Divórcio é rompimento vivo. É, no mínimo, uma experiência triste. Conquanto às vezes envolva uma separação com relativa estabilidade, em outras ocasiões pode ser a mais horrorosa sublevação. Mas, em ambos os casos, fica-se a imaginar de onde virão a coragem e a energia para reconstruir novamente a vida.
Poderão vir de descobrir-se que a Vida é Deus, e não uma existência cheia de dificuldades. “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” João 10:10., disse Cristo Jesus. Na Ciência Cristã aprendemos que um rompimento, quer se trate da fratura de um osso, de um coração partido ou de um relacionamento rompido, indica a necessidade de adquirir uma compreensão mais profunda de Deus, a Vida.
Deus conhece apenas a radiância contínua de Si próprio e de Sua idéia espiritual, o homem, que nunca foi magoado e que reflete Deus, o Amor divino, e não o fracasso. Este eu espiritual sente-se no céu, por isto não pode sentir dor. E é o nosso verdadeiro eu.
A identidade espiritual nunca está divorciada
Se o divórcio parece arrasar nosso universo, a Vida como Deus e o eu como espiritual podem parecer remotos. Quando primeiro se emerge de um divórcio, as pressuposições do mundo material sobre nossa sexualidade, solidão e nossas necessidades talvez sejam estarrecedoras. Alijariam a pessoa de proceder a uma limpesa de caráter e de estabelecer valores mais profundos para uma vida melhor. Mas o que está se mostrando é o nervosismo do paganismo com relação à vida e ao amor. O paganismo torna as pessoas instáveis, porque o amor é, tantas vezes, encarado como primordialmente sexual e a vida, como sensação na matéria. A própria palavra “pagão” é definida no Dicionário de Webster como “aquele que tem pouca ou nenhuma religião e que se compraz nos prazeres sensuais e nos bens materiais”. A ênfase do paganismo na necessidade de sexo, segurança, sociedade e satisfações materiais talvez nos acossem.
Antes de mais nada, o materialismo merece tão pouca confiança que ninguém poderia confiar nele, não é mesmo? Chegar à solução duradoura para uma nova vida é essencialmente uma questão de maior espiritualidade.
Na Ciência Cristã aprendemos que Deus, a Vida, é Mente. Tudo o que é verdadeiramente bom e real é uma idéia na Mente, não um acontecimento na matéria. O divórcio pode parecer uma mudança no lar, no suprimento, no relacionamento familiar. Mas, na realidade espiritual, não podemos ficar separados do bem. Em nossa identidade verdadeira, que reflete Deus, incluímos todas as idéias em sua perfeição.
Por isto, o estudante de Ciência Cristã que a pratica, se está enfrentando um divórcio, ou se passou por ele, geralmente não é encontrado nos lugares em que a sociedade espera encontrá-lo: em estereótipos de pesar ou leviandade, ou em procura de alívio mediante o viver frenético. Será mais fácil encontrá-lo em casa na Verdade, empenhado em orar, em voltar-se para Deus, a fonte de todas as idéias corretas. Há cura em encontrar a unidade verdadeira com Deus após separar-se alguém de outra pessoa, afastar seu conceito de suprimento de uma pensão alimentar para a infinidade, descobrir que renovar o conceito correto acerca do homem, como idéia espiritual de Deus, é mais importante do que andar numa roda viva, conhecendo novas pessoas.
Fundamental à compreensão da Vida é o fato de que Deus Se manifesta infinitamente e controla perfeitamente Sua criação. Nada pode mudar a unidade, a inteireza e a ordem de nosso ser, que reflete Deus. Percebemo-lo pela presença do Cristo, a Verdade, quer esta presença se manifeste em orientação específica procedente de muitas fontes, quer em um fluxo de direções diversificadas (como, por exemplo, em nossa carreira, em trabalho na igreja) atendendo a várias necessidades. Pouco a pouco, podemos libertar-nos do sentimento de que nossos problemas são muitos e conflitantes, e passar a gozar da influência unificadora do Cristo. Em nosso enfoque podemos deixar de considerar a vida como um rosário de problemas e viver como o reflexo da Vida divina. Podemos perceber que encontrarmo-nos significa expressar nossa identidade espiritual ao invés de absorvermo-nos no que parecemos estar realizando humanamente.
No livro Ciência e Saúde, a Sra. Eddy explica: “Quando a ilusão da doença ou do pecado te tentar, apega-te firmemente a Deus e Sua idéia. Não permitas que coisa alguma, a não ser Sua semelhança, permaneça no teu pensamento. Não deixes que o medo ou a dúvida obscureçam tua clara compreensão e tua calma confiança de que o reconhecer a vida harmoniosa — como o é eternamente a Vida — pode destruir toda sensação dolorosa daquilo que a Vida não é ou toda crença naquilo que ela não é.” Ciência e Saúde, p. 495.
