Todos Os Dias, quando vou do estacionamento até o escritório, encontro um homem que mora na rua e dorme coberto com uma caixa de papelão, em frente a uma saída de emergência de um prédio, numa viela estreita. Ele me cumprimenta e é sempre tagarela e educado. Vejo outros desabrigados levantarem a cabeça de dentro de sacos de dormir, ou saírem de carros velhos onde passaram a noite. Geralmente pedem esmola, e uns poucos reagem negativamente quando não recebem nada.
Tendo passado por aquela viela todo dia útil, durante mais de seis anos, tenho pensado sobre como contribuir de forma eficaz para aliviar esse problema urbano.
Sempre encontrei na Bíblia a solução para todas as situações difíceis e foi ali que comecei a procurar uma resposta. Notei muitas semelhanças entre os sem-teto de minha cidade, agora, no fim do século XX, e os mendigos à beira da estrada, as multidões suplicando ajuda, os enfermos sentados próximo ao tanque Betesda, mencionados na Bíblia, há dois mil anos.
O que faziam Cristo Jesus e seus seguidores?
Depreende-se dos relatos das curas realizadas por Jesus — dos cegos, dos leprosos, do menino epilético, da mulher com hemorragia, e assim por diante — que ele não concentrava a atenção nas condições físicas, mas sim apelava para o pensamento, através de ordens e perguntas que equivaliam a instruções.
Por exemplo, antes de curar o homem que "não se vestia, nem habitava em casa alguma, porém vivia nos sepulcros", Jesus perguntou: "Qual é o teu nome? Respondeu ele: Legião, porque tinham entrado nele muitos demônios." Lucas 8:27, 30. Perguntas como essa, impelidas espiritualmente, com a finalidade de instruir, além de indagar, expunham o pensamento da pessoa e traziam à tona aquilo que precisava ser curado ou transformado.
Achei que fazer algumas perguntas a mim mesma seria uma forma de começar a transformar meu ponto de vista e minha atitude quanto a ajudar as pessoas classificadas como sem-teto. Em primeiro lugar, perguntei-me: "O que é que precisa mudar?" Percebi imediatamente que a imagem mortal e limitadora que os olhos físicos nos dão do ser humano, deve ser trocada pela maneira como o Cristo vê o homem, isto é, como Deus o criou: espiritual, incorpóreo, perfeito, suprido, inteiro.
Uma pergunta que começou a elevar meu pensamento para cultivar uma concepção mais espiritualizada de cada situação e de cada pessoa, em vez de aceitar o quadro que eu tinha à minha frente, foi esta: "Como é que Deus está vendo isso?" A Bíblia afirma que Deus viu tudo quanto tinha feito como sendo "muito bom". Gênesis 1:31. Um comentário bíblico, em inglês, (Commentary on the Holy Bible de Dummelow) explica que o termo bom, usado nesse capítulo, significa "perfeito para a finalidade que Deus lhe designou". Assim sendo, cada um dos filhos de Deus tem uma finalidade designada por Ele. Esta não inclui carência nem limitação de nenhuma forma, nem ignorância ou resistência quanto ao bem que Deus oferece abundantemente.
O que é que me torna melhor do que aqueles que estão hoje desabrigados? Nada. Tudo que eu sei ser verdadeiro a meu respeito, como idéia de Deus, é também verdade para cada pessoa; e é dessa forma que eu preciso ver a todos. Será que Deus não providenciou tudo para Sua criação? Deus, o Espírito onipresente, onipotente e onisciente deu tudo a cada uma de Suas idéias. O senso material de existência é o vilão, que mostra a matéria, sentenciando quão ricos, sadios, bons ou realizados nós somos ou não somos. Em contraste, o senso espiritual avalia quão rica é nossa maravilhosa relação com Deus e como podemos ver o amor de Deus por nós. Essa relação espiritual com Deus está estavelecida para sempre, segura e protegida. Portanto, todos somos igualmente capazes de receber a provisão divina.
Ao perguntar-me: "De que forma a doação de alimento ou dinheiro está contribuindo para abençoar as pessoas sem teto?", fui levada a orar com humildade. Muitas vezes, no passado, quando dava um trocado ou alguma comida aos pedintes, eu não os elevava, em meu próprio pensamento, daquela posição de carência. Crer que eu possuía algo, que a eles faltava, não contribuía para uma mudança na consciência deles, para que eles reconhecessem, por si mesmos, que Deus é a eterna fonte de todo o bem. Compreendendo isso, eu me volto agora instantaneamente para Deus, o verdadeiro Pai-Mãe de todos, antes de dar qualquer coisa. Elevando meu próprio pensamento e não dando guarida à noção de que o homem possa estar destituído do bem, eu sinto que estou contribuindo para despertar os necessitados a fim de que vejam a provisão que Deus tem para eles.
