Qual seria a percepção dos acusadores? Na avaliação deles, talvez os acontecimentos à sua volta, incluindo a prisão, o julgamento e a crucificação de Cristo Jesus, fossem considerados mais como atos vindos da exigência política do que uma brutalidade ultrajante. Seguindo esse raciocínio, os principais representantes da comunidade hebraica estavam cautelosos devido ao relacionamento frágil que tinham com o governo romano, sob o qual viviam. Poderiam eles permitir a ascensão de uma pessoa tão heterodoxa e que atraía tanta devoção de seus seguidores?
Para pessoas motivadas por objetivos políticos e egoístas, a mensagem de Jesus sobre o amor incondicional do Pai celestial, deve ter parecido estranha e também alarmante. Ainda mais ameaçador era o seu ministério de cura. Contrariava totalmente a visão convencional sobre o que a vida representava e anunciava um poder que não poderiam manipular. Do ponto de vista dos envolvidos no julgamento de Jesus, eliminá-lo parecia a solução mais simples. Era uma questão de conveniência política. Uma forma de se preservar o estado anterior. Por outro lado, o maior de todos os crimes cometidos contra o Rei de todos os reis.
De qualquer modo, esse episódio nos faz lembrar, com seriedade, a que ponto o oportunismo político pode chegar. É uma demonstração de como o engajamento em atividades políticas, em todas as suas manifestações, necessita desesperadamente ser elevado. A história de Jesus mostra como essa elevação pode ocorrer por intermédio da oração.
Pondere, por um momento, sobre a ressurreição de Jesus e a inevitável propagação de sua mensagem. Ao invés de serem respostas às manobras políticas de seus oponentes, não representariam elas simplesmente a maneira de Jesus viver e expressar o que ele conhecia sobre o poder de Deus? Ele certamente conheceu e demonstrou, para todos nós, o poder do Amor para destruir o ódio, a capacidade da Verdade para expor e anular a desonestidade, a eternidade da Vida para negar a própria morte. Considere a história dele sob esse prisma e veja que a intriga, a manipulação e a competição pelo poder não são, de maneira nenhuma, concorrentes para a oração divinamente inspirada.
Quando Pilatos, governador romano da província da Judéia, desafiou Jesus a se defender, primeiro lhe perguntou de onde vinha. Inicialmente, o Mestre permaneceu calado. O Evangelho de João relata os acontecimentos que se seguiram assim: "Então, Pilatos o advertiu: Não me respondes? Não sabes que tenho autoridade para te soltar e autoridade para te crucificar? Respondeu Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada"... (João 19:10,11)
Sem dúvida, Pilatos tinha uma posição que conhecia bem. Provavelmente, pretendia, por meio de táticas de intimidação, manipular Jesus, forçando-o a dar uma resposta politicamente aceitável, que pudesse apaziguar a multidão. Talvez o próprio Pilatos se sentisse manipulado pela multidão enfurecida que aguardava sua decisão. É possível que ele quisesse resolver o assunto sem atrair a atenção de seus superiores, pois não desejava ser lembrado como um governador incompetente para lidar com uma rebelião local.
Contudo, o que tanto Pilatos como a multidão enfurecida presumiam, não levava em conta o que Jesus sabia: "Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fosse dada". Todo o poder vem de cima, de Deus que é Vida, Verdade e Amor divinos, provém unicamente dEle e permanece coerente com Sua natureza. Esse poder que emana do Divino e dele nunca se desconecta, tem um impacto que é divinamente bom. Não há nenhum outro tipo de impacto. Nenhum mesmo.
Jesus estava firme como uma sólida rocha em sua compreensão da onipotência do Pai. Essa é a razão pela qual todas as correntes políticas que giravam ao seu redor não tiveram nenhum efeito intimidador sobre ele. Tais correntes não conseguiram perturbá-lo, controlar seu comportamento ou alterar sua maneira de pensar. Em última análise, essas correntes não conseguiram corromper sua bondade ou impedir sua vitória.
Todo o poder vem de cima, de Deus que é Vida, Verdade e Amor divinos, provém unicamente dEle e permanece coerente com Sua natureza.
Ciência e Saúde, a principal obra escrita por Mary Baker Eddy sobre a Christian Science, religião que ela fundou, diz: "O bem que fazes e incorporas, te dá o único poder que se pode alcançar. O mal não é poder. É um arremedo da força, que não tarda em trair sua fraqueza e cair, para nunca mais se levantar" (p. 192). Mais adiante, ela acrescenta: "Nenhum poder pode resistir ao Amor divino" (Ibidem, p. 224).
