A igreja em granito, semelhante a uma fortaleza, fica bem no alto, perto da saída de uma estrada a oeste de Boston. Quem passa por ali pode ver uma placa enorme afixada à fachada do prédio, com os dizeres “Vendo ou Alugo”, seguidos de um número de telefone. Deve ter sido uma igreja próspera, com uma grande e fervorosa congregação. Hoje, não passa de um edifício vazio, ostentando apenas o anúncio da imobiliária, o que nos faz lembrar que a freqüência das igrejas em vários países está em franco declínio.
Muitos gostariam que surgisse um Apóstolo Paulo contemporâneo, para estabelecer o curso da Igreja no mundo pós-moderno, como fez Paulo no tempo do cristianismo primitivo. Um mundo que está “muito entusiasmado em relação a Deus” mas “pouco entusiasmado em relação a Igreja”, segundo o sociólogo Leonard Sweet. Um mundo que demonstra grande interesse pela espiritualidade, mas nenhum interesse nas instituições. Um mundo que foi palco de grandes revoluções tecnológicas, abalado pela violência e pelo terrorismo, que procura desesperadamente um sistema de valores que proporcione um apoio para uma sociedade que está em constante mutação.
Se alguém como Paulo fosse escrever uma carta às igrejas de hoje, no estilo daquelas que o apóstolo escreveu há 2000 anos, o que será que essa pessoa escreveria? Talvez esse novo apóstolo mandasse uma mensagem pelo computador para as igrejas em todo o mundo, dizendo mais ou menos o seguinte:
“Irmãos: Estou lhes escrevendo no espírito da paz, verdade e do amor. Saibam que estou orando por vocês. Sei como vocês têm-se empenhado para manter suas igrejas funcionando. Gasta-se muito com a manutenção de uma igreja. E é difícil conseguir novos membros. A religião parece não ser mais uma prioridade, como antigamente.
Mas vou lhes dizer uma coisa. As pessoas estão buscando algo. Elas estão em busca de ajuda e de verdade. Porque, falando francamente, muitas delas estão com medo. Elas já estavam com medo antes dos ataques terroristas de 11 de setembro. Elas estão preocupadas com questões como a instabilidade no emprego, problemas familiares, o aumento das despesas, o vício das drogas e a violência nas escolas.
E aí é que está a armadilha: As pessoas que estão em busca de algo no qual possam se apoiar, algo essencialmente espiritual, não pensam necessariamente que podem encontrar o que procuram em uma igreja. Muitas delas preferem procurar a solução para seus problemas em livrarias, na Internet ou em grupos de discussão informais, em vez de se envolver com o que elas acham que a igreja possa significar.
Além disso, a vida dessas pessoas já está bastante cheia: trabalhar quatorze horas por dia, levar as crianças para a aula de natação, desenvolver uma atividade adicional nos finais de semana, entre outras coisas. Elas estão buscando a espiritualidade com pressa.
Eu acho que essas pessoas vão ter uma grande surpresa quando souberem que a Igreja, a verdadeira Igreja, pode atender às necessidades que elas têm. E pode satisfazer a seus anseios. A Igreja iniciada por Jesus era flexível. Não ficava em um edifício nem em um lugar específico. Não era composta de um grande ou pequeno número de pessoas. Ela estava onde Jesus estava, onde ele pudesse consolar as pessoas, aliviando e curando seus males.
Em realidade, a Igreja é uma idélia, uma idéia espiritual. Ela é suficientemente flexível para alcançar as necessidades de todas as pessoas, pois ela se origina no Amor divino. Portanto, a Igreja verdadeira assume as mais variadas formas. Pode se constituir em uma comunhão individual com Deus em nosso coração, uma conversa sobre espiritualidade com um amigo lanchonete, um contato virtual com uma comunidade religiosa na Internet, o exercício do ministério na rua ao falar com viciados em craque, e até o consolo que possamos oferecer aos que estejam envolvidos nos trabalhos de resgate após um ataque terrorista. Também pode ser algo mais convencional, como a participação em um serviço religioso público num templo, mesquita, catedral ou numa igreja do nosso bairro.
Então, talvez o mais importante agora, irmãos, seja trazer cada vez mais essa verdadeira Igreja flexível para a comunidade da fé. Como? No meu entender, tudo começa com uma pessoa: uma pessoa que esteja buscando humildemente a verdade, que tenha o desejo de ajudar a outros que também estejam nessa busca. Uma pessoa, qualquer pessoa, que esteja humildemente buscando a espiritualidade e que saiba que irá compreender a Deus melhor ao ajudar a outros. Alguém que reconheça que, como Deus é Amor, a própria salvação de cada um consiste em volver-se para as outras pessoas e ir ao encontro do impulso espiritual delas, independentemente de essas pessoas fazerem parte ou não de uma comunidade religiosa. Podem ser cristãos, judeus, muçulmanos, budistas, hinduístas ou ateístas assumidos.
A verdade é que, quando há uma única pessoa que esteja, humilde e entusiasticamente, em busca da verdade dessa forma, alguma coisa acontece. Os outros começam a perceber isso. Eles se identificam com essa busca. E sentem uma força espiritual ao se unirem com esse pioneiro em um serviço religioso, para orar e servir aos outros. Essas pessoas têm maior consciência da presença curativa de Deus e do amor de Seu mensageiro, o Cristo. É como Jesus disse a seus discípulos: ‘Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles’ (Mateus 18:20).
E o amor que está no coração dessas pessoas que procuram a verdade adquire impulso e começa a irradiar-se, envolvendo a família, os amigos, os vizinhos e a própria humanidade numa nova luz. Esse amor transforma a todos para sempre.”
Tudo começa com uma só pessoa. Foi assim que aconteceu com Jesus. Foi assim que aconteceu com muitos outros em todo o mundo, do Apóstolo Paulo até os dias de hoje.
E foi assim também que aconteceu com Mary Baker Eddy. Ela foi a pessoa que dedicou sua “luz e vida” a todos aqueles que, como ela diz em seu livro Ciência e Saúde, “honestamente procuram a Verdade” (xii: 25). Esse livro também traz uma definição diferente de Igreja, para todas as épocas: “A estrutura da Verdade e do Amor; tudo o que assenta no Princípio divino e dele procede” (p. 583:14). Essa Igreja não está limitada a edifícios, organizações nem ao tempo. Ela une pessoas de todos os lugares, que desejam participar da força espiritual universal, que é a verdadeira Igreja.
Essa Igreja jamais terá em sua fuchada uma placa de venda.
