GÁLATAS
Alguns anos depois de terem sido escritas as duas epístolas aos tessalonicenses, Paulo escreveu uma carta que circulou e foi lida nas igrejas da província da Galácia, região da Ásia Menor. Apesar de ser periodicamente atacado por uma doença, ele fundou essas igrejas, possivelmente durante sua primeira viagem missionária.
Paulo inicia sua carta defendendo com vivacidade seu direito de ser plenamente reconhecido como apóstolo, especialmente chamado para pregar o evangelho aos gentios. Observa, depois, que membros da igreja, que ele qualifica de “insensatos”, Gálatas 3:1. permitiram que alguns os confundissem a respeito da circuncisão, pela alegação de que esse rito era necessário para os cristãos, como o era para os judeus. Paulo diz que essa doutrina é equivocada.
Toda a humanidade tem livre acesso ao evangelho de Cristo, diz Paulo, e a graça salvadora de Deus depende da fé em Cristo, não de obras da lei. O legalismo e o ritualismo não devem ser misturados ao cristianismo, que liberta homens e mulheres das exigências meramente ritualistas da lei.
1 E 2 CORÍNTIOS
Em suas duas epístolas à comunidade cristã de Corinto, Paulo novamente teve de reafirmar sua autoridade como apóstolo “pela vontade de Deus”. 1 Cor. 1:1. Lembra-lhes o grau de sofrimento dele pelo evangelho, em prol dos cristãos. Respondendo a ataques quanto a seu caráter, Paulo diz que vida é um exemplo prático de fidelidade e sacrifício por amor do evangelho.
Os livros de 1 e 2 Coríntios representam três, ou talvez quatro cartas da correspondência contínua entre Paulo e os coríntios. Corinto era uma cidade cosmopolita, conhecida particularmente por sua imoralidade. Era habitada por gregos, romanos, judeus e outros povos do Oriente Médio. É compreensível, portanto, que a pequena igreja funcionando na casa de Gaio tenha tido dificuldade para enfrentar as muitas culturas pagãs ali existentes.
Em 1 Coríntios, Paulo oferece aos irmãos o conselho de viver e prestar culto juntos, harmoniosamente, como cristãos. Em resposta às várias perguntas que lhe haviam mandado, ele aconselha-os em questões morais e sociais, tais como casamento, comportamento sexual e finanças.
Em sua carta, Paulo alerta os membros da igreja contra a existência de facções. Os membros deveriam permanecer unidos, na compreensão de que a discórdia dentro do corpo da igreja é uma violação do corpo de Cristo. Sim, todos os membros servem à igreja em diferentes funções: como apóstolos, profetas, mestres, sanadores, administradores. Esses cargos, porém, devem funcionar juntos, em amor. No capítulo 13 da primeira epístola aos coríntios, Paulo faz uma declaração dinâmica sobre o poder do amor espiritual, dizendo que esta é uma virtude que ultrapassa todas as outras. Pelo poder do Espírito Santo, transforma os que dão e os que recebem esse amor.
Paulo diz aos coríntios que eles devem escolher: ou seguir o caminho de Adão, de pecado e morte, ou o caminho da salvação e da imortalidade, escolhido por Cristo Jesus. Ao ressuscitar Jesus de entre os mortos, Deus deu à humanidade uma prova de Seu amor. O fim dos tempos trará o cumprimento do bem — total transformação para toda a humanidade.
Muitos estudiosos acham que Paulo escreveu 2 Coríntios em 55 ou 56 D.C., talvez um ano ou mais depois de escrever 1 Coríntios. Nesse meio tempo, provavelmente Paulo visitara os cristãos em Corinto, mas fora mal recebido por eles. Muitos estudiosos também acreditam que 2 Coríntios seja um amálgama de diversas cartas escritas à igreja. Uma parte de 2 Coríntios (capítulos 10–13) é severa, chamando a atenção dos cristãos para suas falhas e sua necessidade de reforma. Depois de Paulo mandar essa mensagem, presume-se que Tito tenha relatado o grande progresso deles, e disso tenha resultado uma carta efusiva, cheia de gratidão, consolação e amor (capítulos 1–9).
Paulo ressalta que a salvação exige de nós que prefiramos “deixar o corpo e habitar com o Senhor.” Ele enfatiza que os cristãos devem viver, não “para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou”, 2 Cor. 5:8, 15. encontrando assim reconciliação com Deus.
ROMNOS
A carta de Paulo à igreja em Roma, escrita entre 56 e 58 D.C., foi a mais comprida e é a única endereçada a uma igreja que não havia sido fundada por ele. Como não havia a necessidade de abordar problemas prementes da igreja, essa epístola faz uma revisão completa dos pontos teológicos básicos e por isso se destaca como um dos mais influentes escritos de Paulo.
Escrita enquanto visitava novamente Corinto, nela Paulo se apresenta à congregação de Roma. Comunica-lhes que planeja visitá-los em breve. Seu trabalho na Grécia e na Ásia Menor está terminado, explica ele, pedindo encarecidamente que os romanos o apóiem em seu desejo de ir adiante e evangelizar o Mediterrâneo ocidental, até a Espanha. Primeiro, porém, ele precisa voltar a Jerusalém, a fim de levar uma grande contribuição em dinheiro, levantada entre os fiéis para ajudar os pobres. Seu tom é cálido, embora afirme sua autoridade como apóstolo divinamente designado aos gentios.
