Guerras entre bandos de jovens costumam virar manchetes de jornais. Acontece, porém, que tanto as "gangs" como a hostilidade que geralmente as acompanha, começam empequena escala, quase despercebidas; começam com os indivíduos, no pensamento individual.
White é um Cientista Cristão cujo cargo de administrador de uma escola pública, no sul da Califórnia, nos Estados Unidos, tem-no colocado frente a frente com "gangs" de estudantes. A experiência que ele nos conta no seguinte artigo mostra que bandos de adolescentes não significam necessariamente problemas, seja para eles mesmos, seja para o sistema escolar. Também nos traz à lembrança quão eficaz é a oração simples, sem enfeites.
A Atmosfera Em meu escritório, naquela tarde, era pesada, tensa, transpirando violência latente. Eu me sentia perdido, sem saber o que fazer. À minha frente estavam sentados quatro jovens, representando a liderança das duas "gangs" existentes em nossa escola. Essas duas "gangs" vinham tendo repetidas brigas entre si desde o início do ano escolar.
Como encarregado da conduta dos alunos, eu entrara como árbitro em diversas ocasiões, interviera nos confrontos inflamados, confiscara suas armas, tivera reuniões com todos os rapazes envolvidos, fizera aconselhamento individual, havia tentado meios persuasivos, havia aplicado suspensões e ameaçado de expulsão. Sem resultado algum.
Os quatro estavam agora sentados à minha frente, esperando ouvir apenas uma arenga a mais, sobre o conflito mais recente. Havia, porém, um problema: eu não sabia mais o que dizer. Todas as razões válidas para acabar com esse tipo de comportamento já lhes haviam sido explicadas: como aquilo prejudicava os estudos, provocava transtorno na escola, podia acabar em ferimentos graves e possível prisão, e assim por diante. Foi aí que, inesperadamente, veio-me à mente um trecho de uma afirmação do livro-texto da Ciência CristãChristian Science (kris'tiann sai'ennss). Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras, de autoria de Mary Baker Eddy, a Descobridora e Fundadora da Ciência Cristã: "Um só Deus infinito, o bem, unifica homens e nações...."
Não mencionei isso aos rapazes. O que fiz foi aproximar minha cadeira e dizer: "Todos vocês já estiveram em uma igreja, alguma vez na vida, não é?" Era verdade. (Todos pertenciam a alguma religião cristã.) "E todos vocês, alguma vez na vida, já repetiram na igreja aquela prece que chamamos 'Oração do Senhor'." É claro que eu estava me referindo à oração ensinada por Cristo Jesus a seus discípulos. Eles disseram que sim. "Agora," acrescentei, "quero que um de vocês me diga quais são as duas primeiras palavras dessa oração que todos já repetiram alguma vez." Foi triste notar que eles levaram algum tempo tentando se lembrar. Finalmente, conseguimos juntos chegar àquelas duas palavras iniciais: "Pai nosso". "Vejam," disse-lhes, "não diz 'Nosso Pai índio, ou Pai mexicano, ou Pai branco, ou pai negro'. Diz simplesmente Pai 'nosso' — de todos nós. Por isso, meus amigos, quero que dêem uma boa olhada uns aos outros e se vejam com outros olhos, porque se Deus é de fato nosso Pai, qual é então o grau de parentesco entre vocês?" A palavra irmãos saiu devagar e curiosamente das quatro bocas.
Encerrando a reunião com eles, eu disse: "Todas as famílias têm desentendimentos graves, uma vez ou outra. Como, no sentido mais real, somos todos uma 'família', podemos restabelecer a paz compreendendo que, afinal 'esse é meu irmão' e depois podemos perdoar, esquecer e continuar nossa vida."
Isso aconteceu há vários meses. Nesse meio tempo, as duas "gangs" se dissolveram de livre e espontânea vontade. Não temos tido incidentes de ordem racial relacionados com as "gangs". O melhor é que muitos dos rapazes de ambos os lados se tornaram amigos e têm um relacionamento normal entre si nas atividades sociais, acadêmicas e desportivas.
Claro está que, nem por um momento, podemos pensar que não precisamos mais de supervisão adequada, de atividades construtivas e de uma sólida estrutura disciplinar e afetiva. Essas coisas são necessárias. Entretanto, não podemos esperar que essas coisas por si sós curem os problemas, porque elas não vão até onde é preciso. Quer dizer, não alcançam a base da harmonia e da irmandade. Essa base de que estou falando é o fato de que, como há somente um Pai-Mãe Deus, nós (contrariamente às aparências exteriores) não somos muitas facções separadas e desarmoniosas, mas somos em verdade uma família que se ama sob a direção pacífica e infalível de Deus.
Qualquer pessoa que ora segundo esses princípios da lei divina, a lei que define nossa verdadeira relação com Deus e de uns para com os outros, pode comprovar, em sua própria experiência, as palavras de S. João: "Amados, agora somos filhos de Deus."
Sou um dos rapazes que estavam na reunião. Nunca havia pensado que somos todos irmãos e irmãs. Acho que é verdade. As coisas vão indo bem, agora, e já não há tantos problemas.
As coisas estão bem melhores agora em nossa escola. O fato de sermos de raças diversas já não faz muita diferença. Eu sabia que Deus é nosso Pai, mas só agora comecei a agir de acordo com essa verdade. Estou feliz agora por causa dessa modificação.
Eu estava na reunião. Antes, nunca havia pensado que os outros fossem nossos irmãos. Agora as coisas estão mais pacíficas com os mexicanos. Antes eu realmente nunca pensara muito em Deus.
