“O Espírito e a noiva dizem: Vem. Aquele que ouve diga: Vem. Aquele que tem sede, venha, e quem quiser receba de graça a água da vida.” Apoc. 22:17.
Esse versículo bíblico tornou-se vívido para mim enquanto eu passava três semanas com a tribo pastoril Gabra, no norte do Quênia. O que eram minhas comodidades físicas e necesidades pessoais, repentinamente, tornaram-se insignificantes, até mesmo egoístas, quando comparadas com a situação angustiante daquele povo, sob a extrema aridez da região. Percebi o quanto minhas orações eram necessárias, indispensáveis, e quão raramente eu havia encarado, além dos meus próprios problemas, os problemas mundiais. Aquela representava uma oportunidade crucial para eu aprender a orar por uma necessidade específica do mundo.
Quando cheguei a Kalacha, o lugarejo em que eu tencionava executar algum artesanato, fiquei pasmada diante das adversidades que a tribo Gabra enfrentava. Como podia alguém viver naquele deserto estava acima da minha compreensão. A terra apresentava-se demasiado seca para qualquer pessoa ou animal sobreviver. Num exame mais aprofundado, fiquei ciente de sua situação.
Aproximadamente quinze mil pessoas da tribo Gabra vivem em cerca de cinqüenta e dois mil quilômetros quadrados de um deserto semi-árido. Nos últimos dois anos receberam somente cinqüenta e dois milímetros de chuva. Em todos os lábios havia preocupação com escassez: a chuva imprevisível, a carência de mananciais de água, as pastagens limitadas, a terra devastada por uso excessivo. Os rebanhos de camelos, ovelhas, cabras e algum gado apenas dão para sustentar o povo. Existir é somente sobreviver, a vida e a morte dependendo da chuva.
Apesar de estarem as circunstâncias desesperadoras, o povo prosseguia nas suas atividades diárias com radiantes sorrisos e alegria. Mulheres que caminhavam setenta ou oitenta quilômetros, sob o sol abrasador, para dar água aos camelos e reabastecer as vasilhas vazias, nunca perdiam o ânimo alegre. Muitas noites eu ouvia e via homens e mulheres jovens dançando e cantando por horas a fio, sob um brilhante luar.
Certa manhã, caminhando em direção á fonte, sentia-me particularmente oprimida ao pensar no destino da tribo Gabra. O que eu poderia fazer? Como poderia uma só pessoa ajudar os quinze mil dali, ou os muitos milhões do mundo que sofrem devido à fome e à seca? A extensão do problema distribuiu minhas orações em uma multidão de dúvidas. Procurando respostas, voltei-me a Deus.
Animei-me ao compreender que aquele povo não podia ser privado de sua existência espiritual, nem podia a crença de fome roubálos de verdadeiramente expressarem a Vida. Vi que aquela era uma oportunidade que eu tinha, de obter melhor compreensão do relacionamento do homem com Deus — compreensão que viria em benefício da humanidade. Não estão a abundância e o suprimento entre os direitos que Deus deu ao homem? Lemos em Salmos: “Fartam-se da abundância da tua casa, e na torrente das tuas delícias lhes dás de beber. Pois em ti está o manancial vida.” Salmos 36:8, 9.
Minha estada em Kalacha foi harmoniosa e cheia de êxito, em parte por causa de minha disposição de ajudar o povo em suas tarefas diárias de carregar e descarregar os camelos. Mas, o mais importante, em meu pensamento, espiritualmente elevado, vi a tribo Gabra na luz de Deus — como filhos de Deus. Deus reina supremo acima de tudo, por tudo e é Tudo-em-tudo. A perfeição é o estado eterno de Deus. Nunca muda. A bondade de Deus flui como fonte ou manancial inesgotável. Compreendi que isso era verdadeiro com respeito a todo a humanidade, porque o amor de Deus a todos abrange, envolvendo todas as tribos, raças e nações. Assentar em minha própria consciência a compreensão da herança espiritual do homem foi o primeiro passo em direção à paz interior.
