Cresci em um bairro onde quase todos tínhamos a mesma cor de pele. Em realidade, eu nem sabia como pensar sobre pessoas de outras raças, mesmo quando cheguei ao curso secundário, porque tivera muito pouco contato com elas.
Praticamente, fui "apresentado" a outra raça na saída de um jogo de basquete, em um bairro distante, depois de uma partida amistosa. Fui atacado e surrado por uma gangue, cujos membros eram de uma raça diferente da minha. Esse incidente deixou em mim uma opinião bem definida sobre pessoas de outra cor e, lamentavelmente, ela incluía um ódio profundo. A lembrança de ser esmurrado, chutado, apedrejado e escorraçado com bastões de beisebol, só pela cor de minha pele, era difícil de esquecer.
Tive outra experiência muito diferente alguns meses mais tarde. As discussões constantes e tempestuosas com meus pais pioraram tanto que meu pai me disse que, ou eu parava, imediatamente, de ser tão desrespeitoso, ou eu saía de casa. Saí, mas logo senti a realidade de não ter para onde ir. Os amigos da vizinhança, pessoas de minha própria raça, foram muito solidários comigo, mas nenhum me ofereceu abrigo.
Inesperadamente, naquele dia, conversei com um rapaz de uma raça diferente da minha, que eu conhecera havia pouco tempo, num jogo de basquete. Ele morava com os avós perto do centro de nossa grande cidade, no meio-oeste dos Estados Unidos, no sótão apertado de uma pequena casa. Quando eu lhe contei o que tinha acontecido em casa, ele não falou de solidariedade. Imediatamente disse: "Você pode vir morar conosco enquanto for necessário." Muito grato, aceitei a oferta. Foi breve o tempo em que morei com meu amigo, mas eu estava no meio de uma comunidade onde quase ninguém era da minha cor, e todos me trataram maravilhosamente bem. Aliás, foram os sábios conselhos da avó de meu amigo que me valeram muito para a reconciliação com meus pais e minha volta para casa.
Havia muitas coisas em que pensar, durante essa época, mas comecei a tentar resolver algumas dificuldades em minha vida. Eu havia ficado com uma dúvida crucial em relação à atitude para com outras raças: qual era a verdade legítima sobre as pessoas de cor diferente? Eu ficara com duas impressões conflitantes: ou (1) eles eram indignos de confiança, como aqueles que me esmurraram e bateram; ou (2) eram maravilhosos, como o amigo que me levara para sua casa.
Havia uma terceira perspectiva que eu então desconhecia. O que me ajudou a descobrir essa perspectiva diferente foi a fato de, nesse período, ter começado a freqüentar os cultos dominicais e as reuniões de quartas-feiras da igreja da Ciência Cristã do meu bairro. Não me lembro de nenhum momento em particular, mas recordo a sensação geral que eu tinha, ao ir lá a cada semana e ouvir. As leituras bíblicas das quartas-feiras, muitas vezes, pareciam incluir muita coisa sobre o amor incondicional de Deus por todos nós e sobre a necessidade de amor e perdão mútuos. Ressaltavam como Deus é o verdadeiro Pai de todos e quanto Ele nos protege. E que o importante é como agimos e o que pensamos, não a cor de nossa pele ou qualquer outra característica física, porque Deus nos conhece somente como Sua semelhança totalmente espiritual, como Seus filhos obedientes e amados.
Além disso, havia um livro chamado Ciência e Saúde, escrito pela Sra. Eddy. Eu nunca havia ouvido nada, em toda a minha vida, como a mensagem de Ciência e Saúde! Esse livro explicava com tanta lógica que não havia nenhum problema demasiado grande para Deus curar; que Ele havia feito somente o que é bom, como a Bíblia diz; e que os pensamentos e atos detestáveis, doentios e errados, não podiam, em realidade, vitimar-nos ou ferir-nos, porque não estavam radicados em Deus. Em verdade, não podiam ter poder algum.
