Hoje em dia é difícil ler um jornal ou ligar a TV sem ouvir, não apenas notícias ruins, mas notícias devastadoras e aparentemente incontornáveis, desde a pandemia até às guerras civis, às divisões políticas e aos desastres climáticos. Esses eventos levantam uma grande questão para muitas pessoas: “Onde está Deus quando acontecem coisas ruins?” Recentemente, Ethel Baker, Redatora-Chefe das revistas da Ciência Cristã, ponderou sobre esse tópico com Scott Preller, que é praticista e professor da Ciência Cristã. Ele também é atualmente membro da Diretoria dA Primeira Igreja de Cristo, Cientista, em Boston, Massachusetts. O texto a seguir é uma adaptação da gravação da conversa que tiveram, e que está disponível em inglês no site JSH-Online.com.
Ethel Baker: Comecemos com esta grande questão: onde está Deus quando acontecem coisas ruins?
Scott Preller: Para chegar a uma resposta pertinente e profunda, primeiro eu teria de dedicar algum tempo a examinar a pergunta em si. Você sabe, à primeira vista, pode parecer que a pergunta venha de alguém que está convencido de que Deus não existe, de que tudo é horrível, de que tudo é obscuro, e a pergunta em si pode parecer mais uma acusação do que uma pergunta genuína. Mas, quando refleti um pouco mais, compreendi que estamos tendo aqui uma conversa sobre Deus dentro de um programa da Ciência Cristã. Por isso, sinto-me na posição de defender meu próprio ponto de vista, e argumentar contra aquela visão equivocada.
Acho que, quando a pergunta é honesta, muito frequentemente provém da perspectiva da fé. Certamente para mim foi esse o caso, pois tive de enfrentar essa pergunta em diferentes momentos de minha vida. Acho que a maioria dos que estão se fazendo essa pergunta é constituída por pessoas que, de alguma maneira, vivenciaram algo mais do que apenas os limites do viver material. Elas já sentiram um senso de amor, por exemplo, que é maior do que qualquer coisa vinda do senso material de vida. Ou então elas vivenciaram a inspiração da criatividade de uma maneira que lhes fez perceber uma fonte de inteligência acima daquilo que o cérebro possa discernir. Ou talvez elas tenham vivenciado a cura física por meio da oração, e com isso se sentiram totalmente tomadas de gratidão pela natureza e pelo poder do bem.
Em outras palavras, elas vivenciaram a presença de Deus como algo real, não como tema de debate. Ainda assim, em algum momento, elas também tiveram de se defrontar com uma situação que não cedeu prontamente à oração, ou viram ou passaram por alguma tragédia ou desastre que fez com que naturalmente se perguntassem: “Bem, se Deus é totalmente bom e Todo-poderoso, por que essa coisa terrível está acontecendo? Por que Deus permitiu isso?”
Essa é uma pergunta honesta e cada um de nós tem de enfrentar e refletir sobre ela. Aliás, não conheço ninguém que tenha qualquer nível de fé e que não tenha tido de lutar com essa pergunta e, às vezes, repetidamente, porque a resposta curta e direta é que Deus está bem aqui. É aqui que Deus está, quando coisas ruins estão acontecendo e Ele continua sendo todo-poderoso, inteiramente bom e continua amando a todos nós.
É como perguntar: para onde vai o sol em um dia nublado? Ele está presente. O verdadeiro ponto a ser examinado é: o que precisamos fazer, para podermos sentir essa presença, apesar de tudo o que está descrito nos noticiários?
Então eu pergunto o seguinte: você mencionou que Deus é onipresente e onipotente. Essas palavras são usadas em muitas religiões para descrever a Deus. Mas ainda há essa impressão de que Deus seja uma espécie de super-homem, um grande ser humano que de certa forma está no céu, ou muito distante. E todos nós estamos suplicando a ajuda de Deus. Estamos pedindo a Deus que nos ajude, que nos resgate. Mas você está se referindo a um senso diferente de Deus. Poderia nos explicar como Deus é entendido na Ciência Cristã?