Precisamos viver na alegria do amor de Deus ao invés de na amargura do paganismo sobre o que “a vida” fez conosco. O fluxo constante de orientações crísticas, que o amar descerra para nós, capacita-nos a levar adiante a luta cristã impessoal tão bem descrita por Paulo: “A nossa luta não é contra o sangue e a carne, e, sim, contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes.” Efésios 6:12.
Abrindo as portas à renovação
O paganismo cola o pensamento a pessoas. A Ciência Cristã ensina-nos que o adversário nunca é realmente uma pessoa. Antes, é uma imposição de infelicidade, falsos traços de caráter, solidão agressiva. Quer os problemas pareçam provir de dentro quer de fora, a força espiritual ajuda-nos a evitar ser envolvidos por eles. De início, talvez pareça difícil deixar de pensar em termos de desapontamento, mágoa, culpa, lembranças, acusações ou prejuízo. Mas, quando largamos de mão tudo isso, as portas de nosso viver se abrem para aquele aspecto crístico que é o consolo da renovação de vida. O Cristo, a Verdade, convence-nos de que não podemos estar divorciados de nossa unidade com Deus, de nosso auto-respeito, suprimento, de nossa capacidade de amar e ser amado. Não podemos ficar separados do bem que existiu no passado, da dignidade do presente nem das oportunidades que o futuro oferece, quando a paz espiritual nos envolve no agora de Deus.
O pensamento orientado pelo Cristo pode transformar o vazio de um divórcio recente. O caráter cristão é como uma semente escondida no solo, dinâmica, cheia de nova vida, empurrando para o lado a terra dos velhos conceitos! Nosso modo de pensar torna-se cada vez mais calmo e menos confuso, progressivo em vez de caótico.
Quanto mais acolhemos a perspectiva crística, tanto mais começamos a mudar para melhor. Encaminhamo-nos paulatinamente a maior harmonia, ao invés de mágoa, chegamos mais perto de Deus e nos afastamos dos enganos, vivemos em maior estado de união que de divisão, olhamos mais para o homem espiritual, como prova de Deus, e não nos lamentamos sobre o homem material, como evidência de problemas. Então encontramos de novo o que talvez pensamos haver perdido pelo divórcio: a noção de nossa identidade como o homem espiritual, radiante e brilhante, expressa humanamente num modo de vida novo, alerta, cheio de esperança e de expectativa. Nosso maior recurso em horas conturbadas é o da nossa identidade espiritual, a qual, como a sarça ardente de Moisés, não é consumida pelo calor! Ver Êxodo 3:1–3.
À medida que compreendemos e aceitamos mais de nossa inteireza espiritual, começamos a ver que muitas das mágoas profundas e particulares do estereótipo “solteiros”, de mortais incompletos à procura de outros mortais, procedem de hábitos de fuga. Estes prefeririam desertar os problemas do que resolvê-los, influenciar-nos a lidar com relacionamentos como se fossem produtos de consumo desgastados. Os hábitos de fuga ignoram sempre o fato de que a influência mais forte de uma experiência é a do pensamento que ela deixa conosco. Estes remanescentes não curados podem manifestar-se novamente em novas situações. Alguém se divorcia da infelicidade somente para casar de novo com a amargura, se os moldes e as causas do erro não tiverem sido corrigidos na consciência.
Perdoando o sexo oposto
Por exemplo, a oração no que tange ao divórcio deve incluir a negação enfática do conceito popular de que, se alguém teve más experiências, seu ponto de vista a respeito do sexo oposto fica distorcido. Faz-se tal negação não só para assegurar melhor experiência na vez seguinte, mas também para superar a crença de que o homem é um ser que vive “lá fora”, ou simplesmente outra pessoa a encontrar. O homem é a imagem e o reflexo de Deus, a prova da presença do Amor. Não podemos estar separados do homem espiritual, porque em realidade somos nós esse homem espiritual e nada mais. Estabelecer esta verdade firmemente na consciência constrói a base espiritual de relacionamentos humanos novos e mais profundos.
O divórcio talvez force a pessoa a adquirir percepção mais clara da verdadeira inteireza espiritual, o que inclui expressar as qualidades masculinas bem como as femininas. Tal compreensão é valiosa quando se enfrenta, em resultado do divórcio, uma mudança no estilo de vida. A mulher talvez tenha de entrar no mercado de trabalho. O homem talvez tenha de, voltando para casa, lavar a roupa e os pratos. Contudo, quando a consciência espiritualizada nos inspira a aprender com Deus a respeito de nossa condição de homem e mulher perfeitos, e não com nossos papéis humanos ou reações ocasionais, deparamonos com uma experiência muito mais profunda, uma radiância mais abrangente, uma auto-aceitação mais construtiva. Talvez nos surpreendamos com aprender que a condição de homem nunca foi representada por uma questão de dinheiro (conseguido pela força de vontade e incitado pela competição). Nosso vigor real não depende da musculosidade, mas da pureza de nossa compreensão espiritual.
