Durante a Segunda Guerra Mundial, muitas famílias no mundo inteiro foram estimuladas a plantar canteiros de hortaliças nos jardins de suas casas. Chamava-se em inglês “Victory Gardens”, ou seja, “jardins da vitória”. A finalidade era complementar as limitadas rações de comida. Mas havia um segundo motivo para esses jardins: elevar a moral. Ajudavam os cidadãos a sentir que estavam contribuindo para o esforço de vencer a guerra e a ficarem gratificados com a abundância de alimentos que deles resultaria. Em 1943, apenas nos Estados Unidos, cerca de 18 milhões de famílias cultivaram jardins da vitória, incluindo um que foi plantado no gramado da Casa Branca pela primeira-dama dos Estados Unidos, Eleanor Roosevelt.
Em março e abril de 2020, quando famílias em todo o mundo se fecharam em casa, em um tipo diferente de batalha, contra uma pandemia, começaram a aparecer de novo esses “jardins da vitória”, canteiros de hortaliças como símbolos de esperança e vida. Mesmo sob restrições que, de modo geral, mantinham as pessoas dentro de casa, esses jardins nos permitiram abraçar uma nova e revigorante atividade, cujas recompensas colheríamos meses depois. Meu marido e eu aderimos ao movimento e reaproveitamos um jardim velho e já exaurido, enchendo-o de plantas perenes de flores coloridas. Vimos nosso “jardim da vitória” como uma das bênçãos não previstas em um ano desafiador.
Os jardins sempre foram meus locais favoritos. São espaços que celebram a vida renovada e vibrante, longe do barulho dos telefones e das obrigações diárias. Embora precisem de cuidados, exigindo que nos ajoelhemos na terra e sujemos as mãos para arrancar o que não lhes pertence, cada vez que volta a primavera eles nos surpreendem e nos encantam com seu florescer.
Talvez tenha sido todo esse trabalho de jardinagem que tenha me levado a perceber em abril do ano passado que os jardins são o pano de fundo da história da Páscoa, a história da crucificação e da ressurreição de Cristo Jesus. Seu grande triunfo espiritual começa, em realidade, em um jardim.
Depois de terminar o que posteriormente se conheceria como “a última ceia” com os discípulos, Jesus faz um longo sermão, preparando-os para o que fora profetizado e que ele sabia que estava por vir. Ao cair a escuridão daquela noite difícil, ele se retirou com os discípulos “para o outro lado do ribeiro Cedrom, onde havia um jardim; e aí entrou com eles”. Esse jardim é conhecido como Getsêmani, nos Evangelhos de Mateus e Marcos. Jesus, solitário e angustiado, vai até ali para orar em busca de graça e coragem para aceitar o cálice que sabe que tem de beber — a suprema provação que ele tem de enfrentar e pela qual passar.
Enquanto seus alunos caíram no sono, a quietude do jardim permitiu a Jesus enfrentar o peso da dúvida e do desespero, até que seus pensamentos se tornassem seguros de que, apesar da perspectiva sombria, Deus tinha um plano para a humanidade. Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, Mary Baker Eddy fala sobre o imenso crescimento espiritual que ocorreu naquele jardim: “Durante sua noite de tristeza e de glória no horto, Jesus compreendeu que é totalmente errada a crença na possibilidade de haver inteligência material … Jesus se volveu para sempre da terra para o céu, dos sentidos para a Alma” (pp. 47–48).
A disposição de Jesus, nesse jardim, de abandonar o último resquício de vontade humana, fez com que ele pudesse declarar a Deus: “faça-se a tua vontade” (Mateus 26:42). Esse foi um prenúncio de sua ressurreição e ascensão acima do senso mortal de vida — as limitações e decepções do materialismo — para a compreensão e aceitação plena da vida imortal.
Levado de volta à cidade por soldados, uma grande luta de paixão e orgulho se desenrolou entre seus acusadores, mas Jesus já havia deixado tudo isso para trás. Ele não disse nada quando os chefes dos sacerdotes dirigiram acusações contra ele perante Pôncio Pilatos, o governador romano, nem tentou impedir a humilhante e dolorosa crucificação.
O Cristo, a ideia divina, nunca morrera, e apresentaria à humanidade a plena compreensão da vida eterna.
Em seguida, o corpo de Jesus foi deixado com José de Arimateia e Nicodemos, os quais com amor o envolveram em linho limpo, e o levaram novamente a um jardim: “No lugar onde Jesus fora crucificado, havia um jardim, e neste, um sepulcro novo, no qual ninguém tinha sido ainda posto” (João 19:41). Ali, no santuário da tumba, novamente Jesus tem de elevar o pensamento ainda mais para o alto, acima da traição, da dor, do ódio e até mesmo da morte, para chegar ao ideal mais elevado do homem, o Cristo. O Cristo, a ideia divina, sua identidade divina, nunca morrera, e apresentaria à humanidade a plena compreensão da vida eterna.
