Durante séculos, em algumas partes do mundo, conhecer e reivindicar a ascendência de uma pessoa era uma prática comum para estabelecer os direitos legais dessa pessoa ou outros direitos por herança previstos em lei. Nos últimos anos, porém, tem havido um notável esforço de marketing para promover a busca e a descoberta da linhagem das pessoas, com o objetivo de estabelecer um senso de identidade e de conexão social.
Um método popular para identificar as raízes ancestrais das pessoas é o teste de DNA. Muitos que buscam responder às notórias perguntas “Quem sou eu?” ou “De onde eu vim?”, afirmam que identificar a conexão de características genéticas encontradas na história da família lhes trará um senso de bem-estar ou de completude. Aqueles que iniciam essa busca citam o desejo de descobrir semelhanças na cultura e nos valores, a fim de determinar um vínculo familiar a partir do qual possam desenvolver interesses comuns, obter uma percepção de suas inclinações emocionais, prever sua saúde e longevidade, ou estabelecer um senso de segurança ou de pertencer a um grupo.
No entanto, aceitar a possibilidade de que nossa identidade seja governada por características controladas pela genética, e acreditar que a matéria possa conter relações familiares ou possa se programar para reproduzir e manter essas relações, só nos faz submergir mais profundamente na crença de que a identidade tem seu ponto de partida separado de Deus. Além disso, aceitar a conclusão de que a identidade seja transmitida a partir de uma personalidade mortal e por meio das leis da matéria, nos torna indefesos e vulneráveis a todas as diversas crenças associadas às chamadas leis da hereditariedade. Acreditar que a matéria ou a personalidade mortal sejam a origem e o fator de desenvolvimento do bem em nossa identidade exige a admissão do resultado oposto ― que elas também possam ser uma fonte do mal, manifestando-se como doença, enfermidade ou qualquer outra disfunção, distúrbio ou transtorno hereditários, tanto físicos como emocionais.
O nível de nossa adesão às crenças em hereditariedade de forma inconsciente, mas, frequentemente, de forma voluntária, é muitas vezes muito sutil. Pode começar quando comparamos as características físicas de alguém, seu comportamento ou suas atitudes, com os de seus pais ou de algum outro membro da família. Posteriormente, essas crenças podem se apresentar como a admissão de alguém, que diz “Eu não consigo evitar; eu simplesmente sou assim”, quando tenta superar padrões inflexíveis de atitudes ou comportamentos depreciativos, que se acredita tenham origem na história familiar dessa pessoa. O consentimento à crença em hereditariedade também pode se apresentar como alguém que cede à tentação de desistir diante dos desafios relacionados à saúde, simplesmente por causa dos antecedentes de sua geração.
Existe algum caminho viável de cura para aqueles que buscam uma libertação permanente da escravização às consequências físicas, mentais, comportamentais ou emocionais, atribuídas às teorias genéticas? Ou estamos condenados a suportar irremediavelmente essas consequências sem nenhuma expectativa de correção ou solução? A quem podemos recorrer para encontrar respostas sobre o verdadeiro parentesco, que revelem uma fonte divina do existir e um direito inato que proporcione satisfação espiritual, seja salutar e duradouro?
Por meio do estudo da Ciência Cristã, podemos começar a encontrar respostas sanadoras para essas questões desafiadoras. Quando recorremos à Bíblia, lemos no primeiro capítulo do Gênesis: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (versículo 27). Além disso, uma vez que “Deus é [E]spírito...” (ver João 4:24), a verdadeira identidade do homem tem de ser espiritual, semelhante a Deus, e inteiramente separada dos conceitos falhos e errôneos que argumentam que o homem se origina na matéria e é derivado da matéria.
O homem nunca está sujeito a uma inevitável penalidade ou “maldição familiar”, mas está eternamente sob a bênção da pureza, completude e perfeição de Deus.
A Bíblia também declara: “... povo que formei para mim [Deus], para celebrar o meu louvor” (Isaías 43:21). Como causa e efeito, como Criador e criação, Deus e o homem estão indissoluvelmente unidos em um vínculo, sem falhas, do reflexo perfeito ― Deus refletindo Seus próprios pensamentos, e o homem sendo esse reflexo. Também nenhuma teoria de origem física pode invadir ou derrubar a lei incontestável de Deus sobre nosso parentesco espiritual. No livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy escreve: “Na Ciência o homem é gerado pelo Espírito. O belo, o bom e o puro constituem sua ascendência. Sua origem não está no instinto bruto, como a origem dos mortais, e o homem não passa por condições materiais antes de alcançar a inteligência. O Espírito é a fonte primordial e suprema do seu existir; Deus é seu Pai, e a Vida é a lei do seu existir” (p. 63).
Ao aprender que nossa identidade tem uma origem espiritual, podemos provar, gradualmente, que não há nenhum poder ou influência que possa contestar nosso desenvolvimento, que é decretado por Deus. Não há nenhuma fonte da qual possa emanar qualquer alegação convincente de uma causa falsa, apresentando-se como trauma pré-natal, atraso no desenvolvimento, doença crônica ou qualquer outra desarmonia ou deformidade que nos impeça de expressar plenamente a nossa individualidade perfeita. O homem nunca está sujeito a uma inevitável penalidade ou “maldição familiar”, mas está eternamente sob a bênção da pureza, da completude e da perfeição de Deus. Ao refutar a afirmação sobre a hereditariedade humana, o profeta Ezequiel declara: “Que tendes vós, vós que, acerca da terra de Israel, proferis este provérbio, dizendo: Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram? Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, jamais direis este provérbio em Israel” (Ezequiel 18:2, 3).