Expressar a verdadeira feminilidade não significa apoiar-se nos outros nem carregar fardos. Significa receptividade espiritual, a felicidade de conceber e nutrir novas idéias espirituais. A verdadeira condição feminina está muito bem descrita no Evangelho de Lucas quando menciona o quanto Maria se regozijou com Isabel e louvou a Deus. Ver Lucas 1:39–56.
E, mediante sua consciência espiritualizada, aos homens é facultado descobrir mais acerca das qualidades da verdadeira feminilidade que todas as idéias de Deus manifestam em sua natureza espiritual, e as mulheres podem aprender mais sobre as qualidades da verdadeira masculinidade que sua natureza real inclui.
Logo, expressar inteireza espiritual não é exigir o esforço impossível de nos recompormos. A inteireza combina a capacidade de entender uma situação e a convicção espiritual, além da energia, de a transformar e curar. Nada nos força a uma permuta constante entre os nossos lados diferentes. Pela inspiração, é-nos possível saber que, em nossa inteireza espiritual, a sensibilidade nunca pode enfraquecer o vigor, nem pode a força anular a ternura.
O vigor espiritual capacita-nos a trocar o turbilhão do divórcio pela paz celestial; e o amor cristão impede-nos de ficar solitários. Precisamos compreender que sensualismo e solidão são imposições materiais sobre o viver e não realidades.
Quando nos sentimos cheios de amor, não ficamos obcecados com a conduta sexual. Quando inspirados por novas idéias, vindas de Deus, não procuramos estímulo material. Quando estamos alerta para a maravilha de novos momentos de inspiração espiritual, não temos de correr atrás da juventude. Quando perscrutamos as profundezas da sabedoria de Deus, não precisamos fugir da idade. E somos levantados acima de todo o lufa-lufa do paganismo à medica que a verdade da criação espiritual de Deus se nos revela, libertando-nos para explorarmos a infinidade de Seu reino!
Em casa com os filhos cônscios da verdade
Quanto mais a pessoa se identifica como espiritual, tanto mais descobre que ter um lar não é ter uma casa grande, um apartamento, uma choupana, um teto ou a esquina de uma rua. O lar se encontra na oração, no pensamento que está a salvo com Deus. E, o que será mais precioso de se levar para dentro dessa consciência espiritual de lar do que os filhos, quer estes estejam fisicamente presentes, quer não? O lar está onde cada qual se desfaz do peso de ser ao mesmo tempo pai e mãe de seus filhos e, ao invés, afirma e reconhece em Deus o verdadeiro Pai-Mãe deles. Os filhos não podem, de nenhum modo, ser privados da orientação paternal adequada ou do adequado amor maternal, sempre que o indivíduo desamarre o avental do pensamento e deixe de crer que eles só podem receber tal cuidado de determinadas pessoas que tenha em mente. Quanto mais se reivindique que Deus é o Pai deles, tanto mais se verão as qualidades de Deus e não as próprias nem as de um ex-cônjuge, ao olhar-se para os filhos.
Resgatando da dor o bem comum no passado
A expectativa do bem proveniente de abraçar sua inteireza permite que a pessoa olhe corretamente para o passado. O pagar ou o receber pensão alimentar não precisa ser um cordão umbilical infindavelmente ligado à amargura ou à autojustificação. Nem é preciso a alguém ficar tão enredado na sugestão de estar em luta contra outras pessoas que venha a se privar das experiências enriquecedoras outrora partilhadas. Recusar-se a magnificar elementos negativos no seu relacionamento com o ex-cônjuge ajudará também a restabelecer o conforto dos filhos.
É possível nos ocuparmos tanto de resolver os problemas mediante a oração que o reino dos céus começa a se fazer presente a nossa volta. Ficamos transformados! Nosso conceito de vida está trocando a mortalidade pela Vida divina. As verdades de Deus estão levando embora as lembranças infelizes num arroubo de vida nova.
Que aconteceu? Se a pessoa olhar para trás, talvez descobrirá que primeiro abandonou lembranças infelizes. A seguir, se desfez do conceito de um eu mortal, magoado, que se atinha a recordações. E, pouco a pouco, passou a compreender que é realmente a expressão de Deus, a Vida. Amando a plenitude de Seu próprio reflexo, cada um será elevado até a sua inteireza!
 
    
