Em 1868, Mary Baker Eddy, na época Sra. Glover, morava em casa da família Webster, na cidadezinha de Amesbury, Massachusetts, e dedicava todo o seu tempo ao estudo da Bíblia. Dois anos antes, ela descobrira a Ciência divina da cura cristã, em decorrência de sua própria recuperação, após um acidente quase fatal. Agora, ela estava procurando compreender mais completamente o Princípio e as regras da Ciência que a haviam curado.
No dia 30 de maio, um sábado, chegou à casa dos Websters um telegrama endereçado à "Sra. Mary B. Glover". Vinha da cidade de Manchester, New Hampshire. "A Sra. Gale está muito doente, por favor, venha segunda-feira de manhã, se possível. Responda sim ou não." A Sra. Glover foi imediatamente para a cabeceira de Mary Gale. Ao chegar, ouviu os médicos dizerem que a paciente não sobreviveria. Estava morrendo de pneumonia. A Sra. Glover curou-a de imediato. Logo depois da cura, um dos médicos disse à Sra. Glover que a Sra. Gale era viciada em morfina, que ela tomava para sentir alívio da tuberculose, agora curada juntamente com a pneumonia. A Sra. Glover, então, sentiu a necessidade de orar dia e noite a respeito desse vício. Em três dias esse foi eliminado. Arquivo histórico: Henry Robinson, Departamento de História da Igreja d'A Igreja Mãe; ver também Mary Baker Eddy, Miscellaneous Writings, p. 242. Essa cura está relatada no livro da Sra. Eddy, The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, na página 105. Anos mais tarde, quando uma aluna lhe perguntou o que a havia impelido a escrever Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, a Sra. Eddy contou-lhe sobre essa cura. A aluna, Clara Shannon, relata em suas reminiscências:
...quando a [Sra. Glover] entrou no quarto, a paciente estava recostada em muitos travesseiros e não conseguia falar. Nossa Líder percebeu que ela precisava de algo que a despertasse mentalmente,... disse-lhe que ela podia se levantar e que a ajudaria a vestir-se. Instantaneamente, ela ficou curada e sentiu-se bem....
Um dos médicos, um facultativo de muitos anos de experiência, foi testemunha do fato e disse: "Como foi que a senhora fez isso? O que foi que a senhora fez? A [Sra. Glover] respondeu: "Eu não sei dizer, foi Deus." E ele retrucou: "Por que a senhora não escreve e publica um livro e o dá ao mundo?" Quando ela voltou para casa, abriu a Bíblia e seu olhos caíram sobre o seguinte trecho: "Assim fala o Senhor, Deus de Israel: Escreve num livro todas as palavras que eu disse" Jeremias 30:2. Reminiscências de Clara Shannon, Depto. de História da Igreja.
Na volta a Amesbury, Mary ficou sabendo que o filho da Sra. Webster iria trazer a família para ficar na casa durante as férias de verão. Todos os pensionistas foram obrigados a se mudar. Mary Glover foi morar com Sarah Bagley, que a apresentou ao poeta John Greenleaf Whittier. Este foi curado de tuberculose ao conhecer nossa Líder. Ver Mary Baker Eddy, Pulpit and Press, p. 54; Robert Peel, Mary Baker Eddy: The Years of Discovery (Boston: The Christian Science Publishing Society, publicado originalmente por Holt, Rinehart and Winston, 1966), pp. 223–224.
Dois meses depois, Mary mudou-se novamente. Dessa vez ela encontrou moradia ao sul de Boston, em Stoughton, com a família Wentworth. Mary havia conhecido essa família quando ainda morava com seu primeiro aluno, Hiram Crafts e esposa. O Sr. Wentworth fora curado de ciática, e sua filha, Celia, de tuberculose. Essas curas fizeram com que a Sra. Wentworth pedisse à Sra. Glover que lhe ensinasse a curar. A Sra. Eddy escreveria mais tarde a respeito de sua experiência com os Wentworth:
Quando fui chamada a dar aulas para a Sra. Sally Wentworth, em Stoughton, atendi-a com grande sacrifício. Eles eram muito pobres. O Sr. Wentworth tinha o ofício de sapateiro, mas estivera doente muito tempo e impossibilitado de trabalhar. Eu o curei, com um só tratamento, de uma doença da bacia, considerada incurável.
