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A Christian Science na Rússia

A primeira pioneira

Da edição de novembro de 1998 dO Arauto da Ciência Cristã


Lillie Wallich não poderia ter escolhido uma época mais oportuna do que 1907, para introduzir a Christian Science na Rússia.

Saída do requinte da Inglaterra daquele tempo, Lillie Wallich, praticista da Christian Science, foi ter a um país agitado por problemas políticos e sociais que desembocariam, por fim, na destituição do czar e na instauração da era comunista.

Embora estivesse acompanhando o marido, que fora transferido para São Petersburgo por motivos profissionais, a Sra. Wallich tivera de pedir dinheiro emprestado para pagar sua passagem de trem. E não tinha dinheiro para comprar botas e um capote que lhe permitissem enfrentar o frio da Rússia, quando de sua chegada, em janeiro. Todavia, ela estava resolvida a levar avante seu trabalho naquele país: espalhar a mensagem sanadora da Christian Science. E conseguiu.

Algumas semanas após sua chegada, a Sra. Wallich estava curando pessoas de tuberculose, convulsões, e problemas de negócios. Esse trabalho de cura atraiu um grupo dedicado de estudantes. Alguns, a princípio, estavam tão inseguros e temerosos, pela total novidade da Christian Science, que só assistiam aos cultos da soleira da porta do apartamento dela. Entre eles havia pessoas que acabariam presas nos gulags, por sua fidelidade à nova religião.

Mesmo enquanto se alongavam as sombras do bolchevismo, as sementes de um movimento espiritual sanador, lançadas pela Sra. Wallich, cresceram durante os vinte e cinco anos seguintes. Apenas cinco dias depois da Revolução de 1917, os membros do grupo da Christian Science assinaram uma solicitação endereçada À Igreja Mãe, para formar a primeira Sociedade da Christian Science na Rússia. Quando os membros estrangeiros foram forçados a sair do país, devido à crescente opressão do regime soviético, e a Sociedade interrompeu temporariamente suas atividades, os membros russos perseveraram, se reorganizaram e, em 1924, foram novamente reconhecidos como Sociedade da Christian Science, pelA Igreja Mãe e pelas autoridades soviéticas.

Em suas reminiscências, "O chamado para eu ir à Rússia", das quais publicamos a seguir alguns trechos, a Sra. Wallich demonstra ter o espírito pioneiro, ao mesmo tempo inocente e pujante, que sustentou seu trabalho na década que passou na Rússia.

Embora ela nunca tenha voltado a São Petersburgo, seu trabalho de cura, ali, iria servir de esteio para muitos, durante a opressão soviética que se seguiu.

Em 1906, meu marido foi contratado para trabalhar na Rússia. Nós dois sentimos que era um chamado para levar a Christian Science para aquele país.

 O chamado para eu ir à Rússia

Chegando em São Petersburgo, fomos para o hotel. Logo no primeiro domingo, eu disse a meu marido: “Vamos fazer um culto e ler a Lição juntos.” Eu fui a Primeira Leitora, ele foi o Segundo Leitor e realizamos um culto completo.

Ao andar nas ruas, eu declarava as verdades da Christian Science em voz alta. Meu marido perguntou: “Você não tem medo?” Minha resposta foi: “Eu não! Recebi um chamado para vir aqui e eu vim realizar esse trabalho.”

O primeiro caso de cura

Pouco depois de chegarmos, pedi à dona da casa aonde nos mudáramos que me recomendasse uma costureira. Ela disse que a nora dela costurava, mas tinha acabado de sair do hospital, onde sofrera uma cirurgia e ainda estava muito fraca. Assim mesmo, a nora concordou em fazer o trabalho para mim, enquanto eu esperava. Conversava com ela e, ao mesmo tempo, pensava nas verdades da Christian Science. Falei-lhe da Bíblia. Ela exclamou: “Nunca ouvi falar da Bíblia dessa maneira, exceto pela minha mãe.”