Esses trechos trazem uma mensagem para todos nós, qualquer que seja nossa posição na vida. Quer seja dirigindo um time infantil de beisebol, presidindo uma reunião de diretoria na igreja ou supervisionando o grupo executivo de uma corporação multinacional, todos nós nos defrontamos regularmente, até mesmo diariamente, com a política.
A lição de Jesus é aquela que podemos aprender e vivenciar por nós mesmos. Podemos começar cada dia munidos com algo daquela mesma consciência que Jesus possuía. O poder real reside com o Todo-poderoso. Ninguém, nenhuma circunstância ou organização tem qualquer poder sobre nós, a não ser o poder que vem de cima. Reconhecendo esse fato espiritual, diminuímos a probabilidade de sermos manipulados. Reconhecer isso como verdadeiro, tanto para nós mesmos como para os outros, diminui a possibilidade de influenciarmos outras pessoas egoisticamente. Então, as desagradáveis disputas políticas se desvanecerão. O controle divino se tornará mais nítido. As intrigas facciosas terão menos fundamento. Descobriremos que nossas orações contribuem para elevar os elementos políticos que fazem parte do nosso dia-a-dia.
É público e notório que muito do que acontece em um time infantil ou em uma corporação multinacional, pode ser classificado como um "dar e receber", em que há debates e negociações, tão naturais em qualquer atividade de grupo. Cada uma dessas interações é uma oportunidade de cura, pois elevamos nossa consciência para sentir o poder divino.
A batalha de egos, na qual um tenta vencer o outro com táticas mais inteligentes, não é produtiva, justa, nem estabilizadora. Toma tempo nas reuniões de uma organização, frustra objetivos meritórios, desestimula o esforço sincero e provoca desânimo. Quando esses elementos aparecem, podemos compreender que não são as vontades humanas competindo entre si, mas, sim, a vontade divina, que provê o remédio sanador. O reconhecimento sincero de que tudo está sob o controle da vontade divina proporciona solução e cura. A oração, não as políticas humanas, é que obtém o controle divino.
A batalha de egos, na qual um tenta vencer o outro com táticas mais inteligentes, não é produtiva, justa, nem estabilizadora.
Quando procuramos no dicionário a palavra político nos deparamos com muitas definições completamente divergentes. Encontramos "o que tem sabedoria prática", "diplomático", mas também "astucioso, sem escrúpulos".
Tendo-se em mente a primeira definição, seria incorreto presumir que, porque nos defrontamos regularmente com a politicagem, nos defrontamos regularmente com o mal! Na verdade, todo jovem idealista, ético e cívico, que deseja seguir a carreira política como profissão, merece o reconhecimento de todos nós, quer apoiemos sua ideologia política ou não. Como em muitas outras áreas da atividade humana, mesmo os aspectos positivos necessitam da ação redentora do Cristo, "a divina manifestação de Deus..." (Ciência e Saúde, p. 583).
Digamos que uma pessoa tenha várias aptidões, tais como: habilidade para liderar, negociar honestamente ou transmitir aos outros as vantagens de um novo curso de ação. Enquanto essas aptidões forem percebidas como humanas, estarão sujeitas a serem plagiadas por um ego humano. Elas seguirão um propósito vão ou até mesmo destrutivo. Em outras palavras, até mesmo aquele que possui uma sabedoria prática e que seja diplomático, pode descer a um nível de extrema astúcia e inescrupulosidade. Entretanto, o Cristo, a ação redentora de Deus, fortalece essas capacidades humanas, restabelecendo-as como pertencentes a Ele, como em realidade o são, portanto, como a expressão de Seu poder. A ação redentora do Cristo, a Verdade, é a forma pela qual todo poder real é demonstrado como sendo Seu poder verdadeiro.
Ao longo dos anos, descobri que podemos aprender bastante, quando nos lembramos do que Jesus sabia e do que Pilatos precisava aprender:
A ação redentora do Cristo, a Verdade, é a forma pela qual todo poder real é demonstrado como sendo Seu poder verdadeiro.
• O poder vem do alto.
• Não existe outro poder verdadeiro.
• Não existe nenhum poder exceto o poder divino.
• A eficácia das aptidões humanas e o poder real se tornam mais luminosos quando percebidos como divinamente fundamentados, quando se originam da Verdade, da Vida e do Amor, ao invés de em um ser humano.
Ao reconhecer a validade dessas verdades e conscientemente as aplicarmos em nossa própria vida, estaremos mais capacitados a elevar o pensamento, a fim de que ele se concentre mais no governo de Deus e menos nos impulsos dos estrategemas humanos. O alcance de egos e vontades, da estratégia e da manipulação humanas, diminui.
Isso é o que significa se engajar na oração que eleva o conceito de política, que torna nosso dia mais feliz e o mundo um lugar mais justo.
