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Mary Baker Eddy: Filha da Nova Inglaterra . . . Cidadã do Mundo!

Da edição de janeiro de 2001 dO Arauto da Ciência Cristã


Programa apresentado pela Biblioteca Mary Baker Eddy para o Progresso da Humanidade

“Eu sei que minha missão é para toda a terra e não somente para meus queridos e devotos seguidores da Christian Science.... Toda a minha obra, todos os meus esforços, todas as minhas orações e lágrimas são para a humanidade e para disseminara paz e o amor entre os seres humanos” (Mary Baker Eddy, numa entrevista para o jornal “The New York American” em 1907).

Na noite de segunda-feira, 5 de junho de 2000, foi apresentado um programa especial na Extensão d'A Igreja Mãe, preparado pela recém-fundada Biblioteca Mary Baker Eddy para o Progresso da Humanidade. A apresentação analisou a trajetória de Mary Baker Eddy, desde sua vida de mulher totalmente desconhecida da Nova Inglaterra, até sua vida extremamente pública como escritora de livro, editora de um jornal e fundadora de um movimento religioso, cujas idéias chamaram a atenção do mundo.

O programa utilizou uma grande quantidade de material de pesquisa, como entrevistas ao vivo e recursos eletrônicos e, durante mais de duas horas, apresentou ao grande público presente (e àqueles que estavam assistindo ao vivo pela Internet) um número sem precedentes de cartas e manuscritos inéditos de Mary Baker Eddy.

O material de pesquisa incluía documentos de arquivo originais, escritos à mão pela Sra. Eddy, dados históricos pesquisados, móveis e artefatos originários de diversas casas da Sra. Eddy. Os recursos eletrônicos incluíam duas fitas de vídeo sobre sua vida e seu legado, câmeras projetando ao vivo o material de arquivo em dois telões instalados no auditório e um passeio “virtual” pela nova Biblioteca através de esboços e projeções arquitetônicas preparados pelos encarregados dos trabalhos.

Foram realizadas entrevistas com os três biógrafos recentes de Mary Baker Eddy, Gillian Gill, Richard Nenneman e Yvonne von Fettweis, bem como com dois consultores da Biblioteca, os professores Ann Braude, da Faculdade de Teologia da Universidade Harvard, e David Hufford, da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual da Pensilvânia. Foram apresentados também dois dos consultores principais da Biblioteca, Don Wilson, que já foi arquivista do governo federal norteamericano, e o escritor e historiador Allen Weinstein. Algumas das cartas de Mary Baker Eddy foram apresentadas, de uma maneira muito cuidadosa e comovente, pelo dramaturgo Horton Foote e sua filha, a atriz Hallie Foote, num cenário que incluiu móveis originais da Sra. Eddy.

Foi uma apresentação rica em história e embebida do espírito da mulher, cuja obra à qual ela dedicou sua vida inteira, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, seria para as gerações futuras o que a Sra. Eddy havia sido para sua própria geração: professora, sanadora, amiga e pastora.

Transcrevemos abaixo trechos do programa “Filha da Nova Inglaterra...”

: Esta tarde, muitos de vocês ouviram O Conselho de Diretores da Christian Science falar sobre a inspiração e sobre as circunstâncias que levaram ao estabelecimento da Biblioteca Mary Baker Eddy para o Progresso da Humanidade. Vemos a Biblioteca como um local especial onde os alunos de escolas, estudiosos, os que estão em busca de espiritualidade de todas as denominações e profissões, possam descobrir e encontrar conforto e esperança na vida e nas idéias da Sra. Eddy. A Biblioteca tem um conteúdo evangélico, mas não no sentido de procurar atrair pessoas para a Igreja da Sra. Eddy; na verdade, seu objetivo é divulgar suas idéias.

A declaração do propósito da Biblioteca compreende esse ideal: “A Biblioteca Mary Baker Eddy para o Progresso da Humanidade dedica-se a incrementar a busca universal da espiritualidade e da ciência do ser — bem como o efeito que eles têm sobre a saúde e o progresso humano”.

Hoje nós iremos dar um passeio “virtual” pela nova Biblioteca, permitindo que o rico acervo do material de arquivo, a maior parte dele ainda inédita, nos transmita informações sobre um período que testemunhou a trajetória da Sra. Eddy de “filha da Nova Inglaterra” a “cidadã do mundo”.

Seu guia nessa apresentação é Stephen I. Danzansky, Presidente do Fideicomisso do Patrimônio Histórico da Igreja e Gerente Executivo do Centro de Pesquisa e Apoio ao Conselho de Diretores da Christian Science.

Hoje iremos levá-los a uma viagem através de mais da metade da vida de Mary Baker Eddy como Descobridora e Fundadora da Christian Science. Estaremos cobrindo três décadas, a partir de 1860. São anos muito interessantes, porque produziram uma abundância de informações sobre o pensamento em desenvolvimento emergente da Sra. Eddy e sobre as tarefas que ela realizou, geralmente sozinha, no seu esforço de fundar ou “prover um fundamento para” o que ela havia descoberto.

Na mudança para o século XX, uma revista popular chamada “Human Life”, descreveu Mary Baker Eddy como “uma das mulheres mais famosas, interessantes e poderosas dos Estados Unidos, se não do mundo”.

Mas a Sra. Eddy já havia, no verdadeiro sentido da palavra, iniciado sua vida pública quatro décadas antes. Isso aconteceu quando compreendeu que o que ela havia descoberto sobre a saúde e a cura, sobre o relacionamento entre a mente humana, o corpo e a espiritualidade, não era algo que ela pudesse guardar para si mesma. Ela havia sido impelida a ir além da obtenção de seu próprio conforto físico e auto-enriquecimento espiritual, para tornar público o que ela havia descoberto.

Durante os quase trinta anos que se seguiram à sua descoberta, não havia o edifício da igreja nem a organização da igreja que conhecemos hoje. Durante a maior parte daqueles anos, ela constituiu o único Conselho de Conferências e Delegacia de Divulgação; foi a única professora, pregadora, pastora, editora, praticista e escritora. Ela deu conferências e palestras, apresentou sermões, curou muitas centenas de pacientes; alguns estimam que esse número chegue a três mil. Contudo, uma vez que muitos relatam ter sido curados simplesmente com a leitura de Ciência e Saúde, é difícil chegar a um número exato.

Para guiá-los e fornecer as informações necessárias durante a nossa viagem, estaremos utilizando alguns dos ricos recursos históricos e ao vivo da Biblioteca Mary Baker Eddy. Esses bens são reais. O material de arquivo é composto de 500.000 páginas, e vocês estarão vendo alguns exemplos ao vivo, através das lentes da nossa câmera de televisão.

DÉCADA INICIADA EM 1860

Stephen: A carreira da Sra. Eddy como Descobridora e Fundadora da Christian Science revelava um padrão irrepreensível da atividade familiar a muitos pensadores e pesquisadores científicos. Ela pesquisava, escrevia, praticava e anunciava os resultados publicamente. Veremos esses quatro elementos repetidos muitas vezes durante as três décadas de sua vida, que analisaremos hoje.