Eu ficava pensando como alguém podia mesmo ousar esperar que algo tão bom fosse realmente verdade! O que mais me entusiasmava, na mensagem de Ciência e Saúde, era a promessa de que se eu realmente aceitasse em meu coração o governo supremo de Deus e Suas leis e se, verdadeiramente, procurasse viver como Cristo Jesus viveu, em mansidão, amor e abnegação, eu poderia, agora mesmo, hoje mesmo, curar e ser curado mediante a confiança em Deus, exclusivamente. E o amor de Deus mudaria para melhor todas as coisas que não fossem boas em minha vida. Por ser Deus o bem sempre presente, eu não precisava esperar para ser bom ou para ver o bem ao meu redor.
Eu estava atônito com essas promessas mas, embora eu duvidasse delas, eram expressas com uma convicção tal como a que eu sempre imaginara que Cristo Jesus devia ter tido, a respeito do poder de Deus. Comecei a querer saber como essas promessas poderiam afetar a mim e à minha vida.
Pouco a pouco, comecei a orar a Deus de maneira diferente. Em vez de suplicar a Ele, eu afirmava, com a convicção recentemente adquirida, que todos éramos filhos de Deus, inclusive meus pais e os membros da gangue que me haviam atacado. Não queria mais carregar esse medo e ódio no coração e sabia que eu não era obrigado a carregá-los porque, com certeza, não tinham sido postos ali por Deus. Li mais a Bíblia e realmente prestei mais atenção a coisas como a Oração do Senhor e os Dez Mandamentos. Também consegui um exemplar de Ciência e Saúde e memorizei uma declaração chamada "exposição científica do ser". Ela termina com estas duas sentenças: "O Espírito é Deus, e o homem é Sua imagem e semelhança. Por isso o homem não é material; ele é espiritual."Ciência e Saúde, p. 468. Para mim, essa idéia foi a resposta! Vi que não havia "nós" e "eles", e isso transcendeu os dois pontos de vista conflitantes com relação a meus sentimentos para com outras raças. A verdadeira perspectiva, a única lógica, era que o homem não é um mortal, pertencente a uma raça determinada, mas sim é espiritual e harmonioso, livre de toda limitação e conflito.
Ficou mais claro do que nunca, para mim, que Deus não criara grupos para brigarem entre si. Cada um de nós é, agora mesmo, uma expressão espiritual, ilimitada, inigualável, do próprio ser de Deus. Portanto, em cada pessoa com quem lidamos, independentemente de idade, cor, posição social, ou sexo, podemos reconhecer algo da natureza espiritual do homem, que consiste somente das próprias qualidades perfeitas de Deus, qualidades como alegria e paz. Quanto mais fizermos isso, menos aceitaremos as imagens falsas e estereotipadas e esse reconhecimento nos ajudará a vencer as limitações e o conflito. Veremos o homem como ele realmente é, o filho puro e perfeito de Deus.
Aqui vai um lembrete, com honestidade: é preciso muita coragem, devoção e oração para manter essa visão pura do homem, especialmente quando a verdade de nossa natureza espiritual não parece evidente de imediato. Ainda assim, podemos ter certeza de que está presente. O empenho para discerni-la vale a pena, e muito, pois ajudará a curar e a transformar-nos. Leva-nos para mais perto de Deus, o Pai de todos nós.
Essa visão espiritual sobre o homem curou-me dos ressentimentos em relação àquela gangue e curou-me tão completamente que, há muitos anos, meu trabalho consiste em ajudar pessoas de todas as raças a aprender como conviver melhor umas com as outras. Agora, quando alguém me pergunta: "Onde começamos a solucionar nossos problemas raciais?" eu sempre respondo: "Com Deus". Se o que pensas intimamente a respeito de outras raças não é o que gostarias, é em Deus que encontrarás o auxílio e a cura também.
 
    
