Por mais de um ano eu gozara da paz e solitude de minha casa pequena e isolada. No meio de uma noite, porém, acordei com os latidos dos cães e vi uma figura mal-encarada na entrada de carro, a poucos metros da janela de meu quarto. Dominada pelo pânico, agachei-me no assoalho, no escuro, e disquei para a polícia, enquanto a pessoa batia na porta da frente. Descobri que era uma mulher desorientada, assustada e desordeira, a quem a polícia levou.
O filho de Deus não pode estar separado da substância do bem, da infinita bondade e amor de Deus.
Eu sabia que um indivíduo agitado, amedrontado, ameaçador, não era a descrição autêntica de um filho de Deus, porque a Bíblia nos diz que o homem é a imagem de Deus, puro e perfeito. Não obstante, eu ainda sentia medo de que essa mulher voltasse, ou que alguém mais viesse me assustar. Continuei a sentir-me nervosa e intranqüila à noite e nas caminhadas com meus cachorros. Sentia-me encurralada e desprotegida. Eu precisava recuperar a segurança e o domínio que sentia antes desse incidente.
Duas semanas mais tarde, ao anoitecer, passeando com os cachorros, comecei a me questionar: "De que realmente tens medo?" Logo ouvi a resposta: "Tenho medo de perder ..." Parei imediatamente. Esse pensamento me surpreendeu, pois sou pessoa de poucas posses, mas era tão claro, que eu não podia duvidar dele.
A história bíblica de Jó veio-me à mente. Ele tinha muitas posses e uma família grande. Fazia rituais diários para proteger seus dez filhos. Quando perdeu tudo e adoeceu gravemente, ele disse: "Aquilo que temo me sobrevém, e o que receio me acontece." Jó 3:25. Depois, quando Jó reconheceu a Deus como o único poder e único Criador, e quando amou os outros como a si mesmo (os dois grandes mandamentos que Cristo Jesus nos recomendou), livrou-se da doença e foi ainda mais abençoado do que antes.
A idéia de posse implica, logicamente, um "eu" separado de Deus. Sugere que eu esteja com medo de perder meu emprego, meu cônjuge, meu lar, minha vida, ou de pegar a doença de outra pessoa, ser envolvida no problema do outro, ser a vítima da raiva dos outros. Em realidade, nada temos, exceto aquilo que nos é dado por Deus. No livro-texto da Christian Science, Ciência e Saúde, de Mary Baker Eddy, parte da descrição de homem afirma: "Ele é a idéia composta que expressa Deus e inclui todas as idéias corretas;. .. é aquilo que não tem mente separada de Deus; aquilo que não tem uma só qualidade que não derive da Divindade; aquilo que não possui vida, inteligência, nem poder criador próprios, mas reflete espiritualmente tudo o que pertence a seu Criador." Ciência e Saúde, p. 475.
O filho de Deus não pode estar separado da substância do bem, da infinita bondade e amor de Deus. A substância espiritual não pode ser limitada por formas materiais nem pode se perder na mortalidade. Por reflexo, temos toda a bondade de Deus, eternamente. Há suprimento ilimitado para todos, exatamente como os raios do sol, a chuva e o ar são dados a todos, imparcialmente. Em verdade, o homem não é uma entidade material, vulnerável, separada de Deus. Ninguém pode tomar de nós o que nos pertence como filhos de Deus.
A Mente nunca teme perder suas idéias, porque é sua criadora e sua substância e, por isso, nunca pode estar separada delas. Sendo reflexo dessa Mente, como pode o homem sofrer perda ou invasão, ou mesmo reivindicar posses pessoais? Ele só pode ter o bem ilimitado que vem de Deus.
Essas verdades espirituais trouxeram-me uma imediata sensação de liberdade, senti-me livre do medo de perder e livre para reivindicar o acesso a Deus, com todas as outras pessoas. Com a renovação do senso de segurança e domínio, com bases em uma compreensão mais profunda da substância divina, percebi que todo o medo desaparecera. Passei a desfrutar os meus passeios e a dormir toda a noite em perfeita paz. E eu achava que não era possessiva! Mas quão grata eu fiquei por aprender essa lição e obter um sentido mais verdadeiro de segurança e de posse.
Todos podemos progredir, nas palavras de Paulo "nada tendo, mas possuindo tudo". 2 Cor. 6:10. Realmente, adquirimos domínio sobre o medo de perder, à medida que reconhecemos a segurança da nossa relação com Deus.
 
    