Que vitória gloriosa ocorreu naquele jardim! Depois de três dias, Jesus ressuscitou e falou primeiro com Maria Madalena, que ficou tão perplexa ao vê-lo, que pensou que fosse o jardineiro. Logo depois Jesus apareceu aos outros discípulos, e então entre eles foi reconhecido o fato de que a Vida é realmente eterna, como ele havia dito. Sua ressurreição foi a demonstração final da grande lição, de que “a natureza divina tem de vencer a natureza humana em todos os pontos” (Ciência e Saúde, p. 43).
A ressurreição de Cristo Jesus foi muito mais do que um evento isolado ou ato físico. A vida é eterna, portanto, nunca existiu na matéria, nem poderia ser ressuscitada da matéria. As devotas e humildes sementes lançadas no jardim do Getsêmani, o ceder a Deus, e a disposição de confiar no fato de que a Vida é espiritual e eterna — tudo isso foi o que possibilitou o que estava por acontecer, a vitoriosa ressurreição e ascensão de Jesus.
Tive uma profunda experiência de cura há vários anos, inspirada por alguns momentos de silêncio em um jardim. Uma série de difíceis desafios haviam me deixado doente e, pela primeira vez, temi por minha vida. Embora os sintomas físicos parecessem implacáveis, logo percebi que o que realmente perturbava meu coração e meus pensamentos era o medo de que a vida fosse frágil e estivesse à mercê da matéria.
Certo dia, incapaz de me acalmar, saí para o jardim para mudar de cenário. Comecei a plantar algumas flores perenes e, sozinha naquele santuário ao ar livre, senti que Deus estava me tranquilizando. Essa forte convicção, de que a vida é permanente, vigorosa, alegre e espiritual, me satisfez de tal maneira, que mal consigo expressar em palavras. Parecia um daqueles momentos descritos na Bíblia, quando lemos que alguém estava cheio do Espírito Santo, e de repente eu tive a convicção de que tudo estava bem.
Enquanto, nas semanas seguintes, eu continuava a refletir sobre esse momento sagrado, deparei-me com estas palavras de Mary Baker Eddy, descrevendo a compreensão de Jesus sobre a Vida eterna: “O grande Mestre, que nos mostrou o caminho, deu o exemplo de que a Vida não é limitada nem contaminada pela matéria, e não sofre as restrições da matéria. Ele deu provas da superioridade da Mente sobre a carne, abriu a porta para o cativo e capacitou o homem a demonstrar a lei da Vida que, como disse S. Paulo a respeito de si mesmo, ‘[m]e livrou da lei do pecado e da morte’ ” (Miscellaneous Writings [Escritos Diversos] 1883–1896, p. 30).
O desafio não terminou por completo naquele dia, mas foi exatamente ali naquele jardim que me libertei totalmente do medo à morte. Alguns meses depois, todos os sintomas físicos também desapareceram, e nunca mais voltaram.
Não foi literalmente estar em um jardim o que me permitiu elevar-me acima do medo à morte, mas foi, em parte, o espaço tranquilo que o jardim proporcionou, separado do barulho da crença mundial de vida na matéria, para que a voz de Deus pudesse ser ouvida. Não precisamos encontrar um jardim para orar, quando buscamos elevar nossos pensamentos acima de uma imagem mortal e limitadora. Mas podemos encontrar um espaço onde desligar o telefone e deixar de lado as tarefas, voltar-nos de todo o coração a Deus e pedir que o Cristo, a verdade do existir, nos seja revelada.
A implicação da ressurreição da Páscoa não é de que Cristo Jesus, o Filho de Deus, nos tenha salvo de ter de passar por nossos próprios desafios ou experiências, para que não tenhamos de enfrentar o cálice ou a cruz. Mas, com seu exemplo, ele nos mostrou que, seja qual for a cruz que estejamos carregando, nossa Vida é Deus, que é a única Vida divina, eterna e harmoniosa, e sempre haverá uma coroa. Sempre haverá uma vitória.
A vida é eterna, portanto, nunca existiu na matéria, nem poderia ser ressuscitada da matéria.
Jesus foi “o homem mais científico que já andou neste mundo” (Ciência e Saúde, p. 313). Mas nós também somos filhos de Deus e, portanto, nós também temos a capacidade de demonstrar o poder de Deus sobre todas as formas de mal. “O mais alto representante terreno de Deus, ao falar da capacidade humana de refletir o poder divino, disse profeticamente a seus discípulos, referindo-se não apenas à época deles, mas a todos os tempos: ‘Aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço’; e ‘Estes sinais hão de acompanhar aqueles que creem’ ” (Ciência e Saúde, p. 52).
Cada um de nós passa por momentos de ressurreição — momentos em que deixamos para trás o pó da limitação e da mortalidade, e nos elevamos à compreensão de nossa verdadeira natureza espiritual, aliada ao Deus eterno, perenemente presente e todo-poderoso, o qual é a própria Vida.
Somos tão infatigáveis quanto aquelas flores perenes do meu jardim. Elevando-nos acima dos invernos frios do materialismo cansado de se queixar, encontramos continuamente o renascimento e o progresso inevitável que a inspiração da Verdade sempre traz.
