Abaixo apresentamos excertos de seu artigo publicado na revista Trimestral da Biblioteca Mary Baker Eddy para o Progresso da Humanidade.
Mary Baker Eddy antecipou a revolução que viria a acontecer no final do século XX
A fotografia de Mary Baker Eddy de que mais gosto é uma que foi tirada informalmente por Calvin Frye em 1903. A Sra. Eddy aparece em seu estúdio, recostada em uma poltrona, com a luz entrando através das três grandes janelas que davam para a “vista aprazível” das colinas de Bow, que ela tanto amava.
O aposento na foto é pequeno, desordenadamente arrumado no estilo vitoriano e bem feminino. Percebe-se claramente que é o estúdio de uma escritora. A poltrona em que a Sra. Eddy está sentada, encontra-se bem próxima da escrivaninha, onde se vêem penas de escrever, livros e papéis empilhados bem ao alcance de suas mãos. Esse estúdio, adjacente ao seu modesto quarto, era o aposento onde Mary Baker Eddy desenvolvia seu trabalho profissional de escritora bem-sucedida. Ali ela lia, para manter-se em contato com os assuntos mundiais, escrevia ensaios para o The Christian Science Journal, preparava artigos solicitados pela imprensa em geral, revisava textos e trabalhava diligentemente em Ciência e Saúde.
Contudo, o espaço extremamente pessoal que vemos na foto não é apenas um estúdio, mas um escritório também. Mary Baker Eddy, impulsionada por uma missão espiritual e administrando, de sua própria casa, uma igreja florescente, era tanto uma empresária quanto uma escritora. A câmara fotográfica de Frye captou a figura de uma mulher, com idade avançada, que está, muito claramente, presidindo uma pequena reunião com seus subordinados.
Aqui temos um flagrante exato da vida em “Pleasant View”. Em 1889, quando a Sra. Eddy afastou-se da administração diária das atividades de sua igreja e decidiu viver em relativa reclusão, não deixou de ser a líder do movimento da Christian Science. Ela ainda contribuía com inspiração, traçava estratégias de longo prazo e resolvia divergências significativas. Acima de tudo, ela se mantinha sempre a par dos acontecimentos, de sua nova e florescente igreja. Estava também determinada a impedir que os compromissos cada vez maiores da instituição e os contínuos conflitos interpessoais se sobrepusessem aos objetivos espirituais dessa instituição.
Embora, a princípio, ela tivesse pensado que em Pleasant View teria o tempo, o espaço e a tranqüilidade para orar, pensar, escrever e estudar, a Sra. Eddy não havia se aposentado e tinha pouco tempo livre, no sentido moderno da expressão. Homens e mulheres chegavam, quase que diariamente, no trem que vinha de Boston, para informá-la sobre as atividades do movimento da Christian Science e buscar sua aprovação e orientação. Cartas comerciais e pessoais de todo tipo, que chegavam diariamente, necessitavam de sua atenção, bem como dos serviços de uma equipe de secretários muito competentes. Assim, em 1903, a casa de Mary Baker Eddy em Pleasant View era o centro de uma rede de comunicações atualizada e altamente eficiente. Ao comandar os assuntos de sua igreja, vivendo reclusa em uma propriedade rural, Mary Baker Eddy antecipou a revolução que viria a acontecer no final do século XX, quando as instalações das empresas deixaram de ser o único local de trabalho, e muitas pessoas passaram a executar, em suas próprias casas, o trabalho que lhes era solicitado pelas empresas.
O estúdio-escritório de Mary Baker Eddy em Pleasant View era pequeno, acolhedor e despretensioso, mas para ela e para a maioria das mulheres de sua geração, representava um luxo jamais sonhado. Como a grande maioria das escritoras e mulheres de negócios do século XIX, durante a maior parte de sua vida, Mary Baker Eddy não teve nenhum aposento que pudesse chamar de seu, nenhuma porta que pudesse fechar quando desejasse pensar, nenhuma escrivaninha sobre a qual ela pudesse deixar seus papéis sem que ninguém neles mexesse, nenhum local de trabalho que ela pudesse adaptar às suas próprias necessidades. Na época da Sra. Eddy, os homens ricos normalmente tinham bibliotecas, estúdios e escritórios em suas próprias casas, os quais funcionavam como sua área de domínio pessoal, onde suas esposas, filhas e irmãs só entravam quando convidadas.
A situação de Mary Baker Eddy era incomum, pelo fato de ela ser uma mulher de classe média, de meia-idade, que era obrigada a viver sozinha e a sustentar-se, numa época em que as restrições legais e as pressões sociais basicamente proibiam o acesso das mulheres aos locais de trabalho. Em 1866, seus únicos recursos eram sua própria força interior e a caridade inconstante de amigos.