Paulo repassa suas posições acerca de questões teológicas da maior importância. Ressalta, por exemplo, que a missão de Jesus cumpre a profecia bíblica. Argumenta novamente que os cristãos não têm a obrigação de obedecer aos rituais exigidos na Tora. A circuncisão é elevada a um nível mais alto de significação: o que se faz necessário é a circuncisão — a purificação — “do coração”. Romanos 2:29. A coisa mais importante, diz Paulo, é estabelecer um relacionamento correto com Deus, eliminar o pecado que separa o homem de seu Criador. Ele afirma: “A lei do Espírito da vida em Cristo Jesus te livrou da lei do pecado e da morte.” Romanos 8:2.
Para Paulo, a crucificação de Jesus ressurreição têm o poder de regenerar todo o gênero humano. Foi a desobediência de Adão que trouxe o pecado e a morte. Mas é a obediência de Cristo Jesus que reconciliou o homem com seu Criador e deu-lhe liberdade e vida eterna. O que o homem tem de fazer, para merecer a graça de Deus, é manifestar a fé que Abraão teve e crer de todo o coração nas promessas de Deus. Portanto, os membros da comunidade cristã em Roma devem deixar que sua fé e seu amor brilhem. Devem confiar no fato de que Deus governa o destino deles e que Seu propósito trará o triunfo do bem.
CARTAS DA PRISÃO
Finalmente, Paulo chegou em Roma. Entretanto, ele foi enviado como prisioneiro, conforme narrado em Atos, capítulos 22–28. Acredita-se, em geral, que ele nunca tenha chegado até a Espanha e que tenha sido executado entre 62 e 65 D.C. Como cidadão romano, era-lhe permitido escolher onde morar, embora devesse permanecer em prisão domiciliar, acorrentado a seu carcereiro romano. Ele continuou a trabalhar e a falar com todos os que o procuravam. Em Roma, Paulo escreveu pelo menos mais três cartas, duas endereçadas a igrejas e uma para uma pessoa individualmente.
Sua carta os cristãos de Filipos, a primeira igreja por ele fundada na Europa, foi escrita provavelmente nessa época. O Apóstolo sentia afeição especial pelos membros dessa igreja e mantinha-se em contato com eles. Nessa epístola, assegura aos amigos de Filipos que tudo está bem com ele, apesar de estar preso e poder ser condenado à morte. Eles deveriam se alegrar com ele, sabendo que suas tribulações só podem beneficiar a causa do cristianismo.
A segunda carta, dirigida à igreja de Colossos, foi escrita ou por Paulo ou por um de seus seguidores, talvez depois de sua morte. O autor está preocupado com a heresia naquela pequena igreja. Os estudiosos não sabem ao certo qual era a natureza dessa heresia, talvez a filosofia humana, ou o legalismo judaico, ou o culto aos anjos. A mensagem que sobressai, nesse escrito paulino, é a de que os colossenses devem abandonar as heresias e fazer jus aos ideais cristãos.
A terceira carta de Paulo é para um amigo de Colossos, chamado Filemom. Onésimo, escravo de Filemom, havia fugido, possivelmente após furtar ao patrão. Em Roma, Onésimo conheceu Paulo e converteu-se ao cristianismo. Ele foi então de grande ajuda ao Apóstolo e este pede encarecidamente a Filemom que aceite Onésimo de volta e considere-o um irmão em Cristo, maduro e regenerado, em vez de infligir-lhe o castigo severo, normalmente imposto a um escravo foragido.
O LEGADO APOSTÓLICO
Por volta do ano 65 D.C., tanto Pedro como Paulo já haviam entregado a vida pelo cristianismo. Ao fim do século, a maioria dos apóstolos já havia falecido. O que eles deixaram, porém, foi uma Igreja bem estabelecida, que havia se difundido com incrível velocidade até os cantos mais remotos do Império Romano, uma Igreja que a perseguição não conseguiria destruir.
Na época da ascensão de Jesus, seus seguidores eram quase desconhecidos. Mas os apóstolos, especialmente Paulo, mudaram esse fato, para sempre. Eles fizeram empenho, em cada sermão e em cada epístola, em fazer as pessoas compreenderem uma coisa: eles falavam em “nome de Jesus Cristo, o Nazareno”. Atos 4:10. Declaravam a todos que a boa nova por eles pregada era inconfundível. Era realmente o cumprimento das promessas da Bíblia hebraica. Jesus era o Messias que os judeus aguardavam. Mas os apóstolos não deixaram dúvida de que Jesus fizera uma nova aliança. Por isso, seus seguidores precisavam fundar uma Igreja para preservar, propagar e assinalar para todas as épocas as verdades revolucionárias que ele havia ensinado.
Foi o apóstolo Paulo que, mais do que os outros, assumiu a enorme responsabilidade de estabelecer essa Igreja. Não fosse sua dedicação apaixonada e seu zelo fiel, o cristianismo talvez nunca tivesse chegado muito além da Palestina. Não fosse seu trabalho de vigilância, feito com ternura, mas muitas vezes com severidade, as igrejas que ele fundara por todo o Império Romano poderiam ter se contaminado com a heresia ou desaparecido de uma vez. Se não fosse o apóstolo Paulo, o cristianismo autêntico talvez nunca tivesse criado raízes no mundo romano.
