Aos dez anos de idade, certo dia interrompi minha mãe e meu irmão à mesa na refeição matinal, e perguntei: “Quem sou eu? Por que estou viva agora? Por que não duzentos anos atrás ou daqui a duzentos anos?” Aquele momento em que expressei pensamentos que, muitíssimas vezes, me intrigavam, ainda me está bem vívido, embora muitos anos se tenham passado. Recordo como a luz do sol se filtrava pelas cortinas brancas e quão profundo era o meu desejo de conhecimento.
Só muito mais tarde compreendi de fato que essa silenciosa, embora consciente, busca pela identidade é uma necessidade humana universal de ficarmos sabendo que somos os filhos de Deus. Na adolescência e nos anos de universidade, muitas vezes, ampliei o diálogo: “Por que nos encontramos aqui? Para que fim servimos? Não podemos simplesmente fazer parte de um esquema elegante, acidental, tragicômico, da existência baseada numa causa primária na matéria.”
Quando a Ciência Cristã me foi explicada pela primeira vez (meus filhos já eram adolescentes), fui atraída pela promessa cheia de alegria de vir a conhecer o relacionamento entre o homem e Deus. De há muito eu sabia que Deus me era necessário. Agora eu estava aprendendo que o homem é necessário para Deus! Comecei a reconhecer, embora vacilante, o que eu sempre esperara: havia relacionamento inviolável entre o homem e Deus, a Alma, a fonte de todo poder e toda beleza. Comecei a ver que o homem é necessário como expressão de Deus!
Era como se Deus falasse diretamente para mim num trecho bíblico de Isaías: “Chegai-vos a mim, ouvi isto: Não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em que isso vem acontecendo tenho estado lá.” Isaías 48:16. Passei a reconhecer que a alegria de que eu desfrutara tantas vezes era realmente uma qualidade espiritual, um farol, um mandado. A natureza da alegria se me tornou mais clara à medida que eu estudava o livro-texto, Ciência e Saúde de autoria da Sra. Eddy.
Certo dia, irrompeu de tal forma em meu pensamento uma inspiração vinda de Deus, que parecia como se eu tivesse saído de um porão úmido, frio, e viesse para o conforto da luz solar. E era: Eu e todos nós nunca podemos perder a consciência de nosso eu, de nossa identidade singular — fora da matéria, mas inseparável de Deus — portanto, nunca podemos ficar perdidos num estado de nulidade; de fato, cada um de nós tem consciência de que individualmente expressa a Mente divina, agora.
Salvação inclui que identifiquemos o homem como a imagem de Deus. Exige percepção e demonstração. Ciência e Saúde lembra-nos: “ ‘Eis agora’, exclamou o apóstolo, ‘o tempo ... oportuno, eis agora o dia da salvação’ — querendo dizer, não que agora os homens têm de preparar-se para a salvação, ou a segurança, num mundo futuro, mas que agora é o tempo de experimentarem essa salvação em espírito e em vida.” Ciência e Saúde, p. 39.
A identidade que reflete o divino Eu Sou não só diz-me quem eu sou, mas o que estou para ser. Conheço meu irmão — quer, ao sentido material, ele se encontre na África, na casa ao lado, na mesma sala ou por nascer. Tal qual eu mesma, ele também vive, sabe, está sempre, mediante o sentido espiritual, consciente da glória de Deus e de Sua criação. “A compreensão divina reina, é tudo, e não há outra consciência” Ibid., p. 536., afirma o livro-texto. Esse Princípio divino, eternamente paciente, está despontando sobre a humanidade em visão cada vez mais clara.
Por fim, compreendi uma cura que eu havia tido quando primeiro travei conhecimento com a Ciência Cristã, embora eu não a estivesse estudando então. Eu havia tido uma intervenção cirúrgica para remover um caroço no pulso. Mas o crescimento havia voltado, e novamente uma cirurgia se fazia necessária, segundo conselho médico. Eu não queria fazer nova operação. Tive a intuição de que, se a Ciência Cristã era eficaz, esse crescimento por certo haveria de desaparecer. Sempre havia acreditado que, se existia Deus, tudo era possível.
Para minha surpresa, o caroço logo desapareceu. Hoje percebo a grande bênção que Deus, o Amor, me concedeu, guiando-me, até mesmo impelindo-me, para a liberdade na Ciência Cristã, onde fiquei sabendo que eu era identificada por meu Pai-Mãe e por Ele amada.
A Primeira Igreja de Cristo Cientista, em Boston, Massachusetts, com suas igrejas filiais, criteriosamente nutre a compreensão da verdadeira identidade. Cristo Jesus levou a vida pela qual devemos modelar a nossa própria — vida que nos diz sermos filhos do Pai-Mãe Deus, assim para sempre identificados espiritualmente.
Podemos ser eternamente gratos porque o conceito humano do eu é transformado pelo Espírito divino, o Princípio divino, e essa transformação está em concordância com a lei de Deus. Quem sou eu? O homem de Deus. Por que estou aqui? Porque preciso expressar individualmente — e de fato expresso — Deus.