Mesmo antes de 1860, a busca de Mary Baker Glover pela cura se tornava algo mais do que um simples desejo de livrar-se do problema físico. No verão de 1849, quando viajou para Warner, no estado de New Hampshire, para ser tratada por um médico alopata, ela acabou estudando alopatia durante os meses em que ali esteve. Para ela, não bastava ser simplesmente paciente, ela precisava conhecer o como e o por quê do processo de cura.

Pesquisar, escrever, praticar e anunciar publicamente. Ela estava fazendo isso muito mais durante a década iniciada em 1860, enquanto acelerava o passo em sua jornada, conforme descreve com suas próprias palavras: “... pelos labirintos obscuros da matéria médica”, buscando “ensinamentos de diferentes escolas de medicina — a alopatia, a homeopatia, a hidropatia, a eletricidade, bem como várias formas de charlatanismo — porém nada encontrei que me satisfizesse” (Retrospecção e Introspecção, p. 33).

Mary Baker Eddy havia estudado e testado a homeopatia por vários anos depois de alcançar resultados favoráveis com sua utilização em meados da década iniciada em 1850. Em seu exemplar do manual de Jahr, um guia clínico de medicina homeopática, ela fez anotações sobre o que estava aprendendo e então tentou praticá-la em outras pessoas. Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy relata a cura de uma de suas pacientes, uma mulher com edema, ou, como eles então chamavam, “hidropisia” — usando pílulas de açúcar (p. 156). Mais tarde, ela chamou àquela experiência de a primeira “maçã-que-cai” (“Mrs. Eddy and the Late Suit in Equity”, de Michael Meehan, 1908, p. 161). Ela chamava de “maçãs-que-caem” as descobertas sobre a natureza mental da doença e sua cura. A segunda maçã-que-cai foi, naturalmente, sua descoberta da Christian Science em 1866.

Entre as duas maçãs cadentes, entretanto, houve algumas paradas adicionais, incluindo a visita ao Instituto de Hidropatia do Dr. Vail em Hill, New Hampshire, em junho de 1862, e, durante o outono do mesmo ano, visitas ao Dr. Phineas P. Quimby, que praticava a cura mental e cujo tratamento estava baseado na teoria do mesmerismo.

Mas, enquanto investigava essas conexões mente/corpo, Mary Baker Patterson estava pesquisando a Bíblia e também escrevendo, praticando e anunciando publicamente o que ela estava aprendendo. “Já em 1862,” escreve ela no Prefácio de Ciência e Saúde, “[a autora] começara a escrever e dar a amigos os resultados do seu estudo das Escrituras, pois a Bíblia foi sua única professora; essas composições eram, porém, imaturas — os primeiros passos de uma criança no mundo recém-descoberto do Espírito” (p. viii).

Agora vamos conversar com dois eminentes estudiosos e consultores da Biblioteca, a Dra. Ann Braude, Diretora do Centro de Estudos da Condição da Mulher na Religião, da Faculdade de Teologia de Harvard; e o Dr. David J. Hufford, Professor de Humanística na Medicina da Faculdade de Medicina da Universidade Estadual da Pensilvânia.

David, acabamos de ouvir sobre os estudos e experiências de Mary Baker Eddy com as formas de medicina alternativas existentes em sua época. Fale-nos alguma coisa sobre o que estava acontecendo no campo da medicina na década iniciada em 1860.

A experiência de Mary Baker Eddy era normal e compreensível para uma pessoa cautelosa, que estava tentando encontrar a saúde para si mesma e para ajudar os outros a se sentirem melhor: perambulando, conforme ela mesmo diz, por aqueles “labirintos obscuros”, ou seja, numa jornada experimental.

A medicina convencional, na época, não tinha muito a oferecer. [Muito] do que tinha a oferecer ... era bastante perigoso. Os remédios eram muito desagradáveis, contendo ingredientes como o mercúrio. [A prática da] sangria era ainda muito comum.

Assim, a medicina poderia ser muito perigosa, e não é de se surpreender que, naquela época, houvesse surgido essa grande variedade de práticas curativas, como o uso de ervas, da homeopatia, a cura pela mente e o mesmerismo. Naquela época, seria difícil chamar qualquer coisa de medicina alternativa, porque não daria para saber exatamente qual era a medicina regular, tantos eram os tipos de medicina adotados.

Mas o panorama da medicina começou a mudar por volta de 1869. Em torno de 1879, uma nova espécie de reforma médica estava começando. Ela teve início com a importação de um laboratório, ou visão centrada na ciência do ensino da medicina. Essa reforma estava se deslocando em direção a uma consolidação da classe médica em torno de um conjunto específico único de teorias da ciência material. E houve uma mudança para esse conceito muito mais estreito, do que a medicina deveria ser, com base na compreensão de que, devido a essa mudança, a doença seria essencialmente vencida.

Stephen: Mas David, hoje estamos vendo uma explosão, novamente, dessas práticas de medicina alternativas. Até mesmo a espiritualidade está desempenhando um papel importante hoje. O que está acontecendo?

David: Bem, a expectativa de que a padronização da medicina, em torno desse modelo de ciência de laboratório erradicaria a doença, levou, inicialmente, a algumas realizações bastante notáveis na medicina: antibióticos, esteróides, avanços nas técnicas da cirurgia. Mas o tempo passa. Chegamos à década iniciada em 1970. Ainda temos doenças. Não necessariamente todas as mesmas doenças, mas as pessoas ainda estão ficando doentes. Ainda estão morrendo. Ainda estão sofrendo. E existe uma incerteza crescente sobre aquela promessa inicial de erradicação da doença. Os custos, em termos humanos e financeiros, estão aumentando também.

Por volta de 1979 e certamente já na década posterior, o que nós chamamos agora de medicina complementar e alternativa, estava, em realidade, florescendo.

David: O ingrediente espiritual faz parte dessa mudança. Para muitas pessoas, um dos problemas com a medicina convencional é o materialismo e sua falta de base espiritual. Isso justifica parte da atração exercida pela medicina alternativa; e é o que as pessoas acham errado na prática da medicina convencional.

Então, por exemplo, a resposta da medicina a essa questão é que mais da metade das escolas médicas no país agora têm cursos voltados para a religião e para a saúde.

Estamos numa época de constantes mudanças. Isso faz sentido com o [novo] milênio. Eu diria que tem havido [várias] tomadas de consciência na história da religião, denominadas de despertar espiritual e renascimento espiritual. Penso que estamos agora mesmo no meio daquele que muito provavelmente pode ser considerado como o maior despertar espiritual dos tempos modernos.