À medida que conversávamos, ela se soltava mais. Convidei-a a vir ao meu quarto. Ela aceitou prontamente e eu pude falar-lhe da cura pela Christian Science. Ela ouviu com muito interesse e ao sair, disse: “Creio que eu vou ser curada.” Ela passou a freqüentar os cultos com regularidade. Não voltou para o hospital como era esperado; em vez disso, convidou-me para ir a um casamento com ela. Na festa ela até dançou.

Realizávamos cultos regularmente e a família dessa amiga ouvia da porta, mas não entrava. Eles perguntaram se poderiam convidar outros e, com isso, duas crianças foram curadas.

Nessa época, pediram-me para visitar a Sra. Papmehl, uma jovem senhora que estava no último estágio de tuberculose. Para isso tive de ir até Narva, distante cinco horas de trem.

Ao chegar à casa deles, levaram-me diretamente para o quarto da paciente. A cura foi se processando à vista d'olhos. No fim da segunda semana, ela deu uma festa. Para a família, parecia um milagre.

No nosso novo apartamento, a filha da dona da casa sofria de convulsões. Ela foi curada pelo tratamento da Christian Science.

Fazíamos as refeições junto com outros hóspedes e uma senhora queixou-se de nevralgia. Falei-lhe de Deus Pai: “Ele está cuidando da senhora. Ele nos mostrará o caminho.” De repente, ela me chamou do outro lado da mesa e disse em voz alta: “Eu já estou bem.” Um homem que estava presente foi muito hostil e, virando-se para mim, disse: “A senhora deveria ser mandada para a Sibéria.”

Durante todo esse tempo, realizávamos cultos normalmente, e reuníamos muitos adultos e crianças.

Formação da igreja

A mulher cuja filha fora curada de convulsões, ficou assustada e falou da “cura” de forma maldosa com um certo livreiro. Em minha procura por Bíblias, fiquei conhecendo esse livreiro.

Ele me disse que havia pessoas na cidade que estavam ensinando a Christian Science, e ameaçou de obrigá-las a parar com isso, se conseguisse encontrá-las. Eu respondi: “Essas pessoas estão fazendo o bem e levando outros a Cristo, a Verdade. O senhor impediria isso?” Ele ficou desarmado com essas palavras. Então declarei-lhe que era eu a pessoa que estava fazendo aquele trabalho.

Logo depois disso, a dona da casa pediu-nos o apartamento, e nós encontramos um lugar muito melhor.

Tudo estava indo bem, quando um dia meu marido recebeu a visita de um policial. Ele vinha nos advertir. Disse, respeitosamente, que a lei em São Petersburgo não permitia o ajuntamento de mais de nove pessoas, sem a devida autorização, fosse qual fosse a finalidade. Vinha tanta gente aos nossos cultos, que não tínhamos lugar para todos sentarem.

Meu marido e eu decidimos procurar o Sacro Sínodo, ou seja, as autoridades religiosas, e, destemidamente, solicitar a autorização para realizarmos cultos. Tivemos de mandar traduzir para o russo os Artigos de Fé (do Manual de A Igreja Mãe), pois o Sínodo exigiu que apresentássemos nosso credo.

Naqueles dias, havia um detetive em cada esquina e se suspeitava dos movimentos de qualquer um, por isso, seria fatal tentar iludir as autoridades. Sabíamos que devíamos simplesmente ser corajosos. Conseguimos finalmente diversas entrevistas. Os Artigos de Fé foram aprovados, pois o Sínodo não encontrou neles nada que fosse questionável, e finalmente conseguimos a permissão para realizar cultos.

A seguir, tivemos de encontrar um salão adequado. Um amigo nos indicou uma escola que pertencia à Igreja Sueca.

Meu marido e eu fomos falar com o pastor dessa Igreja, Dr. Kajanus. Ele nos interrogou minuciosamente sobre a Christian Science e seus ensinamentos. Quando se convenceu de nossa sinceridade, ele disse: “Só posso dizer uma coisa: 'Quem não é contra nós, é por nós.' ” E permitiu que usássemos, todos os domingos, das 11 às 12h, o salão de sua Escola Dominical, que comportava 200 pessoas, aproximadamente.

Iniciamos os cultos públicos em 1909, e eles continuaram regularmente até 1928, quando o regime soviético fechou a Sociedade. As reuniões de testemunhos começaram em 1910. Meu marido e eu atuamos como Leitores até 1917, e recebíamos muitos visitantes, do mundo todo.

