Às Vezes, ocorrem eventos que provocam grande ressentimento. Na maioria dos casos, parece que esses eventos surgem em nossa vida sem a nossa anuência e, não raro, provocados por outro indivíduo ou grupo de indivíduos. Tais acontecimentos podem nos ter abalado muito, mudado nossa vida para pior, deixado em nós a impressão de não termos mais forças para recuperar-nos. Mas, será que é assim mesmo? O ressentimento pode ser curado. Mediante a oração, podemos olhar frontalmente através do ressentimento e desafiar as circunstâncias peculiares que parecem nos separar do amor de Deus.
Se houve alguém que teve motivo para justificar um ressentimento contra outros, esse alguém foi Cristo Jesus, preso à cruz, carregando o ódio que o mundo tinha contra a verdade que ele expressou com tanto amor. Ele havia andado por entre todo tipo de pessoas, amando-as, esforçando-se por ajudálas a elevar o senso que tinham sobre Deus e o homem, perdoando pecados e curando doença e morte. Esse foi, verdadeiramente o melhor indivíduo que a humanidade veria sobre a terra e ele, com certeza, não mereceu aquilo que lhe fizeram. Mas, teria Jesus se entregado ao ressentimento? Não. Ele perdoou e orou para aqueles que o estavam perseguindo, até mesmo no exato momento em que assim procediam. Ele iria provar a eficácia dessa oração, elevando-se acima do senso de morte e destruição, lançado sobre ele pelo mundo. Como foi que Jesus conseguiu resistir à tentação de ter ressentimento? Qual foi a base de sua prova do poder do amor espiritual?
A Ciência Cristã nos ajuda a achar as respostas, extraindo a inspiração da Bíblia, que nos revela a Deus como Espírito, não como um ser corpóreo. Ele é todo bom, sempre ativo e onipotente. Em Atos, lemos o que Paulo disse, referindo-se a Deus: “Nele vivemos, e nos movemos, e existimos.” Atos 17:28. NEle. Não há nada além. Se Deus é Espírito e o homem é criado à Sua imagem e semelhança, o homem é um ser espiritual, não material. E, se Deus é tudo, é Espírito, não pode haver duas verdades, uma espiritual e a outra material. O fato é que o Espírito, Deus, é Tudo-em-tudo; Sua criação é a única realidade. É um falso conceito sobre o homem de Deus (e qual outro homem há?) o que nos leva a crer que o homem é um ser material, com limitações, falhas, crueldades e incapacidades. Ao desviar o olhar daquele falso senso para a verdadeira natureza de Deus e Sua criação (e o que mais pode haver?), começamos a perceber que jamais existe um indivíduo ou poder capaz de nos causar dano.
Qual o bem que esse discernimento espiritual nos proporciona? Bem, para começar, ele fornece os meios para curar o senso escuro e aleijado do ressentimento.
Durante muitos anos, fiquei nutrindo ressentimento para com um indivíduo que eu julgava me havia magoado através de seus atos. Eu estava muito indignada com ele e persisti em continuar num estado deplorável, justificando-o a cada oportunidade, catalogando novas e adicionais ofensas ou revisando as antigas. Nunca me ocorreu pensar que, assim agindo, eu estava me pondo vendas nos olhos, não percebendo a verdade espiritual. Em certo momento, durante essa época, observei mais criteriosamente este trecho que se encontra no Glossário do livro-texto da Ciência Cristã, Ciência e Saúde, da Sra. Eddy: “Céu. Harmonia; o reino do Espírito; governo pelo princípio divino; espiritualidade; felicidade; a atmosfera da Alma.” Ciência e Saúde, p. 587.
Reconciliar meu estado atual de pensamento com a harmonia e felicidade era-me praticamente impossível! Pergunteime se eu estivera reconhecendo o fato de que “o reino do Espírito” incluía a mim e a todos os indivíduos na atmosfera do Espírito, da Alma. É claro que eu não tinha feito isso. Então, ali mesmo, naquele momento, ocorreu-me que eu tinha trabalho a fazer.
Ao orar sobre a situação, percebi que eu estava lidando com uma mentira a respeito de Deus e Sua criação, atando-a a outro indivíduo e dando-lhe o poder de me abalar. Eu havia alcançado um ponto importante. Sabia que poderia separar a mentira sobre o homem de Deus, já que só existe uma única criação, e o homem, a expressão perfeita e harmoniosa de Deus, o divino Princípio, é governado por esse Princípio. Onde, nessa criação, poderia ser encaixado um poder que venha desafiar um indivíduo e magoar um outro? Em nenhum lugar. É uma falsa pretensão, o nada.
Se isso era o nada, o que me estava amedrontando? Será que expressar Amor poderia me prejudicar? A Bíblia ensina: “Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele. Nisto é em nós aperfeiçoado o amor, para que, no Dia do Juízo, mantenhamos confiança; pois, segundo ele é, também nós somos neste mundo. No amor não existe medo; antes, o perfeito amor lança fora o medo.” 1 João 4:16-18.
Então, uma vez desvendados os meus olhos, pude enxergar a total falsidade da crença de que eu havia sido privada de algum bem por outro indivíduo. E que peso foi tirado de meus ombros! Percebi que tanto esse indivíduo como eu sempre fôramos governados e regidos por Deus em perfeita paz, nunca em desarmonia. Na “atmosfera da Alma” não existem falsos juízos flutuando à deriva, atormentando ora este indivíduo, ora aquele outro, provocando destruição e interrompendo a harmonia divina.
Descobri que eu podia amar esse indivíduo porque ele era, em realidade, uma expressão de Deus, assim como eu. Desde então, constatei que pensar com afeto a respeito daquele indivíduo, falar-lhe cordialmente, trabalhar prazerosamente com ele, vinha-me com naturalidade e que ele correspondia com benevolência à mudança de meu pensamento com relação a ele.
Assim, o que é que estamos ressentindo? Se Deus é Tudo, e tudo é governado pelo Princípio divino, a mentira de que alguém possa nos magoar, nos macular, ou nos amedrontar e criar em nós ressentimentos, não tem respaldo na totalidade de Deus. Se acolhemos um ressentimento, estamos dando a ele um abrigo não autorizado, porque Deus é Amor e o homem é a expressão mesma daquele Amor.
O ressentimento não só vocifera mentiras contra nossos irmãos, mas também impede nosso próprio progresso espiritual. Se Jesus tivesse cedido à tentação de nutrir ressentimento contra aqueles que o crucificaram e traíram, ele teria tido sua atenção desviada da gloriosa demonstração da Vida sobre a morte. Estaremos nós permitindo que nos distraiam da Vida e do Amor eternos?
...sede vós perfeitos
como perfeito
é o vosso Pai celeste.
Mateus 5:48
