Ainda que vivamos com nós mesmos, não vivemos para nós mesmos, ou pelo menos não deveríamos. Há uma boa maneira de evitar viver só para si mesmo, evitar preocupação consigo próprio, inibição, egoísmo ou qualquer outra característica egocêntrica. Está em viver para servir a Deus e a humanidade e pensar e agir de acordo.
Esse tipo de viver altruísta não implica negligenciar nossas próprias necessidades humanas e desejos justos. Antes, provê um motivo mais espiritual para alcançá-los: primeiro, consideramos nossas necessidades e aspirações em relação ao nosso amor e obediência a Deus; e, então, vemos nesse amor e obediência a razão para amarmos a humanidade.
A Ciência Cristã nos ensina exatamente como fazê-lo; a amar não só a Deus, mas também a toda humanidade, inclusive a nós próprios. A Sra. Eddy, que fundou esta Ciência, escreve: “Deveríamos medir nosso amor a Deus pelo nosso amor ao homem; e nossa noção da Ciência será medida pela nossa obediência a Deus — cumprindo a lei do Amor, fazendo o bem a todos; transmitindo, na medida em que os refletimos, Verdade, Vida e Amor a todos os que se acham dentro do raio da atmosfera de nosso pensamento.” Miscellaneous Writings, p.
A medida que moldamos nossos objetivos, anseios e esforços humanos àquilo que é espiritualmente correto, progredimos em nossa obediência a Deus e provamos nosso amor por Ele. Fica, então, mais fácil cumprir a lei do Amor, de amar aos outros como a nós mesmos.
Tal amor tem de ir mais longe do que a convencional boa ação. Também, nos custará algo: nosso orgulho, justificação e glorificação próprias, hipocrisia. Requererá também que abandonemos ressentimento, preconceito, condenação, crítica — qualquer traço que nos separaria de nossos semelhantes. Mas, se esse amor vem dum desejo de fazer a vontade de Deus a todo custo, abençoará muito mais do que qualquer ação humanamente boa. Isso, porque é o tipo de amor compassivo que Cristo Jesus praticou. Gostaria de dar um exemplo:
Um dia, uma amiga passou de repente a agir de modo distante e defensivo. Espantada, mas atenta ao Cristo em minha consciência, não lhe perguntei por quê. Tratei-a como sempre: com amor, alegria e atenção. Eu havia começado o dia, afirmando o amor de Deus pelo homem, Sua bondade e totalidade. Esse preparo espiritual para as experiências do dia, junto com o estudo da lição-sermão, do Livrete trimestral da Ciência Cristã, revestiu meus pensamentos, nas palavras da Sra. Eddy, com “o poder inalterável, a quietude e a força”, apropriados. O texto completo diz o seguinte: “O melhor tipo espiritual de método cristão para elevar o pensamento humano e comunicar a Verdade divina é o poder inalterável, a quietude e a força; e quando assimilamos esse ideal espiritual, ele se torna o modelo para a ação humana.” Retrospecção e Introspecção, p. 93.
Ao invés de permitir-me sentimentos de mágoa, resolvi confiar em Deus para restaurar o amor e a compreensão mútuos. Recusei-me a procurar uma causa para a mudança na atitude de minha amiga, sabendo que, em realidade, não havia tal causa. Mais tarde, naquele dia, minha amiga disse espontaneamente: “Não sei o que houve comigo esta manhã. Achei que tinha um motivo, mas não consigo me lembrar agora. Me desculpe.” Não havia nada a desculpar, pois como eu havia visto nela só a filha amada de Deus, nunca aceitara o quadro falso.
Ao orar para espiritualizar meu pensamento, naquela manhã, es-forcei-me por amar a Deus em primeiro lugar. Haver dado prioridade a esse amor habilitou-me a expressar o tipo certo de amor pela minha amiga. Em resultado, o Amor divino nos abençoou a ambas. A situação poderia ter sido desagradável, mas não foi. No instante em que me recusei a aceitar a sugestão de que havia sido injustiçada, decidi, ao mesmo tempo, desviar minha atenção de mim mesma e es-forçar-me em considerar minha amiga do modo como creio Jesus nos ensinou a fazer.
Espero que a experiência acima ilustre bem que estender nosso amor e bondade aos outros envolve mais do que se pensa. Nosso amor pelo homem real, espiritual, tem de evidenciar-se em autêntico e sincero respeito, perdão, generosidade, paciência e reconhecimento das boas ações dos outros. Ainda achando que a outra pessoa seja de alguma forma “diferente” de nós ou que, talvez, tenha agido mal conosco ou com a sociedade, nosso amor tem de ir além das diferenças e do comportamento errôneo, e abraçar o ideal espiritual.
Encontramos o ímpeto para amar a humanidade dessa forma espiritual ao orarmos, de modo sincero e diligente, para ter aquela Mente “que houve também em Cristo Jesus” Filip. 2:5; ver também Ciência e Saúde 497:23–26.. Essa Mente é Amor, o Amor que inspirou e orientou todos os atos de nosso Guia.
Por entender que a Mente, Deus, era Amor, Jesus reconhecia só o homem criado por Deus e, dessa maneira, curava o pecador e o enjeitado, bem como o doente. Jesus disse: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei.” Mateus 11:28. Não só alguns, mas todos estão sendo chamados, todos os que lutam com desespero, temores, injustiças, crenças errôneas, tentações. Sabemos que a vida de Jesus confirmava o que ele pregava e que seu tempo aqui na terra, ele o dedicou literalmente ao bem de toda a humanidade, desde o nascimento até a crucificação, ressurreição e ascensão.
Que desejo de seguir o Mestre não deve ter perpassado aqueles a quem Jesus amava e curava! E que encorajamento não temos nós, de seguir e demonstrar seu amor sanador pela humanidade! A Sra. Eddy certamente indica o caminho, ao dizer, a respeito de Jesus em Ciência e Saúde: “Pela magnitude de sua vida humana, demonstrou a Vida divina. Graças à amplitude de seu puro afeto, definiu o Amor.” Ciência e Saúde, p. 54.
O Novo Testamento provê muitos exemplos de como purificar nossa vida para ampliar sua magnitude. Em Mateus, capítulos 5–7, o Sermão do Monte, pregado por Jesus, nos diz para nos reconciliarmos com nosso irmão, para irmos além da distância requerida e para não julgarmos. E, no versículo 44 do quinto capítulo de Mateus, lemos da expressão máxima do amor recomendado a seus seguidores: “Eu vos digo: Amai os vossos inimigos, abençoai os que vos maldizem, fazei o bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos injuriam e vos perseguem” (conforme a versão King James). Ora, Cristo Jesus não apenas nos disse o que fazer com relação aos outros; assegurou-nos, também, que seríamos abençoados por nosso empenho e em proporção ao nosso amor e à nossa obediência. As bem-aventuranças, em Mateus 5:3–12, transmitem claramente essa mensagem.
A Ciência Cristã, por meio das palavras da Sra. Eddy, está sempre nos exortando a amar sem reservas, como Jesus amou. Ajuda-nos a perceber qual é a necessidade da outra pessoa e a agir de modo cristão para atendê-la. Lemos em Ciência e Saúde: “ ... bem-aventurado é aquele homem que vê a necessidade de seu irmão e a satisfaz, buscando o seu próprio bem no bem que proporciona a outrem.” Ibid., p. 518. Isso é de fato abarcar toda a humanidade em nosso amor. Quão gratos podemos ser por toda e qualquer oportunidade de fazê-lo!