Claro. Na Ciência Cristã, que é totalmente baseada na Bíblia e particularmente no ministério e nos ensinamentos de Cristo Jesus, vê-se na obra de cura de Jesus a força, o poder, a presença do bem sendo supremo em tudo o que Jesus fazia, quando se defrontava com a doença, quando se defrontava com o mal. Nunca se vê, nos Evangelhos, Jesus dizendo: “Bem, isso é grave demais. Sinto muito, não há nada que eu possa fazer”.
Em vez disso, no ministério e nos ensinamentos de Jesus, seja qual for a magnitude do problema, este é superado; o que se espera de nós é que também vivenciemos essa presença do Reino de Deus. É dessa fé que estamos falando, não é? De certa maneira, significa: “Veja, existe algo mais, além daquilo que podemos perceber no ambiente material à nossa volta, e esse algo mais é realmente substancial”. A Ciência Cristã explica que nos ensinamentos de Cristo Jesus vê-se o bem operando como uma lei, como o Princípio divino em ação.
Continuando com a pergunta: onde está Deus quando coisas ruins acontecem, você falou sobre Cristo Jesus e a Bíblia. Poderia agora detalhar esse ponto um pouco mais, ou seja, falar sobre o fundamento, o ponto de apoio, para esse senso de que podemos confiar em Deus, como a Ciência Cristã ensina?
Sim. Uma das coisas que eu amo na Bíblia é que ela realmente abrange toda a experiência humana. Nela se percebe que, de muitas maneiras, os problemas com os quais lutamos hoje na nossa existência não são novos. Como também não é nova essa pergunta sobre onde está Deus quando coisas ruins estão acontecendo. Há tantos casos na Bíblia em que as pessoas tiveram de lutar com isso.
Acho que uma das histórias bíblicas a que as pessoas mais recorrem hoje em dia, pensando nesse tema, é a história de Jó, porque esse personagem representa uma pessoa de grande fé, totalmente correta, que ama a Deus, odeia o mal, e goza de todas as bênçãos que acompanham essas qualidades. Ele é rico. Tem uma família saudável. Tem muitos filhos e muitas posses. O livro de Jó descreve a hipótese de uma espécie de aposta entre Deus e Satanás, na qual Satanás diz: “Bem, Deus, Jó acredita em Você porque tudo vai bem na vida dele. Mas, e se as coisas não estivessem tão bem assim?”
Então, nos capítulos iniciais do livro, vê-se Jó perdendo tudo: todas as suas posses são roubadas, seus filhos são mortos em uma violenta tempestade e, por fim, ele próprio adoece. Vemos então Jó sentado sobre cinzas, esfregando feridas que não cicatrizam. E todo o restante da história consiste nessa luta com aquilo que nós mesmos estamos perguntando: “É justo isso? Como entender isso?”
Nesse relato, vemos os amigos de Jó vindo até ele e aventando muitas explicações teológicas convencionais sobre o porquê daqueles acontecimentos. Então, de certa forma, surgem os mesmos argumentos que nós mesmos enfrentamos: “Como se explica que tudo estava indo tão bem e agora está indo tudo tão mal?” Ou então: “Por que Deus não está solucionando esse problema?” Além disso, os amigos vêm com argumentos do tipo: “Você deve ter feito algo para merecer isso; só não sabemos o que é”. Ou então: “Talvez se você pedir a Deus da maneira certa, Ele dará um jeito”. Ou ainda: “Não podemos entender os caminhos de Deus”. “Você sabe, Deus é bom e só castiga o pecado, então você deve estar passando por isso porque pecou.” Mas Jó não cede a esses argumentos. São todos frutos de uma teologia ruim, baseada na suposição de que as coisas pelas quais Jó estava passando tinham uma razão válida.