Eles mal tinham dinheiro para comprar comida e moravam numa casa que estava preta, por falta de pintura, com uma enorme pedra diretamente em frente da porta. Eu paguei para mandar pintar a casa e para mandar fazer um gramado na frente. Curei o Sr. e a Sra. Wentworth e suas duas filhas, sem cobrar nada, ensinei à Sra. W. e fiquei com eles e dirigi e dei assistência a ela, para que pudesse estabelecer uma clientela com a prática da cura. Quando vim embora, ela me disse que estava ganhando uma média de 50 dólares por semana, com a prática da cura. História da Igreja, documento A11065.
Mary curou a Sra. Wentworth de um mal crônico na garganta, e a filha Lucy, de surdez. Além do problema na bacia, ela curou Alanson Wentworth do vício de fumar e mastigar tabaco. Durante sua estada em Stoughton, a Sra. Glover também curou John Scott de enterite e bloqueio dos intestinos, em apenas uma hora. Essa cura encontra-se relatada nas páginas 69 e 70 de Miscellaneous Writings. Interessante, pelos detalhes que acrescenta ao relato de Miscellaneous Writings, é o artigo a esse respeito publicado no Boston Traveler, em 1900:
... Embora fosse notável a cura física desse homem, ainda mais notável foi a transformação em seu pensamento e em sua vida. A esposa dele contou à Sra. [Glover], alguns dias depois, que nunca antes o vira [abraçar] os filhos como faziam os outros pais, mas na noite de seu restabelecimento, ele chamou a si as crianças e, tomando-as nos braços, disse-lhe que as amava; com lágrimas rolando pelas faces, disse à esposa: "Vou ser um homem melhor." Não é de estranhar que a esposa, feliz, dissesse à Sra. [Glover]: "Oh, como lhe agradeço por ajudar meu marido a recuperar a saúde, mas acima de tudo, sou grata pelo que a senhora fez por ele, moral e espiritualmente." Suplemento do Boston Traveler, época da Comunhão, 1900; Irving Tomlinson, Twelve Years with Mary Baker Eddy (Boston: The Christian Science Publishing Society, 1966), pp. 48–49.
Era esse aspecto da regeneração moral que diferenciava a "ciência" da Sra. Glover de todos os outros métodos de cura. Ela considerava esse lado como a parte mais importante, e foi isso, provavelmente, o que fez com que ela a princípio denominasse sua descoberta "Ciência Moral". Esse nome aparece pela primeira vez no título de seu manuscrito, usado para dar aulas: "A Ciência do Homem pela qual os doentes são curados, ou Perguntas e Respostas sobre a Ciência Moral". Foi enquanto morava com os Wentworth que ela completou esse trabalho.
Nesse manuscrito, a Sra. Glover havia posto: "Os doentes só precisam despertar deste sonho de vida na matéria — de dor e doença na matéria, sim, de sensação na matéria, que vós chamais sentido pessoal, para ver a si mesmos sadios: mas para quebrar essa ilusão, é preciso muito crescimento de vossa parte, muito progresso do sentido para a Alma." História da Igreja, documento A11351. A essa afirmação, ela fez seguir, um pouco mais adiante:
Pergunta: Qual é o método adequado e aquele que Jesus usou, para curar os doentes?
Resposta: Expulsar o erro pela verdade, e isso cura o doente, e é Ciência, como nenhum outro método é.
Pergunta: Como posso ter êxito nisso, de forma que minha demonstração de cura seja maravilhosa e imediata?
Resposta: Sendo como Jesus, perguntando a si mesmo: sou honesto, sou justo, sou misericordioso, sou puro?
