A Idéia De que o bem é tudo e de que o mal não é coisa alguma, uma nulidade, idéia essa demonstrada por Cristo Jesus e elucidada pela Ciência Cristã, parece um tanto remota para muita gente — às vezes até para aqueles que estudaram a Ciência Cristã a vida inteira. Afinal, parece que vivemos num mundo dualista em que o bem e o mal participam igualmente de todos os momentos da vida diária.
Ainda assim, por mais grandioso e idealista que esse conceito possa parecer, a totalidade é idéia que as pessoas, instintivamente, têm o desejo de ver manifesta. Em nenhum ponto esse anseio é tão profundo, ou tão freqüentemente explícito, quanto em relação ao amor. As pessoas dizem que se sentem amadas parte do tempo, mas admitem ter o desejo íntimo e sincero de se sentirem profundamente queridas todo o tempo. Fiquei muito comovida, recentemente, pelo comentário honesto e perspicaz de uma mulher identificada simplesmente como Elizabeth. Num texto escrito em 1936, intitulado “Todos os cães de minha vida”, ela exclama (referindo-se aos cães): “Quando amam, amam com constância, imutavelmente, até o último suspiro. É assim que eu quero ser amada.” Citado em Dogs and their Women, Barbara Cohen e Louise Taylor (Boston: Little, Brown and Company, 1989).
Embora essa questão todo-abrangente do amor sempre pareça estar no topo dos desejos humanos de constância, o conceito de totalidade permeia todo anelo humano pelo bem. Ouço diariamente as pessoas dizerem que se sentem criativas, fortes, alegres, satisfeitas, saudáveis e em paz, parte do tempo, mas sempre querem sentir essas qualidades todo o tempo. Dizem que têm a capacidade parcial de andar, ver, ouvir e sentir. Mas naturalmente querem a capacidade total todo o tempo. Certamente esse é o senso prático de totalidade, que para cada um significa algo diferente.
Estava pensando nisso, certo dia, quando a profecia messiânica de Isaías me veio distintamente ao pensamento: “O Senhor mesmo vos dará sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e lhe chamará Emanuel.” Isaías 7:14. Subitamente, esse trecho se me apresentou sob nova luz, como a predição do aparecimento na carne, a manifestação prática, da idéia da totalidade de Deus!
Emanuel significa “Deus conosco”. Significa que tudo o que o Amor divino é, e tudo o que o Amor divino dá, está conosco, com cada um de nós, todo o tempo. Essa mensagem da onipresença divina, que dissolve progressivamente as crenças mortais de tempo e espaço, demonstra tanto a infinidade como a eternidade, a Vida e sua bondade enchendo todo o espaço a cada momento.
Emanuel significa “Deus conosco”. Significa que tudo o que o Amor divino é, e tudo o que o Amor divino dá, está conosco, com cada um de nós, todo o tempo.
Emanuel nos salva. É a idéia da totalidade do Amor na consciência humana, reprovando o dualismo que diz que o mal existe (ocupa espaço) e que é tão real quanto o bem. Também repreende a interpretação insatisfatória sobre a relação entre Deus e Sua criação, conhecida como “intervenção divina”, a crença de que Deus não está conosco a todo momento, mas que se torna uma presença ocasional quando O chamamos e quando Ele quer vir.
Cristo Jesus era verdadeiramente a plena corporificação, o cumprimento completo da profecia de Emanuel. Tudo o que ele fazia era uma firme e fulminante repreensão à alegação perversa de que o bem não está sempre presente, não é onipresente. Quando a enfermidade, a cegueira, a surdez e a paralisia alegavam que a saúde, as faculdades e a ação normal podiam variar ou estar ausentes, a cura instantânea demonstrava sua presença ininterrupta no homem, a expressão do bem infinito. Quando os pescadores pareciam estar “desempregados” por falta de “produto”, ou grande número de pessoas estava sem comida, a visão clara que Jesus tinha da realidade espiritual provou que o homem, a imagem do Espírito, é inseparável da provisão de Deus. Quando pecadores forma destinados ao ostracismo ou execução, Jesus os curou, mostrando–nos para sempre que a inocência e a pureza estão eternamente com o homem, a semelhança da Alma. E quando era chamado para o leito, ou mesmo para o túmulo, dos mortos, ele os ressuscitava, demonstrando “Emanuel”, a Vida conosco.
A idéia de Emanuel apresentada no Antigo Testamento profetiza com tocante simplicidade o Cristo, a idéia espiritual de filiação, e a Ciência dessa filiação. Ambas, a filiação e a Ciência, precisam ser compreendidas se quisermos demonstrar em nossa vida a totalidade de Deus, a constância do amor e da bondade.