Jó continua defendendo sua fé, sua retidão diante de Deus. E, para encurtar a história, vemos no final o que acontece com Jó. Algo que acontece com a maioria de nós, quando realmente recorremos à nossa fé. Por isso eu digo que é uma questão de fé, pois muitas vezes o problema se transforma em uma oportunidade para fortalecer nossa compreensão de Deus. Foi o que se deu com Jó. Ele teve de compreender e aceitar a realidade da infinitude de Deus, não importava o que os sentidos mostravam, e quando ele chegou a esse ponto tudo mudou.
Em outras palavras, ele precisava ter a certeza de que todo o seu coração estava naquela fé em Deus, em vez de ficar impressionado com todas as coisas que haviam acontecido. E a história bíblica termina com o relato de que ele recebeu o dobro do que tinha antes, e Deus o abençoou ainda mais.
Acho que o importante, nessa história, é que ela mostra como a consciência humana sempre teve de lutar com essa questão. Também acho que, particularmente em Cristo Jesus e nos relatos dos Evangelhos, esse senso da imutabilidade e bondade de Deus é confirmado em todo o ministério do Mestre.
Há um relato, em Marcos, sobre Jesus e seus discípulos em um barco, durante uma tempestade, e Jesus está dormindo na parte de trás do barco. Os discípulos vão até ele e dizem: “Você não está preocupado conosco? Não vê a tempestade que estamos enfrentando?” E Jesus responde em essência: “Vocês não veem minha paz?” E acalma a tempestade (ver Marcos 4:36–41).
Isso nos ensina que, quando nos deparamos com essas coisas terríveis, podemos optar: ou ficar impressionados com o mal, ou abrir nosso pensamento para sermos impressionados pela presença de Deus, e isso pode fazer toda a diferença. Na Ciência Cristã nos empenhamos em abordar os ensinamentos de Jesus de maneira científica. Você testa, experimenta, explora, mas faz isso com base em leis compreendidas. A Ciência Cristã traz o senso de que Deus é inteiramente bom, é todo-poderoso e, portanto, essa Ciência insiste no fato de que Deus não tem nada a ver com os males ou calamidades, com o mundo material e todos os seus problemas. O mundo material não é a matéria-prima de Deus, não é o que Ele emprega para fazer a Sua vontade. Sentir a Deus nos faz vivenciar as qualidades espirituais que vêm dEle. É assim que a Ciência Cristã nos convida a mudar de perspectiva.
Grande parte do que estamos falando aqui hoje se refere ao que é necessário para enfrentar esta pergunta: “Onde está Deus quando coisas ruins estão acontecendo?” É necessário inverter a pergunta, as questões e suposições sobre as quais elas se baseiam. A Ciência Cristã nos convida a mudar a perspectiva a partir da qual estamos pensando, ou seja, deixar de ficar impressionados com as circunstâncias difíceis que nos rodeiam e decidir como nos sentimos em relação a Deus, isto é, olharmos para Deus, compreendendo e sentindo Sua presença, permitindo que a realidade divina se contraponha à maneira como estamos nos sentindo com relação às circunstâncias. Fazer isso é o que muitas vezes traz a cura. Foi isso o que trouxe cura para muitos na Bíblia. É o que trouxe cura para gerações de Cientistas Cristãos.
Então estamos falando de uma mudança radical de perspectiva. Como você disse, essa é uma definição da realidade diferente da costumeira. Eu diria que a grande maioria sente que o mundo é uma mistura de bem e de mal e que nós mesmos também somos uma mistura. Parece que estamos o tempo todo tentando conciliar esse cenário de bem e mal. Quando esse cenário fica fora de controle, então recorremos ao que concebemos como o Ser Supremo que, no entanto, parece distante. Mas você está falando de um Deus que está exatamente aqui. Estamos em realidade vivendo em Deus, e somos nós que precisamos mudar nossa maneira de olhar, mudar a forma como vemos a nós mesmos, e a maneira como entendemos a Deus.
