Em meados do ano passado, um dia, sentindo-me encurralada pelo isolamento e perguntando-me quando é que a pandemia ia acabar, voltei-me a Deus e orei. Quando oro, gosto de fazer uma pausa para sentir a presença e a realidade de Deus, o bem. Muitas vezes, alguns versículos bíblicos me ajudam, tal como estes, do livro dos Salmos: “Deus é … socorro bem presente nas tribulações” (46:1). E este: “…aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos” (91:11).
Nesse dia, algo diferente me veio à mente. Foi a frase: “Amado Cristo, eternal”, do poema “Manhã de Natal”, de Mary Baker Eddy (Poems [Poemas], p. 29), também conhecido como um hino do Hinário da Ciência Cristã. Essa linha, em especial, me fez sorrir por dentro e por fora e me abriu o caminho para eu orar com maior convicção. As palavras vinham a mim na forma do hino, cantando em meu coração, e trazendo-me uma alegria que não se aplica apenas ao Natal. Eu sabia que é possível saber tudo o que é verdadeiro a respeito de Deus e o homem, porque o Cristo — a compreensão que Jesus tinha a respeito de Deus — é real e está sempre presente, “eternal”, ou seja, eternamente aqui junto a todos nós, e sempre em atividade.
Outras linhas desse mesmo poema que descrevem o Cristo também me vieram ao pensamento:
O que em Belém se viu nascer
. . . . . . .
Suave luz de paz, Amor, Não és mortal.
E estas palavras, de outro poema da nossa Líder, também me vieram à mente:
Avisto sobre o bravo mar
O Cristo andar,
E com ternura a mim chegar,
E me falar. (Poems, p. 12)
Essas linhas brotavam dentro de mim de tal forma, que senti a Mente do Cristo animando e alegrando as minhas orações, trazendo esperança, expectativa e um senso real de “paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem” (Lucas 2:14). Senti uma alegria tão silenciosa e tão completa, que essa consciência do “amado Cristo” não podia ser ofuscada pela dúvida nem pelo medo, nem pela frustração de me sentir encurralada. A oração abriu o meu pensamento para as bênçãos dadas por Deus, sempre presentes e ativas para todos.
Lembrei-me da maneira como, nos relatos dos Evangelhos, houve pessoas que reconheceram que Jesus era o Messias prometido, o Cristo. Foi o caso de Pedro, e também da mulher samaritana junto à fonte de Jacó, e de Maria Madalena. Essas pessoas reconheceram que o poder que havia por trás das palavras e obras de Jesus vinha diretamente de Deus. E Jesus prometeu aos seus seguidores (tanto aos de sua época como aos de hoje) que eles seriam capazes de fazer as obras que ele fazia. Recordar tudo isso me ajudou a compreender o poder e a atividade sempre presentes do Cristo.
Tudo o que eu havia sentido com relação à pandemia, ou seja, letargia, impaciência, até mesmo dúvida e medo, se desfez. A luz do Cristo dissolveu a frustração e trouxe a convicção de que, tal como Jesus comprovou e a Ciência Cristã ensina, a doença não é um invasor real e desconhecido, que fica nos espreitando em cada esquina. Pelo contrário, a doença é uma crença hipnótica da mente humana, não uma realidade legítima, criada por Deus. Com isso, toda a sensação de algo que se arrastava indefinidamente desapareceu, e eu despertei com energia renovada, equilíbrio, pronta para amar o meu próximo e ser amada por ele, e com a certeza de que a saúde está presente, porque Deus, o bem, governa, e a atividade do Cristo não pode ser paralisada.
Jesus tinha a certeza de que sua identidade como o Filho de Deus era inseparável de Deus, e disse: “Eu e o Pai somos um” (João 10:30). Como o Filho de Deus, ele declarou: “…Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida…” (João 14:6). O Cristo era sua identidade espiritual e o Cristo está sempre conosco. No livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy escreve: “Em todas as gerações, tanto antes como depois da era cristã, o Cristo, como a ideia espiritual — o reflexo de Deus — vem com certa medida de poder e de graça a todos os que estejam preparados para receber o Cristo, a Verdade” (p. 333)
Podemos nos perguntar a cada dia: Estou preparada para receber o Cristo, a Verdade? Estou vigiando, tal como os pastores nos montes vigiavam o que se passava em Belém? Estou à espera, tal como Simeão e Ana, que reconheceram, no Templo, que o menino Jesus era o cumprimento da profecia? Estou na jornada que segue a luz da Verdade, tal como os Magos de outrora? Estou vindo, como as multidões vieram, ou como o único leproso que voltou, para reconhecer a presença do Cristo? Estou pronta para receber mais da Ciência da cura pelo Cristo que Mary Baker Eddy descobriu e ensinou, a fim de que eu também possa seguir o exemplo de Jesus na cura dos doentes e dos pecadores, e ver a Vida prevalecer sobre a morte?