Tínhamos pouca literatura. Quando deixamos Londres, alguns membros da igreja nos doaram obras da Sra. Eddy, as quais, juntamente com os livros de meu marido e os meus, formavam o núcleo de nosso estoque. Eu tinha a assinatura do The Christian Science Journal, do Sentinel, e do Arauto em alemão. Quando saiu o The Christian Science Monitor, eu assinei desde o primeiro número.

Desde o início, algumas pessoas que eu ajudei pela Christian Science fizeram assinaturas do Arauto em alemão.

Levou uns dois anos até podermos iniciar uma Sala de Leitura. Eu persisti, e nós falamos com o Dr. Kajanus. Havia uma sala no edifício da escola, que me parecia adequada para uma Sala de Leitura. Ele disse que era seu estúdio particular. Eu, porém, insisti e ele, pondo a mão no meu ombro, disse: “A senhora é corajosa.” Com isso, ele nos alugou a sala, duas horas por dia, das 16 às 18hs.

Em 1909, fui chamada a Moscou para ver um homem que se acidentara, numa fábrica. Ele havia caído e ferido o quadril. Foi curado em três dias. Mais tarde, esse homem disse que iria me denunciar à polícia por prática ilegal da medicina.

Algumas semanas depois, um policial me trouxe um papel e disse: “A senhora foi acusada de prática ilegal da medicina. Como é que a senhora cura?” Lembrei-me do que Jesus disse: “Por minha causa sereis levados à presença de governadores e de reis. .. naquela hora, vos será concedido o que haveis de dizer” (Mateus 10:18, 19). Consegui esclarecer as coisas com ele. Com isso, a polícia ficou conhecendo nosso trabalho.

Em 1917, reorganizamos a Sociedade da Christian Science de São Petersburgo e, pela primeira vez, pude tirar umas férias. Recebi um chamado de uma cidade nas montanhas do Cáucaso, para ajudar os Cientistas Cristãos de lá, que estavam lendo a Lição Bíblica aos domingos. Ali, pediram-me para visitar um sanatório para tuberculosos e pude fazer alguma obra de cura. O sanatório foi bombardeado pelos bolcheviques enquanto eu estava lá.

A cura espiritual na era stalinista

Em 1918, enquanto um redemoinho de dolorosas mudanças varria a Rússia, arrastando-a rumo a uma era de setenta anos de Comunismo, outra revolução se processava no pensamento de uma jovem russa, Olga Alexandrovna Barteneva. Ela estava começando a estudar a Christian Science, que lhe seria uma rocha e um esteio para enfrentar o ateísmo estatal e o terror stalinista.

A dedicação de Barteneva a essa religião tornar-se-ia tão forte, que ela não conseguiria esconder sua fé na mensagem da cura espiritual, mesmo depois de ser presa e sentenciada ao campo de concentração, o gulag. Ali, sem a Bíblia e sem Ciência e Saúde, ela passaria uma década, sem nada para sustê-la em meio ao frio, à fome e ao medo, a não ser o pensamento de Deus e suas próprias orações.

Acredita-se que Barteneva tenha sido a única Cientista Cristã, entre os que foram presos por “espionagem” no início dos anos 30, a sobreviver no gulag soviético. O que mais impressionou aqueles que a conheceram antes de ela falecer, em 1974, foi o fato de que ela não guardava nenhum rancor por tudo o que havia passado.

“É preciso um senso de amor tão profundo, para se libertar de uma injustiça como essa, que sua cura extraordinária me impressiona até agora”, diz Morag Frager, a esposa do falecido concertista americano, Malcolm Frager. Esse casal de Cientistas Cristãos encontrou-se secretamente com Barteneva, por ocasião de sua turnê de concertos na União Soviética, em 1963.

Fragmentos da história de Barteneva, constantes dos arquivos d'A Igreja Mãe, ou colhidos de documentos recentemente obtidos dos arquivos da KGB, a polícia política da época, bem como de conversas com aqueles que a conheceram, trazem detalhes interessantes de sua odisséia espiritual.

