É considerada uma virtude cristã. Os pais ensinam aos filhos, desde tenra idade, sua necessidade prática. (E então, quando o pequeno de três anos derrama pela quarta vez o leite à mesa do jantar, os pais percebem que eles próprios precisam, talvez, demonstrar mais dela!) Sem dúvida, como muitos de nós já constatamos em uma ocasião ou outra, trata-se de uma virtude que todos nós deveríamos utilizar mais amiúde. Pela experiência, aprendemos que esta qualidade de paciência contribui consideravelmente para reduzir frustrações e desapontamentos em nossa vida diária, e para aumentar em nós a calma e a paz em face de adversidades.
Entretanto, essa qualidade tem uma dimensão ainda mais profunda, dimensão essa que se relaciona com a função vital exercida pela paciência em nosso desenvolvimento espiritual individual, no aprendermos qual é a vontade de Deus e a fazermos Sua vontade, na cura cristã e em elaborarmos a nossa salvação.
Freqüentemente as pessoas acham que ter paciência é, na melhor das hipóteses, aguardar passivamente que, afinal, as coisas venham a mudar para melhor. Nesse sentido, ser paciente pode ser como que acomodar-se em uma cadeira de balanço na varanda, cruzar os braços e esperar passar a chuva da tarde.
A paciência deve, contudo, ser enérgica e não simplesmente uma espera passiva. A Bíblia apresenta, em especial nas epístolas do Novo Testamento, algumas imagens vigorosas associadas à idéia de paciência — imagens que fazem qualquer cristão levantar de sua cadeira de balanço mental. A carta de Paulo aos romanos diz, de Deus, “que retribuirá a cada um segunda o seu procedimento: dará a vida eterna aos que, perseverando pacientemente em fazer o bem, procuram glória, honra e incorruptibilidade” Romanos 2:6, 7 (conforme a versão King James)..
Na epístola aos hebreus lemos: “Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso trabalho e da vossa obra de amor .... Desejamos, porém, continue cada um de vós mostrando até ao fim a mesma diligência para a plena certeza da esperança; para que não vos torneis indolentes, mas imitadores daqueles que, pela fé e pela paciência, herdam as promessas.” Hebreus 6:10–12 (conforme a versão King James).
Este tema, a paciência, que aparece nas Escrituras como parte integrante do esforço cristão dedicado, é iluminado pelos ensinamentos da Ciência Cristã. Pois, como a Ciência do Cristo ensina, para que vejamos evidenciado na prática o cumprimento da vontade de Deus, será necessário que estejamos preparados para fazer a vontade de Deus. Nos escritos de Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã, encontramos a noção de paciência freqüentemente associada a expressões de atividade, tais como a procura da Verdade divina, boas obras, perseverança incansável, obediência, trabalho, oração e amor terno. Ver Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras 254:11–13; 4:3–6; 515:4–5; 242:15–20; 262:18–25; Miscellaneous Writings 330:4–6; The First Church of Christ, Scientist, and Miscellany 247:28–30.
É bem verdade que muitas vezes esses escritos da Ciência Cristã também associam paciência a espera. Porém, não aprendemos que mesmo nossa espera deve ser ativa, ao invés de passiva? Quando está sendo transformado pelo Amor divino, o pensamento de espera está em movimento, substituída a base de fé na matéria pela confiança em Deus como Espírito infinito. A expectativa de que o poder de Deus seja percebido na experiência humana inclui orações de afirmação ativa quanto à realidade divina da verdade presente, e não de teorias distantes nem de uma ansiosamente aguardada eventualidade.
Nesse sentido, a espera paciente confia implicitamente em que Deus é o bem infinito agora e em que o homem reflete, como semelhança perfeita de Deus, o bem infinito agora. Auxiliados pela oração, vislumbramos que a cena material — constituída de acontecimentos, circunstâncias e condições eventualmente discordantes, limitadas, nocivas — não faz parte da criação de Deus. Somente aquilo que Deus cria está presente, e o que Deus cria é espiritual; não é nunca temporal, mas é eterno; nunca discordante mas sempre harmonioso; nunca limitado mas ilimitado em bondade. Nunca nocivo mas sempre pacífico e completo. E o homem criado por Deus — nosso ser verdadeiro — manifesta apenas as qualidades que Deus outorga à Sua criação.
Paciência, confiança ativa, desempenha papel importante no trabalho da cura-pelo-Cristo. Capacita-nos a confiar em que Deus está levando avante o Seu propósito. Não temos a menor dúvida de que a mentira da doença não tem a mínima autoridade, nem ponto de apoio, nem causa que lhe permita existir no reino de Deus. A doença é um erro. E a paciência que equivale a uma confiança ativa na Verdade divina, nunca é paciente com o erro. Isso está comprovado por muitas curas rápidas e permanentes que se realizaram por meio da oração.
A disposição de manter ativa sua confiança na Verdade provou ser especialmente importante para alguém que se viu confrontado com a mentira da doença durante certo tempo. Um testemunho de cura publicado no livro Um Século de Cura pela Ciência Cristã conta da experiência de um homem que sofreu de paralisia. O homem escreve:
“... passei quase dez anos sem poder ficar de pé ou andar; podia apenas sentar-me na cama por pouco tempo cada dia, e isso nem sempre.... Diversas vezes parecia que eu estava prestes a morrer.” Escreveu também: “À medida que estudava e recebia tratamento [por meio de oração na Ciência Cristã], fui sentindo grande alegria espiritual, a alegria de saber que Deus governa o universo e que coisa alguma poderia impedir a realização de Seus desígnios de propiciar perfeição e satisfação reais a todos.” Um Século de Cura pela Ciência Cristã (Boston: The Christian Science Publishing Society, 1972), p. 149. Essa confiança profunda e ativa na Verdade divina permaneceu. O homem teve uma cura completa.
Muitos estudantes de Ciência Cristã conheceram esse homem por sua contribuição de belas poesias, divulgadas durante mais de quarenta e cinco anos no Christian Science Sentinel e, posteriormente, por seus artigos como Redator Adjunto. Uma das poesias publicadas no Sentinel, e que também aparece no testemunho acima mencionado, foi escrita originalmente durante uma fase assaz difícil da doença. Essa poesia termina com as seguintes palavras:
Ó infinito Amor, jamais diminuído!
Distantes se esvaem da dor os enganos.
Antes do mundo, em Ti existimos,
e após o mundo, ainda em Ti habitamos;
perfeita e completa é Tua obra bendita. Peter J. Henniker-Heaton, “Ó tu, Verdade imutável” em Um Século de Cura pela Ciência Cristã, p. 151.
A paciência tem de ser muito mais do que mera resignação estóica com relação ao que as coisas aparentam ser, muito mais do que uma esperança passiva de que as coisas mudem para melhor. Mantenhamo-nos conscientes da promessa que acompanha uma confiança ativa na realidade divina presente, promessa de luz espiritual, de graçe e de cura verdadeira. O autor da epístola aos hebreus indica o caminho dos cristãos: “... desembaraçando-nos de todo peso, e do pecado que tenazmente nos assedia, corramos com paciência a carreira que nos está proposta.” Hebreus 12:1 (conforme a versão King James).
Confia no Senhor e faze o bem;
habita na terra
e alimenta-te da verdade ...
Descansa no Senhor e espera nele,
não te irrites por causa do homem que prospera em seu caminho,
por causa do que leva a cabo os seus maus desígnios ...
Porque os malfeitores serão exterminados,
mas os que esperam no Senhor
possuirão a terra.
Salmos 37:3, 7, 9
