Acordei de madrugada, tremendo de frio e coberto com palhas e talos de milho mofado. No entanto, embora fisicamente desconfortável, eu estava firme em minha consciência. Eu estivera indo na direção errada, tanto geograficamente quanto espiritualmente, e durante aquela longa e fria noite, eu me arrependi e resolvi voltar-me para a direção certa.
No último trimestre do meu segundo ano na faculdade, eu tinha me sentido cansado e não queria mais saber de nada com os estudos. Eu ia deslizando pela escola da maneira “fácil”, sem dedicar tempo e esforço suficientes a estudar, e estava caindo em atividades autodestrutivas, como experimentar drogas. Eu estava decepcionando meus pais, meus professores e a mim mesmo.
Àquela altura, tal qual o filho pródigo na parábola de Cristo Jesus descrita na Bíblia, decidi fugir das minhas responsabilidades. Era um dia de outono excepcionalmente quente. Então saí do campus e fui pegando carona ao longo do rio Mississipi. Eu estava indo para o estado de Iowa, ao norte, onde a agricultura é quase toda de cultivo do milho, e onde um amigo se oferecera para me conseguir um emprego. Por uma coincidência engraçada, considerando a história do filho pródigo, era em uma fábrica de gamelas para porcos. Esse meu plano parecera viável no calor do dia, mas quando o sol se pôs, dei-me conta de que eu não estava preparado para a baixa temperatura, não tendo nem roupas quentes nem dinheiro para hospedagem ou transporte. Naquela noite de outono, sem ver carros indo ou vindo, eu estava isolado, imobilizado no escuro, em uma estrada rural deserta, sem perspectivas de movimento em qualquer direção. Na tentativa de me aquecer, refugiei-me em um milharal e me cobri com palhas e talos de milho úmidos e podres. Passei o resto da noite lutando no âmago de minha consciência, tal qual o filho pródigo.
Durante os meses que antecederam minha tentativa de “fuga”, eu andara sobrecarregado, com preguiça e pensamentos egoístas, e a crença de que aquele estado mental me pertencia. Na verdade, era uma imposição, que o apóstolo Paulo descreveu como “a mente carnal” (ver Romanos 8:7) — pensamentos cuja base é a crença de que a existência seja material e o mal seja real. Eu vinha sendo embalado no sonho hipnótico de ter consciência e vida separadas de Deus — meu Criador, meu preservador, a Mente divina sempre presente. Eu havia erroneamente aceitado a falsa sugestão de que podia ser um fora-da-lei, e mesmo assim ter a expectativa de que minha vida fosse harmoniosa, feliz e segura, enquanto eu me entregava aos prazeres dos sentidos e aparentemente vivia fora do governo de Deus. Mas em um nível mais intuitivo, eu sabia que fugir não era a minha compreensão mais elevada do que é direito, e não era, na realidade, nem mesmo possível.
Tendo sido criado na Ciência Cristã, eu compreendia, pelo menos teoricamente, a importância de proteger meu pensamento contra as tentações do mundo e a noção de que os atalhos materialistas podiam produzir resultados bem-sucedidos ou satisfatórios. Mesmo assim, acho que ainda tinha muito a aprender, pelo caminho mais difícil.
Essencialmente, minhas lutas mentais em meio às palhas e talos no milharal se resumiam nisto: por um lado, eu podia chegar ao estado de Iowa e viver uma vida marginal, fabricando cochos para porcos e me drogando com meu amigo. Por outro lado, eu podia voltar para a faculdade; viver de acordo com preceitos morais; cumprir minhas obrigações para com a família, para comigo mesmo e para com Deus; e receber um diploma universitário. Tremendo de frio no meu refúgio úmido e podre, tive um momento de clareza. Acho que dormi por uma ou duas horas, porque me lembro de acordar sabendo que eu tinha de voltar.
A Descobridora da Ciência Cristã, Mary Baker Eddy, capta, na citação seguinte, o que experimentei e senti: “As duras experiências provenientes da crença na suposta vida da matéria, bem como nossos desenganos e sofrimentos incessantes, levam-nos, como crianças cansadas, aos braços do Amor divino. Então começamos a compreender a Vida na Ciência divina” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 322).
Ouvi um caminhão vindo na direção sul, e fui para a estrada. O motorista saiu de sua própria rota de viagem, para me deixar no campus. Dentro do caminhão estava quentinho, mas meu coração estava ainda mais aquecido, porque eu tinha me arrependido naquela noite, coberto com os talos e palhas de milho. Eu agora estava indo na direção certa.
Cheguei a tempo para as aulas, e só alguns amigos ficaram sabendo que eu havia escapado do campus. Mas parecia que eu tinha viajado uma longa distância e por longo tempo, porque eu sabia que estava transformado.
As coisas passaram a ser diferentes nos dias e semanas que se seguiram. A tentação de usar drogas me deixou de modo imediato e permanente, e eu regressei à nossa Organização da Ciência Cristã do campus. Também comecei a estudar regularmente as lições bíblicas semanais do Livrete Trimestral da Ciência Cristã. Em vez de evitar o dever de casa, passei a fazê-lo dedicadamente. Foi muito fácil ir bem na escola, pois minha mente estava clara, e eu estudava, comparecia às aulas e completava minhas tarefas a tempo. E foi emocionante, intelectualmente satisfatório e gratificante saber que eu estava vivendo de acordo com preceitos morais e de maneira responsável.
Sou grato por esse marco, que devo à minha educação na Escola Dominical, às orações dos meus pais, ao apoio de uns bons amigos — e a alguns pés de milho no sul do estado de Illinois.
