É hábito geral, sempre que se nos apresenta algum atrito ou discórdia, lançarmos apressadamente a culpa sôbre outrem. Tem-se dito que censura é autojustificação. E pode muito bem ser.
Cristo Jesus, o Guia para tôda a humanidade, condenava o pecado enquanto libertava o pecador. Ao ver a Jesus aproximar-se para ser batizado, disse João Batista (João 1:29): “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!” Referindo-se ao mesmo assunto, disse Paulo: “Deus estava em Cristo, reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação” (II Coríntios 5:19).
Um dom maravilhoso está ao alcance do entendimento de todos o dom da reconciliação, isto é, o direito de recusar-nos, cada um de nós, a imputar ao transgressor a falta que êste aparentemente tenha cometido contra nós.
No artigo intitulado “Love Your Enemies” (Amai os vossos Inimigos) contido em Miscellaneous Writings (Escritos Diversos), Mary Baker Eddy, seguindo os ensinamentos bíblicos, delineia o modo espiritual de se tratar dêsse assunto. A Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã mostra que pela compreensão de que o homem, criação de Deus, é espiritual, pode- -se separar do ofensor, e de sua verdadeira identidade, o ato mau, e reconhecer este como irreal, destruindo assim a ofensa imaginária no único lugar em que alguma vez existiu na consciência humana.
No início de seu estudo de Ciência Cristã, o autor foi muito ofendido por um pretenso amigo. Isso o feriu, irritou, perturbou-lhe profundamente o pensamento, até que decidiu-se a orar como os estudiosos de Ciência Cristã são ensinados. Apercebido de que o Espírito divino, o Amor, dissolve o ódio, o desejo de vingança, a recriminação, êle elevou seu pensamento a Deus. Finalmente lhe veio uma grande luz, graças à qual percebeu que podia sentir o Amor divino suficientemente para destruir todo o mal no mundo inteiro, caso o Pai celeste o exigisse. O autor estava entregando-se conscientemente à atividade do Princípio divino de todo o ser real, à Mente que é Amor. Imediatamente a mágoa desapareceu para não mais retornar.
O potencial real para a promoção da paz mundial está nesta maneira de tratar o problema das ofensas. Isso, naturalmente, não quer dizer que nos tornemos capachos. Não mesmo! Mas podemos recusar-nos a entreter pensamentos de represália, vingança, bem como todos êsses estados mentais falsos, doentios. Entregando de todo a situação ao Princípio que governa o universo e o homem, recusando- -nos a nutrir qualquer sensação de ofensa e abstendo-nos muito mais de imputá-las a outrem, nós nos colocamos sob o contrôle dêste Princípio infinito. Isso libera um poder maior que qualquer força material. O Amor divino, a Verdade onipotente, Deus, ajusta então as circunstâncias aflitivas de um modo mais eficaz do que o que qualquer ser humano poderia planejar.
Em Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras Mrs. Eddy, a autora do mesmo, apresenta uma alegoria que fala do julgamento e absolvição, no Tribunal do Espírito, de um homem acusado de doença hepática. Na parte final dessa alegoria instrutiva aparece esta declaração (p. 442): “O Júri de Sentidos Espirituais concordou imediatamente em proferir um veredicto e por tôda a vasta sala de audiências do Espírito ressoou o grito: “Inocente.”
Ninguém, absolutamente ninguém, em sua verdadeira individualidade, jamais é culpado de mal algum, aos olhos de Deus. Pois ninguém é culpado de ser um mortal. Na verdade, todos são filhos de Deus, a despeito do testemunho contrário dos sentidos corpóreos.
Recusar-nos a imputar uma transgressão a outrem, afastá-la dessa pessoa em nosso pensamento, é coisa que requer coragem moral. Contudo, se nos decidirmos a proceder assim, encontraremos o pensamento que aparece entrando na consciência do “vasto auditório do Espírito”, onde nada há senão luz, amor e o eterno desenvolvimento da compreensão espiritual. E o resultado prático será a orientação divina em nossa vida cotidiana.