitas lições do Sermão do Monte, no Novo Testamento. Jesus diz, por exemplo, que “bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo mal contra vós.” Recomenda andar duas milhas quando se é obrigado a andar apenas uma; aconselha a voltar a outra face; fala do perigo em que incorre “aquele que [sem motivo] se irar contra seu irmão”; aponta a necessidade de o indivíduo reconciliar-se com seu irmão se vier a se lembrar de que o “irmão tem alguma cousa contra” ele. Talvez tudo isso esteja melhor resumido neste conselho de Jesus, válido para todas as épocas: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem; para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste”. Mateus 5:11, 22–24, 44, 45.
Jesus, em sua própria experiência, mesmo ao ser injustamente preso e mesmo sabendo que o aguardava a crucificação, não se submeteu ao ressentimento nem permitiu que este o subjugasse. Recusou-se totalmente a aceitá-lo, pois para Jesus, só o Amor divino tinha autoridade, substância, presença e realidade. Quando os soldados chegaram para prender Jesus, seu discípulo Pedro pensou defender o Mestre com o que lhe pareciam, no momento, as melhores armas. Ele desembainhou a espada e feriu gravemente um dos soldados. Jesus, porém, de novo recusou esses meios e imediatamente curou a ferida do soldado.
Em seu livro Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy elucida a reação de Jesus a Pedro: “Pedro teria ferido os inimigos de seu Mestre, mas Jesus lho proibiu, repreendendo assim o ressentimento ou a coragem animal. Ele disse: ‘Mete a espada na bainha.’ ” Ciência e Saúde, p. 48.
Sabemos, contudo, que Jesus foi preso e crucificado. Não obstante, o fato de Jesus estar com o pensamento completamente livre de sentimentos pessoais de rancor e ódio deve ter tido influência direta em seu labor da crucificação para a ressurreição, até a máxima demonstração de poder espiritual e liberdade que o mundo jamais presenciou. Jesus orou, preso à cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem.” Lucas 23:34. Recusou-se a expressar ressentimento; ele não seria vítima do rancor. Só a vontade de Deus estava certa, só o amor de Deus viria a triunfar. Jesus ficou do lado do Amor divino, infinito e todo-poderoso. Seguiu-se então a ressurreição; e a ascensão.
O ressentimento, por sua própria natureza, volta-se contra si mesmo porque é, em última análise, autodestrutivo, destinado a derrotar a si mesmo. A retidão de Deus, isto é, Suas virtudes salvadoras são os únicos recursos para podermos, com toda humildade, encontrar cura genuína quando, por algum motivo, tivermos sido tentados a nos ressentir contra outra pessoa, ou tivermos sido prejudicados pelo ressentimento dos outros.
Aceitar e expressar o Amor que a todos abarca, o Amor que é, também, a Mente infinita, Deus, é a maneira de achar a paz, de abandonar os fardos mentais e realmente curar nossas próprias feridas e as de outrem. Quando, em oração, nos aferramos fiel e exclusivamente à suprema retidão de Deus, que é a Mente única e onisciente, reconhecendo-a, compreendendo-a e aceitando-a, conseguimos ver a atuação constante da lei divina. Presenciamos os ajustes práticos que a lei de Deus sempre faz na experiência humana, mediante a ação redentora do Cristo, a Verdade. E começamos a ver que, de fato, a verdadeira identidade do homem manifesta a Mente divina e não a vontade humana obstinada ou o ego exaltado.
A partir dessa perspectiva, nossa oração nos habilita a fazer a nossa parte em expressar esta Mente única e divina, Deus; e é em Cristo, isto é, porque nossa “vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus” Coloss. 3:3., que ficamos a salvo de ciúmes, inveja, rivalidades, ressentimento. Independentemente do que os outros pensam, dizem ou fazem, nossas orações e nossa maneira de viver podem demonstrar efetivamente que, na verdade, não há vítimas quando o amor de Cristo prevalece em nossos corações.
Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio,
cuja esperança está no Senhor seu Deus,
Que faz justiça aos oprimidos, e dá pão aos que têm fome.
O Senhor liberta os encarcerados.
O Senhor abre os olhos aos cegos.
Salmos 146:5, 7, 8