Barteneva foi uma das dez pessoas que fundaram novamente a Sociedade da Christian Science de São Petersburgo, no início dos anos 20, após a anterior ter sido extinta quando seus membros estrangeiros foram forçados a deixar o país, em virtude das turbulências causadas pela Revolução Bolchevique.

A máquina de repressão do governo soviético ainda não estava completamente aparelhada, por isso, mesmo em um clima de crescente opressão religiosa, o grupo de Cientistas Cristãos conseguiu se registrar junto às autoridades, em 1921, e manter legalmente cultos públicos até 1928. Nesse período, apesar das dificuldades para obter o passaporte, Barteneva conseguiu ir a Londres para ter instrução em Classe Primária da Christian Science.

Barteneva, enfermeira diplomada e professora de línguas, exerceu diversos cargos na Sociedade, através dos anos: secretária, membro da diretoria, superintendente da Escola Dominical, e Leitora. As fichas da polícia secreta, relativas aos Cientistas Cristãos, dizem que ela era membro da antiga “nobreza”, filha de um general do exército czarista. Por isso, ela havia recebido uma educação e uma instrução (falava quatro idiomas) que lhe proporcionavam aquela confiança necessária para forçar e esticar os limites da burocracia do novo estado soviético, em benefício dos direitos do grupo da Christian Science.

Os Cientistas Cristãos obedeciam conscienciosamente às exigências das autoridades de notificar a realização de cada culto e todas as decisões tomadas nas reuniões de diretoria. Barteneva negociou com os burocratas a permissão para receber, através da alfândega russa, um exemplar de cada periódico da Christian Science. Com isso, a Sociedade forneceu às autoridades documentos, mantidos na KGB no “Arquivo Secreto No 384”, que foram usados posteriormente para acusar de “espionagem” tanto Barteneva como os outros membros, por serem filiados a uma religião que tinha suas bases no exterior.

A Sociedade foi “dissolvida” oficialmente em março de 1928, porque não podia demonstrar que tinha o mínimo exigido de 50 membros registrados, para ser considerado um grupo religioso legalmente constituído, embora eles tivessem tal freqüência aos cultos. A Sociedade, porém, apelou da decisão e continuou a se reunir, apesar das obstruções legais e da detenção de três membros por três meses.

Em novembro de 1928, as autoridades confiscaram o apartamento onde a Sociedade realizava cultos. Barteneva imediatamente exigiu uma explicação para o confisco. Documentos de seu próprio punho, datados de fevereiro de 1929, mostram que o intrépido grupo, obedecendo à lei, notificava as autoridades de que continuava a se reunir e solicitaria novamente permissão para funcionar legalmente.

Contudo, o grupo foi forçado a se esconder e Barteneva foi enviada pelas autoridades para trabalhar em Moscou. Ali, em 1930, ela foi presa, depois de realizar um culto dominical com um punhado de Cientistas Cristãos. Foi sentenciada a dez anos no campo de concentração de Ukhta, no extremo norte da Rússia.

Depois de ter sido liberada, foi exilada para Bashkiria, na região dos Montes Urais, onde trabalhou como governanta na casa de um ministro do governo regional. Ali, através de uma cura, trouxe para a Christian Science a esposa do ministro.

Como exilada, não tinha permissão para viajar. Barteneva, porém, muitas vezes ia secretamente a Moscou, onde conseguia literatura da Christian Science contrabandeada. Numa dessas viagens, em 1943, conheceu Tatyana Sokolova, uma editora de música que sofria de tuberculose.

Sokolova, que ficou impressionada pela atitude amorosa e destemida de Barteneva, foi mais tarde curada da tuberculose, através da Christian Science. Numa entrevista realizada em julho de 1997, da qual publicamos alguns trechos, o rosto de Sokolova se abria num sorriso, misto de humor e grato apreço, ao contar as visitas secretas de Barteneva. Eram ocasiões de grande energia espiritual, nas quais as conversas sobre teologia perigavam explodir em debates, ainda que a meia voz. Eram coisas perigosas na era stalinista, em que as paredes tinham ouvidos e o ateísmo era a religião do estado. Sokolova e o punhado de estudantes da Christian Science que Barteneva reunia, estudavam as Lições Bíblicas da década de 20, traduziam-nas para o russo e as copiavam à mão.