Depois de um ano e meio com os Wentworth, Mary voltou para Amesbury para dar aulas a Sarah Bagley. Ali, ela reencontrou Richard Kennedy, seu segundo aluno, que estudara com ela dois anos antes. O rapaz tinha vinte e um anos e estava ansioso para começar a praticar a cura em tempo integral. Ele convenceu a Sra. Glover a formar, como professora, uma sociedade com ele, como praticista. Ele atenderia os pacientes e ela orientaria sua atuação. Mary advertiu-o: "Richard, a Ciência Moral exige uma vida muito espiritual, e o mundo atrai com muitas tentações. Você conhece apenas umas poucas, por enquanto. Se você me seguir, terá de lutar contra o mundo. Você é suficientemente espiritualizado para aderir ao meu trabalho e permanecer fiel?" Sybil Wilbur, The Life of Mary Baker Eddy (Boston: The Christian Science Publishing Society, 1976), pp. 186–187. Com mais entusiasmo do que sabedoria, ele respondeu que sim.
Como visse a necessidade de estabelecer o trabalho em uma cidade maior, a Sra. Glover, bem como o Sr. Kennedy, mudaram-se para Lynn, em maio de 1870. Ela esperava que, pelo trabalho de cura de seu aluno, surgissem pedidos de aulas com ela. Como pode ser depreendido de sua carta a Sarah Bagley, em julho, ela não ficou desapontada:
Todos me procuram para receber instrução, e veja, se eu não fosse melhor do que os outros, não teria idoneidade para ensinar a respeito de Deus, um ponto além do que os outros fazem, nem conseguiria. Richard está literalmente sobrecarregado de pacientes, e assim que se espalhou a notícia de que eu trouxera um aluno para cá, as pessoas começaram a procurá-lo. Recebemos alguns bons presentes de pacientes que foram curados. ... No dia 4 ganhamos umas cerejas deliciosas. Aproveitamos nossos momentos de lazer, mais do que consigo expressar. História da Igreja, documento L03919.
A orientação que Mary dava a seu aluno era mais ativa do que passiva. Richard Kennedy não se sentia confiante de tratar os pacientes sem recorrer à manipulação física, fazia fricções na cabeça ou no estômago. Embora ela mesma nunca usasse esse método, deixou que ele continuasse, na esperança de que crescesse espiritualmente e abandonasse essa maneira de agir. Mas isso nunca aconteceu. Certa moça que a conheceu nesse período, escreveu: "A Sra. Glover costumava dar o tratamento e o Dr. Kennedy fazia fricções." Arquivo Histórico: Alfred Farlow, declaração de Elizabeth Moulton, História da Igreja. E a Sra. Eddy escreveu, em carta de 1888:
Quando meu segundo aluno começou a atender pacientes, eu fazia a cura por ele, sentada numa antecâmara escura e fria, enquanto ele estava no escritório da frente, como médico. Fiz isso porque meu primeiro aluno parou de trabalhar nisso, logo no primeiro ano, tão grande foi a perseguição, e para encaminhar a obra eu tive de fazer o trabalho primeiro, sem ser vista.
Agradou-me esse trabalho em incógnito, gostava dele muito mais do que de aparecer. ... História da Igreja, documento L11061.
Em 1909, a Sra. Eddy contou a Irving Tomlinson mais coisas sobre como era sua vida naquele tempo:
Certa época, em Lynn, eu tinha cerca de cem casos, mas era um aluno que aparecia como praticista. Eu recusava pacientes porque estava levando avante a Causa e meu tempo estava ocupado com muitos outros afazeres.
Lembro-me de um caso trazido ali, em que a paciente estava quase nas últimas e encontrava-se desenganada. Eu estava na antecâmara, onde o único assento era uma tina virada. Ali mesmo eu me sentei, tratei a paciente silenciosamente e ela foi-se embora completamente curada. Anotações de Tomlinson, História da Igreja.