Stephen: Gostaria de mencionar algumas notas ditadas por Mary Baker Eddy a Calvin Frye, seu secretário particular. Aqui está o que o Sr. Frye escreveu:

Etapas da Descoberta

A homeopatia é a etapa intermediária entre a alopatia e a matéria e a mente. A teoria e prática do Dr. Quimby era a etapa intermediária entre o magnetismo animal, o espiritualismo e a matéria e a mente. Mas nenhuma dessas teorias ou práticas eram a Christian Science. A homeopatia concorda que o remédio cura o doente, enquanto permanece o fato de que o remédio desaparece inteiramente em algumas de suas prescrições por meio das quais os doentes parecem estar curados... A Christian Science não começa a partir de nenhum fundamento, ela está firmada somente na cura pelo Cristo, através da Mente não da matéria... sim, é o Espírito, não a matéria, que cura o doente (Documento A10301 da Coleção dos Arquivos d'A Igreja Mãe).

Qual a informação que esse documento transmite em relação à jornada da Sra. Eddy através da medicina praticada no século XIX?

David: Em primeiro lugar fica evidente que ela estava bastante familiarizada com os diversos tipos de medicina alternativa daquela época. Particularmente com aquelas que poderíamos chamar de medicina da energia, ou medicina mente/corpo. Ela estava ciente de que se poderia obter alguns resultados notáveis com elas. Mas ela também descobriu que elas eram deficientes.

Primeiro, elas não ofereciam a cura completa. E segundo, muito embora não fossem materialistas no sentido da medicina convencional, elas também não eram espirituais, e em realidade, essa foi a direção para a qual a Sara. Eddy se encaminhou.

Ela atendeu parcialmente a isso e parcialmente ao materialismo redutivo na medicina. O que significa que a ciência médica, pelo final do século XIX e em grande parte do século XX, considerava que todas as coisas poderiam ser reduzidas à explicação material. Ao buscar uma forma de cura que a levaria a essa descoberta, ela descobriu algo que era absolutamente único. Era uma mudança radical em relação às outras práticas médicas alternativas que eram conhecidas naquela época, por ser inteiramente espiritual e firmemente fundada na escritura cristã.


Stephen: Ann Braude, acabamos de analisar o trajeto da Sra. Eddy por entre as teorias médicas de sua época. Mas, ao mesmo tempo, ela estava pesquisando, escrevendo, explicando a Bíblia. Vemos, a partir dos manuscritos que você examinou, que ela estava fazendo muitas anotações na Bíblia. O que significava para uma mulher fazer tais coisas na década iniciada em 1860?

Bem, essa realmente era uma grande aventura para uma mulher naquele período. Foi muito comovente para mim, como historiadora, ter a oportunidade de entrar nos arquivos e ver esses documentos. Eu havia visto uma transcrição das palavras, mas não era, de modo algum, o mesmo que segurar o papel sobre o qual ela trabalhou e ver as palavras que ela escreveu de próprio punho. Para mim, isso fez com que o documento criasse vida. E ajudou-me a entrar em contato com a Sra. Eddy como mulher, lutando para interpretar a Bíblia por si mesma.

A Bíblia era lida, apreciada e amada pelas mulheres no século XIX, como o é hoje. Naquela época, como hoje, mais mulheres freqüentavam igrejas e liam a Bíblia. Mas elas eram impedidas de interpretá-la e excluídas das escolas de teologia e dos seminários. As mulheres encontraram outras maneiras de expressar suas idéias religiosas durante esse período.

Stephen: Poderia nos dar um exemplo disso?

Ann: Penso que o melhor exemplo seria Harriet Beecher Stowe. Ela escreveu um livro famoso que, estou certa, muitos de vocês já leram, chamado A Cabana do Pai Tomás. Ela era um dos doze filhos do famoso evangelista Lyman Beecher. Todos os sete irmãos se tornaram pastores, todos freqüentaram o seminário, todos foram ordenados, alguns se tornaram professores de teologia. Mas o pai, Lyman, ficou realmente desolado porque o filho que ele considerava mais brilhante, Harriet, era uma menina, e isso significava que sua grande inteligência não poderia ser usada na divulgação da lei cristã. Mal sabia ele que muito mais pessoas leriam A Cabana do Pai Tomás do que ouviriam os sermões pregados por seus irmãos. Sinto dizer isso, mas naquele livro, ela encontrou uma maneira muito mais eficiente de falar sobre a fé cristã do que muitos daqueles sermões.

Mas Mary Baker Eddy não estava satisfeita com essa abordagem indireta. Ela não ficava satisfeita em apresentar o que ela aprendera da Bíblia na forma de poemas, hinos ou ficção. Ela desejava fazer algo diferente, ou seja, trabalhar diretamente com a Bíblia, e compartilhar o que ela havia aprendido de deu estudo.

Stephen: Ann, temos aqui esta noite algumas Bíblias pessoais de Mary Baker Eddy, inclusive a Bíblia da família Baker. Fale-nos um pouco sobre o papel da Bíblia nos Estados Unidos no século XIX.

Ann: É difícil exagerar o papel da Bíblia na história religiosa americana. Poderíamos, realmente, chamar a Bíblia de livro-texto do protestantismo americano. A Bíblia estabeleceu a agenda para a fundação por parte dos Puritanos, das colônias da Nova Inglaterra. Eles estavam realmente tentando estabelecer uma comunidade que iria concretizar tudo o que era ensinado na Bíblia e permitir que a sociedade fosse completamente orientada por esses ensinamentos. Eles achavam tão importante que todos lessem a Bíblia, que estabeleceram as primeiras escolas públicas. Eles criaram a sociedade mais alfabetizada que jamais havia existido até aquela época, para que todos pudessem ler a Bíblia.

O que impulsiona o protestantismo é a idéia do sacerdócio de todos os crentes, o sentimento de que cada um deve, por si mesmo, empenhar-se no estudo da Bíblia. Isso era o que Mary Baker Eddy estava fazendo, e ela desejava levar esse seu comprometimento com o estudo da Bíblia às outras pessoas.

Stephen: Na condição de professora da Faculdade de Teologia de Harvard, como você caracterizaria a contribuição da Sra. Eddy para o progresso do pensamento religioso nos Estados Unidos?

Ann: Bem, existem duas coisas que eu desejaria realmente enfatizar, além de sua importância como uma intérprete da Bíblia, que já foi mencionado. Primeiro, é seu papel como fundadora institucional; porque havia uma grande quantidade de boas idéias em circulação durante o século XIX, como, por exemplo, a idéia de Deus como Pai-Mãe. Muitas pessoas tinham ouvido falar sobre essa idéia. Mas Mary Baker Eddy era a única capaz de fundar uma instituição que pudesse perpetuar essa idéia para o século XX, para que ela pudesse estar acessível a todos, hoje.

A outra coisa que eu gostaria de salientar, além de seu papel como fundadora e edificadora de uma instituição, é a idéia que ela tornou acessível às mulheres no século XIX, de que a mulher não se resume a apenas um corpo. Esse era um período em que se dizia às mulheres que, em realidade, as transformações biológicas constituíam o destino das mulheres, e que se elas pensassem demais, isso poderia deslocar sangue demais para o cérebro, retirando-o do sistema reprodutivo, que era mais importante. Ora, como aconteceu com muitas teorias do século XIX, creio que também se provou que esta era inverídica. Tive um bebê há pouco tempo e, por isso, estou certa de que o fato de eu ter estudado até o doutorado não anulou minhas outras possibilidades. Mas essa era uma idéia muito importante para as mulheres terem acesso a ela: a de que existe muito mais com respeito a quem somos e com respeito a quem podemos ser, do que possa ser descrito pela nossa anatomia.