Em 1956, Barteneva foi “reabilitada”. Recebeu permissão para voltar a Leningrado, onde lhe designaram um quarto em um apartamento onde moravam mais oito famílias.

Frager conta que Barteneva, depois disso, buscou restabelecer contato com a comunidade Cientista Cristã do passado. Foi até o endereço onde, antes da revolução, funcionava a Sociedade da Christian Science de Tallinn, na Estônia. O zelador do prédio disse-lhe que uma Cientista Cristã de Vilnius, na Lituânia, também estivera lá com a mesma intenção e deixara seu endereço. O contato de Vilnius, cidade mais próxima e mais aberta ao ocidente, ajudou Barteneva a receber mais literatura da Christian Science.

Barteneva ia com freqüência a Moscou, à procura de outros interessados na Christian Science, e ali se encontrava com pessoas como Sokolova. Ia muitas vezes ao apartamento de Lina Prokofieva, esposa do falecido compositor Sergei Prokofiev. A Sra. Prokofieva era estudante da Christian Science e aproveitava sua posição privilegiada para intermediar a distribuição de literatura da Christian Science contrabandeada.

Aqueles que conheceram Barteneva em seus últimos anos, ficavam impressionados por seu notável espírito de liberdade. Apesar de sua vista falhar e não obstante os entraves à prática da religião, ela viajava sozinha, literalmente atravessando o país até Moscou, numa missão da qual não se desviava.

Sokolova falou do amor profundo que Barteneva tinha pela Christian Science. Em seu apartamento atravancado, num prédio de cimento da era soviética, onde há anos estuda a Christian Science com seus amigos, ela declarou com firmeza: “Quero que o mundo conheça Olga Barteneva.”

“Olga Alexandrova não tinha medo de absolutamente nada”

: Olga Alexandrovna Barteneva era membro, e Primeira Leitora, da Sociedade da Christian Science de São Petersburgo. A igreja existia ali antes da Revolução Bolchevique. Os cultos eram realizados em inglês. No final da década de 1920, a igreja foi destruída e todos os seus membros foram perseguidos. Todos, exceto Olga, pereceram no campo de concentração, no gulag.

Nome omitido a pedido do autor: Olga ia visitá-los no campo de concentração?

T S: Ela também estava presa no gulag, junto com eles.

Nome omitido a pedido do autor: Como foi que a senhora conheceu a Christian Science?

T S: Foi através de uma amiga chegada, em 1943. Eu estava morrendo de tuberculose. Estudávamos junto, no conservatório, e ela me falou de Ciência e Saúde. Embora minha mãe fosse médica, minha amiga me deu alguma literatura para ler e me falou dessa religião. Por fim, minha mãe também veio para a Christian Science. Eu fui curada e, depois disso, a família toda começou a estudar essa Ciência.

Nome omitido a pedido do autor: O que é que a senhora pode nos contar sobre Olga Barteneva?

T S: Lembro-me de algumas das histórias da Olga. Apesar de que ela não gostava muito de falar de si mesma. Pertencia a uma família russa tradicional. Eles moravam não muito longe do Palácio de Inverno, em São Petersburgo.

Olga foi muito mimada quando criança. Talvez isso tenha influído em seu caráter, não se dobrava perante a autoridade. Ela não se deixou intimidar pelos horrores do campo de concentração.

Era muito culta. Conhecia muito bem o inglês, o francês e o alemão e falava fluentemente essa três línguas. Era muito versada em literatura, adorava música e lia bastante, interessando-se por tudo o que lhe aparecesse. Naqueles tempos terríveis, ela escutava às escondidas as transmissões radiofônicas de outros países e sabia tudo o que se passava no mundo.

No verão de 1917, ela participou da marcha contra os bolcheviques. Na década de 20, morou na Inglaterra dois anos.

Nome omitido a pedido do autor: Onde?

T S: Em Londres, provavelmente. Ela adorava sua professara, que lhe dera um curso para ser praticista da Christian Science.

Nome omitido a pedido do autor: Ela deixou cartas ou escritos sobre esse curso, depois de sua prisão?

