Poucas pessoas teriam renunciado a um emprego tão bem remunerado, principalmente quando havia tantas boas razões para conservá-lo. Mas foi exatamente o que um amigo meu fez. Algumas pessoas teriam considerado aquele emprego como um cargo maravilhoso que, acima de tudo, oferecia uma qualidade muito importante: estabilidade garantida. Mas ele anteviu um grande problema no horizonte. Em suma, era uma questão de moralidade.
À medida que nossa sociedade avança em direção a uma maior tolerância em arenas que antes eram consideradas moralmente questionáveis, algumas empresas estão seguindo essa tendência. Foi exatamente isso o que começou a acontecer na organização esportiva para a qual meu amigo trabalhava. As leis estavam mudando a fim de oferecer mais oportunidades para as pessoas se dedicarem ao jogo. Essa organização era exatamente o tipo de negócio que poderia tirar proveito dessas mudanças nas leis, abrindo as portas para acomodar e até mesmo acolher diferentes tipos de jogos de azar, incluindo apostas on-line.
Será que meu amigo iria fazer parte daquilo que ele sentia ter grandes implicações morais, não apenas para ele, mas ainda mais para a sociedade como um todo? No final, ele simplesmente não conseguiu utilizar seus talentos para algo que tem levado muitas pessoas ao vício e a outros hábitos e condições não saudáveis, por isso abriu mão do emprego.
As pessoas nem sempre fazem uma forte correlação entre moralidade e saúde, e com isso quero dizer não apenas saúde espiritual, mas também saúde financeira, mental, emocional e física. Mas foi isso exatamente o que meu amigo fez.
Já faz uns dois anos desde que ele renunciou a esse emprego, mas, nesse curto espaço de tempo, constatou as inúmeras bênçãos recebidas por ter tomado aquela decisão, não apenas em sua comunidade, mas também em sua família. Ele me escreveu sobre essa experiência, dizendo: “Como a Bíblia declara: ‘…o Deus dos céus é quem nos dará bom êxito…’ (Neemias 2:20). Certamente comprovamos que isso foi verdadeiro em nossa situação, de maneiras que jamais poderíamos imaginar, desde que tomamos essa decisão”.
Se ainda não demos atenção à relação que existe entre saúde e moral — o que definiríamos como sendo os padrões de comportamento expressos tanto nos Dez Mandamentos como no Sermão do Monte de Cristo Jesus — talvez seja a hora de fazê-lo. Seguindo as qualidades morais e espirituais que Jesus expressava — tais como amor, compaixão, perdão, caridade, honestidade, pureza, fé, fidelidade a Deus e fazer aos outros o que desejamos que eles nos façam (a Regra Áurea para a vida, a qual a maioria das tradições religiosas têm em comum; ver Mateus 7:12) — é a verdadeira medida de nossa moralidade.
Somos todos membros dessa grande organização chamada sociedade, e os tipos de posições que assumimos e a base sobre a qual vivemos nossa vida podem ser uma influência estabilizadora para todos. Mary Baker Eddy, que descobriu a Ciência Cristã, certa vez escreveu: “Será constatado que as condições morais são sempre harmoniosas e salutares” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 125).
Poderia haver uma conexão entre estes fatores: a saúde e a harmonia em nossa sociedade hoje em dia, e a mudança que vem ocorrendo há décadas nos padrões morais? Parece que houve uma constante decadência dos ideais morais e até mesmo um esforço agressivo para deixá-los de lado. Mas, mais cedo ou mais tarde, constatamos que eles são uma proteção crucial para a saúde geral de todos os aspectos do dia a dia e do bem-estar da sociedade como um todo. Para alguns, assumir uma postura moral pode resultar em finalmente conseguir pagar as contas todos os meses. Para outros, pode significar obter um senso de estar mais saudável e equilibrado física ou mentalmente. À medida que obtemos clareza moral, nós nos protegemos de um clima moral frouxo na sociedade, e nosso próprio bem-estar é fortalecido. Também estaremos mais fortalecidos para curar espiritualmente a nós mesmos e aos outros — especialmente ao vivenciarmos a revelação de que a identidade real de todos é espiritual em vez de material.
Alguns indivíduos têm dúvidas quanto a adotar “padrões morais”, imaginando se esses padrões não mascaram com muita facilidade uma atitude de crítica com relação a algumas pessoas. Talvez às vezes seja esse o caso. Mas não precisa ser assim. Já presenciei muitas ocasiões em que a compaixão e o amor pelos outros foram a força motriz que determinou uma decisão.
Veja o exemplo de meu amigo na questão dos jogos de azar. Parece-me que sua decisão teve muito mais a ver com um senso maior de amor pela humanidade como um todo, do que um senso estreito de criticar as decisões de um número relativamente pequeno de pessoas. Qualquer um que tenha ajudado aqueles que lutam contra um vício, tal como, jogos de azar, drogas ou pornografia, sabe bem que a compaixão pode ajudar muito a promover a cura. As qualidades morais são necessárias para curar a ausência de moralidade.
Padrões morais vividos fornecem estabilidade crucial no progresso, tanto individual quanto coletivamente. Fortes padrões morais, quando alimentados pela união de humildade e Amor divino, nos proporcionam a fibra espiritual necessária para defender a saúde pública. As comunidades médicas, midiáticas, jurídicas, políticas e, especialmente, as religiosas, precisam considerar cuidadosamente como podem encorajar a moralidade, e não enfraquecê-la. Todos têm interesse em nutrir estados de pensamento que protejam a saúde pública em vez de comprometê-la. A autora de Ciência e Saúde adverte: “Por falta de força moral, os impérios caem” (Escritos Diversos 1883–1896, p. 268).
Quando as atitudes sociais tendem a tornar a moralidade irrelevante, o amor compassivo desempenha um papel poderoso no restabelecimento de ideais mais elevados. Observe, por exemplo, os dois cegos que buscaram a ajuda de Cristo Jesus. A Bíblia diz: “Condoído, Jesus tocou-lhes os olhos, e imediatamente recuperaram a vista e o foram seguindo” (Mateus 20:34). Imaginem! Dois homens curados de cegueira e a cura ligada à qualidade moral da compaixão. Cristo Jesus libertou os sofredores, mantendo-se firmemente do lado da Verdade, amando profundamente os filhos de Deus e compreendendo sua natureza divina sem pecado, a qual inclui todas as qualidades morais e espirituais de Deus, geradoras de saúde.
O Cristo, ou seja, a mensagem divina de Deus, está sempre presente na consciência para nos lembrar daquelas qualidades inerentes a nós, e que nutrem a saúde e a harmonia — e nos convida a vivê-las. Não podemos ignorar essas qualidades morais, se desejamos curar e ser curados e ver o progresso da sociedade.
Todos os dias estamos em posição de assumir padrões morais que beneficiam não somente a nós mesmos, mas toda a humanidade. Tais posturas ou ideais morais espiritualmente inspirados sustentam o crescimento e o progresso espiritual do mundo e nos protegem da imoralidade que invade a saúde. À medida que o pensamento assimila a pura consciência da moral espiritualmente fundamentada, não mais nos desviaremos desses ideais de proteção à saúde, e nossos lares e comunidades serão fortalecidos e abençoados.
