Durante o ginásio eu tinha uma colega maravilhosa. Ela era minha melhor amiga. Íamos juntas ao teatro, aos bailes na escola, trocávamos segredos, comentávamos sobre os namorados, partilhávamos brincadeiras e realmente gostávamos de estar juntas.
Mas na décima série ela tornou-se sócia de um clube ao qual eu não pertencia. Fiquei atordoada. Ela fez muitos amigos novos. Já não era a mesma. Eu não podia mais falar com ela livremente. Sentia-me perdida. Como poderia encontrar outra amiga como essa?
Desde então aprendi que temos muitos amigos em nossa vida. Há épocas em que eles precisam seguir o seu caminho e nós o nosso, mas a verdadeira amizade nunca é destruída. Por quê?
Recentemente aprendi que Deus é realmente o meu melhor amigo. Toda verdadeira amizade entre pessoas é o extravasamento do amor de Deus manifestado humanamente e uma vez tenhamos reconhecido a fonte, ele nunca mais será estancado. Algumas vezes vemo-lo canalizado de modo diferente, mas o amor nunca termina.
Entre os rapazes tive alguns bons amigos e houve um amigo especial no ano passado. Eu o considerava meu namorado, meu melhor amigo. Essa amizade era tão perfeita — a minha idéia de um relacionamento perfeito. Eu tinha muito que aprender. Era um relacionamento muito bom sob o ponto de vista de partilhar e aprender, mas porque eu o considerava meu melhor amigo, comecei a deificar suas palavras, ações, tudo. Eu estava esquecendo-me do primeiro mandamento: “Não terás outros deuses diante de mim.”1 Não estava pondo Deus em primeiro lugar. Eu não me dei conta do que estava fazendo até que algo começou a ir mal — a alegria sumira-se, a inspiração desaparecera e meu amigo fora-se também.
Será que meu melhor amigo teria ido embora, de fato? Não! Quem é o meu melhor amigo? Ninguém a não ser Deus pode ser companheiro constante. Nenhum amigo humano pode estar conosco em todas as ocasiões, só Deus pode estar. Isto não significa que Deus seja um ser humano muito grande. Ele é nosso Pai-Mãe que tudo sabe, que preenche todas as nossas necessidades — inclusive a necessidade de companhia. Com Deus nunca estamos sozinhos. Nunca estamos sem orientação. A inspiração espiritual dele nos guia e guarda. Tudo o que precisamos fazer é escutar o nosso melhor amigo.
Certamente também é importante ter bons amigos humanos. Mas não devemos ficar confusos e deificar esses amigos humanos. O que podemos esperar deles? Verdadeira amizade que permita a cada um crescer até atingir seu potencial máximo. O que podemos esperar de nós? Ver realmente os amigos como filhos de Deus e regozijar-nos com o crescimento deles em expressar o seu ser real. Somos verdadeiros amigos quando cultivamos o mais elevado e o mais caridoso pensamento que podemos ter a respeito de outros.
Certa vez um bom amigo e eu estávamos trabalhando em projetos universitários que envolviam a organização da Ciência Cristã no campus e o anuário escolar. Mas certa tarde sentimos a pressão do acúmulo de prazos fixos para diversas coisas e meu amigo pareceu-me ditatorial, arrogante, injusto — e para o cúmulo de tudo, eu tinha um importante encontro com ele na noite seguinte. Eu estava esperando encontrar a perfeição na mortalidade, uma perfeição que acompanhasse meu delineamento humano para ele. Era preciso eu mudar meus pensamentos. Mudá-los para pensamentos mais espiritualizados, em linha com o conceito que Deus tinha sobre este amigo. Veio-me um pensamento útil que consta na definição de Mente, dada pela Sr.a Eddy: “Não aquilo que está dentro do homem, mas o Princípio divino, ou Deus, de quem o homem é a plena e perfeita expressão; a Divindade, que delineia, mas não é delineada.”2
Compreendi que a verdadeira visão que eu tinha de meu amigo não consistia de estrutura física alta e simpática, mas das qualidades espirituais de alegria, ordem, inteligência e amor que ele expressava. Mantive esse pensamento e o efeito positivo foi o resultado natural de ver o filho de Deus em união com sua herança divina. Ainda tenho esse amigo maravilhoso.
É importante esperar que façamos o melhor possível a cada passo do caminho. Podemos esperar sermos bons amigos e vermos os outros como amigos. Fazendo-o, constatamos que Deus é o melhor amigo de cada um e de todos nós. Podemos ser levados a emprestar um ouvido atento, um pensamento útil, uma palavra amável, um sorriso ou um afago muito necessário; seremos guiados a fazer uma coisa amável e amiga ao desejarmos mostrar nossa união com Deus por meio de nossas relações humanas.
Algumas vezes isso pode significar uma afável repreensão onde se faça necessário. A “Regra para Motivos e Atos” como é dada pela Sr.a Eddy no Manual da Igreja é uma orientação muito útil. Uma das frases diz: “Na Ciência, só o Amor divino governa o homem, e o Cientista Cristão reflete os suaves encantos do Amor, repreendendo o pecado, em verdadeira fraternidade, caridade e perdão.”3
Quer isso dizer que fazemos amigos mais facilmente porque Deus é o nosso melhor amigo? Não fazemos amigos; somos amigos à medida que expressamos nossa amizade com Deus. Deus é o único poder criador, e Ele estabeleceu a harmonia em todos os nossos contactos. Precisamos estar receptivos ao Seu plano e aceitá-lo com gratidão.
Cristo Jesus queria ser amigo de toda a humanidade. Nem todos estavam prontos para sua amizade cristã, mas aqueles que estavam receberam uma bênção. Ele praticou os dois mandamentos fundamentais (que em certo sentido são a súmula dos Dez Mandamentos de Moisés): “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento” e “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.”4
O conceito humano de “melhor amigo” é frequentemente isolador, não inclui outros em nosso amor. O amor de Jesus incluía a humanidade toda, e não será esse o exemplo que devemos emular? Tratando-se de uma boa amizade, o bem nunca deve ser limitado ou egoísta. Boas amizades — entre colegas, no casamento, entre todas as pessoas — são edificadas sobre a infinidade do Amor. Ninguém é deixado fora do amor de Deus.
Se você ainda não conhece o meu melhor amigo, por favor, não espere mais. Deus é o seu melhor amigo também!
    