Sim, a ideia de que estamos em meio do mal real e do bem real, é uma espécie de partida de tênis interminável, um vai e volta. Falando francamente, isso é simplesmente exaustivo e nunca nos leva a lugar algum. Mas, quando examinamos a natureza das alegações do mundo material, e olhamos para a verdadeira natureza de Deus, constatamos que realmente essas duas naturezas não podem existir juntas. Em outras palavras, não há nada nelas que permita uma coabitação. O fato é que o mundo material diz que tudo é matéria. Diz que esta é a única coisa que existe. É a única coisa que precisamos saber. É a única coisa que nos governa. No entanto, uma das coisas que o Cristianismo nos mostra é que essa maneira de pensar é completamente o inverso da realidade.
A realidade é o que verdadeiramente existe, é Deus e Sua criação feita à semelhança dEle mesmo, expressando o mesmo amor e o mesmo bem. Essa é a razão pela qual essa realidade diferente, no fundo, não é desconhecida. Qualquer pessoa sabe o que é o amor. As pessoas sabem o que é a honestidade. Sabem o que é a inteligência. Essas são qualidades de Deus. Elas são a realidade, agora mesmo.
Você poderia nos dar um exemplo de como isso funciona na vida da pessoa, em uma determinada experiência?
Claro. Quando mencionei Jó, também me lembrei de quando eu era jovem. Ainda me recordo de ter ido a uma reunião de testemunhos da Ciência Cristã, na qual as pessoas costumam dar o próprio testemunho da presença do poder sanador de Deus. Nessa ocasião, vi um homem se levantar e contar que, graças à Ciência Cristã, ele nunca tivera um dia de doença na vida e que seu negócio havia prosperado muito. Ele pintou um quadro em que, realmente, tudo correra bem devido à Ciência Cristã. Lembro que pensei: “Caramba, é isso que a Ciência Cristã pode ser e fazer por mim!”
Então, comecei a viver minha própria vida e vi que não foi isso o que aconteceu. Na verdade, houve dias em que, pensando em Jó, trocar minha experiência pela dele teria me parecido uma vantagem. Mas lembro também uma vez em que eu estava servindo como capelão da Ciência Cristã na Força Aérea dos Estados Unidos, e pediram- me que eu fosse a uma convenção, onde eu seria o único representante da Ciência Cristã e onde haveria muitos outros capelães de outras denominações. Na época, eu estava lidando com uma infecção no ouvido já havia algum tempo e havia pedido ajuda a uma praticista da Ciência Cristã. Eu não estava com muita vontade de assistir àquela convenção, porque não me sentia nada bem, especialmente sentia temor por ter de ir de avião. Quando cheguei lá, a infecção havia piorado e estava tão dolorida que, ainda me lembro, quando entrei no táxi para ir ao centro de convenções, a dor no ouvido estava tão forte que perdi o equilíbrio. Ao descer do táxi, caí na sarjeta. Consegui me levantar, e rapidamente fui marcar minha presença, na recepção. Então encontrei um cantinho silencioso para ligar para a praticista que estava orando comigo e derramei toda minha história de quão terrível era minha situação. Nada estava melhorando e me perguntava constantemente o que eu estava fazendo de errado, e por que Deus não me curava? Eu disse: “Isto doe demais!”
A praticista ouviu tudo pacientemente. Pouco depois, uma das coisas que ela me disse foi muito impressionante: “Não há nada no ouvido”. Depois disso, lembro-me de ter me encaminhado para o quarto e durante todo o percurso eu pensava: “Ela simplesmente não entende. Não compreende quanta dor estou sentindo e que realmente há, sim, algo em meu ouvido”.
Nunca mais vou esquecer o que aconteceu depois; entrei no quarto, sentei-me na cama e pensei: “Bem, espera um pouco. Se eu quiser curar isso pela Ciência Cristã, por meio de minha compreensão de Deus, por meio da oração, em algum momento terei de aceitar que há mais realidade no bem de Deus e na identidade que Deus me deu, do que parece haver nesta infecção, neste sofrimento e nesta dor, que argumentam que eu sou apenas matéria”.
