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Firmamento: tracemos a linha do entendimento espiritual

Da edição de fevereiro de 1994 dO Arauto da Ciência Cristã


Há Vários Anos, em minha juventude, eu estava em Paris, e me dedicava à pintura. Eu desejava, ardentemente, vislumbrar a realidade espiritual subjacente à arte. Achei que, se separasse cor, linha e forma, os três elementos primários de expressão visual, entenderia sua natureza espiritual. Referindo-se à “forma, cor, qualidade e quantidade” a Sra. Eddy diz, em Ciência e Saúde: “A natureza espiritual dessas idéias só é discernida através dos sentidos espirituais.” Ciência e Saúde, p. 512. Assim, voltando-me para Deus, o Espírito, dei meus primeiros pequenos passos na descoberta descoberta de sua natureza infinita e significado profundo.

Dos três elementos, linha era o que mais me intrigava. Admirava a incrível pureza de expressão linear dos quadros de Botticelli, por exemplo, e dos desenhos de artistas como Rembrandt e Matisse. Pedi a Deus que me mostrasse o que precisaria perceber quanto à idéia de linha, que me permitiria expressá-la de modo único, mas com as mesmas qualidades de continuidade, firmeza e pureza.

Não tardou que eu recebesse a resposta: o elemento mental que a linha representa e que eu tanto procurava era o firmamento, a noção de compreensão espiritual que é fundamental para a prática da Ciência Cristã. A expressão linear mais pura, que aos poucos fui desenvolvendo em minha arte, era apenas o resultado natural do exercício diário dessa compreensão.

“E disse Deus: Haja firmamento no meio das águas, e separação entre águas.” Gênesis 1:6. Com essas palavras, no primeiro capítulo do Gênesis, a idêia de firmamento aparece na criação espiritual. Ciência e Saúde explica: “A compreensão espiritual, pela qual a concepção humana, ou seja, o sentido material, fica separada da Verdade, constitui o firmamento.... A compreensão é a linha de demarcação entre o real e o irreal.”Ciência e Saúde, p. 505. O Glossário de Ciência e Saúde esclarece melhor “real e irreal”, quando define firmamento como “compreensão espiritual; a linha científica de demarcação entre a Verdade e o erro, entro o Espírito e a assim chamada matéria.” Ibidem, p. 586.

É interessante notar que o último ato de Elias e o primeiro de Eliseu, ambos profetas e grandes sanadores do Antigo Testamento, foi tomar do manto simbólico do poder espiritual e dividir as águas. Toda vez que me lembro da afirmação de nossa Líder, de que a realidade da Verdade e a irrealidade do erro é, do princípio ao fim, o ponto mais importante a se compreender na Ciência, Ver Ciência e Saúde, 466:15–18. fico como que de prontidão. Esse foi sem dúvida o ponto mais retumbante que nosso Mestre, Cristo Jesus, nos apresentou.

O modo pelo qual se deu o nascimento de Jesus traçou o que deve ser a linha mais pura e incisiva da história, entre o real e o irreal. Maria concebeu Jesus de modo totalmente espiritual, provando que a causalidade espiritual, e não a material, é a realidade da origem e da existência do homem. Aparecendo à humanidade dessa maneira, como a Verdade e o Amor manifestos através do homem, Cristo Jesus representou não apenas o divino e real, mas também mostrou como o divino e real envolvem completamente a experiência humana. Ilustrou a totalidade do bem, que separa o mal do conceito que a humanidade tem do homem e o elimina, por ser irreal. Exemplificou a linha de demarcação, isto é, expressou a compreensão espiritual, que distingue entre o irreal e o real, entre o homem pecaminoso de Adão e o homem inocente do Cristo, entre a personalidade mortal e a individualidade espiritual. Corporificou a idéia da totalidade do Espírito, agindo na cena humana para pôr a descoberto a nulidade da matéria.

Não havia sombra de dualismo no pensamento ou na vida de Jesus. Ele reconhecia uma única realidade, o bem, porque só reconhecia uma Mente, Deus, ou o bem, e declarou abertamente sua unidade com essa Mente: “Eu e o Pai somos um” João 10:30. e “Eu nada posso fazer de mim mesmo”. João 5:30. Entendia que a Mente sabia tudo o que havia para saber e a rapidez meteórica com que efetuava curas provou que, não importa quão pecaminosa ou trágica a evidência material, esta não era real.

O que as curas instantâneas de Jesus afirmam é que a espiritualidade não é um poder que muda ou conserta alguma coisa, mas é, na verdade, o pensamento não mesmerizado, ou seja, o sentido espiritual, que vê tudo como de fato já é, como o Amor divino o faz ser e o conhece. Essa consciência da perfeição, que nunca pode ser iludida, cura. “Haja firmamento no meio das águas” é a exigência perpétua do Princípio divino e tal firmamento na consciência, tal compreensão espiritual, rejeita a suposta realidade do mal.

