No Brasil e em diversos países as crianças e jovens voltam às aulas no mês de agosto. Para muitos é um sacrifício levantar cedo, cumprir horários, fazer tarefas, enfim, enfrentar toda a rotina necessária durante o ano letivo. Sempre ouço desejos de que as férias continuem.
Eu, entretanto, já tive uma experiência muito diferente dessa que acabei de relatar. Nas férias, sempre esperava ansiosamente o retorno às aulas, para encontrar minhas amigas, meus professores e voltar a um ritmo dirigido de estudos. Na minha infância, por morar em uma avenida movimentada, longe da escola e de outras crianças, passava a maior parte das férias sozinha, sem saber muito bem o que fazer (como leitura ou divertimento) por não receber instrução adequada para isso.
Foi na escola, com o incentivo de professoras ternas e atenciosas, que se despertou em mim o interesse pelos estudos. Vi então que essa seria a forma de eu me tornar "alguém" na vida, ou seja, uma pessoa que poderia fazer algo de bom ao próximo.
Na adolescência, a um convite amoroso de minha professora de piano, comecei a frequentar outra escola: A Escola Dominical da Ciência Cristã. Ali também fui muito bem acolhida e até hoje, vários anos depois, lembro-me de diversos conceitos aprendidos na época, que me ajudaram e ainda ajudam. Quando jovem, fui morar no exterior, e como não falava o idioma do país, um membro da igreja, cuja língua materna era parecida com a minha, dava-me aulas. Recordo-me da satisfação que era para essa senhora ensinar-me simultaneamente o apreço à Bíblia e ao seu idioma.
Só tenho boas recordações dessas aulas e o melhor: na Escola Dominical, não havia férias. Apesar de as igrejas que frequentei não terem muitos jovens de minha idade, foi durante as aulas que aprendi a me conhecer melhor, a compreender minha verdadeira identidade espiritual, a saber como enfrentar os problemas que às vezes parecem "comuns" na adolescência e na família. Certamente, as verdades que aprendi na Escola Dominical ajudaram-me a enfrentar com solidez espiritual as diversas etapas da minha juventude.
Justamente por todos os benefícios recebidos como aluna, prontifiquei-me a ser professora da Escola Dominical. Na primeira reunião de professores, durante a designação das classes, perguntaram-me se eu poderia ser professora dos pequeninos. Sabia que não deveria recusar, apesar de ter tido vontade de não aceitar. Afinal, Deus dá a cada um de nós talentos que devem ser desenvolvidos. A Sra. Eddy diz: "Deus não está separado da sabedoria que Ele confere. Precisamos desenvolver os talentos que Ele nos dá." Ciência e Saúde, p. 6. Pensando assim, concordei. Mas não sabia o que fazer. Com crianças de 2 a 4 anos, eu só pensava em brincar e não em ensinar, principalmente tratando-se de conceitos e exemplos bíblicos! Eu também pensava nos professores que haviam dado aulas àquela classe, pois uma professora anterior comentava que era muito gostoso, outro professor fazia gestos, representava durante a aula, e eu me sentia incapaz de fazer algo semelhante.
Tive de vencer pensamentos que me incomodavam, como a comparação, a sensação de inferioridade e incapacidade. Na Bíblia, encontramos alguns versículos que destroem esses falsos aspectos do filho de Deus: "Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, a imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou" "Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom." Gênesis 1:27, 31. Em seu livro Ciência e Saúde com a chave das Escrituras, a Sra. Eddy explica essa passagem assim: "Em uma das línguas antigas a palavra que significa homem tembém é usada para significar mente... A qualidade vivificante da Mente é o Espírito, não a matéria. O homem ideal corresponde à criação, à inteligência e à Verdade. A mulher ideal corresponde à Vida e ao Amor." Ciência e Saúde, pp. 516–517. O que mais poderia eu exigir de mim, senão expressar a Vida e o Amor, que são palavras sinônimas de Deus? Deus não poderia amar mais a outros professores do que a mim nem poderia dar-lhes mais capacidade, porque depois da criação Ele viu que era "tudo muito bom". A Sra. Eddy explica: "A Divindade estava satisfeita com Sua obra." Ibidem, p. 519. Imbuída dessa inspiração e com muito amor, comecei a ter mais idéias para minhas aulas, a desfrutá-las junto com as crianças. Aprendi também a amar e a apreciar cada aluno, e hoje, como Superintendente da mesma Escola Dominical que comecei a freqüentar na adolescência, procuro descobrir em cada um, alunos e professores, as qualidades que expressam e admiro a diversidade dos talentos que Deus dá a Seus filhos.
Tento fazer de cada domingo como se fosse o primeiro dia de volta às aulas, com o mesmo frescor e alegria que sentia na infância. E com o coração cheio de amor, tenho a oportunidade de cumprimentar os muitos alunos, crianças e jovens, que hoje enchem nossa Escola Dominical.
 
    