T S: Não, foi tudo destruído.

Nome omitido a pedido do autor: Quando ela foi presa, esses papéis foram usados contra ela?

T S: Sem dúvida. Ela estivera na Inglaterra, que para eles significava que ela era espiã.

Nome omitido a pedido do autor: Ela lhe contou o que acontecia durante os interrogatórios?

T S: Olga Alexandrovna evitava falar do gulag. Disse-me que ali era perigoso, e que ela devia se apresentar perante aquele terrível inspetor, um assassino. Ela só pensava que Deus estava naquele lugar. Podem imaginar o quanto isso a ajudou.

Nome omitido a pedido do autor: Ela lhe disse isso?

T S: Sim. Ela falava dos cachorros. Dizia: “Eles estavam sempre por perto; quando os guardas nos levavam de um lugar para outro, havia cachorros ao nosso lado. Se fizéssemos algum movimento, eles nos mordiam.” Contava que os prisioneiros eram enviados para a taiga (pântanos da Sibéria) para passar o dia inteiro, e ali eles colhiam cerejas, cogumelos, castanhas. Para comer lhes davam triska, que é um peixe ruim, horrível de se comer. Mas ela se acostumou e até gostava.

Nome omitido a pedido do autor: Ela se declarava Cientista Cristã, no campo de prisioneiros?

T S: Sim. Não tinha literatura, mas não escondia suas convicções.

Nome omitido a pedido do autor: Como é que ela progredia na Christian Science, sem ter nada para ler?

T S: Isso eu não sei. Ela era muito inteligente. Havia nela uma grandeza interior, uma certa nobreza.

Depois de sair do campo de concentração, Olga encontrou emprego como professora de inglês em um instituto em Chernikovsk, uma cidade dos montes Urais. Também dava aulas particulares aos filhos de um político local. Ela trouxe para a Christian Science a mãe das crianças, que se tornou Cientista Cristã sincera, embora escondesse do marido esse fato.

Nome omitido a pedido do autor: Ainda assim, Olga não tinha literatura ali em Chernikovsk?

T S: Não, só mais tarde.

Com o tempo, ela conseguiu viajar para Moscou e ali recebeu um poco de material de leitura. Em 1939, recebeu alguns exemplares do The Christian Science Journal, uma Bíblia, e antigos Livretes Trimestrais da Christian Science, dos anos 20. Eu ainda tenho alguns. Ela vinha a Moscou muito raramente. Passava cada noite em um lugar diferente e ia embora logo, para que não conseguissem apanhá-la.

Nome omitido a pedido do autor: As pessoas tinham medo de visitas ilegais, desse tipo?

T S: Sem dúvida, tínhamos medo. É por isso que Olga passava só uma noite em cada lugar. Os vizinhos eram como agentes secretos.

Nome omitido a pedido do autor: Como foi que a senhora conheceu Olga?

T S: Foi através de minha amiga Tanya.

Nome omitido a pedido do autor: Isso foi na época em que a senhora foi curada de tuberculose?

T S: Sim. Tanya me curou. Ela me disse que Deus está em todo lugar. Foi como uma luz para mim. Ela me disse que Deus está à minha volta e não pode fazer nada de mal. No começo da década de 50 a cura estava completa.

Nome omitido a pedido do autor: Em que idioma a senhora leu Ciência e Saúde?

T S: Por três anos estudei em inglês. Naquele tempo não havia Ciência e Saúde traduzido para o russo. Olga Alexandrovna, Tanya, e eu fazíamos uma tradução rápida. Era muito difícil.

Nome omitido a pedido do autor: Traduziram o livro todo?

T S: Quase todo. Traduzíamos os trechos das Lições Bíblicas. Escrevíamos a lição inteira e a passávamos para os outros.

CG: Quando tinham escritos da Christian Science, escondiam-nos debaixo da cama, ou em buracos na parede?

T S: Sim. Se viesse alguém nos visitar, mesmo um colega de trabalho, escondíamos a literatura. Só os amigos mais chegados e os parentes sabiam.

Nome omitido a pedido do autor: Os cultos eram realizados com essas lições traduzidas?