Será que apenas separar o certo do errado, o bem do mal, é suficiente? Acaso a ação mental tem de ser levada ao extremo, para ver que o certo é real e o errado é irreal? Sim. Se nos permitimos considerar o bem e o mal como componentes separados, mas nítidos na consciência, só conseguimos reprimir a discórdia, sem chegar à verdadeira cura. A cura consiste em fazer desaparecer a discórdia, não é um remendo temporário. O Cristo é a influência divina no pensamento humano, que revela a presença da totalidade de Deus, a Verdade salvadora que destrói o erro, a luz que dissipa a escuridão. A assim chamada mente humana é, por natureza, dualista, é aquela mentalidade simbolizada pela árvore almadiçoada do conhecimento do bem e do mal, que nunca pode ser dissociada da crença em conflito e é incapaz de curar, de fazer com que a totalidade do Amor divino e seu poder unificante tenham efeito sobre a discórdia.

O desenvolvimento da idéia espiritual na consciência humana, individual e coletiva, aparece primeiro como moralidade, aquela capacidade de discernir, como o rei Salomão, entre o bem e o mal, o certo e o errado. Jesus, porém, disse de si mesmo: “eis aqui está quem é maior do que Salomão” (Mateus 12:42). Quem foi despertado para traçar a linha moral tem de manter-se á altura da idéia espiritual, em seu contínuo desenvolvimento natural, até chegar á compreensão espiritual que cura, à revelação da perfeição eterna da Mente e do homem.

Resistir ao poder destinado a levar-nos além do meramente humano para a ressurreição e ascensão, é negar o Espírito Santo, a Ciência divina. E é essa Ciência divina que, graças à poderosa e apurada linha de demarcação traçada pela ressurreição do Mestre, para sempre proclama a irrealidade da identidade material e a realidade da identidade espiritual.

Só podemos dizer que de fato entendemos, quando negamos de modo absoluto a evidência dos sentidos materiais e, com humildade, declaramos a realidade universal da semelhança do Amor, onde um agressor e uma agressão pareçam estar, por exemplo. “Se saudardes somente os vossos irmãos,” nos admoesta Jesus no Sermão do Monte, “que fazeis de mais? Mateus 5:47. Que fazemos nós de mais se, tendo discernido o pecado, permanecemos no mesmo nível de crença dos que pensam que a pecaminosidade constitui a realidade do homem e que o homem é concebido na matéria em vez de na Mente, e, se permanecemos no nível dos que aceitam como real todas as misérias e enganos provenientes desse erro fundamental de crença na vida e inteligência materiais? Discernir o certo do errado, reconhecer a profunda necessidade que a humanidade tem de cura, é de suma importância. Mas a partir desse ponto, tentar transformar uma realidade má em uma realidade boa é o que a Sra. Eddy chama de “tratamento mental errôneo”. Ela diz: “É tratamento mental errôneo fazer da doença uma realidade — considerá-la como algo que se vê e se sente — e depois tentar curá-la pela Mente.” Ciência e Saúde, p. 395.

A questão do certo e errado pode ocupar grandemente a mentalidade humana, pode ser brilhante a lógica humana que rotula e condena os pecadores. Não há dúvida de que a humanidade muito precisa reconhecer o pecado como sendo pecado. Ainda assim, temos de estar alerta contra o aspecto intelectual falso do ego mortal que, a fim de se autopreservar, não quer, e não pode, elevar-se acima da indignação moral para a simplicidade com que o Cristo revela a irrealidade do pecado. No entanto, é só nesse ponto de compreensão espiritual, em que se admite que a vida e a inteligência materiais são irreais, que podemos dizer que estamos mesmo praticando a Ciência Cristã.

É útil lembrar que o trabalho de João Batista, de apontar o pecado e instar ao arrependimento, foi o preparo vital a anunciar a missão messiânica. No entanto, Ciência e Saúde levanta a questão que requer humildade: ”Acaso as doutrinas de João Batista lhe conferiam o poder de curar, ou dotavam-no do conceito mais verdadeiro do Cristo?” Ibidem, p. 132. A resposta de Jesus às dúvidas que João tinha quanto à vinda do Messias nos ensina que os argumentos quanto ao que é certo ou errado nas questões teológicas são respondidos, hoje em dia, da mesma forma que há dois mil anos: por meio de obras, pelo nosso modo de viver, amar e praticar a Ciência do ser.