Eu me lembro de ter continuado a pensar nesta questão: vou ter de chegar ao ponto de compreender que, de fato, não há nada na matéria. Não há nenhuma autoridade, não há nenhuma verdade, não há nenhuma realidade nessa figura de mim mesmo como um mortal sofredor. A realidade está na presença de Deus em minha vida, e em minha identidade como filho de Deus. Essa foi uma daquelas raras vezes em que simplesmente perdi a noção do tempo. Praticamente esqueci- -me de onde me encontrava. Continuei aprofundando essa ideia até sentir que há mais realidade na presença de Deus do que no problema. Quando finalmente dei por mim, a dor havia desaparecido completamente. Não havia apenas melhorado, havia sumido. E esse foi um daqueles momentos em que você se dá conta: “Para onde ela foi?”
De acordo com a Ciência Cristã, essa foi a evidência de que a dor nunca tivera a autoridade que parecia ter. Mas eu tinha de entender isso. Tinha de prestar atenção àquela voz do Cristo, afirmando a realidade do bem e a nulidade da alegação do mal. Essa é a voz do Cristo que destrói o erro do qual estamos falando.
A Ciência Cristã tem um histórico de pessoas que confiaram na oração para a cura, mas acho importante lembrar que a cura não significa, em essência, usar a fé para consertar um corpo material ou resolver problemas materiais. Em realidade, as curas são evidências do fato de que, quando realmente aprofundamos nosso senso da presença de Deus, e verdadeiramente ouvimos o Cristo, e confiamos nele para animar nossa vida, para nos dar o senso de realidade, independentemente do que a imagem material estiver mostrando, então vemos a prova daquilo que Jesus disse, que o reino dos céus está presente e está dentro de nós. Essa é a grandiosa realidade.
Então, essa compreensão de que Deus é puramente bom, de que é o próprio amor sempre presente, realmente muda o conceito popular de oração, de algo tentando alcançar um Ser separado de nós, esperando algum favor ou algum cuidado especial que, de outra forma, não aconteceria. A oração tem de ser algo muito diferente, tendo um ponto de partida correto.
Sim. Obviamente a oração é aquilo que fazemos com o desejo de nos achegar a Deus e conhecê-Lo melhor. Mas, se a oração diz: “Veja como as coisas estão horríveis; por favor, Deus, resolva meu problema”, de certa forma estamos colocando tanto poder e tanta fé no mal quanto em Deus. E isso não ajuda muito.
Outra maneira de entender a oração consiste em alinhar o pensamento com Deus e com o senso da realidade divina. Isso é realmente o que deve ser feito. É dizer: “Não vou focar o pensamento nessa situação horrível, imaginando como Deus pode consertar isso. Vou me concentrar no fato de que Deus é Tudo-em-tudo e na razão pela qual isso me dá autoridade e poder para desafiar a situação que parece ser um problema para mim”.
Uma das coisas que eu acho realmente impressionante, no que a Ciência Cristã nos ensina, diz respeito a nosso relacionamento com Deus, pois isso realmente inverte a noção de que o mundo material tenha autoridade e poder sobre nós. Se fizéssemos uma espécie de pesquisa, perguntando às pessoas qual é o poder mais destrutivo do mundo, as respostas seriam interessantes, tais como: guerra nuclear, pandemia, doenças, desastres climáticos, colapso econômico, ódio e assim por diante. Mas uma das coisas que eu mais amo na Ciência Cristã é que me ajudou a compreender que, na verdade, a força mais destrutiva no mundo é o Cristo. E isso porque o Cristo é a única força que mostrou que pode destruir exatamente aquelas coisas que parecem destruir o bem, isto é, o Cristo pode destruir a doença, o Cristo pode destruir a morte. O Cristo pode destruir a desconfiança e a desonestidade, e assim por diante. Realmente, a Ciência Cristã nos ajuda a compreender a natureza e a presença do Cristo que traz a cura em nossa vida e nos ajuda a passar por aqueles momentos em que tentamos descobrir o que fazer, quando parece que só coisas ruins estão acontecendo ao nosso redor.
