Rashomon, filme clássico do cinema japonês, relata-nos um incidente visto através dos olhos de quatro personagens. Cada um apresenta uma versão diferente. O que para um deles parece ser um desastre é um acontecimento perfeitamente natural para outro personagem. Os outros dois personagens têm ainda pontos de vista diferentes.
Para chegar a conclusões corretas, precisamos considerar qual o nosso ponto de observação. Precisamos também ter cautela quanto à interpretação que damos aos relatos que chegam até nós. Como diz o adágio, em toda questão humana existem sempre dois lados. Então, como é possível termos certeza de que a base de nossas decisões é fidedigna?
Na Ciência Cristã aprendemos que a única Mente divina, expressando-se por si mesma no seu reflexo, é a única atividade que realmente está acontecendo. O universo é espiritualmente perfeito, a infinidade da única harmonia coesiva infalível. As palavras da Sra. Eddy explicam: “Trava-se uma batalha entre as evidências do Espírito e as evidências dos cinco sentidos físicos; e essa luta tem de prosseguir, até que a paz seja declarada pelo triunfo final do Espírito, em imutável harmonia. A Ciência divina, baseada na onipotência e onipresença de Deus, ou o bem divino, desmente a existência do pecado, da doença e da morte.” Retrospecção e Introspecção, p. 56.
Disso se conclui que quando temos de avaliar algo, ou tomar uma decisão, podemos confiar no Cristo, na Verdade, a atividade do bem. Nessa Ciência aprendemos a aceitar como verdadeiro sobre Deus o que diz o relato bíblico: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar.” Habac. 1:13. Porque o homem existe como idéia de Deus, ele só tem a consciência do bem.
Mas o que fazer se ocorre um infortúnio, envolvendo danos ou perda? Devemos simplesmente aceitá-lo pelas lições que devem ser aprendidas? De modo algum. O dano e a perda são modelos da mente mortal projetados, que tenta sobrepor versões erradas à ação perfeita que ocorre eternamente. O testemunho ilusório não é real nem bom.
Nossa convicção devota e persistente da realidade subjacente desfaz as falsidades mentais chamadas dano, perda ou qualquer outro mal. Então surge sobre a cena humana a restauração. Na verdade, o homem é o reflexo luminoso de Deus. O testemunho falso é desconhecido para Deus, portanto não tem parte na Sua idéia espiritual.
É preciso banir da consciência as confusas sugestões materiais do mal, a fim de alcançar a solução sanadora. Lembro-me de ter de tomar uma decisão sobre determinado assunto que envolvia outros indivíduos. Eles achavam que um determinado projeto devia ser abandonado porque, na ocasião, funcionava apenas em grau de mera sobrevivência. No entanto, tratava-se de algo muito útil, e eliminá-lo não parecia ser a solução correta. Havia diversas outras versões relacionadas com a operação toda, mas não conseguíamos concordar com o que era certo ou errado na eventualidade de se continuar com o projeto.
Ao tentar chegar a uma conclusão corretamente fundamentada, encontrei esta asserção feita pela Sra. Eddy e a considerei pertinente: “A Mente única, Deus, não contém opiniões mortais. Tudo o que é real está incluído nessa Mente imortal.” Ciência e Saúde, p. 399. Ao considerar as diversas propostas apresentadas, vi-me a ponderar se alguma delas seria a resposta certa e se elas todas podiam estar erradas. Devotamente afirmei que tudo o que é real já está incluído na Mente imortal e que só essa Mente é que governa toda atividade correta; portanto, todo efeito já é inteiramente bom como expressão da Mente. Além disso, reconheci que a Mente imortal interpreta seu próprio desdobramento à consciência humana mediante o Cristo, a Verdade eterna, na qual não podem ser encontradas nem versões conflitantes nem divergentes.
Ao ser chamado a reunir-me com os demais, descobri que cada um deles havia reconhecido por si próprio a única solução correta possível e, ali mesmo, o assunto foi resolvido com êxito para o contentamento de todos.
Um dos aspectos da mente mortal é posar agressivamente como elemento capaz de confundir. Disfarça-se numa série de possibilidades, de acertos e erros. Por outro lado, reconhecer a única consciência divina que inclui toda realidade dentro de sua inteireza universal, é a única base a partir da qual demonstramos aqui mesmo os bons resultados procedentes de Deus nos assuntos da humanidade.
A respeito dos amigos de Jó, lemos na Bíblia que cada um deles dava a sua própria versão quanto às causas dos problemas de Jó. De igual modo, talvez acatemos hoje conselhos de diversas fontes diferentes, a maioria delas elaboradoras de teorias a respeito dos problemas que afrontam a humanidade na tentativa de darem as razões dessas dificuldades. Pude ver que quando Jó recusou-se permitir que o confuso pesadelo da mente mortal o desassociasse da convicção profunda de que Deus é bom, tudo ficou resolvido por fim em sua experiência. Pôde então regozijar-se: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. ... Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te vêem.” Jó 42:2, 5.
Quando estamos a escrutinar algo em meio a relatos conflitantes, lembremo-nos de silenciar o turbilhão mental. Se nos voltarmos intuitivamente à Mente imortal em vez de pesarmos uma variedade de acertos e erros, poderemos perceber a identidade do homem, entrincheirada na harmonia, como idéia do Amor divino. Então veremos que o emaranhado mental cede ao desenvolvimento rítmico do tema infindável da bondade universal da Verdade e isso se evidenciará no viver diário.
A confusão que sugere a flutuação ou inversão do progresso do homem é aniquilada quando rejeitamos o testemunho que o sentido físico dá dessa pretenciosa paródia. Ao substituir esse testemunho pela versão perfeita, a verdade espiritual em eterno desdobramento, encontramos a evidência do bem de que o homem, como expressão infinita da Verdade, é testemunha por toda a eternidade.
O caminho de Deus é perfeito;
a palavra do Senhor é provada;
ele é escudo para todos os que nele se refugiam.
Pois quem é Deus senão o Senhor? ...
O Deus que me revestiu de força,
e aperfeiçoou o meu caminho.
Salmos 18:30–32