O exemplo mais notável de filiação divina é o de Cristo Jesus. Ele continuamente se referia a Deus como seu “Pai” e reconhecia somente a Deus como a origem e a fonte contínua de sua individualidade. Essa compreensão forneceu o fundamento para a inigualável missão de cura de Jesus. Por isso, ele deixou este conselho inspirador para todos nós: “A ninguém sobre a terra chameis vosso pai; porque só um é vosso Pai, aquele que está nos céus” (Mateus 23:9). Em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy explica essa declaração de Jesus: “Jesus não reconhecia nenhum vínculo da carne... Reconhecia o Espírito, Deus, como o único Criador, e portanto como o Pai de todos” (p. 31). Jesus reafirmava constantemente sua própria herança como o Filho de Deus. E ele provou ― curando pessoas de problemas físicos e mentais de todos os tipos ― que nós, também, temos uma unidade científica com Deus como filhos e filhas de Deus.
Uma dessas curas serve como uma repreensão proveitosa à alegação de que o mal possa ser herdado. Jesus e seus discípulos encontram um homem “cego de nascença” (ver João 9:1–7). Buscando estabelecer uma causa material para a cegueira do homem, seus discípulos perguntam: “Mestre, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?” Jesus imediatamente responde: “Nem ele pecou, nem seus pais; mas foi para que se manifestem nele as obras de Deus”. Recusando-se a dar poder ou importância à crença em pecado herdado ou a uma justificativa para a recorrência de uma doença física por gerações, Jesus imediatamente cura o homem de sua cegueira, provando o fato de que o homem é criado por Deus e está sob Sua influência e sob Sua suprema autoridade.
Talvez uma das fases mais ardilosas e muitas vezes traiçoeiras do legado genético seja a crença em uma influência mental excessiva da personalidade mortal e sua pretensão de manipular ou dominar a individualidade de outra pessoa. Essa crença alega que o pecado, a doença, os traços de caráter e a deformidade moral possam ser transmitidos de uma geração para outra e que a identidade de uma pessoa possa ser involuntariamente mapeada e controlada por meio da manipulação mental. No entanto, na Ciência Cristã, podemos afirmar e provar cientificamente que nada pode nos atingir ou emanar de nós, exceto aquilo que Deus expressa. No capítulo “A Ciência Cristã frente ao espiritualismo” em Ciência e Saúde, a Sra. Eddy aborda essa dicotomia quando escreve: “A crença de que alguém, como espírito, possa controlar outra pessoa, como matéria, contraria tanto a individualidade como a Ciência do homem, pois o homem é imagem. Deus controla o homem, e Deus é o único Espírito. Qualquer outro controle ou atração, por parte daquilo que é chamado espírito, é uma crença mortal que deve ser conhecida por seu fruto ― a repetição do mal” (p. 73).
Nos casos em que um problema parece ser persistente ou repetitivo, pode haver a necessidade específica de se insistir no fato de que a personalidade mortal ou os temores e crenças característicos de uma geração não podem entrar no pensamento como se tivessem poder ou influência. O que nunca foi verdade uma vez, não pode se tornar real por uma crença de repetição; a repetição de uma mentira nunca transformou uma mentira em realidade. A Bíblia declara com autoridade: “...Ele mesmo [Deus] vos consumirá de todo; não se levantará por duas vezes a angústia” (Naum 1:9).
A alegação de que as teorias genéticas ou os padrões ancestrais tenham o poder de proliferar suas mentiras é anulada pelo Cristo, a Verdade que proclama que Deus é a eterna fonte do nosso existir e da nossa verdadeira individualidade como Sua imagem e semelhança. Nessa unidade indestrutível com nosso Pai-Mãe Deus, descobrimos um poderoso e inegável plano para a perfeita individualidade, que é a única identidade que podemos desejar ou possuir e que está eternamente imune a quaisquer teorias formuladas pelos homens, opiniões médicas, ou às chamadas leis de doença ou influência genética. Munidos com esse conhecimento, não nos tornaremos uma presa fácil da sugestão popular de que uma pesquisa sobre a nossa genealogia nos tornará satisfeitos ou completos. O verdadeiro autoconhecimento é o conhecimento constante de nós mesmos da forma como Deus nos concebe, uma consciência de nossa identidade espiritual como filhos amados de Deus. Esse reconhecimento sempre nos proporcionará uma compreensão da nossa integridade, saúde e retidão moral.
Na medida em que aceitamos essa herança espiritual, nos submetemos a ela e a afirmamos, ficamos livres de qualquer sugestão ou tendência a pesquisar as armadilhas da origem mortal ou concordar passivamente com as sugestões errôneas de ciclos ancestrais, isto é, veredictos irreversíveis de saúde precária, padrões de doença enraizados, ou modelos de comportamento destrutivo. Comprovamos que teorias evolucionistas e crenças relacionadas à ancestralidade não têm nenhum poder quando compreendemos corretamente as leis infalíveis de Deus que governam a criação. Podemos aceitar e demonstrar, passo a passo, este fato científico: “A harmonia eterna, a perpetuidade e a perfeição constituem os fenômenos do existir, governados pelas leis imutáveis e eternas de Deus; ao passo que a matéria e a vontade humana, o intelecto, o desejo e o medo não são os criadores, os reguladores nem os destruidores da vida e de suas harmonias. O homem tem Alma imortal, Princípio divino e existência eterna. O homem tem individualidade perpétua; e as leis de Deus, que atuam de forma inteligente e harmoniosa, constituem a individualidade do homem na Ciência da Alma” (Mary Baker Eddy, Não e Sim,pp. 10–11).
Cada um de nós tem um direito inato, determinado por Deus, o qual é íntegro, perfeito e completo; esse direito está sempre intacto e nunca pode ser alterado, destruído ou rejeitado. Essa é a herança que é nossa para ser comprovada e é a única ascendência que necessitamos sempre reivindicar.