DÉCADA INICIADA EM 1870

Stephen: Se a década iniciada em 1860 foi um período de descoberta, um período para pesquisar, escrever, praticar e anunciar um pouco publicamente, a década iniciada em 1870 poderia ser considerada como um período de definições. Um período em que a Christian Science e sua Descobridora estavam encontrando suas respectivas identidades e assumindo os nomes pelos quais são conhecidas hoje. Mary Baker Glover tornou-se Mary Baker Eddy em 1° de janeiro de 1877, quando se casou com Asa Gilbert Eddy. E a Christian Science tornou-se o nome de sua descoberta com a publicação da primeira edição de Ciência e Saúde em 1875. A Christian Science tinha sido anteriormente denominada “Ciência Moral”.

Antes de 1870, a descoberta que a Sra. Eddy chamou de Christian Science estava, principalmente, em sua consciência, sendo o produto do desenvolvimento de seu pensamento e de sua prática de cura. Aquilo que ela transformou em escrita consistia somente de umas poucas anotações manuscritas nas Escrituras, anotações sobre o Evangelho de Mateus e o livro do Gênesis. Quando a Sra. Eddy começou a ensinar seu sistema de cura para classes de alunos, entretanto, ela havia escrito vários outros manuscritos. Ela ministrou aula para sua primeira classe formal em agosto de 1870, em Lynn, Massachusetts. Por volta do final daquela década, a Sra. Eddy havia sido convidada para ser a pastora da Igreja de Cristo (Cientista), que, em agosto de 1879, receberia o alvará de funcionamento do Estado de Massachusetts.

O que foi que transformou uma classe de cinco ou seis alunos, que tinham empregos regulares durante o dia, numa Igreja com alvará de funcionamento concedido pelo Estado de Massachusetts apenas dez anos depois? No centro solar dessa década de definição, estava o aparecimento da principal obra da Sra. Eddy, o “livro-texto” de sua descoberta. Ela escreveu num artigo do Journal de 1884: “Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras é o livro-texto completo da Christian Science; e seu método metafísico de cura é apresentado de uma forma tão clara quanto possível, devido à necessidade de expressar o metafísico em termos físicos. Não existe, em absoluto, nenhum segredo adicional fora de seus ensinamentos, ou que dê a alguém o poder de curar; mas é essencial que o aluno adquira a compreensão espiritual do conteúdo desse livro, para que possa curar” (Miscellaneous Writings, p. 50).

Ciência e Saúde, escreveu ela em uma carta a um amigo em 1881, foi “como um meteoro de luz ou uma moeda brilhante tirada da velha mina de minhas outras obras” (Documento L13357 da Coleção de Arquivos d'A Igreja Mãe). Esse “meteoro de luz” estava definindo tanto a descoberta como a Descobridora. A Sra. Eddy verteu nas páginas daquele livro, e nas páginas de quase quinhentas edições nas quais ela trabalhou pelo resto de sua vida, tudo o que ela estava aprendendo e provando sobre a Ciência do Cristianismo. E tudo isso num período em que precisou mudar de casa vinte e duas vezes.

Para examinarmos com mais profundidade a década iniciada em 1870, vamos conversar com três biógrafos da Sra. Eddy: Yvonne Caché von Fettweis que, juntamente com Robert Townsend Warneck, escreveu “Mary Baker Eddy: Christian Healer” ; a Dra. Gillian Gill, autora de “Mary Baker Eddy” ; e Richard A. “Dick” Nenneman, que escreveu “Persistent Pilgrim — the Life of Mary Baker Eddy”.

Yvonne, acho que seria interessante saber exatamente o que a própria Sra. Eddy tinha para dizer sobre o por quê de ela escrever Ciência e Saúde. O que sua pesquisa pode nos dizer a esse respeito?

Bem, Steve, existem dois documentos nos arquivos e algumas referências publicadas. Um dos documentos é um texto manuscrito no início de uma de suas Bíblias, que diz:

“Antes de escrever Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras eu havia pedido, durante semanas, que Deus me dissesse o que eu deveria fazer em seguida e todos os dias eu abria a Bíblia para encontrar minha resposta, mas não recebia nada. Mas, quando eu me elevei para recebê-la, abri novamente a Bíblia e o primeiro versículo que li estava em Isaías 30:8” [“Vai, pois, escreve isso numa tabuinha perante eles, escreve-o num livro, para que fique registado para os dias vindouros, para sempre, perpetuamente”] (Documento AA9, Coleção de Arquivos d'A Igreja Mãe, Coleção de Bíblia de Mary Baker Eddy).

O outro documento pode ser encontrado nas reminiscências de uma de suas alunas, Clara Shannon. Um médico, chamado Dr. Davis, havia enviado um telegrama pedindo que a Sra. Eddy assumisse um de seus casos. A paciente estava com pneumonia. Ela foi e esse médico testemunhou a cura instantânea efetuada pela Sra. Eddy. O Dr. Davis disse à Sra. Eddy: “ Como foi que a senhora fez isso? O que foi que a senhora fez?” E então ele disse: “Por que a senhora não escreve e publica um livro e o dá ao mundo?” Você poderá observar no relato de Shannon que a Sra. Eddy faz referência a Jeremias 30:2: “Assim fala o Senhor, Deus de Israel: Escreve num livro todas as palavras que eu disse”.

Stephen: Foram esses relatos conflitantes que a motivaram?

Yvonne: Não. Vamos considerar o nome que a Sra. Eddy deu à sua descoberta. Ela chamou-a “Christian Science”. Portanto, como cristã devota, ela naturalmente se volveria para sua Bíblia em busca de orientação, conselho, inspiração, ímpeto. Mas havia um outro lado para essa mulher. Ela também vivia a vida de uma disciplinada pensadora científica. Portanto, ela teria reagido muito favoravelmente ao pedido do Dr. Davis para que ela escrevesse seu método de cura num livro e o divulgasse.

Você sabe, a cura física era mais do que um fenômeno pessoal para a Sra. Eddy. O que estamos considerando aqui é uma busca científica para confirmar o que ela estava descobrindo, o que ela havia descoberto sob a forma de um fenômeno de cura física. Mary Baker Eddy era uma sanadora notável. Na década iniciada em 1870, o período que estamos discutindo, por exemplo, ela curou pessoas de surdez, enterite, uma menininha que nunca havia falado e um homem que estava horrivelmente aleijado, e essas curas foram instantâneas. Num momento eles estavam sofrendo e no momento seguinte eles estavam perfeitamente bem. Ela estava cuidando de registrar esse método, divulgá-lo, publicá-lo e anunciá-lo publicamente para que os outros pudessem beneficiar-se com ele.