Mary Baker Eddy, cristã dedicada, Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, em seu livro, Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, inclui no final um capítulo chamado Glossário, com definições espirituais de termos bíblicos. Ali, ela define Cristo como: “A divina manifestação de Deus, que vem à carne para destruir o erro encarnado” (p. 583). Exatamente nessa definição está a ideia de que o Cristo é uma força destrutiva. Embora Cristo Jesus tenha manifestado plenamente o Cristo em tudo o que fez, o que nos encoraja é que ele deixou claro que esse poder do Cristo, essa presença do Cristo, está sempre presente e pronta para a vivenciarmos em nossa própria vida. Quando deixamos de pensar no Cristo como algo que não faz parte da nossa experiência, como um personagem bíblico ou alguma presença inatingível que gostaríamos de ter aqui, mas que não temos, então passamos a pensar no Cristo como essa manifestação de Deus em nossa vida — que vem até nós, que não é passiva — que vem até nós para destruir o erro encarnado, então nós começamos a buscar mais a presença do Cristo em nossa vida. E em outras passagens, a Sra. Eddy fala sobre o Cristo como a verdadeira ideia de Deus que expressa o bem. Ela diz que o Cristo fala à consciência humana. Então, em qualquer circunstância, mesmo em situações terríveis, sempre podemos ouvir a inspiração: “Sim, o mundo material está gritando para mim agora, mas o que Deus está me dizendo? Como Deus está me mostrando a presença do Cristo? Porque eu sei que o Cristo é o poder que consegue destruir o erro encarnado”.
Essa mesma ideia do Cristo como poder destrutivo está na definição de Jesus, no Glossário: “O mais alto conceito humano e corpóreo da ideia divina, que repreende e destrói o erro e traz à luz a imortalidade do homem” (p. 589). Essa passagem também mostra essa característica de destruir o erro.
Essa é a maravilha de que, quanto mais pensamos e vivemos a partir da base de que Deus é Tudo-em-tudo, e de que nossa própria identidade é a expressão de Deus, mais tomamos consciência da presença do Cristo animando nossa vida, falando conosco, tranquilizando-nos em tempos de desafios, falando-nos da presença do bem e do poder do amor para transformar a situação em que nos encontramos.
Essa é a maravilha de que, quanto mais pensamos e vivemos a partir da base de que Deus é Tudo-em-tudo, e de que nossa própria identidade é a expressão de Deus, mais tomamos consciência da presença do Cristo animando nossa vida, falando conosco, tranquilizando-nos em tempos de desafios, falando-nos da presença do bem e do poder do amor para transformar a situação em que nos encontramos.
Sim.
Então, nesses casos, você faz esse tipo de oração. Poderia nos dar um exemplo?
Claro. Uma das coisas que mais me encorajaram foi conhecer a própria experiência da Sra. Eddy, quando ela descobriu esse senso científico de Cristianismo, ancorado em um senso de Deus e do bem como o Tudo-em-tudo e no fato de que o mal não tem autoridade, por mais assustador que possa parecer. Compreendi que ela não havia chegado a essa compreensão vivendo em um mar de rosas. Aliás, em sua própria autobiografia espiritual, o livro Retrospecção e Introspecção, ela escreve que na vida humana costumam acontecer coisas demais que não nos deixam na ilusão de que essa assim chamada vida possa ser um descanso real e permanente. Ali ela conta como aquelas lições se tornaram mais árduas do que antes, quando a existência mortal parecera ter um vislumbre de luz. Mas, naquela altura, nenhuma centelha se via, porque as coisas haviam se tornado tão difíceis.
