Há vários anos, um amigo disse que já estava cansado de ficar sempre tentando se lembrar do ensinamento da Ciência Cristã de que tudo aquilo que parece material aos sentidos físicos, nada mais é do que um conjunto de crenças e percepções. Ou seja, o fato de que sua natureza é totalmente mental. Ele disse que era um alívio pensar que todas as coisas materiais, inclusive seu próprio corpo, são exatamente o que aparentam ser — isto é, completamente materiais.
Mais tarde, esse amigo retomou a prática da Ciência Cristã. Mas, naquela época, ele estava sentindo a muito comum atração pela crença de que tudo é feito de matéria e de que é a matéria, não o Espírito, Deus, o que é realmente concreto e irrefutável.
Há séculos, a humanidade acredita estar vivendo em um universo dualista, feito de matéria e mente, de bem e mal. Essa visão traz consigo ansiedade. Como seres conscientes, nós pensamos, sentimos e nos importamos com as coisas. Às vezes, contudo, vivenciamos um universo que é muito diferente — insensível, com frequência hostil e indiferente ao sofrimento humano. Embora tenha havido muitas invenções úteis, a humanidade muitas vezes se vê relegada a ser uma indefesa espectadora de condições materiais que estão muito além de seu controle.
Cada vez mais vemos cientistas contestando essa maneira dualista de pensar. Interesso-me muito por seu raciocínio, pelas provas apresentadas e pelas teorias trazidas para o debate. O que mais me impressiona é que isso mostra um anseio humano por algo mais do que uma visão materialista da realidade.
O Dr. Donald Hoffman, professor da ciência do conhecimento, na Universidade da Califórnia, em Irvine, EUA, chegou à conclusão de que o que vemos não é a realidade objetiva. No livro The Case Against Reality [Os argumentos contra a realidade], ele explica sua ideia de que a evolução treinou os humanos para ver uma suposta realidade, em vez de ver o mundo como ele verdadeiramente é.
Além disso, chamou minha atenção um artigo intitulado “Physics is pointing inexorably to mind” [A física está inexoravelmente apontando para a mente] (scientificamerican.com, 25 de março de 2019). O Dr. Bernardo Kastrup, engenheiro da computação e filósofo, afirmou que aquilo a que chamamos de solidez e concretude é algo inteiramente mental. Talvez pensemos que haja algo material na base daquilo que descrevemos como sólido e concreto, acreditamos que exista uma realidade não mental. Mas o Dr. Kastrup afirma: “O mundo medido, modelado e, por fim, estudado pela física é o mundo das percepções”.
Nessas afirmações, não pude deixar de ver semelhanças com o que Mary Baker Eddy, a Descobridora da Ciência Cristã, disse há bem mais de um século: “Tudo tem apenas a realidade que tu lhe dás, e não mais. Aquilo que vês, ouves e sentes é uma modalidade de consciência e não pode ter nenhuma outra realidade, a não ser o conceito que dele tenhas” (A Unidade do Bem, p. 8).
A Sra. Eddy disse que “graças à revelação divina, ao raciocínio e à demonstração” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, p. 109), ela chegou à conclusão de que havia uma Ciência por trás das primeiras curas cristãs. A revelação foi uma intensa inspiração espiritual. Permitiu-lhe libertar-se da atração negativa do materialismo e vivenciar aquela realidade divina e tangível que as personalidades da Bíblia, em particular Jesus, vivenciaram. Isso fez com que ela entendesse o seu significado. Entendeu que a criação é tão perfeita e espiritual quanto Deus. Seu amor pela Bíblia e principalmente os relatos da vida e das curas de Cristo Jesus deram-lhe o contexto para compreender o que estava sentindo e vivendo.
Após sua descoberta, a Sra. Eddy tentou raciocinar para entender como o mal, que parecera tão real em sua vida, se encaixava, ou não, no que estava aprendendo. Sua experiência de cura refutava a noção de que houvesse uma realidade não boa. Ela constatou que a cura nega a validade das alegações de que o mal exista; ao contrário, as desmascara como falaciosas e as elimina totalmente. Pode-se dizer que, por meio da descoberta da Sra. Eddy, uma nova lógica científica cristã é aplicada ao antigo problema do bem e do mal — e isso trouxe cura.
Os esforços da Sra. Eddy para compreender a Verdade não foram notados, até que o poder espiritual se tornou evidente na ascensão da Ciência Cristã, por meio do crescimento de igrejas, da venda de seus escritos e quando as inúmeras curas realizadas por ela e por seus alunos chamaram a atenção do mundo. Apesar da oposição, a Sra. Eddy e os estudantes dessa Ciência reuniram, nos periódicos da Ciência Cristã, o mais impressionante conjunto de evidências de cura, desde a época do Novo Testamento. Estão incluídas curas das doenças mais contagiosas e malignas, bem como ressurreições. Mas há muito mais. Por exemplo, eventos climáticos extremos se dissiparam com a oração da Sra. Eddy, sem deixar dano algum. Ela estava explorando o universo espiritual e validando sua realidade, por meio do trabalho de cura.
