Na história do Natal, o relato bíblico da visita que o anjo Gabriel fez a Maria é o que melhor ilustra a natureza espiritual do fato de que cada um de nós é merecedor do amor de Deus. Nessa história, o anjo diz a Maria que ela é muito favorecida, abençoada e digna de honra, pois foi escolhida para dar à luz um filho, a quem dará o nome de Jesus.
Inicialmente, Maria teve medo, mas depois aceitou humildemente participar do processo amoroso de transformação de vidas, para o qual estava sendo chamada. Gabriel gentilmente a faz compreender que “…para Deus não haverá impossíveis em todas as suas promessas”. E qual foi a resposta simples de Maria? “…Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra” (Lucas 1:37, 38).
Maria tinha um senso espiritual alegre e profundo de sua união com Deus. Ela disse à sua prima Isabel: “…A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegrou em Deus, meu Salvador…” (Lucas 1:46, 47).
Em relação a isso, Mary Baker Eddy, a Descobridora da Ciência Cristã, escreve: “A iluminação do senso espiritual de Maria reduziu a silêncio a lei material e sua ordem de geração, e fez nascer seu filho pela revelação da Verdade, demonstrando que Deus é o Pai dos homens. … Jesus foi o progênito da própria consciência que Maria tinha de sua comunhão com Deus” (Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, pp. 29–30). Maria aceitou a vontade de Deus, quando começou a perceber a magnitude da ideia de revelação que Cristo Jesus traria ao mundo: que somos sempre um com Deus, o bem.
Maria confiou no amor de Deus por ela. Ela era digna desse amor — não por merecimento próprio, não porque ela havia pedido isso, mas porque Deus a criara assim. Seu senso espiritual, sua “capacidade consciente e constante de compreender a Deus” (ver Ciência e Saúde, p. 209) logo se sobrepôs a todo o medo, dúvida e raciocínio humano. A iluminação e a revelação da Verdade que Maria teve, e a aceitação da ideia de que ela era amada por Deus, deram-lhe a humildade e a disposição de atender esse chamado.
Então, o que podemos concluir da experiência de Maria? Seu papel foi, obviamente, incomparável e único, mas, mesmo nas atribuições muito mais humildes que nos cabem hoje em dia, talvez também tenhamos de lidar com nossa própria incredulidade a respeito do bem que é possível atualmente. Talvez estejamos relutantes, e até mesmo sintamos temor pela ideia de que somos suficientemente dignos de fazer muito mais bem do que possamos achar possível.
Mas, a graça de Deus está sempre nos levando a adquirir um senso mais amplo de nosso valor. A versão de João 3:16 no livro “A Mensagem”, de Eugene H. Peterson, diz claramente: “Este é o amor com que Deus amou o mundo: Ele deu o seu Filho… para que ninguém precise ser destruído; todo aquele que acredita nele, pode ter uma vida plena e duradoura”. Jesus — nascido de Maria e imbuído do Cristo, a verdadeira ideia de Deus — deixou um exemplo para todos nós do que significa a filiação divina. O nascimento de Jesus foi a revelação surpreendente de nossa relação divinamente natural com Deus, nosso divino Pai-Mãe. Ele nos mostrou que devemos compreender que cada um de nós é feito à imagem e semelhança de Deus, e que Ele fez tudo bom e digno de Seu amor.
Podemos sentir que Deus Se regozija em nós e assim reconhecer nosso valor sagrado. Isso redobra nossa confiança e capacidade de sermos bons e de fazermos o bem — seja atendendo ao pedido de ajuda de um amigo, escrevendo um artigo inspirador para este periódico (eu falo por experiência própria), e muito mais.
Assim como Maria, podemos aceitar que o amor de Deus por nós é fundamental para mostrar que somos dignos e para que vejamos nossa experiência se abrindo para a abundância de uma vida de crescimento espiritual e isenta de ego.
A história de Maria nos mostra como fazer uma pausa e perceber a plenitude e o caráter sagrado da vida, reconhecer que somos amados e dignos de ser chamados filhos de Deus, e de seguir os passos de Jesus. O nascimento de Cristo Jesus irrompe em um mundo cansado de conflitos, doença e pecado. Somos chamados para ajudar a conter a maré de materialismo e voltar o pensamento para “uma clara aurora” de conforto, cura e paz. Todos nós temos um papel a desempenhar nessa noite cheia de esperança, nessa noite santa de Natal e em cada novo dia.
Ó noite santa, de estrelas fulgurantes,
Ó linda noite em que o Cristo nasceu.
Estava o mundo pecador, errante,
Até que o Cristo na terra apareceu.
O mundo vive nova esperança
Em clara aurora a nova luz raiou…
(John Sullivan Dwight, do original em francês de Placide Cappeau)