T S: Sim. Olga Alexandrovna era quem lia. Ela tinha uma voz macia, bonita. Lia também hinos, de antigos hinários. Olga Alexandrovna não tinha medo de absolutamente nada.

Ressurgimento das atividades da Christian Science na Rússia

Muito embora a constituição da antiga União Soviética garantisse liberdade de religião a seus cidadãos, na prática, quem não levasse a sério a regra não escrita de que o bom comunista tinha de ser ateu, corria risco de ser preso e ficar com a carreira truncada.

Com o falecimento de Leonid Brezhnev, contudo, uma nova atmosfera de pensamento iluminado começou a se espalhar pela sociedade russa. Em fins da década de 80, a política da Perestroika, ou seja, reestruturação, encetada por Mikhail Gorbachev, já estava abrindo caminho no campo político, social e religioso.

Foi mais ou menos nessa época que a Christian Science começou a reaparecer no panorama religioso de São Petersburgo. Desde longo tempo considerada a “janela para o ocidente”, essa cidade se tornou, mais uma vez, um campo de provas para gente independente, com coragem moral para trazer à baila a questão da liberdade social e religiosa. Depois de passar décadas considerando a religião como o “ópio das massas”, as pessoas voltaram a afluir para os templos da Igreja Ortodoxa Russa e até para as campanhas evangélicas patrocinadas por entidades estrangeiras.

Em meio a essa incipiente liberdade, três jovens estudantes de inglês em São Petersburgo receberam o livro Ciência e Saúde. Esses estudantes acabaram iniciando um novo capítulo da atividade da Christian Science naquela cidade, fazendo renascer a Sociedade que fora fechada pelas autoridades em 1928.

A partir daí, a Christian Science tem se desenvolvido na Rússia e em outras repúblicas ex-soviéticas. Atualmente, há Cientistas Cristãos realizando cultos em Moscou, Ukhta (nos Montes Urais), e Komsomolsk-Na-Amure. Outros grupos se reúnem em Riga, na Letônia, e em Kiev, na Ucrânia.

Além disso, uma praticista e professora da Christian Science, que fala russo, a Sra. Hildegard J. Arnesen, se estabeleceu em São Petersburgo. Anualmente, são dadas conferências da Christian Science em Moscou, Ukhta, Kiev e Riga, além de São Petersburgo.

Desafios atuais

No fim de 1997, foi aprovada uma nova lei, revogando muitas das liberdades outorgadas na Constituição Russa de 1993. Essa lei restringe a liberdade das religiões consideradas “estrangeiras”.

No momento, a Sociedade da Christian Science de São Petersburgo está pedindo a ratificação de seu registro junto ao Ministério da Justiça. Essa ratificação reconheceria a plena legalidade da Sociedade.

Enquanto isso, a contribuição importante que os Cientistas Cristãos estão fazendo à cidade de São Petersburgo está sendo reconhecida. Por exemplo, em fevereiro último, a Sra. Arnesen recebeu um prêmio especial, concedido pela Academia Universal de Ciência, Arte e Cultura. Essa Academia é uma organização de intelectuais que visa a promover a espiritualidade, bem como o entendimento entre a Ciência e a Religião.

O Presidente da Academia, o Sr. Dvoirin mencionou particularmente que o prêmio não era um tributo pessoal à Sra. Arnesen, mas sim o reconhecimento do seu trabalho e do “sistema que ela usa, nesse trabalho” — a Christian Science.


Relato de um membro fundador da Sociedade Christian Science de SãoPetersburgo, no Rússia.

Quando eu tinha quinze anos, comecei a aprender inglês num clube da cidade. Uns poucos anos depois, uma das professoras convidou nosso grupo a assistir a um filme em inglês, que falava de Jesus Cristo. Essa professora era uma Cientista Cristã russa, embora na época eu não tivesse a mínima idéia do que isso significava. Em outra oportunidade, ela nos convidou para assistir ao filme “O pequeno príncipe” em inglês, junto com outra Cientista Cristã amiga dela.