Stephen: Gillian Gill, falando sobre a citação acima, dizendo “vai... escreve-o num livro”... para uma mulher naquele tempo, era mais fácil falar do que fazer isso, não?

Você tem toda a razão. É tão difícil, quando nos encontramos sentados aqui, neste edifício extraordinário, vendo inscritas nas paredes as mensagens de Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy. apagar tudo isso que está aqui e voltar para 1872, quando a Sra. Eddy teve de sentarse e começar a escrever o livro. Foi um passo extraordinário.

Temos uma mulher que tem por volta de seus cinqüenta anos. Escrever o primeiro livro não é fácil para nós agora. Pense quão mais difícil foi para ela naquela época. Somos, no meu entender, um grupo privilegiado. A Sra. Eddy tinha acabado de passar por um período muito, muito difícil em sua vida. Ela estava começando a se reerguer. Ela havia se tornado parte da sociedade de Lynn. Ela estava dando suas aulas. As coisas estavam começando a melhorar. Ela estava ganhando seu próprio sustento, o que, por si só, para uma mulher na sua época, era uma grande realização.

Portanto, aqui temos alguém que conseguiu chegar a uma espécie de equilíbrio precário. Então, ela decide que vai mexer nesse equilíbrio. Ela vai colocar tudo novamente em uma espécie de perigo, retirando-se da sociedade e escrevendo um livro.

Foi uma decisão extremamente difícil. A Yvonne falou em volver-se para a Bíblia. Ela precisava encontrar inspiração e orientação! Ela precisava procurar forças, porque esse era um momento difícil. Penso que esse é um bom exemplo da liderança da Sra. Eddy. Penso nela perguntando: “Qual será meu próximo passo? Não posso simplesmente continuar arando o mesmo sulco. Tenho que seguir em frente. Preciso subir ao próximo patamar; e meu próximo patamar tem de ser escrever um livro.”

Então, ela senta-se em seu frio e pequeno quarto alugado, com sua pena e seu bloco de anotações no colo. Ela mergulha a pena no tinteiro e começa a escrever. E, como sua biógrafa, fiquei tão impressionada sobre quão pouco as circunstâncias limitadas e difíceis e o barulho, ela era extremamente sensível ao barulho, não a perturbavam. Ela diz, posteriormente, numa reminiscência: “Essa preamar de verdade se elevava sobre mim em algumas ocasiões de forma esmagadora e eu tinha de respirar sofregamente enquanto minha pena voava, como se estivesse submersa na transfiguração de idéias espirituais.” (Documento A10934, Coleção dos Arquivos d'A Igreja Mãe).

Stephen: Mas os obstáculos que ela enfrentou não eram simplesmente pessoais e financeiros, certo? Tratava-se de um livro sobre metafísica escrito por uma mulher.

Gillian: Exatamente. Quero dizer, todos vocês conhecem Ciência e Saúde. Pense um pouco. Esse não é simplesmente um registro pessoal de curas. Não é simplesmente um manual de instruções sobre como curar, se é que podemos imaginar uma coisa dessas. A Sra. Eddy entra direto desde o primeiro capítulo na metafísica. Ela diz que temos de ter a “Ciência Natural”, que é o título do primeiro capítulo da primeira edição de Ciência e Saúde — antes que possamos chegar à fisiologia e curar. Portanto, ela entra direto na metafísica.

Na primeira página daquele primeiro capítulo ela diz: “Essa prova nós reivindicamos tê-la conseguido, e reduzido à sua exposição na ciência, que fornece a chave para a harmonia do homem, e revela o que destrói a doença, o pecado e a morte.” Dessa forma, ela está dizendo às pessoas que, antes de podermos curar, precisamos compreender as estruturas profundas que Deus estabeleceu para nós, e que ela vai ser a nossa guia: eu, Mary Glover. Quero dizer que essa foi uma mudança extraordinária. A Professora Braude já nos havia dito, de maneira muito eloqüente, como era difícil para as mulheres atuarem, não na vida religiosa, naturalmente, mas no campo da interpretação, da pregação e no papel de liderança. Isso era algo sem precedentes. A Sra. Eddy assume esse papel e planeja não apenas pregar, não apenas escrever, mas publicar sua obra na forma de um livro.


Stephen: Dick Nenneman, a Gillian nos forneceu um panorama sobre como era para uma mulher do século XIX formular pensamentos importantes sobre religião e metafísica, e então, ter a coragem de escrevê-los na forma de livro. Sua recente biografia sobre a Sra. Eddy intitulada Persistent Pilgrim, enfoca sua determinação de divulgar sua mensagem. De acordo com o Webster, a palavra persistir significa “prosseguir resolutamente, a despeito de obstáculos, oposição ou admoestações”. Quais eram os obstáculos, a oposição e as admoestações?

A Gillian já falou sobre a questão da dificuldade para uma mulher que tem idéias importantes, particularmente no campo da teologia e da cura, ser ouvida, lutar sozinha para ter um livro publicado. Mas eu me pergunto se consideramos a questão da solidão. Ela estava só com seus pensamentos nesse período. Ela havia parado de lecionar para trabalhar no seu livro e ela precisava ficar sozinha para encontrar as palavras certas para colocar nesse livro. A Gillian nos deu aquela citação maravilhosa sobre a preamar de verdade que vinha a ela, mas isso levou três anos. Eu diria que houve muitos dias em que a preamar não parecia chegar, mas ela continuava trabalhando.

Ela precisava ficar sozinha, mas esse sentido de solidão tinha um preço; e havia ocasiões em que a falta de um companheirismo humano normal tornava-se quase que insuportável, talvez, em especial nas ocasiões festivas.

Fiquei muito comovido com uma correspondência que descobri durante minha pesquisa nos arquivos. Era uma carta que ela escrevera a Samuel Putnam Bancroft, que foi um dos primeiros alunos, no Dia de Ação de Graças de 1872. Gostaria de ler para vocês apenas o começo dela:

“Amigo Bancroft,

Dizem-me que este dia deve ser dedicado às festividades e ao regozijo; mas não tenho nenhuma evidência disso, exceto pelo manifesto e pela reunião daqueles que se amam. Estou só hoje e provavelmente não verei um único aluno; os laços de família estão desfeitos para mim, para nunca mais serem refeitos neste mundo.

Mas, e aqueles que aprenderam comigo a Verdade da Ciência Moral, onde encontram eles suas alegrias, onde procuram eles a amizade e a felicidade? Será que verei algum deles hoje?. . .” (Documento V03043 da Coleção de Arquivos d'A Igreja Mãe).

Stephen: E então, Dick, o que foi que a impeliu a seguir através de toda essa solidão, através das mudanças e assim por diante, de uma maneira tão irreprimível?

Dick: Penso que podemos dizer que a Sra. Eddy tinha um sentido de missão, um sentido de que sua vida tinha um propósito ímpar e que era isso que a fazia seguir em frente. Ela parou de lecionar em 1872, porque se sentiu impelida a escrever. Ela havia dado aula para três classes de alunos. Ela havia se convencido de que poderia explicar seu método de cura com sucesso a outros, de forma que eles pudessem ir em frente e curar também.