Considere primeiro a idéia de filiação. Não faz muito tempo, descobri que há poucas referências à filiação espiritual, no Antigo Testamento. As referências a Deus como Pai ou Mãe, no Antigo Testamento, são indiretas e aparecem principalmente como comparações: o Senhor se compadecerá como um pai, guiará como uma águia que “voeja sobre os seus filhotes”. Deuter. 32:11. A ênfase do Antigo Testamento é, principalmente, no homem como objeto do amor de Deus. “Não temas, homem muito amado,” lemos no livro de Daniel, “paz seja contigo; sê forte, sê forte.” Daniel 10:19. Nessa bela e tríplice bênção, se nos assegura que o homem, como objeto do amor de Deus, pode ter a expectativa de não sentir medo, de estar em paz e de ter autoridade. É difícil minimizar, sob qualquer ângulo, o significado de ser simplesmente o amado de Deus.
Ainda assim, chegamos à conclusão de que, ao nos vermos apenas como o objeto do Amor, perdemos parte da visão, porque não fica explicado inteiramente nosso merecimento de sermos profunda e constantemente amados. Isso tende a nos deixar a sensação de que Deus e o homem são dois seres separados, em dois lugares diferentes, eu aqui, sendo amado; Deus lá, mandando Seu amor em minha direçāo. Simplesmente continua a estar subentendida alguma distância.
Só há um tipo de relacionamento que ajuda a explicar e a expressar a absoluta unidade e constância da relação do Amor divino com o homem: Deus e o homem vistos como Pai e filho, Pai–Mãe e sua descendência. Essa é a mensagem do Novo Testamento. Não uma ou duas vezes, mas muitas vezes há referência ao homem como filho, descendente, ou herdeiro de Deus. E Deus “apresentou” Jesus, declarando que ele era igualmente o objeto e o filho (manifestação) do Amor: “Este é o Meu filho amado, em quem me comprazo.” Mateus 3:17.
Uma profunda responsabilidade acompanha a descoberta do motivo de sermos tão amados. E há condições específicas vinculadas a sentirmos realmente o amor que nosso Pai celestial dedica à Sua idéia espiritual, o homem: temos de rejeitar o erro da origem física, conhecer–nos espiritualmente, e amar à maneira imparcial, universal e indivisível do “amor de Emanuel” que enche todo o espaço e não concede nenhuma realidade ao mal. Em outras palavras, se quisermos escapar do mal e sentir o amor constante, a inteireza e a realização pelas quais ansiamos, e que pertencem de direito à descendência de Deus, temos de aceitar o amor incondicional que caracteriza nossa verdadeira natureza à semelhança do Amor divino.
É interessante notar que no Sermão do Monte, Cristo Jesus nos ensina primeiramente (Mateus 5) todas as maneiras através das quais devemos amar nosso próximo, antes de nos ensinar a orar e de nos mostrar nosso relacionamento direto com nosso Pai celeste (Mateus 6). Leva–nos a uma jornada através da mansidão, da misericórdia e da pacificação; do trabalho abnegado, da moral na educação e no ministério, do perdão, de advertências contra o assédio sexual, da responsabilidade pelos nossos atos, das obrigações conjugais, do domínio sobre a tendência de reagir e de se sentir vítima; e conclui mandando que amemos universalmente. Quão belo e lógico, já que alguém que discorda do amor universal não poderia realmente começar a compreender a definição principal que Jesus deu de Deus como “Pai nosso que estás nos céus”.
Com a mais pura simplicidade, o Mestre explica: “Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem”. E por que? “Para que vos torneis filhos do vosso Pai celeste”. Mas por que isso nos torna, em demonstração, filhos de nosso Pai celeste? Porque o amor do Amor, como Jesus o define, é imparcial. Poderíamos dizer que esta é a “idéia da totalidade” do amor — “porque ele [Deus] faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e vir chuvas sobre justos e injustos.” Mateus 5:44, 45. É bem aqui, em declarações notáveis como essa, e em sua demonstração, que a idéia da totalidade de Deus se torna particularmente vívida. É precisamente porque o Amor é Tudo, que nós podemos ser obedientes e amar nossos inimigos; é precisamente a mui verdadeira presença do puro Amor divino que demonstra a nulidade do erro naquilo que chamamos de “cura”.
A veracidade da totalidade do Amor tem sua eficácia comprovada em exata proporção à sua vitalidade em nossa vida diária — em nossos pensamentos, palavras e ações. Por exemplo, o Amor é tudo para nós e é manifestado por nós, quando praticamos o afeto imparcial, universal, sem amarras. O Amor é tudo para nós à medida que realmente procuramos, de sã consciência manter nosso pensamento e nossas conversas isentos de maledicências, da Crítica destrutiva, do ressentimento, da arrogância, da difamação, do rancor, da raiva, da amargura, da inveja, do egoísmo, da fraude e da retidão própria. Ajudamos os outros a sentir a totalidade do Amor à medida que subjugamos o egotismo que nos faz sentir ofendidos.
