Vivíamos num bairro muito bom. Todos eram amigos e as crianças brincavam juntas. Podíamos contar com os vizinhos, especialmente em momentos de necessidade. Era como se fôssemos uma grande família.
Então, nos mudamos.
O novo bairro era maravilhoso e lá moravam crianças de várias idades. Logo apresentei-me a todos. As pessoas eram apenas cordiais. As crianças me olhavam espantadas quando as cumprimentava. Ninguém parecia interessado em fazer novos amigos. Eles pareciam não se importar uns com os outros, e muito menos conosco.
Contudo, com o passar do tempo, fui percebendo diversas coisas pelas quais ser grata. Em minhas caminhadas diárias eu apreciava os gramados, as flores e as árvores, bem como a grande variedade de estilos arquitetônicos que havia no bairro.
Então, certa noite, quando caminhava com meu cachorro, um vizinho saiu de casa empunhando uma espingarda. Ele direcionou sua lanterna para mim e perguntou o que eu estava fazendo. Acenei e o cumprimentei, e ele voltou para dentro.
Não fiquei assustada, mas muito desapontada com aquilo. Procurei descobrir o que eu poderia fazer para estabelecer relações mais amigáveis. Esta passagem me inspirou: "Devemos medir nosso amor a Deus pelo nosso amor ao homem; e nosso senso da Ciência será medido segundo nossa obediência a Deus, — cumprindo a lei do Amor, fazendo o bem a todos; transmitindo, na medida em que os refletimos, a Verdade, a Vida e o Amor, a todos os que se encontram no âmbito de nosso pensamento" (Miscellaneous Writings, p. 12, Mary Baker Eddy).
Ponderei que, para determinar com exatidão meu amor a Deus, eu deveria verificar se os motivos de meus atos eram bons. Quando refleti sobre isso, compreendi que minha consideração pelos vizinhos não passava de uma preocupação comigo mesma. Eu queria muito que minha família fosse aceita. Não havia nada de errado com esse desejo, a não ser o fato de que ele era muito egocêntrico. Talvez eu precisasse de um motivo menos egoísta para relacionar-me com os vizinhos.
Desenvolvemos a capacidade de ajudar os outros — de "transmitir a Verdade, a Vida e o Amor" — porque Deus se reflete em nós. O reconhecimento de que Deus era a fonte da minha capacidade de amar, purificaria meus motivos e me ajudaria a amar mais incondicionalmente. Também me ajudaria a parar de me preocupar com o fato de meus vizinhos retribuírem ou não meu amor.
Este comentário bíblico também me ajudou: "Nossa comunhão com Deus tem muitos subprodutos de grande valor; porém, buscar por estes em primeiro lugar e encarar a confiança em Deus como um meio de consegui-los, é fatal à verdadeira comunhão com ele... Devemos procurar amigos, companheiros e o Deus vivo, pelo que eles são. Implorar ajuda a Deus para alcançar nossos objetivos é deificar esses objetivos, e é idolatria” (The Interpreter's Bible, Volume 5, p. 451). Eu estava perguntando a Deus como fazer com que os vizinhos viessem a mim, ao invés de perguntar-Lhe o que eu poderia levar a eles.
Comecei a encarar essas pessoas de uma maneira diferente. Independentemente do seu comportamento, eu poderia reconhecer que cada uma delas estava incluída no amor todo-poderoso de Deus. E que elas haviam sido criadas por Deus, para expressar amor incondicional. Nada poderia mudar isso. O amor de Deus é universal. Ninguém é esquecido por esse amor, nem excluído, nem está fora dele.
O bairro era maravilhoso, mas ninguém parecia interessado em fazer novos amigos.
Achei que o problema estava resolvido. E nem parecia que havia passado um ano. Tive de rir quando uma vizinha convidou-me para almoçar, acreditando que eu fosse nova na vizinhança. Dias depois, recebi outro convite. Nessa ocasião, conheci uma senhora que tinha mudado para o bairro havia pouco e no fim de semana seguinte, meu marido e eu nos reunimos com ela e com seu marido. Algumas semanas depois, fiquei feliz quando outra vizinha pediu-me para ficar com seus filhos num momento de necessidade.
A influência dessa visão mais espiritual sobre os outros, ultrapassou os limites do meu próprio bairro. Certa vez, quando viajava para Boston, uma pessoa que conheci durante a viagem convidou-me para passar o fim de semana com ela. Isso foi muito inesperado e, a princípio, fiquei surpresa. Mas então compreendi que essa era mais uma prova de que o amor não se manifesta apenas uma vez e não se limita a apenas um lugar, mas que tanto essa senhora como eu, num sentido real, já éramos bastante próximas.
Quando reconhecemos que os outros são filhos de Deus, eles reconhecem a si mesmos (e a nós também) como Seus filhos. Espero incluir cada vez mais pessoas num círculo bem grande de amor.