Mas ela desejava perpetuar esse método, de uma forma que fosse mais rápida e alcançasse um maior grupo de pessoas do que ela o poderia fazer, da pequena comunidade de Lynn. Se escrever um livro era a maneira de fazer isso, e essa seria a tarefa seguinte, então que assim, fosse. Ela o faria. Mas mesmo assim, isso não significava que seria uma tarefa fácil.

Voltando, uma vez mais ao Sr. Bancroft, muitos anos mais tarde, ele escreveu suas reminiscências. Lembrando-se dessa ocasião, ele escreveu:

“...A Sra. Eddy se isolou mais de três anos com esse propósito, privando-se de tudo, exceto das necessidades básicas da vida, enquanto escrevia. Eu a tinha conhecido quando ela estava quase aniquilada pela tristeza, mas ela continuava a escrever. Eu a tinha conhecido quando os amigos, um após o outro, a haviam abandonado, mas ela continuava a escrever” (“Mrs. Eddy As I Knew Her in 1870”, de Samuel Putnam Bancroft, Boston: Press of Geo. H. Ellis, 1923, p. 127).

Eu gostaria de sugerir que olhássemos um pouco mais à frente, para 1875, quando Ciência e Saúde foi terminado. A Sra. Eddy não tinha fundos disponíveis para publicar o livro, e conforme os outros mencionaram, não havia nenhum editor disposto a se aproximar e publicar o livro por sua própria conta. Então, ela permitiu que dois de seus alunos financiassem o livro para ela. Então, quando o livro saiu, ela os enviou de porta em porta, para tentar vender os exemplares. Se isso não for persistência, então não sei o que é.

Ela era persistente, sim, e sem aquela persistência ela não poderia ter feito tudo o que fez. Mas somente a persistência, persistência sem ajuda, não teria dado resultado. A inspiração que a Sra. Eddy adquiriu, de estudo constante da Bíblia, durante toda a sua vida, e da sua comunhão diária com Deus, era a espinha dorsal na qual essas qualidades humanas, como a persistência, obtinham sua extraordinária força.

DÉCADA INICIADA EM 1880

Stephen: Foi durante a década iniciada em 1880, que o movimento da Christian Science começou a ganhar força. E o fato assombroso era que ainda não havia nenhum edifício de igreja e nenhuma organização de igreja, como nós conhecemos hoje, embora os cultos religiosos estivessem sendo realizados em salões alugados em Boston. A missão de restabelecer “o cristianismo primitivo e seu elemento de cura, que se havia perdido” (Manual d’ A Igreja Mãe, p. 17), estava acontecendo todos os dias, através de conferências públicas, das quais, mais de oitenta foram proferidas pela Sra. Eddy; através das páginas do novo Journal of Christian Science, bimensal; e da primeira Sala de Leitura da Christian Science, aberta no Hotel Boylston. Estava também acontecendo, através da prática da cura exercida por mais de mil alunos, que estavam sendo preparados na Faculdade Metafísica de Massachusetts, e através da publicação e da venda de Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras.

Foi durante esse período que a Sra. Eddy, tendo definido sua descoberta e sua missão, transformou-se de filha da Nova Inglaterra em uma cidadã pública, cuja obra de vida estava começando a ser notada em todo o mundo.

Para captarmos um pouco da energia e do conteúdo dramático dessa época, convidamos o dramaturgo Horton Foote e sua filha, a atriz Hallie Foote, para apresentarem algumas das cartas da Sra. Eddy escritas durante a década iniciada em 1880.


A primeira carta inédita, que a Hallie lerá para os senhores esta noite, foi escrita pela Sra. Eddy durante uma viagem a Washington, D.C., em 1882. Ela havia viajado para a capital com seu marido, Asa Eddy, para informar-se sobre as leis de direitos autorais aplicáveis aos seus escritos, dar algumas palestras e lecionar. Sua carta foi escrita para Clara Choate, de Boston, uma de suas primeiras alunas.


Washington D.C.,
28 de fevereiro de 1882
Minha querida querida Aluna.

Você está fazendo o que Deus sabe, e eu sei, e todos os demais deveriam saber, que é mais abençoado e uma bênção ainda maior para o gênero humano do que a história registrou anteriormente sobre qualquer um exceto eu mesma nesse período.

Deus a abençoe, eu a abraço estreitamente contra o meu peito e posso encorajá-la com o fato de que estou abrindo o caminho para os alunos nesta Cidade de elegância e orgulho.

Trabalhei aqui mais do que nunca. Durante quatorze noites consecutivas, dei conferências de três horas cada uma, toda noite, além das demais tarefas das quais tenho de me desincumbir. Vou para a cama à meia-noite e me levanto às 6 e trabalho. Eu já consegui um bom número de pessoas dispostas para trabalhar. “De ti eu necessito, Sim, a toda hora”...

Boa, boa menina, como você está divulgando as boas novas. Tenho estado tão absorvida em meu trabalho e tentando, nos intervalos, ver algo aqui para levar de volta da viagem num sentido laico também, que me esqueço de que estou ficando sem dinheiro em meu porta-níqueis, mas posso resistir até voltar. Então espero dar aulas e reabastecer meus recursos.

...Mande meu amor a todos os meus queridos alunos e tome, para você mesma, uma porção.

Sempre a mesma.

MBGE — ...(Documento L02499, da Coleção dos Arquivos d'A Igreja Mãe).

Horton: Antes de voltar a Boston, os Eddys fizeram uma viagem à Filadélfia, cidade que a Sra. Eddy havia visitado rapidamente durante a comemoração do Centenário da Independência dos Estados Unidos em 1876. Aqui, ela teria captado um vislumbre do que o movimento das mulheres, naquela cidade, estava realizando. Novamente, para Clara Choate:

Hallie:
15 de março [1882]
Minha querida aluna,
e companheira de trabalho,

Como sempre, fiquei encantada por receber notícias suas e tomar conhecimento de que os majestosos avanços da metafísica estão sendo vistos em Boston. Sua própria contribuição nesse progresso é totalmente acompanhada e alegremente reconhecida por mim. Nunca tive nada que impedisse esse glorioso trabalho a não ser alunos inativos ou pecaminosos; e se eu tivesse um e especialmente meia dúzia, para trabalharem como convém a homens e mulheres zelosos em qualquer causa justa, nunca perderia a esperança do triunfo ao final. É glorioso ver o que as mulheres sozinhas estão fazendo aqui pela temperança. Mais do que jamais um homem havia feito.

Esta é a época das mulheres, elas devem se mobilizar e levar avante as grandes reformas morais e cristãs, eu sei. Agora, querida, vamos trabalhar como as sufragistas laboriosas, que estão conseguindo ser ouvidas em toda parte, estão trabalhando. Vamos trabalhar como elas o fazem em amor “preferindo-vos em honra uns aos outros”. Vamos trabalhar lado a lado, cada uma carregando sua própria parte dos fardos e ajudando-se mutuamente, e então, os fracos retrocessos do mesmerismo desaparecerão diante de tal união....

