Ninguém Pode Dizer que as Olimpíadas deixam o público indiferente. Não só elas nos emocionam no íntimo, como também nos impulsionam literalmente a ficar de pé, em casa ou nas arquibancadas, para aclamar, aplaudir e talvez até abraçar quem quer que esteja por perto. Durante as Olimpíadas de Inverno, recentemente, muitas pessoas ficaram comovidas pela terna amizade entre dois esquiadores da modalidade “cross-country”, um marroquino e um norueguês. A amizade deles se desenvolveu durante as competições, à vista dos espectadores e, para muitos, simbolizou a essência dos Jogos Olímpicos. Essa expressão de fraternidade e união entre nações foi a maior realização dos dois atletas, transcendendo em importância suas vitórias e habilidades atléticas, muito embora estas não tenham sido desprezíveis. A despeito de suas consideráveis diferenças, esses dois homens demonstraram afeição e respeito mútuos, inspirando a todos os que os viram.
Certamente, esse é o mais alto objetivo dos Jogos Olímpicos, ou seja, promover a fraternidade e a paz universais, derrubando os muros do preconceito, medo e incompreensões, que levam à divisão e ao antagonismo entre as nações. Essa mensagem está sem dúvida sendo compreendida, pois eu, por exemplo, choro de felicidade por todos, indistintamente, não importando qual o hino tocado durante a entrega dos prêmios, após cada competição. (Aliás, acho que não sou a única pessoa a fazer isso.)
Lamentavelmente, entretanto, esse nobre objetivo que norteia os Jogos Olímpicos não é suficiente para trazer de fato paz e fraternidade universais. Quando pensamos na cidade de Sarajevo, por exemplo, ensangüentada e dilacerada em conflitos, por aqueles que há pouco tempo atrás viam-se como irmãos e compatriotas, parte-nos o coração recordar a alegria vivida durante as Olimpíadas de Inverno ali realizadas, há cerca de nove anos.
Evidentemente, mesmo as melhores intenções, a cooperação e as reuniões bem sucedidas não são por si só suficientes para curar o ódio e o egoísmo das concepções convencionais e materialistas da existência. Algo mais é necessário, algo mais poderoso e duradouro do que o mero esforço humano pode realizar. Esse “algo” é o poder do Espírito, Deus, o Amor divino.
Repetidamente, a Bíblia nos assegura do amor e do poder curativo de Deus. O estudo da Ciência Cristã mostra como é que a cura espiritual ocorre e como podemos participar ativamente na cura, não só de nossos próprios problemas, mas também daqueles de nossos amigos, de nossa comunidade e do mundo como um todo.
Não sou atleta de Olimpíadas, mas gosto de correr e aprendi algo a respeito do poder do Espírito e do Amor, ao correr perto de casa. Certa vez, sofri uma dolorosa contusão na perna, que limitava meus movimentos. Um dia, pouco tempo depois, achei que devia correr um pouco, mesmo sem velocidade, apesar da contusão. Não foi força de vontade, mas sim uma forte convicção de que minha vida, minha atividade e meu bem-estar eram governados pelo Espírito, não pela matéria. Através de meu estudo e prática da Ciência Cristã, eu aprendera sobre o poder espiritual e a cura divina, portanto, não me parecia correto deixar que a aparência de limitação material me governasse. Sabia que meu ser verdadeiro era inteiramente espiritual, pois o homem é em realidade o descendente de Deus, o Espírito. Na verdade, eu não era um ser mortal físico, mas sim a própria manifestação da Vida divina, totalmente ativa.
Enquanto corria, eu orava. De repente, um homem saiu de trás de uma árvore. Deu para perceber que ele não estava em seu juízo perfeito. Contudo, ao passar por ele, senti o apoio das verdades espirituais que estava reconhecendo em minhas orações. Em vez de sentir medo, tive compaixão. Compreendi que, em verdade, ele era uma idéia pura e inocente de Deus, amada e governada por seu Pai-Mãe celestial. Sabia, portanto, que ele teria a atenção adequada para seus próprio bem e o da comunidade. Sucedeu que, quando contornei a esquina, vi uma viatura da polícia se aproximando. Fiz sinal para o carro, expliquei a situação ao policial e segui meu caminho, com gratidão pelo fato de que tanto a necessidade de ajuda que aquele homem tinha, quanto a necessidade de segurança para a cidade, seriam atendidas.