Quero dizer, ali estava uma mulher que havia passado a maior parte de sua juventude na semi-invalidez, tivera tremendas perdas em sua família: o marido, quando ela estava grávida, a mãe, o irmão e, mais tarde, o filho que lhe foi tirado ainda criança. Ela realmente passou por muitas dificuldades.
No entanto, sua descoberta mudou tudo. Ela não criou a teologia da Ciência Cristã. Ela a descobriu e compreendeu que a experiência que a forçara a se apoiar em Deus mais do que lhe parecera possível, foi o que abriu para ela a realidade de Deus e isso simplesmente transformou tudo. Tendo compreendido que Deus, o bem, é Tudo, ela não mais podia pensar ou viver a partir de outra base.
Outro exemplo foi que me deparei com uma foto de família, enquanto me preparava para esta nossa conversa de hoje. É uma foto de meu pai quando adolescente, sentado ao piano. Meu avô está de pé ao lado dele, acompanhando-o ao violino. O que prendeu minha atenção ao ver essa foto foi pensar em quando e onde essa foto foi tirada.
Minha família é originária da Alemanha, e essa foto foi tirada quando eles moravam em Berlim, em 1941, e a Segunda Guerra Mundial estava em pleno andamento. Mas, olhando para a foto, poderíamos imaginar que essa talvez fosse uma ocasião familiar feliz. Ao olhar essa foto, vê-se que eles ainda não haviam percebido o que estava por vir. Eles não sabiam, por exemplo, que meu avô, que era praticista da Ciência Cristã, seria preso, pois em breve os nazistas iriam proibir a prática da Ciência Cristã. Eles não sabiam que o bombardeio dos Aliados se intensificaria em Berlim pouco tempo depois. Meu pai certamente não sabia que seria enviado a um campo de trabalhos forçados por se recusar a fazer parte da Juventude Hitlerista. O que é interessante, quando penso nos relatos familiares daquela época da guerra, é que certamente retratam aquilo de que estamos falando aqui, isto é, a indagação de onde está Deus quando acontecem coisas ruins.
O que ajuda, nesse caso, é pensar na experiência de minha família em meio a todos esses acontecimentos, porque depois de meu avô ser solto, a guerra continuou indo mal para os nazistas. E, por fim, eles vieram e o agarraram novamente e o forçaram a prestar serviço militar. Mas eles certamente sabiam que meu avô não era um soldado. Então o colocaram como sentinela de uma ponte, em uma área bastante remota. Ele passou parte da guerra apenas sentado, supostamente guardando a ponte. Mas, na verdade, ele passou aquele tempo escrevendo poesias. Em certo momento, a ponte foi atacada e ele levou um tiro na perna. Foi levado para um hospital de campanha, onde ele pediu para ficar sozinho para orar, enquanto eles cuidavam dos outros feridos. Disseram que iam ter de amputar a perna. Mas, quando voltaram para cuidar dele, perceberam que a amputação não era mais necessária. Por fim, ele teve uma cura total e completa por meio do tratamento pela Ciência Cristã.
Pensando nessa época tremendamente turbulenta, seria fácil olhar para esse relato e dizer: “Essa história não é muito reconfortante. Parecia que as coisas estavam indo bem, mas nunca se sabe o que está por vir — e aí chega o desastre”. Mas para meu avô, esse se tornou o momento de aprofundar sua compreensão da presença e do poder de Deus como uma realidade, como algo em que ele podia confiar de maneira completa e total.
E isso fica evidente em algumas das poesias que ele escreveu nessa época. Um dos poemas foi musicado e tornou-se um hino do nosso novo hinário, Christian Science Hymnal — Hymns 430–605 [Hinário da Ciência Cristã — Hinos 430–605]. Gostaria de ler a segunda estrofe do Hino 476. Esta é uma parte de seu poema:
Coração saudoso, não percas a esperança
Quando as ameaças do mal dominam.
O Amor agora mantém Sua promessa.
A mão segura de Deus está ao leme,
Trazendo alegria quando tudo parece
escuro —
Deus vai te manter a salvo, seguro.