Durante a minha permanência ali, eu lia a Bíblia diariamente. Também estudava o livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy. Neles estão muitos tesouros de conforto e esperança. Ciência e Saúde faz esta tranqüilizadora afirmação: “Esta é a doutrina da Ciência Cristã: que o Amor divino não pode ser privado de sua manifestação, ou objeto; que a alegria não pode ser convertida em tristeza, porque a tristeza não é senhora da alegria; que o bem jamais pode produzir o mal; que a matéria jamais pode produzir a mente, nem a vida redundar na morte.” Ciência e Saúde, p. 304.
Meus pensamentos tornaram-se mais livres quando reconheci que é a Vida, e não a privação ou o sofrimento humano, a lei do ser verdadeiro. Nenhum povo necessita submeter-se a uma mentira sobre ele mesmo. Deus nunca cria nem sustenta qualquer mentira ou crença mortal, nem mantém Deus o homem como escravo do erro. Deixar de dar à mente mortal poder ou reconhecimento corrige o sentido material e finalmente destrói o erro. Reconhecendo os direitos inalienáveis do homem, obtive a liberdade de ver a tribo Gabra controlada pela lei da Mente divina, não pela mente mortal.
Quando Cristo Jesus alimentou as multidões com uns poucos pães e peixes, Ver João 6:5–13. primeiramente expressou gratidão a Deus, a fonte divina, reconhecendo, com efeito, ser Deus quem fazia o trabalho de cura. A dúvida era, para ele, uma palavra estranha. Com fé e confiança absolutas em Deus, Jesus disse a seus discípulos que distribuíssem os cinco pães e os dois peixes. Jesus nunca vacilou. Nunca duvidou nem por um minuto que aquilo seria suficiente. Cinco mil pessoas foram alimentadas e supridas, e reuniram-se doze cestos de sobras. Reconheci que, se eu quisesse ter efeito curativo naquela comunidade, não poderia duvidar; deveria ter a mesma confiança absoluta na onipotência, na onipresença e na onisciência da Verdade.
A Sra. Eddy raramente saía da Nova Inglaterra, mas ela estava a par das necessidades da humanidade. Escreveu: “O ‘cicio tranqüilo e suave’ do pensamento científico estende-se sobre continentes e oceanos, até às extremidades mais remotas do globo. A voz inaudível da Verdade é para a mente humana como quando ‘ruge o leão’. É ouvida no deserto e nos lugares tenebrosos do medo.” Ciência e Saúde, p. 559. E, “Do interior da África às mais distantes partes da terra, os doentes e os saudosos do céu ou os corações famintos estão pedindo-me ajuda, e eu estou ajundando-os.” The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany, p. 147.
Compreendi que, ao seguir os seus ensinamentos, eu também podia auxiliar. Todos podemos ajudar ao compreender que os filhos de Deus não são controlados pelas incertezas das forças da natureza ou pelas condições do tempo; são sustentados pela certeza do Princípio divino, que dá ao homem domínio sobre o universo. O acaso não está incluído no reino de Deus. Deus governa o universo em perfeita harmonia. Quando percebi que não estava mais concordando com a evidência material de um homem sob privações ou de um universo desarmonioso, experimentei um tanto de transformação espiritual, e estava em paz.
Desde que retornei para casa, tenho-me sentido grata por receber cartas de amigos contando do aumento de chuva naquela área de seca. Também fui informada de um admirável departamento social humanitário que está beneficiando, de maneira considerável, um grande número de comunidades remotas no norte do Quênia.
Não será agora o momento de todos nós estabelecermos no nosso próprio pensamento o estado espiritual do homem e reconhecermos a perfeição de todos os filhos de Deus? Podemos ver o homem como sempre atento à Verdade e consciente dela, estabelecido, constantemente, no universo do Princípio, expressando Vida perfeita e indestrutível, satisfeito com a verdadeira substância, o Espírito. A perfeição e a beleza da Alma, a visão e a sabedoria da Mente única, pertencem, por reflexo, a todos os homens. O homem está inteiramente envolvido pelo seu terno Pastor, o Pai-Mãe, Amor. E a compreensão disso é oração que auxilia toda a humanidade.
