Batizado Jesus, Saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo.” Mateus 3:16, 17.
Nessas palavras, a Bíblia registra o início do ministério mais importante na história da humanidade. Cristo Jesus havia se dirigido ao rio Jordão para ser batizado por João Batista, numa cerimônia que pretendia simbolizar uma renovação espiritual interior. João denunciara publicamente aqueles que utilizavam esse ritual apenas como exibição, sem sentir o arrependimento interior e a regeneração imprescindíveis a uma pessoa que deseja preparar-se para receber o Messias. Mas quando Jesus se aproximou dele, João reconheceu, maravilhado, aquele que não precisava de batismo, por ser o próprio Messias. Jesus, porém, consentiu nesse símbolo exterior de purificação e, ao fazer isso, recebeu o sinal visível de sua filiação divina, sinal esse que marcaria o início de seu ministério.
Tal como o tema de uma sinfonia que reaparece durante toda a sua execução, essa mensagem de filiação divina ressoou repetidas vezes nas curas e nos ensinamentos de Jesus. Ela foi e é a verdadeira fonte de renovação e de reforma para cada um de nós. Jesus trouxe à humanidade um conceito totalmente novo sobre nosso relacionamento com Deus. Não apenas era ele o Filho de Deus, mas todo indivíduo era e é, em realidade, filho desse mesmo Pai amoroso. Como o apóstolo João declarou posteriormente: “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, ao ponto de sermos chamados filhos de Deus. .. . Amados, agora somos filhos de Deus”. 1 João 3:1, 2.
Então, poderíamos nós também ter uma pomba descendo sobre nós, com uma mensagem que identificasse e confirmasse nossa origem espiritual? Imagine só ouvir estas palavras: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo”! Seria demais para nós? Essa é, contudo, a exata mensagem que Cristo Jesus trouxe a todos nós. A mesma bênção cristalina e incondicional repousando sobre cada um dos amados filhos de Deus, agora mesmo. Nós não somos os mortais imperfeitos que às vezes parecemos ser, com dúvidas ou fracassos; ao contrário, nosso Pai celeste nos conhece muito bem em nossa perfeição espiritual original.
Quando essa bênção vier como pomba ao nosso pensamento, não devemos rejeitá-la ou afastá-la com argumentos tais como: “Agora não, mais tarde!” ou “Es não a mereço!” ou ainda “Eu sou a pessoa errada!” Precisamos recebê-la com boa-vontade e gratidão e aceitar sua mensagem e sua unção. Ela precisa aninhar-se em nosso coração e conosco habitar. Essa mensagem nos assegura, de forma urgente e imperativa, quão profunda, total, incondicional e ternamente nós somos amados e aprovados por nosso Pai-Mãe Deus, que é o próprio Amor divino.
O Amor divino sempre está totalmente consciente de sua própria idéia. Tudo aquilo que é revelado como criação do Amor divino expressa naturalmente as qualidades de seu Criador. Como a alegria é um atributo divino, o homem como idéia de Deus não é apenas alegre, mas é o objeto da alegria, da satisfação e da aprovação. E quem não dá o melhor de si em uma atmosfera de aprovação? Pense em como as crianças se desenvolvem bem quando estão em tal atmosfera e como parecem fenecer sob críticas constantes.
Estamos dispostos a aceitar a aprovação de nosso Pai celeste? E se acreditarmos que não a merecemos? Como pode uma bênção ser tão incondicional? Essas perguntas podem ajudar-nos a abandonar um conceito mortal a nosso respeito e elevar-nos a altitudes mais espirituais. Sim, o amor de Deus é incondicional, porque Deus só pode expressar amor total e todo-envolvente por Sua própria idéia.
Às vezes, a aceitação dessa bênção, justamente em meio a um problema difícil, pode parecer fora de cogitação. Numa situação dessas, poderia a princípio até parecer falta de humanidade alguém nos sugerir que aceitemos essa bênção. Um versículo significativo em Provérbios (25:20) descreve bem como é essa sensação e um comentário bíblico explica assim seu significado: “Cantar para alguém que está com o coração amargurado é quase tão cruel quanto derramar vinagre sobre um ferimento. ” J. R. Dummelow, The One-Volume Bible Commentary (Nova Iorque: The Macmillan Company, 1936), p. 388. Seria realmente insensibilidade, se se tratasse simplesmente de pensamento positivo ou de um otimismo superficial. Mas se a ordem de aceitar a bênção de Deus é uma voz que vem do âmago do Amor divino, ela é baseada na própria realidade e, dessa forma, é impelida por um poder que cura. Ela pode ser exatamente aquela mensagem de que precisamos para nos despertar da tristeza ou do desespero, a fim de que possamos ser consolados e conhecer a paz e a segurança que nos são inatas como filhos e filhas de Deus.