Segue em frente, em paz, ó amado:
A vitória é sempre certa.
Claro, ele não estava falando da vitória de um combatente sobre outro. Estava falando da vitória sobre a sensação de estar desamparado e sem esperança. Estava falando da vitória sobre o senso material de existência. Naquela situação em que meu avô se defrontou com um grande mal, ele percebeu, por meio daquilo que a Ciência Cristã lhe havia ensinado sobre a presença de Deus como o Tudo-em-tudo, que fazia mais sentido opor-se de coração à autoridade das circunstâncias, em vez de opor-se à sua fé e à sua compreensão de Deus. E isso trouxe a cura; trouxe uma percepção mais forte da realidade do bem.
Portanto, isso está me dizendo que podemos ter a expectativa da cura. Cura para nós mesmos; cura neste amplo desenrolar das coisas. Você pode dar um pequeno exemplo de como podemos orar agora sobre, digamos, a situação no Afeganistão?
O que estamos vendo no Afeganistão é um exemplo de como as notícias desafiam nosso senso de esperança, nosso senso do grande potencial da humanidade. Mas tudo o que temos dito sobre a oração e a natureza da realidade, a natureza de Deus, tem a ver com a base a partir da qual estamos pensando. Podemos orar com base na experiência de nossa própria vida, de como em tempos sombrios nossa capacidade de conhecer o bem nos deu forças e o bem prevaleceu.
Uma das coisas que tenho tentado lembrar cada vez mais, em minhas próprias orações a respeito da situação, é compreender que, se Deus é o autor da criação, se a verdadeira natureza dos homens e mulheres consiste em que são ideias espirituais de Deus, se Deus realmente é a causa da nossa identidade, então não há escuridão que possa extinguir nossa capacidade de conhecer essa verdadeira identidade, essa identidade mais elevada que sabe amar. E continuo afirmando que a única inteligência real é a inteligência que vem de Deus; o único poder real é o poder que vem do amor; e quer seja um indivíduo, quer sejam povos tentando encontrar segurança, tentando ajudar aqueles que buscam segurança, ou mesmo aqueles que estão tentando impedir que as pessoas se sintam seguras, em algum lugar há essa capacidade de ouvir o Cristo falando à consciência. O Cristo fazendo com que as pessoas pensem com base na inteligência, no cuidado e no amor, em vez de no medo, na escuridão e na opressão.
Scott, uma última pergunta. Se essas ideias forem novas para algumas pessoas, essa ideia totalmente diferente a respeito de Deus e da oração, acaso essa compreensão é algo fora do alcance das pessoas comuns?
De modo algum. Essa realidade espiritual sobre a qual estamos falando é a realidade de Deus, é o poder infinito e ilimitado do bem divino e da nossa verdadeira identidade como filhos de Deus, vivificados pelo Cristo. Esse fato é a verdade para todos. Se as pessoas pararem o suficiente para pensar sobre isso, descobrirão em seu próprio coração que: “Sim, é nisso que eu sempre acreditei. Eu sempre soube que o amor faz mais parte de quem eu sou, mais do que qualquer outra coisa. Eu sempre soube que o bem é o que define a vida e faz com que a vida realmente mereça ser vivida, e que eu não sou impotente para vivenciar essa realidade em minha vida”.
Por isso, essa verdade não é estranha para ninguém. É o que já existe. Quero dizer, se o que estamos dizendo tem validade é porque está fundamentado na premissa de que o Cristo fala à consciência humana, e se prestarmos atenção, se agirmos de acordo com o Cristo, vivenciaremos o poder que isso nos traz, então encontraremos novas possibilidades de fazermos o bem e de sermos bons. E a vida vai ser o que deve ser, a expressão de Deus, a expressão do Amor, da Verdade e do Espírito.
Muito obrigada, Scott. Você nos deu muitas ideias sobre as quais refletir e orar.
Foi uma alegria estar aqui. Obrigado.