Foi nessa ocasião que ela nos falou sobre a Christian Science, e tudo o que essa Ciência havia feito por sua família. Fiquei sabendo que eles tinham algo em que se apoiar, que os ajudava a vencer qualquer desafio. Na hora de ir embora, ela nos deu exemplares doChristian Science Sentinel e doThe Christian Science Monitor.

Tendo estabelecido esse contato, outra amiga e eu fomos convidadas muitas vezes para ir à casa dela. Ela nos mostrou como estudar a Lição Bíblica, no Livrete Trimestral da Christian Science, anotando nas margens cada idéia nova que compreendíamos.

Depois, no fim de 1990, nós duas fomos convidadas para o Encontro Internacional de Jovens, que se realizou em Hamburgo, na Alemanha. (Essa reunião foi patrocinada pel'A Igreja Mãe, de Boston.) Um rapaz que nós não conhecíamos, também foi convidado. Assim teve início o núcleo da nova Sociedade, em São Petersburgo.

Voltando ao nosso país, continuamos a nos encontrar e a ler a Lição Bíblica juntos. Convidamos nossos amigos, que convidaram os amigos deles. Uma vez ou outra alguém preparava uma seleção de trechos da Bíblia e dos escritos da Sra. Eddy, sobre algum tema, e fazíamos uma reunião extra durante a semana. Um dos membros fundadores comentou que, na opinião dela, o grupo foi promovido a igreja quando um dos presentes, espontaneamente, contou uma cura durante uma dessas reuniões.

Sentimos a necessidade de um espaço maior e um dos membros ofereceu sua moradia: dois aposentos em um apartamento onde também moravam outras famílias. Essa foi nossa sede por quase quatro anos; foi um período de maturação. Quando nos mudamos para um local público, em 1994, nós já realizávamos cultos dominicais, reuniões de testemunhos às quartas-feiras, e tínhamos uma Escola Dominical. Finalmente, em 1996, A Igreja Mãe reconheceu nosso grupo como Sociedade da Christian Science.


1901 Leo Tolstoy acusa recebimento do exemplar de Ciência e Saúde, que a Sra. Eddy lhe enviara.

1907 Lillie Wallich chega a São Petersburgo.

1910 Bicknell Young profere uma conferência da Christian Science na sala da casa da Sra. Wallich.

1911 A Sala de Leitura fica aberta diariamente das 16 às 18 horas.

25 de out. de 1917 Revolução bolchevique

29 de out. de 1917 - O grupo solicita ser reconhecido como Sociedade da Christian Science.

31 de out. de 1918 A Sociedade se dissolve

Abril de 1923 Nova lei exige que os grupos religiosos tenham 50 membros.

1924 - Falecimento de Lenin. Stalin assume o poder.

1924 A Igreja Mãe novamente reconhece a Sociedade de Leningrado.

5 de abril de 1925 A Sociedade abre uma Escola Dominical.

20 de nov. de 1925 Uma Cientista Cristã cede seu apartamento para que nele se realizem cultos.

24 de julho de 1926 As autoridades informam a Sociedade de que religião só se pode ensinar em casa.

1927 Pequenos grupos estudam a Christian Science em Moscou, Kiev e Vladivostock.

26 de março de 1928 As autoridades fecham a Sociedade, mas muitos continuam a reunir-se informalmente.

1° de nov. de 1928 O governo confisca todo o patrimônio da Sociedade.

2 de nov. de 1928 A Sociedade entra com recurso contra o confisco.

13 de fev. de 1929 Olga Barteneva notifica as autoridades de que a Sociedade da Christian Science ainda existe e busca um local.

28 de março de 1929 A Sociedade da Christian Science é forçada a fechar.

30 de out. de 1930 Olga Barteneva é capturada e enviada à Sibéria. acusada de espionagem.

20 de dez. de 1940 Olga Barteneva é mandada ao exilio dentro do território nacional na Bashkiria.

15 de dez. de 1956 Olga Barteneva é reabilitada e regressa a Leningrado.

1961 Publica-se a tradução russa de Ciência e Saúde.

1990 Inicia-se a irradiação do O Arauto da Christian Science em russo, por ondas curtas.

1996 A igreja mãe reconhece a Sociedade em São Petersbourgo.

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Mais nesta edição / novembro de 1998

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