A Ciência Cristã revelou que o senso material do universo é uma fraude. A Sra. Eddy aprendeu que aquilo que é chamado matéria não é substância, mas sim é a visão bastante, ou totalmente, distorcida por parte da que ela denominou mente mortal, e que a Bíblia denomina mente carnal.
A Sra. Eddy ansiava por contar aos outros o que estava aprendendo. Para isso, às vezes ela precisava indicar um significado mais elevado para palavras conhecidas. Por exemplo, na Ciência Cristã, a palavra Mente, com a inicial maiúscula, é usada como sinônimo de Deus. Como há um só Deus, há somente uma Mente verdadeira. A relação entre Deus e Sua criação é a mesma relação que há entre a Mente e suas ideias. Uma ideia não é feita de algo que não esteja na Mente. A realidade é totalmente mental — espiritualmente mental.
A existência de uma ideia corresponde ao conhecimento que Deus tem sobre ela e, por meio dela, são expressos os próprios atributos da Mente. Deus só conhece a Si mesmo, ou seja, o Espírito, e Suas ideias. Toda ideia, portanto, é espiritual e expressa algo que Deus conhece. Toda ideia é, como Deus, imortal e indestrutível. Deus mantém Suas identidades, Suas criações, em um perpétuo estado de perfeição original. Por isso, o homem é como a Sra. Eddy o descreve em Ciência e Saúde: “…a ideia de Deus, ideia composta que inclui todas as ideias corretas…” (p. 475).
O oposto da Mente divina é o senso material das coisas, ou seja, a mente carnal. Não é o que parece ser. A mente mortal acredita que sua existência esteja na matéria, sujeita às suas condições. A Ciência Cristã revela que essa chamada mente não está na matéria, mas que a matéria é, ela própria, uma crença dessa chamada mente. Não haveria matéria sem a consciência mortal que nela acredita. A mente mortal sente e vê aquilo em que acredita.
Às vezes a palavra humano é usada como sinônimo de mortal mas, em outras ocasiões, ela representa o estado mental que já não tem muitos pensamentos errôneos, a fim de melhor refletir a Verdade espiritual. Sob esse prisma, o senso humano da existência está dando lugar ao divino.
A rigor, não existem seres mortais ou seres humanos que algum dia irão evoluir para seres espirituais. O existir espiritual é a única realidade do homem, e os conceitos mortais e humanos dão lugar a essa verdade permanente.
Em sua descoberta da Ciência Cristã, a Sra. Eddy constatou que “…cada criatura, cada ideia do Espírito, tem sua falsificação em alguma crença na matéria. Toda crença material dá indícios da existência da realidade espiritual…” (Escritos Diversos 1883–1896, p. 60). Essa afirmação exige uma profunda ponderação. O que, para os sentidos materiais, parece ser coração, fígado, pulmões, células — todos os elementos do corpo humano — bem como os outros objetos do universo físico, não são o que aparentam ser. Por serem falsificações, eles dão indícios, ou indicam realidades espirituais que estão sempre ao nosso alcance.
Ciência e Saúde fala da “translação do homem e do universo de volta ao Espírito” (p. 209), e mostra a maneira prática de realizá-la: “A Ciência divina, que está acima das teorias físicas, exclui a matéria, explica que as coisas são pensamentos, e substitui os objetos do senso material por ideias espirituais” (p. 123).
Pesquisei a frequência com que essa afirmação, em especial, foi usada nos artigos dos periódicos da Ciência Cristã, nos últimos 139 anos, em parte para ver como os seguidores da Sra. Eddy foram fiéis ao que ela ensinou. A frase foi usada aproximadamente 150 vezes. Examinei mais a fundo uns 24 artigos. Nessa amostra, os autores não somente abordavam a Ciência na qual a afirmação estava fundamentada, como também incluíam inúmeros exemplos práticos. Encontrei muitas curas de problemas físicos, como um tumor, ferimentos devidos a acidentes, um problema cardíaco. Além desses, havia resoluções de outros tipos de problemas, como uma avaria do radiador no sistema de aquecimento de um prédio e o caso de um grande carvalho que ameaçava cair sobre algumas casas, durante um furacão. A harmonia foi restaurada em relações sociais consideradas intratáveis. Também havia curas de traços de personalidade, como a tendência a excesso de velocidade, que poderia levar à perda da carteira de motorista, e outras situações em que o autocontrole foi conquistado.
Muita coisa me veio ao pensamento, quando li esses relatos. Ao confrontar, com fatos espirituais, aquilo que parecia ser material, esses articulistas vivenciaram alguma forma de cura. Estavam participando mais plenamente do que acontecia na própria vida e não se permitiam ficar relegados a meros espectadores impotentes, diante das aparentes condições materiais. Fiquei feliz em ver que os testemunhos não se limitavam a curas de problemas físicos, deixando evidente que a Ciência Cristã é muito mais do que um sistema de saúde pessoal.
Por fim, pude ver que existe um potencial muito grande, se a Igreja e seus membros se unirem, em nome de Deus, o Espírito, com o objetivo comum de demonstrar a realidade espiritual, em prol de um mundo que precisa desesperadamente de segurança. Como será maravilhoso quando a história puder olhar para trás e constatar que neste período houve claras evidências de que a Deidade, nosso Pai-Mãe Deus, “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Colossenses 1:13).
 
    