Com amor,

MBGE (Documento L04088, da Coleção dos Arquivos d'A Igreja Mãe).

Horton: A Sra. Eddy também viajou para o meio oeste durante a década iniciada em 1880. Este fragmento de uma carta para seu amigo e aluno, Coronel E.J. Smith, nos dá uma noção de sua estada de três semanas em Chicago, em maio de 1884.

Hallie:
Boston, 25 de junho de 1884...
Meu querido aluno,

Os documentos e cartas que você enviou chegaram bem e aproveito a primeira oportunidade apropriada para lhe responder.

Gostaria de tratar da amizade primeiro e dos negócios depois, ao invés de tratar de negócios primeiro e dos amigos e de Deus por último, mas, ás vezes, a pressão exige um pouco de demora, até mesmo de mim.

Fui para Chicago em maio para atender a um chamado imperativo das pessoas de lá e de minha própria percepção da necessidade. Esse grande trabalho havia começado, mas meus alunos necessitavam que eu desse a ele um fundamento e um impulso corretos, naquela cidade de espírito empreendedor incessante. Então fui, e em três semanas lecionei para uma classe de 25 alunos, dei uma palestra no Music Hall para um auditório lotado, consegui 20 assinaturas para meu Journal, vendi cerca de trinta exemplares de Ciência e Saúde, etc. Na classe havia três médicos e dois clérigos, sendo um Metodista e o outro Universalista, ambos bons pensadores e estudiosos...

Apressada.Sempre a mesma.

M B G Eddy (Documento L02069, da Coleção dos Arquivos d'A Igreja Mãe)

Horton: Relatos sobre as curas e sobre a circulação de Ciência e Saúde, eram muito bem recebidos pela sua autora. De fato, os registros mostram que a Sra. Eddy tinha um interesse profundo na distribuição e venda de seu livro. Ela escreveu à sua aluna Caroline Noyes, de Chicago, em junho de 1884:

Hallie:

Estou contente que você esteja se encarregando de distribuir o livro que está fazendo tanto bem. Meus alunos dizem que o livro faz tanto, se não mais, para a cura, do que eles poderiam fazer (Documento L05410, da Coleção dos Arquivos d'A Igreja Mãe).

Horton: E para outro aluno, Ebenezer Foster, ela escreveu em junho de 1888:

Hallie:

O Espírito é tudo o que necessitamos para encontrar ouvintes e seguidores, agora. A Christian Science foi ouvida, o livro é o pregador. Ciência & Saúde está fazendo um milhão de vezes mais pela espécie dos mortais do que todos os alunos e seus Professores poderiam jamais fazer. Abram o caminho para ele em todas as direções que estiverem ao seu alcance. (Documento L01777, Coleção dos Arquivos d'A Igreja Mãe).

Horton: Durante a década iniciada em 1880, a Sra. Eddy dedicou-se, de coração e alma, a escrever e revisar Ciência e Saúde. Ela fez três grandes revisões de seu livro durante essa década, além de incontáveis mudanças e aprimoramentos de menor porte. Na sua autobiografia não publicada, intitulada “Footprints Fadeless” (Pegadas Indeléveis) ela fala sobre isso.

Hallie:

Nas minhas revisões de Ciência e Saúde, sua tônica, por inteiro, ia aparecendo de uma maneira constante, cada vez mais clara, mais alta e mais doce. Nem uma única vibração de suas cordas melodiosas foi perdida. Eu tenho, de forma cada vez mais clara, elucidado seu tema, com o passar dos anos, até que, agora, suas reivindicações não podem ser mal compreendidas. Teria Newton sido capaz de formular as leis da gravidade assim que descobriu esse importante princípio? Muito menos poderia eu, no início, formular e exprimir o Princípio infinito e as Leis divinas, dos quais Deus me concedeu o primeiro débil raio de luz, na minha hora de agonia física e iluminação mental. Todos os Cientistas Cristãos verdadeiros compreendem, até certo ponto, meus esforços honestos iniciais (Documento A10402, da Coleção de Arquivos d'A Igreja Mãe).

Horton: Em 1889, Mary Baker Eddy voltava sua atenção, uma vez mais, para uma outra grande revisão de Ciência e Saúde: a qüinquagésima edição. Esse trabalho foi tão importante que ela literalmente colocou tudo de lado para realizá-lo. Depois que sua nova edição foi publicada, em janeiro de 1891, ela escreveu ao seu aluno Capitão Eastaman, de Boston:

Hallie:

Concord, 15 de fevereiro de 1891
Capitão Eastaman,
Meu mui amado aluno.

Tenho em mãos sua carta característica. Muito obrigada por ficar faminto por notícias minhas e me escrever.... Oh! quão bondoso é Deus por trazer de volta os errantes à porta de Seu aprisco e então, como o fiel Pastor, colocá-los para dentro sob Seu cajado. Agora, minha edição revisada da mensagem de Deus para os mortais está publicada, finalmente. Custou-me quase 4.000 dólares e dois anos de trabalho duro, e esse não é todo o custo, não mesmo — Mas agora o que ela me rendeu? Mais do que milhões em barras de ouro. Sinto uma alegria indescritível ao pensar no bem que, eu sei, essa edição conseguirá fazer.— As antigas edições fizeram seu trabalho e o fizeram bem. Mas a nova tem uma tarefa diferente, ela assume seu lugar como Professora bem como sanadora; torna-se um poder vivo para elevar todo o gênero humano... (Documento L03475, da Coleção dos Arquivos d'A Igreja Mãe).

ANO 2000

Stephen: Hoje analisamos três décadas da vida da Sra. Eddy, ou seja, de 1860 a 1889. Vimos como uma filha da Nova Inglaterra descobriu a cura para sua doença, descobriu a si mesma e descobriu a Christian Science, aquele rebento de seu pensamento de progresso e intuição espiritual, que ela acalentaria para o resto de sua vida terrena. E, ao final dessa vida, ela era, em realidade, uma cidadã do mundo.

Seria legítimo, então, perguntar: O que dizer do seu legado? Como Mary Baker Eddy está sendo considerada, hoje? O relatório do Conselho de Diretores, apresentado esta tarde, mencionou o interesse crescente na Sra. Eddy por parte de pensadores, incluindo estudiosos, os que buscam por espiritualidade e, naturalmente, os médicos que procuram compreender melhor a conexão mente/corpo e seu relacionamento com a oração e a espiritualidade. Ouvimos que, da mesma forma, têm aumentado os pedidos de palestras sobre a vida da Sra. Eddy, numa proporção quase vinte vezes maior do que há cerca de cinco anos. E ouvimos que centenas de milhares de pessoas souberam da vida da Sra. Eddy, ao visitar a exposição itinerante em Seneca Falls. Tivemos conhecimento de seminários sobre sua vida, incluídos nos programas de centros de estudos da condição da mulher e organizações que congregam diversas denominações nas universidades. E acolhemos com alegria as honras e tributos prestados a ela por legislaturas estaduais e pelo National Women's Hall of Fame.