Continuei orando enquanto corria, incluindo em minhas orações uma crise mundial que estava ocorrendo naquela ocasião. Vi claramente que o homem é livre por ser o filho espiritual de Deus, livre do medo, da doença, do crime e da opressão que parecem nos acorrentar. Sabia que essa verdade se aplicava a todos, inclusive meu próximo que está no outro lado do globo, lutando contra a repressão política e a injustiça.
De repente, percebi que eu estava dando passos completos e firmes, totalmente livres de dor e de toda restrição. A dificuldade fora curada. Ficou claro para mim que essa cura estava relacionada diretamente com minhas orações pela comunidade local e pelo próximo no mundo inteiro. Essa experiência mostrou-me o potencial das práticas esportivas, pois não só podem glorificar a Deus através da expressão de qualidades como força, vigor e alegria, como também proporcionam a oportunidade de demonstrar melhor o amor e poder curativo de Deus.
O Apóstolo Paulo aconselhou as pessoas a levarem em consideração esse propósito mais profundo da vida. Entre os muitos lugares em que ele pregou, está a Grécia, sede das primeiras Olimpíadas e da primeira maratona. Portanto, não é de surpreender que tenha usado a metáfora da corrida em sua pregação e em suas cartas. Há um exemplo na Bíblia onde o seguinte versículo contém este conselho: “... desembaraçando-nos de todo peso, e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com perseverança a carreira que nos está proposta, olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus ....” Hebreus 12:1, 2. Em outra ocasião, Paulo falou da recompensa da “corrida espiritual” nestas palavras: “Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis. Todo atleta em tudo se domina; aqueles para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível.” 1 Cor. 9:24, 25.
Paulo estava usando a corrida como metáfora para a vida cristã. Ele compreendia que ser verdadeiro discípulo de Cristo Jesus requer grande empenho, força e resistência. A tarefa poderia ser comparada a uma maratona espiritual que não estará completa até que toda a mundanalidade seja abandonada em troca de qualidades crísticas e possamos demonstrar plenamente a verdade de nosso eu espiritual como semelhança de Deus.
Considerando-nos ou não atletas, o esforço de libertar-nos do pecado e de expressar melhor nossa natureza verdadeira como a imagem de Deus, o Amor divino, é algo que todos nós podemos, aliás, devemos, fazer. Precisamos das mesmas qualidades de um atleta olímpico ou de um maratonista: persistência, abnegação, paciência e mérito. Todos nós podemos nos dedicar inteiramente a esse trabalho. É nossa natureza, afinal de contas, refletir a Vida totalmente ativa.
Mary Baker Eddy, cuja descoberta da Ciência Cristã foi, em parte, conseqüência de sua própria consagração à vida cristã, ressalta a necessidade dessa atividade espiritual. Ao explicar a admoestação de Paulo para abandonar o pecado e correr “com perseverança a carreira que nos está proposta”, ela escreve em Ciência e Saúde: “... isto é, ponhamos de lado o eu material e o sentido material, e procuremos o Princípio divino e a Ciência de toda cura.” Ciência e Saúde, p. 20. A carreira espiritual talvez não nos leve a ganhar medalhas olímpicas, mas nos tornará capazes de curar tanto a nós mesmos quanto a outros e a promover a paz e a fraternidade em grau cada vez maior.
Uma imagem da Maratona de Boston de 1992 pode inspirar-nos a todos a manter em vista esse elevado propósito. Ibrahim Hussein, do Quênia, vencedor da corrida, esperou várias horas na linha de chegada para abraçar Johnny Kelley, morador local que completava essa corrida anual pela sexagésima-primeira vez. Certamente, esse abraço fraternal foi tão significativo quanto o êxito esportivo conseguido pelos dois, naquele dia.
Podemos nos aproximar gradualmente da meta suprema de nossa carreira espiritual, mas o bom é que podemos ganhar o “prêmio” do amor, bondade e poder curativo de Deus a cada passo do caminho.
A fim de viverdes de modo digno do Senhor,
para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra,
e crescendo no pleno conhecimento de Deus;
sendo fortalecidos com todo o poder,
segundo a força da sua glória,
em toda a perseverança e longanimidade.
Colossenses 1:10, 11