No Sermão do Monte, Jesus fala de andar duas milhas em vez da uma exigida. Ver Mateus 5:41. Quando parece que estamos sendo vítimas da vontade de outrem, ou notamos algo que sabemos ser errado e nossa ação mental só vai até o ponto de reconhecer que algo errado foi feito, não seria isso semelhante a parar ao fim da primeira milha? Se não percebemos a falta de base da ofensa, o resultado provável é que reagiremos, sob a forma de medo, raiva ou vingança, por exemplo, ou ainda crítica, condenação pessoal ou autojustificação. Ora, quando, em vez de reagir, de livre vontade andamos a segunda milha, então ficamos fora do alcance da imposição, pois exercemos a compreensão espiritual que declara que a imposição não só é moralmente errada, mas também espiritualmente irreal. Essa é a compreensão que vê a inocência eterna do homem real, libertando-nos para que possamos dar testemunho do amor cristão que demonstra essa inocência, produzindo então a cura.

Persistente e constantemente, temos de traçar a linha fundamental do firmamento, entre a personalidade mortal irreal e a individualidade espiritual impecável que reflete o único Ego, o Amor divino, no qual não há pecado, nem conhecimento do pecado. É vital que reivindiquemos essa consciência pura e universal do Amor, para nós e para os demais, pois é a única a revelar a unidade e a curar. O erro divisor é que dá realidade ao pecado, àquilo que não faz parte da Mente única. Só o Cristo, a manifestação da Mente, pode destruí-lo e habilitar-nos a traçar a linha que acaba com a condenação e mexerico que são reações ao pecado. Autojustificação, o pecado que personaliza tanto o bem como o mal, também é subjugado e eliminado pelo espírito do Cristo.

Certa vez, perguntei-me o que tornava esse pecado tão magnético e vi que a autojustificação é uma tática procrastinadora da mente carnal, que quer fazer com que fiquemos procurando nosso valor na personalidade material. A autojustificação temporariamente nos ilumina, fazendo parecer que brilhamos mais. Mas, assim como até mesmo um bilhão de luas podem todas ser iluminadas por um único sol, assim todas as identidades no universo espiritual de Deus brilham igualmente com a luz que refletem do único Ego, ou Alma, mostrando que, como Jesus o disse, “ninguém é bom senão um só, que é Deus.” Marcos 10:18.

Quando Simão, o altivo fariseu, convidou o Mestre, Cristo Jesus, para jantar, provavelmente não esperava receber uma lição sobre o firmamento, desmascarando sua ignorância do amor de Deus. Esta é uma lição clássica para todos nós. Quando a pecadora entrou e começou a lavar os pés de Jesus com suas lágrimas, Simão pensou: “Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora.” Lucas 7:39. Jesus, em sua compreensão perfeita, era autêntico profeta, pois via espiritualmente. Ele sabia quem era a mulher. Ele viu sua identidade espiritual inocente, intacta. Ele sabia que a criação nunca se afasta do bem, para daí retornar a ele. Essa visão, que enxergava com firmeza a realidade, curou a mulher. A capacidade de Simão, de só traçar uma linha entre o certo e o errado, não a curou.

Qual é nossa visão atual? Vemos com a Mente do Cristo, ou, como Simão, o fariseu, somos falsos profetas? Como vemos os problemas e as pessoas no mundo, nossos colegas, amigos, os membros de nossa família, membros de nossa igreja? Aceitamos a ilusão dos sentidos, que diz que tudo é mortal, que diz que nascemos de semente corruptível, com corpos físicos sujeitos ao pecado, à doença e à morte? Ou exercemos visão espiritual, compreensão espiritual, para ver, além do véu da causalidade física, a causalidade espiritual, a realidade espiritual imutável da identidade que é concebida e nascida de semente incorruptível, para sempre inocente, livre de corrupção e destruição, tanto interna como externa? “Uma idéia espiritual não contém um só elemento do erro,” Ciência e Saúde nos diz, “e essa verdade remove convenientemente tudo quanto é nocivo.” Ciência e Saúde, p. 463.

Ficar cônscio do firmamento estabelece uma exigência profunda e inevitável sobre cada um de nós. É a exigência que os discípulos enfrentaram quando viram seu Mestre ressurgido. “Até então tinham apenas acreditado; agora compreendiam”, Ibidem, p. 43. a Sra. Eddy explica. Agora, percebendo a nulidade da vida material e a onipotência do Amor divino, estavam aptos a obedecer a ordem do Mestre de fazer as obras que ele fizera e, como prometera, “outras maiores” fariam. E nós também podemos.

Os preceitos do Senhor são retos,
e alegram o coração;
o mandamento do Senhor é puro,
e ilumina os olhos.
O temor do Senhor é límpido,
e permanece para sempre;
os juízos do Senhor são verdadeiros
e todos igualmente justos.

Salmos 19:8, 9

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