No final de 1875, com cinqüenta e quatro anos, Mary Glover era uma mulher feliz. Ciência e Saúde estava finalmente sendo impresso e, o que é de importância vital, ela havia conseguido economizar para efetuar o pagamento inicial da casa de número 8 da rua chamada Broad Street, em Lynn, Massachusetts. Finalmente, uma casa própria. A Sra. Eddy, que é como ela passou a chamar-se em janeiro de 1877, ao casar-se com Asa Gilbert Eddy, alugava a maior parte dos cômodos para poder pagar as prestações da casa. Mantinha para seu próprio uso, apenas os dois cômodos da frente, onde atendia os pacientes e fazia reuniões, além de um quartinho no sótão, iluminado por uma clarabóia. Ali, podia desfrutar o luxo de ficar horas trabalhando em paz, normalmente sentada, não junto à mesa, mas em sua velha cadeira de balanço, escrevendo sobre um pedaço de papelão que apoiava no colo.
Assim, em 1882, quando Mary Baker Eddy fundou a Faculdade Metafísica de Massachusetts no número 569 da Columbus Avenue em Boston, estava aumentando a dimensão de sua casa e a importância de suas responsabilidades domésticas, bem como a extensão de atividades profissionais. Primeiramente, Asa Gilbert Eddy e depois Calvin Frye, assumiram grande parte das responsabilidades administrativas. Contudo, Mary Baker Eddy ainda tinha de administrar tarefas relacionadas com assuntos domésticos e com a contabilidade de seus negócios. Tinha também seu trabalho como conferencista, professora, praticista e líder religiosa. “Estou sobrecarregada de trabalho”, queixou-se ela a um amigo em 1888. Sua faculdade prosperava, sua mensagem alcançava cada vez mais pessoas, o The Christian Science Journal, do qual a Sra. Eddy era redatora, se desenvolvia, as novas edições revisadas por ela de Ciência e Saúde, ganhavam novas edições, o movimento de pessoas na casa, visitantes à porta, amigos ansiosos para abordá-la na rua, tudo isso absorvia cada vez mais seu tempo e sua atenção. No final de 1887, a compra de uma bela casa nova na Commonwealth Avenue, 385, no bairro de Back Bay em Boston, para sua residência pessoal, foi uma tentativa de conseguir um espaço particular. Ao final, entretanto, foi somente quando se mudou para Pleasant View, em 1892, que Mary Baker Eddy conseguiu estabelecer a estrutura doméstica que, apesar das enormes pressões externas de um público fascinado e de uma imprensa hostil, a manteria ativa e criativa até perto dos noventa anos.
“O vínculo mais forte que já tive, além do amor a Deus, foi o meu amor ao lar”, disse Mary Baker Eddy certa vez às pessoas que trabalhavam em sua casa. Contudo, o lar que ela formou em Pleasant View era muito diferente do lar da sua infância em Bow, do qual ela se lembrava com um carinho muito especial. Em primeiro lugar, era seu próprio lar, não o de seu pai, irmã ou marido. Era uma casa que ela pagara com o dinheiro que havia ganho. Para uma mulher de sua geração, que havia enfrentado tantos obstáculos, isso, por si só, era um feito raro e um vínculo incomum. Em segundo lugar, a casa era também um local de trabalho, um estúdio, escritório, centro de operações, onde negócios e vida particular se fundiam. Poucas mulheres de sua época, ou mesmo de hoje, desfrutam essa combinação de comodidade doméstica e produtividade profissional. Por último, mais tradicionalmente, porém não menos importante, para usar uma frase da própria Sra. Eddy, o lar era “o centro, mas não o limite, dos afetos” (Ciência e Saúde, p. 58). Era a essência do amor, da confiança e da devoção, alcançando todos os que estavam dentro ou fora desse lar.
A missão da Sra. Eddy era cuidar tanto do futuro quanto do passado, e sua vida longa, fragmentada, ocupada, peripatética e cheia de realizações se assemelha, em vários aspectos, muito mais à vida das mulheres americanas de hoje, do que da vida da maior parte de suas contemporâneas no século XIX. Nas casas onde ela se estabeleceu com seu marido, seus alunos e amigos, ela reverenciou o passado, mas também reinventou o ponto de ligação entre o lar de uma mulher e o seu local de trabalho.
Além da biografia de Mary Baker Eddy, a Dra. Gill é a autora de Agatha Christie: The Woman and Her Mysteries (Agatha Christie: A Mulher e Seus Mistérios). Seu livro mais recente, Nightingales, apresenta uma nova abordagem da notável e extensa linhagem de Florence Nightingale, e será publicado pela Ballantine Books, uma divisão da editora Random House, em 2003.