A segunda das duas idéias reveladas na profecia de Emanuel é inseparável da primeira: a Ciência da relação entre Deus e o homem. Muitas vezes as pessoas não compreendem por que a palavra Ciência está ligada à idéia de cristianismo. Mas quando começamos a perceber o desenvolvimento da mensagem bíblica, comprovada em sua totalidade por Cristo Jesus, de que o Amor divino está em todo lugar, está sempre presente, nunca falha, como os raios solares, brilhando igualmente sobre tudo e todos, como é possível não pensar em termos de lei? O que, a não ser uma lei, age desse modo? Considere a lei da gravidade, por exemplo. Ela não escolhe, não é diferente para pessoas diferentes, não está aqui hoje e desaparece amanhã. O conceito que denominamos “lei” simplesmente identifica coisas que são universais, imparciais, infalíveis, confiáveis e previsíveis. Isso nos leva de volta ao modo como todos queremos nos sentir, quanto a Deus e Seu amor.
Ser o filho, ou a emanação, de Deus, o Amor, é sentir–se amado. Sentir–se amado eternamente envolve Ciência — significa conhecer o amor como lei absoluta. As palavras e obras de Jesus não deixaram nenhuma dúvida de que as dádivas do Amor, que incluem saúde, abundância, paz, liberdade, beleza e força, são tão invariáveis quanto o próprio Amor. Ele até afirmou que a verdadeira identidade inclui uma alegria que ninguém jamais pode tirar de nós.
Um amigo e colega meu, do meio artístico, havia lutado com a depressão de tempos em tempos, por anos a fio, até que, de repente, esta chegou a um ponto em que parecia ser constante. Acordava de manhã profundamente deprimido e incapaz de trabalhar, começava a sentir–se um pouco melhor no fim da tarde, ia dormir cheio de energia e feliz e acordava num estado de extrema escuridão mental. Isso continuou por um ano e meio. Mas ele era Cientista Cristão e estava orando por uma compreensão mais profunda de Deus e de seu parentesco com Ele. Também tinha a expectativa de perceber a verdade que destruiria essa ilusão, que não era seu verdadeiro modo de pensar.
Um dia sentou–se e volveu–se a Deus de todo o coração à procura de uma resposta. Subitamente, veio–lhe um pensamento: “Se você estudado muito para um teste de matemática e estivesse bem preparado, ficaria com medo de que pudesse acordar no dia do exame totalmente despreparado, porque todas as regras mudaram durante a noite?” A idéia era ridícula. “Então por que”, raciocinou ele, “você pensa que poderia ir dormir cheio de alegria e acordar deprimido? Qual é a diferença?”
Subitamente compreendeu que estivera considerando a alegria como sendo uma emoção, algo finito, divisível e pessoal, oriunda do cérebro em vez de Deus, e sujeita à limitação e à instabilidade. Percebeu que, ao contrário, a alegria é como um fato matemático, uma realidade única, indivisível, nunca um bem pessoal. Compreendeu que a alegria, como qualidade da Mente divina, Deus, só podia ser imparcial e universalmente refletida; que não podia ir e vir, acabar–se ou tornar–se nebulosa, porque era totalmente independente de pessoas, lugares, coisas ou circunstâncias. Assim que percebeu essa preciosa verdade, compreendeu que simplesmente precisava afirmá–la como lei absoluta. Em duas semanas estava completamente livre da depressão, e continuou livre nos anos que se passaram desde aquela ocasião. Ele havia provado, em certo grau, o “Emanuel” da alegria.
Referindo–se ao “Princípio divino absoluto da cura mental científica”, a Sra. Eddy escreve em Ciência e Saúde, o livro–texto da Ciência Cristã: “Esse Princípio apodíctico aponta para a revelação de Emanuel, isto é, ‘Deus conosco’ — a eterna presença soberana que aos filhos dos homens livra de todos os males ‘de que a carne é herdeira’.” Ciência e Saúde, p. 107.
Emanuel, Deus conosco — uma idéia insondável, totalmente deslumbrante em sua simplicidade. Na profundidade e magnitude do amor que revela, ela é puramente cristã. Na constância, universalidade e imparcialidade desse amor, ela é puramente científica. A parte essencial de sua mensagem é a divindade abraçando a humanidade, expulsando o erro até que nada reste que contradiga o fato de que Deus é Tudo–em–tudo.