Podemos nos perguntar a cada dia: Estou preparado para receber o Cristo, a Verdade?
Estar preparado para receber o Cristo tem muito a ver com estar preparado para receber a cura. Gosto da história de Zaqueu, o coletor de impostos de Jericó, e de observar como ele, como se fosse uma criança, subiu a um sicômoro a fim de ver Jesus — “ver quem era Jesus” — quando ele por ali passasse (ver Lucas 19:1–10). Jesus, olhando para cima, disse-lhe: “Zaqueu, desce depressa, pois me convém ficar hoje em tua casa”. Zaqueu assim fez e “o recebeu com alegria”. Seus preparativos para receber o Cristo não começaram com a organização de um grande banquete. Seu anseio foi sincero, ao apresentar-se humildemente diante de Jesus, dizendo-lhe: “Senhor, resolvo dar aos pobres a metade dos meus bens; e, se nalguma coisa tenho defraudado alguém, restituo quatro vezes mais”. Jesus obviamente gostou da explicação de Zaqueu, e disse: “Hoje, houve salvação nesta casa”.
O que nos impediria de conhecer ou de receber o Cristo? Essa pergunta surge de muitas outras formas: “Por que há tantos problemas no mundo?” Ou, tal como a minha frustração no ano passado: “Quando vai acabar esta pandemia?” Ou, a pergunta insidiosa: “Por que não posso ser curada, ou por que a cura não está acontecendo mais rapidamente?” Essas perguntas estão carregadas de dúvida e de medo. São formas usadas pelo senso material ou pessoal, que nos enganaria, sugerindo que ainda há muito a aprender ou que não sabemos o suficiente para praticar a cura por meio do Cristo. Mas aprendemos por meio do Pastor (a Bíblia e Ciência e Saúde), e também dos testemunhos e das nossas próprias experiências de cura, que nenhuma história ou circunstância pode obstruir o poder e a luz do Cristo.
A Primeira Epístola de João nos assegura: “Também sabemos que o Filho de Deus é vindo e nos tem dado entendimento para reconhecermos o verdadeiro; e estamos no verdadeiro, em seu Filho, Jesus Cristo…” (5:20). O Cristo está despertando a consciência humana a não olhar para as alegações hipnóticas do erro e da doença. O Cristo capacita cada um de nós a despertar para a realidade e a presença sanadora da Verdade. O hino que começa assim: “Ó sonhador, desperta do teu sonho”, garante: “O Cristo rasga o denso véu do erro” (Rosa M. Turner, Hinário da Ciência Cristã, Hino Nº 202).
Esse hino me foi de muita ajuda há alguns anos. Eu estivera trabalhando e orando em meu escritório, com essa ideia de que o Cristo rasga o denso véu do erro, o que me ajudou a reconhecer a atividade do Cristo que cura.
Ao sair do escritório, apressada e correndo para apanhar o trem naquele dia frio de inverno, tropecei na calçada desnivelada e caí com força sobre um joelho. Um jovem casal parou para me ajudar e ofereceu-se para ir em busca de mais auxílio. Mas a ideia de que o Cristo rasga o sonho do erro ficou tão clara para mim naquele momento, que eu pude responder honestamente: “Muito obrigada — estou bem”. Segui para a estação de trem, sentindo-me totalmente livre. Regozijei-me por poder realmente sentir que se havia quebrado o sonho de uma queda ou de uma lesão — que o Cristo estava ali comigo na calçada e no trem.
Quando cheguei em casa e mudei de roupa, minha calça comprida estava cheia de sujeira da calçada e minha meia de nylon estava rasgada em pedaços na altura do joelho. Mas não havia nenhuma marca ou sinal no joelho. Regozijei-me por sentir a presença e o poder do Cristo.
Que dádiva sentir essa presença e esse poder! É um presente que deve ser guardado como um tesouro, no Natal e a cada dia — um presente perene que abençoa toda a humanidade, independentemente das circunstâncias históricas ou físicas. Podemos nos regozijar no Natal e sempre, pois a “Suave luz de paz, Amor” está aqui, agora. Não há nenhuma situação, quer envolva acidente, conflito, pecado, medo, ou doença, que Cristo Jesus não tenha enfrentado e destruído com a convicção inabalável de que Deus, o bem, é supremo. Ele curou as multidões, acalmou a tempestade, e ressuscitou os mortos. Ele deu provas de que o Cristo, a verdadeira ideia de Deus, vence o mal e a doença, despertando o mundo inteiro para a verdade a respeito do existir. Essa verdade, que ele demonstrou, está sempre disponível. Por isso, também nós podemos contar com o fato de que o mal e a doença têm de ser anulados, e a paz tem de reinar na terra, por meio da oração que reconhece a supremacia de Deus.
O “Amado Cristo, eternal,” sempre junto a nós, é uma garantia para cada um a respeito do cumprimento da eterna vinda da verdadeira ideia de Deus.