Os "muitos outros afazeres" em que a Sra. Glover estava ocupada naquele tempo incluíam dar aulas, escrever e aconselhar. Em agosto de 1870, ela ensinou sua primeira classe de seis alunos. Três meses depois, ensinou outra classe aproximadamente do mesmo tamanho. Samuel Putnam Bancroft estava nessa classe e escreveu bastante sobre suas experiências com a professora, nesse período. Suas palavras derramam apreço e calor sincero, quando descreve como era ser aluno da Sra. Glover, como ela se interessava enormemente pelo bem-estar e progresso dos alunos. Houve uma ocasião em que ela salvou a vida de seu filhinho, que estava gravemente doente. História da Igreja, documento A11071. O Sr. Bancroft escreve:
A Sra. [Glover], contudo, não se apresentava como professora de religião, mas sim de um método de curar os doentes sem usar remédios. Foi isso que nos levou a estudar com ela. Alguns tinham como objetivo recobrar a saúde, outros o de comercializar o conhecimento obtido. Estes viam a coisa como uma boa oportunidade de prosperar economicamente. As opiniões religiosas dela, embora não fossem escondidas, não eram ressaltadas. Depois, aprendemos que nosso êxito ou fracasso na cura dependia da pureza de nossa vida, assim como do ensinamento que ela nos dava. Bancroft, Mrs. Eddy As I Knew Her In 1870 (Press of Geo. H. Ellis Co., 1923), p. viii.
O estudo contínuo que ela fazia da Bíblia lhe dava um sólido fundamento. Mary também escrevia artigos para seus alunos, o que lhe facilitava o ensino. "As Perguntas do Homem sobre a Alma", "Espiritualismo", e "Sentido Pessoal" eram alguns dos títulos. Ela os usava em conjunto com seu caderno de classe, "A Ciência do Homem". Ocasionalmente, surgia uma pergunta na classe, que a professora considerava importante a ponto de merecer resposta por escrito. Uma delas veio do Sr. Bancroft, que perguntou como eles deveriam ver metafisicamente o processo de ensinar. Como parte da resposta, a Sra. Glover escreveu:
Quando eu ensino a ciência, não é a mulher falando para o homem, é o princípio e a alma expressando sua idéia. ... Meus alunos podem aprender comigo aquilo que não poderiam aprender, se as mesmas palavras fossem proferidas por outra pessoa com ainda menos sabedoria do que meu "grão de mostarda", por isso, não são as palavras, mas quanto de alma se exala para destruir o erro. História da Igreja, documento F00362.
Para Mary, a capacidade de curar provinha de algo muito além de uma compreensão intelectual de conceitos metafísicos. Era uma questão de estar o praticista governado pelo sentido espiritual ou pelo sentido material. Sem o aspecto espiritual, a prática da cura virava um exercício mesmérico, com uma mente humana controlando a outra. Era por isso que ela continuava a ressaltar para seus alunos a necessidade de maior bondade e pureza de pensamento e de vida. Como afirmava numa versão revisada de "A Ciência do Homem": "O estudante da Ciência Moral, e essa é a Ciência do homem, deve ser um cristão puro e sem mácula, a fim de poder fazer progresso mais rápido na cura. ..." Bancroft, p. 119. Mary Gatchell, que durante certa época morou na mesma casa da Sra. Glover, descreveua como "a mulher com a mente mais pura que eu já conheci". Reminiscências de Emma Shipman, História da Igreja. Foi assim que Mary pôde curar instantaneamente um homem muito deformado que estava sentado na calçada, em Lynn, dizendo-lhe simplesmente que Deus o amava. A Sra. Eddy descreveu essa cura a uma pessoa de sua casa, em 1907:
... Eu estava andando na rua... e vi esse aleijado, com um dos joelhos encolhido até o queixo. ... A outra perna estava dobrada nas costas. Cheguei perto dele e li um papel preso em seu ombro: "Ajudem este pobre aleijado." Eu não tinha dinheiro para dar-lhe, por isso murmurei ao seu ouvido: "Deus te ama." Ele se levantou, perfeitamente ereto e bem. Correu para a casa de [Lucy Allen] e perguntou quem era aquela mulher, apontando para [mim]. A mulher disse-lhe: "É a Sra. Glover." [Ele respondeu:] "Não, não é, é um anjo." Reminiscências de Lida Fitzpatrick, História da Igreja.
Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy escreve que o Cientista Cristão "precisa provar, quer pelo seu modo de viver, quer curando e ensinando, que o caminho do Cristo é o único pelo qual os mortais são radicalmente salvos do pecado e da doença."Ciência e Saúde, p. 458. Antes de escrever essas palavras, ela as pôs em prática.