Quão eficaz é esse tipo de oração?
A oração é eficaz na proporção em que nos voltamos para Deus como a única fonte e o único poder real, e na medida de nossa motivação pura e espiritualizada. A oração que não fica pedindo a Deus para mexer na matéria, mas reconhece e afirma o quanto Ele já cuidou maravilhosamente de todos os aspectos de Sua criação, é uma oração que cura. É a única maneira viável de corrigir o falso senso de identidade e o modo de vida das vítimas da miséria.
Eu experimentei o efeito curativo desse tipo de oração. Em fins de 1986, tive de sair da casa onde morava havia diversos anos. Literalmente não tinha para onde ir, nem dinheiro para pagar aluguel. Em menos de dois anos, tive treze endereços diferentes. Cheguei até a deixar meus gatos seis meses em meu escritório, para não submetê-los a todas as mudanças comigo. Eu tinha todas as características dos sem-teto, contudo não morava na rua. As orações de muitos anos estavam cuidando de mim. Eu tinha no coração um conceito espiritual de lar que não me podia ser roubado. Provinha de Deus. Em meio ao tumulto, eu estava em realidade morando no reino de Deus, o céu, a harmonia espiritual. Sentia-me em paz, apesar das mudanças de moradia.
Durante esse tempo todo eu orava diligentemente. Além disso, eu estudava e pesquisava a Bíblia em busca de novas perspectivas sobre casa, moradia, habitação. Juntamente com essa pesquisa, eu li Ciência e Saúde, da Sra. Eddy, mais de uma vez. (A Sra. Eddy também encontrou-se muitas vezes literalmente na rua, no início de sua busca por um meio de tornar conhecida sua nova compreensão a respeito de Deus e do poder curativo da oração, que ela obtivera de sua recente descoberta da Ciência Cristã.)
Senti muitas vezes a presença divina. Além disso, a cada passo do caminho, conforme aumentava minha compreensão de que o lar é uma idéia espiritual que não pode ser separada do homem de Deus, as moradias que eu conseguia foram melhorando. Até que finalmente me estabeleci num lugar onde podia residir normalmente e em caráter estável.
Essa experiência proporcionou-me uma visão mais de acordo com o Cristo, a respeito daqueles que encontrava na viela. Percebi que a valiosa provisão de Deus, de um lar adequado para eles, já estava presente ali. Compreendi que eles não poderiam ser privados da percepação desse fato espiritual de seu ser, em conseqüência da química, da história, das circunstâncias ou de uma falsa identificação.
Minhas orações, as orações de todos nós, por aqueles que estão na rua, ainda são necessárias, todos os dias. Sei que a oração faz efeito, afirmando o amor sempre-presente de Deus por Seus filhos. Com gratidão observei algumas pessoas progredirem, conseguindo empregos e apartamentos modestos. Um casal, trabalhando em serviços humildes, juntou dinheiro suficiente para viajar para outro estado onde os aguardava um emprego com moradia e carro. Uma senhora descobriu que tinha talentos para conseguir o cargo de zeladora num condomínio, de forma que conseguiu emprego e moradia.
Será que esses sinais de progresso são fruto de mera coincidência? Não, porque tenho certeza de que muitos estão contribuindo e orando para que os desabrigados resolvam sua situação. Foram apenas minhas orações que trouxeram esses resultados? Não! É muito importante a oração cristã de cada um, oração que eleva aqueles a quem acolhemos em nossos pensamentos, para um senso melhor de sua identidade dada por Deus.
Unamo-nos e oremos diariamente pelo bem-estar de nossa comunidade. Nunca mais precisaremos aceitar que um filho de Deus esteja desabrigado.
Senhor, tu tens sido o nosso refúgio,
de geração em geração.
Antes que os montes nascessem e
se formassem a terra e o mundo,
de eternidade a eternidade, tu és Deus....
Pois mil anos, aos teus olhos,
são como o dia de ontem que se foi,
e como a vigília da noite....
Seja sobre nós a graça do Senhor nosso Deus;
confirma sobre nós as obras de nossas mãos,
sim, confirma a obra das nossas mãos.
Salmos 90:1, 2, 4, 17