Pouco antes da crucificação, Cristo Jesus dedicou a máxima atenção à tarefa de preparar seus discípulos para que eles olhassem para muito além das provações daquele momento, ou seja, para que eles enxergassem os fatos eternos da realidade espiritual. Ele lhes assegurou: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros.. .. O Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as cousas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito. ” João 14:18, 26.
A Ciência CristãChristian Science (kris’tiann sai’ennss) revela esses fatos da realidade espiritual para que eles brilhem como vívidos e luminosos raios de luz em nossa consciência, trazendo-nos consolo e cura. Eles nos mostram nossa condição imortal, nossa identidade espiritual, e a de nossos semelhantes. Perante o brilho dessa realidade, a horrível fachada da mortalidade deixa de ser o fato concreto que aparenta ser. Sentimo-nos abrigados e alimentados e somos curados. Escrevendo à luz de inumeráveis experiências dessa natureza, a Sra. Eddy disse da promessa de Jesus: “Nas palavras de S. João: ‘Ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco.’ Esse Consolador, no meu entender, é a Ciência Divina.” Ciência e Saúde, p. 55.
Ainda que o conceito falso a nosso respeito pareça persistir teimosamente, ainda que sentimentos de culpa, de autocondenação por não conseguirmos viver de acordo com nosso mais elevado ideal, pareçam às vezes muito mais reais, muito mais identificados conosco do que identidade de filho de Deus, esse falso conceito não tem o poder de tornar reais tais crenças. Esses não são de forma alguma nossos sentimentos! Eles não têm origem em Deus e, conseqüentemente, nenhuma influência sobre nossa vida. Temos autoridade para renunciar a eles firme e definitivamente. Mas precisamos ter certeza de que estamos lutando do lado certo e não repetindo (ou mesmo glorificando) nossos defeitos para nós e para os outros. Se honestamente desejamos nos tornar o que realmente somos, filhos e filhas de Deus, temos de aprender a aceitar nosso direito espiritual inato. E essa aceitação é algo que podemos praticar! No exato momento em que sugestões desabonadoras ou de temor nos vêm ao pensamento, podemos fechar a porta a elas e, ao mesmo tempo, podemos estender nossas mãos, mental e espiritualmente, para receber a pomba, para acolher a bênção de nosso Pai e regozijarmo-nos em Seu amor. Podemos falar de Suas mensagens angelicais de esperança e de confiança, para nós mesmos e para as outras pessoas, substituindo a condenação pela bênção espiritual.
Nas palavras da Sra. Eddy, “Renunciar a tudo o que constitui o assim chamado homem material, reconhecer e conseguir expressar sua identidade espiritual como filho de Deus, é a Ciência que abre as próprias comportas do céu, de onde o bem flui por todos os caminhos do ser, purificando os mortais de toda impureza, destruindo todo sofrimento e demonstrando a verdadeira imagem e semelhança.” Miscellaneous Writings, p. 185.
Ao aceitar a pomba para nós, nós a aceitamos como o direito espiritual que as outras pessoas também têm, por nascimento. Quer seja o vizinho que mora ao lado, ou mesmo uma nação angustiada, clamando por um sinal do amor de Deus, aquele toque angelical em nossa própria vida torna-se uma lei que rege nosso conceito sobre as outras pessoas. Nosso ministério deve começar com o reconhecimento de que nós mesmos somos filhos de Deus, mas se estende a toda a humanidade, segundo a lei que nos exorta a amar nosso próximo como a nós mesmos.
O Amor jamais é egocêntrico. Por sua própria natureza, é radiante, isto é, irradia bênçãos a todos os que se encontram no âmbito de nosso pensamento. A mensagem que nos vem como pomba desconhece nacionalidade, raça, credo, cor, idade, gênero, ou seja, todas as categorias criadas pelo homem. Não é reprimida por zonas de guerra nem pela política, língua ou cultura. É a mensagem universal de paz, falando ao coração humano da forma que cada pessoa possa entender.
Em nosso anseio por ajudar a curar um mundo necessitado, precisamos calar-nos e ouvir o que o Amor divino está nos dizendo sobre sua própria amada criação. E precisamos estar confiantes de que esse amor se auto-revela a cada uma de suas idéias. É a pomba que desce sobre cada um de nós.
Assim como descem a chuva e a neve dos céus,
e para lá não tornam,
sem que primeiro reguem a terra
e a fecundem e a façam brotar,
para dar semente ao semeador
e pão ao que come,
assim será a palavra que sair da minha boca;
não voltará para mim vazia,
mas fará o que me apraz,
e prosperará naquilo para que a designei.
Isaías 55:10, 11
