Minha Filha, Aí pelos seus cinco anos de idade, tinha um amiguinho que morava a pouca distância de nossa casa. Por motivos que eu não sabia explicar, não me agradava que brincasse com ele. O menino era vivaz, asseado e bonzinho. Ainda assim, eu esperava que ficasse fora de nosso pátio e longe de minha filha.
Minha atitude, estranha e injusta, perdurou várias semanas. Eu sabia que estava errada, e não era por preconceito de raça ou algo desse tipo. No entanto, eu não gostava nem um pouco daquele menino. Certo dia, de pé à porta de nossa casa depois de tê-lo mandado embora, recriminei-me novamente por minha atitude pouco amorosa. O que é que havia de errado comigo? Por que não conseguia amar aquela criança? Por que sentia aversão por todos os meninos com quem minha filha brincava? Não tinha resposta para isso.
Com pesar, lembrei-me destas palavras de Cristo Jesus: "Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos; porque eu vos afirmo que os seus anjos nos céus vêem incessantemente a face de meu Pai celeste." Essas palavras tornaram maiores minha mortificação e insegurança.
A insegurança levou à frustração. Esforçara-me para gostar do menino e de todos os outros meninos, mas não tivera êxito. Lutei, naquele momento, para me livrar do ódio. Reagi à força contra meus sentimentos. Nada consegui. Finalmente, fiz o que deveria ter feito desde o início, isto é orei.
Por eu ser novata no estudo da Ciência Cristã, minha oração foi uma declaração de tudo o que já sabia ser verdadeiro acerca de Deus e do homem como Sua semelhança inteiramente espiritual. Reconheci minha herança como filha de Deus, o Amor, e compreendi que, por ser filha do Amor, eu não podia deixar de amar. Compreendendo que o menininho era também filho de Deus, vi que, na verdade, ele e eu estávamos unidos na família universal de Deus.
Foi durante a oração que percebi uma coisa: sempre me sentira muito satisfeita por não ter filhos homens. De repente, achei isso bem estranho. Quis saber: Por que eu era assim? Desde quando eu antipatizava com meninos? Receei nunca ficar livre desse horrível defeito, que parecia ter origem em algo escondido na minha mente.
Eu estudava a Ciência Cristá havia pouco e me perguntava como prosseguir. De que modo se cura a mente? No curso de sua descoberta da Ciência Cristã, a Sra. Eddy deduziu que a palavra Mente é de fato um sinônimo, ou um nome, para Deus, a inteligência suprema do universo. Ela conclui: "Deus é Mente infinita, logo não há outra Mente. O bem é Mente, mas o mal não é Mente" (Rudimentos da Ciência Divina).
Ponderando essas palavras, tive um lampejo do que significavam. A crença de que a matéria tem vida e de que o homem é um ser material, levara-me á conclusão errônea de que a mente humana é material. Esse conceito errado do que constitui a "mente" havia me sobrecarregado com a crença de que existe uma contrafação. Como a verdadeira consciência do homem é a espiritual, é a expressão integral e perfeita daquilo que Deus, a Mente divina, saba, não há nessa Mente crenças errôneas, ou falhas, das quais temos de nos libertar. A Mente divina, minha única consciência real, no tem escaninhos ou "pontos vagos" onde pensamentos subconscientes se possam ocultar e resultar em conduta pouco amável. Transbordante de Verdade e Amor divinos, a Mente não sente ódio nem o conhece. Eu não precisava procurar na Mente, Deus, a causa de atitudes erradas ou de crenças falsas. Estas jamais haviam estado na Mente. Exatamente ali onde parecia haver uma mentalidade errônea, material e desprovida de amor, havia, de fato, a presença e a pureza da Mente.
O que ocorreu a seguir foi totalmente inesperado. Provou-me a verdade destas palavras da Sra. Eddy em Ciência e Saúde: Aquele que tocar a orla da veste do Cristo e dominar suas crenças mortais, a animalidade e o ódio, rejubilar-se-á com a prova da cura — uma consciência doce e segura de que Deus é Amor."
Apenas umas três horas haviam passado desde que eu tinha mandado embora o menininho e começado a orar, quando, de repente, veio-me à lembrança a conversa que, em minha infância, uma pessoa adulta bem-intencionada tivera comigo. Recordei que durante a conversa a pessoa comentara o quanto os meninos são destrutivos. "É da natureza deles", dissera. "Não podem deixar de sê-lo e não se pode fazer nada contra isso e é melhor que você fique longe deles."
Não caracterizava minha atitude atual exatamente esse mesmo ponto de vista? Prontamente, desafiei a crença errônea mediante as verdades espirituais que me acorreram em oração e pelo estudo da Ciência Cristã. Essas verdades asseveravam que o homem a quem Deus criou é bom e reto. Na realidade, a imagem de Deus manifesta qualidades de ambos os gêneros, qualidades masculinas e femininas. Percebi que a natureza de Deus se expressa em qualidades masculinas tais como força, coragem, sabedoria. Com vigor, expulsei afinal a mentira de que um espírito destruidor poderia fazer parte da criação divina. Estava livre para amar todas as crianças, porque os filhos de Deus eram agora, e sempre haviam sido, dignos de afeição.
Fiquei na expectativa de rever o menininho. Quando apareceu, não fiquei desapontada. Todos os sentimentos negativos e pouco amáveis tinham-me deixado. Deslumbrei-me com a inteligência do garoto e suas boas maneiras. Ele brincou com minha filha serenamente pelo resto do dia e por mais dois anos ainda, até que nos mudamos daquele lugar.
Ainda mais notável, porém, foi que oito meses depois dessa minha oração e cura, dei à luz um menino! Naquela ocasião, eu não sabia que estava grávida, mas a bênção dessa cura enriqueceu minha vida com o amor que tenho ao meu filho. Mesmo convicta de que a descendência de Deus reflete as próprias qualidades d'Ele, reitero para mim mesma o quanto os filhos de Deus — homem e mulher — são agora, e sempre foram, bons e construtivos!