Também registramos aumento no número de publicações que citam a Sra. Eddy fora do contexto de suas contribuições à teologia e à medicina. Ela foi uma das dezesseis pessoas selecionadas pelo escritor Garry Wills em seu livro lançado em 1994 (“Certain Trumpets: The Call of Leaders”), em que ele apresenta estudos de casos em liderança e organização. Existe também uma menção de Mary Baker Eddy como uma redatora de periódicos num livro de 1995 intitulado Our Sister Editors (Sarah J. Hale e Tradição das Mulheres Americanas Editoras do Século XIX, de Patricia Okker). Recentemente temos notado várias referências à perspicácia empresarial da Sra. Eddy, incluindo artigos nas publicações “Investor's Business Daily” e “Boston Business Journal”. Em um livro publicado no ano passado, a autora, Jane Plitt, ela mesma uma empresária, explica o impacto das idéias de Mary Baker Eddy em uma mulher de negócios no final do século XIX, que foi contemporânea da Sra. Eddy (“Martha Matilda Harper and the American Dream: How One Woman Changed the Face of Modern Business”, de Jane R. Plitt).

“Os tempos vindouros terão de contar o que o pioneiro realizou”, escreveu a Sra. Eddy no Prefácio de Ciência e Saúde (p. vii). Nos dois últimos anos, constatamos que pensadores e formadores de opiniões da nossa época, estão se manifestando sobre suas realizações. Reproduzimos abaixo os comentários dos dois principais consultores da Biblioteca Mary Baker Eddy: o Dr. Don W. Wilson, que foi arquivista do governo federal dos Estados Unidos, e o Dr. Allen Weinstein, historiador, escritor e Presidente do Centro de Estudos Democráticos, em Washington, D.C.

Mary Baker Eddy é certamente uma das personagens mais importantes da história do final do século XIX e do século XX. Como arquivista do governo federal dos Estados Unidos, fui responsável pela preservação da herança do país por meio de documentos que falam sobre a vida de homens de estado, de homens comuns, de juízes, ou seja, de cidadãos que deram uma grande contribuição à história deste país.

Desenvolver A Biblioteca Mary Baker Eddy, com seu enfoque sobre a vida de uma mulher é algo único. É novo. Existem algumas outras coleções de documentos menores, homenageando Susan B. Anthony e algumas das outras figuras relacionadas com reformas. Mas penso que esse vai ser um passo muito significativo para se alcançar uma base de conhecimentos sobre as mulheres, particularmente as mulheres do século XIX, que tiveram de enfrentar grandes desvantagens para conseguirem fazer novas incursões no campo do direito e da publicação e da elaboração de livros. Penso que é muito importante compreender Mary Baker Eddy naquele contexto. Ela não se encaixa em nenhum desses campos exclusivamente, e vai ser interessante descobrir o por que, bem como o que a levou a incursionar por certas áreas. Ela é uma pessoa multidimensional.

Não é importante somente colocá-la no contexto do século XIX, mas verificar como seus pensamentos e seu legado se estenderam ao século XX, e que agora nos vão levar ao século XXI. Penso que esta é uma dimensão importante do por que precisamos abrir esse material e torná-lo disponível, deixando a interpretação emergir da própria documentação, não apenas de seus escritos públicos finais, mas de seus escritos diários e no contexto de sua vida.

Não sou um membro da igreja, mas sou de opinião que este é um assunto fascinante, digno de estudo, de aprendizado.... Penso que é importante, também, reconhecer que Mary Baker Eddy não foi somente uma personagem americana importante, mas também uma personagem mundial importante. E com relação a isso, é essencial ter esse material amplamente acessível para estudiosos e para os interessados em geral, para que ela possa assumir seu lugar apropriado na história do mundo.

A Sra. Eddy foi uma personagem fundamental do século XIX. Ela viu-se plenamente comprometida com as questões mais importantes de sua época, como a escravidão, a condição da mulher, a abstinência, a Guerra Civil e com uma série de outros assuntos. E contudo, ela conseguia retornar, quase que instantaneamente, às suas preocupações básicas, que eram, desde o princípio, espirituais, e que refletiam a sua própria busca por respostas às questões mais difíceis de sua época e de sua vida. Mas ela tinha a capacidade de estender seu horizonte, quase desde o começo de sua vida, de ver sua vocação e sua busca não limitada ao seu próprio grupo ou à sua própria classe. Mas, se assim o desejarem, com implicações humanitárias que iam muito além até mesmo de seu país, para o mundo.

Certamente não li toda a extensa correspondência da Sra. Eddy, o que levaria, sem dúvida, bastante tempo. Analisei alguns documentos no curso dos trabalhos de consultoria sobre o processo de desenvolvimento do que penso que será uma das maiores bibliotecas do mundo, a Biblioteca Mary Baker Eddy para o Progresso da Humanidade.

A oportunidade de um simples exame de partes desse material me ensinou, de uma forma que eu achei muito valiosa. Não posso deixar de acreditar que essa Biblioteca representará, provavelmente, uma das poucas instituições fundamentais para o estudo de uma completa gama de assuntos, incluindo a própria condição da mulher, Igreja, o mundo no qual a Sra. Eddy se desenvolveu, a história da medicina, a história da teologia, a história social dos Estados Unidos, a história do jornalismo com o “The Christian Science Monitor” e outras publicações. Essas contribuições darão muito orgulho aos fundadores dessa Biblioteca e a todos os que a apóiam.


John Selover: Constatamos, verdadeiramente, que a Sra. Eddy é uma cidadã do mundo. Ela transcende a geografia, sua época e a história do gênero humano. Seu compromisso abnegado e inabalável é percebido através de suas palavras: “Toda a minha obra, todos os meus esforços, todas as minhas orações e lágrimas são para a humanidade e para disseminar a paz e o amor entre os seres humanos.”

Esta Biblioteca irá, no contexto em que ela se insere, tocar numa vasta parte da experiência e das idéias dessa mulher notável e as bênçãos decorrentes dessa contribuição serão numerosas.

Uma biblioteca é um lugar que desperta o interesse e que traz recompensas. Numa entrevista recente para o jornal “The Boston Globe”, foi perguntado ao escritor Malcolm Gladwell qual era a coisa mais valiosa que ele tinha. Ele enfiou a mão no bolso e tirou o seu cartão da biblioteca.

Muito obrigado por seu interesse, sua atenção e seu desejo de saber mais sobre essa Biblioteca e aventurar-se na sua realização conosco.

Uma fita de vídeo com a apresentação do dia 5 de junho de 2000 será enviada a cada membro de A Igreja Mãe. Essa fita poderá também ser solicitada por pessoas interessadas em assisti-la. A solicitação poderá ser feita por telefone (1-617-450-2000, ramal 3411), e-mail (clerk@csps.com), ou carta (Office of the Clerk, A-173, 175 Huntington Avenue, Boston, MA 02115-3195).

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