Apaixonei-me quando tinha treze anos. Não por um garoto (isso só viria a acontecer alguns anos mais tarde), mas por uma causa. Eu não estava procurando especificamente um ideal com o qual quisesse me comprometer. Era feliz em casa e na escola. Mas, durante um período de férias escolares, trabalhei como voluntária numa creche para filhos de trabalhadores imigrantes. Os pais eram mexicanos, que trabalhavam nas colheitas dos campos que ficavam ao redor de nossa cidade na Califórnia, Estados Unidos. Os filhos eram as crianças que não tinham idade para ajudar na colheita, e que ficavam aos cuidados da igreja da comunidade.
Não havia nada de atraente nesse trabalho. Ele consistia principalmente em trocar inúmeras fraldas, entre brincadeiras e abraços, e servir arroz, feijão e gelatina às crianças. Mas eu simplesmente amava o que eu fazia. E esse acabou se tornando o primeiro de muitos trabalhos voluntários, que me trouxeram muita satisfação, em favor de diversas causas sociais.
Uma das descobertas mais importantes e maravilhosas que fazemos na vida é a de que a devoção a um ideal altruísta traz satisfação. As sufragistas americanas Elizabeth Cady Stanton e Susan B. Anthony dedicaram-se durante meio século à causa dos direitos das mulheres. A Sra. Stanton realizou seu trabalho a princípio em casa, enquanto cuidava de uma família numerosa. A Srta. Anthony viajou incansavelmente pelo seu país dando conferências. Num tributo àquela que foi sua amiga durante muitos anos, a Sra. Stanton comentou que a vida da Srta. Anthony ilustrava a satisfação que sentem aqueles que se comprometem em “viver por um princípio, pelo triunfo de alguma reforma que possa elevar a toda a humanidade...”
Devotar a vida a um princípio, traz-nos felicidade quando nos torna altruístas. A infelicidade, com efeito, tem suas raízes no egoísmo. Não necessariamente no egoísmo óbvio, de querer ficar com todos os brinquedos, mas no erro fundamental de pensar que somos seres independentes, com o único objetivo de alcançar nosso bem-estar pessoal e defendê-lo. Num sentido mais profundo, ser altruísta implica parar de acreditar que estejamos isolados.
Somos maravilhosamente diferentes uns dos outros, e temos características muito particulares, mas não estamos isolados. Uma verdade básica que observamos nos ensinamentos e nas obras de cura de Jesus é a de que cada um de nós, em realidade, é uma identidade espiritual totalmente boa, que está permanentemente unida ao único Amor todoabrangente, Deus. Ele orou pelos seus seguidores: “...que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós...” (João 17:21).
A prática do amor abnegado ajuda-nos a sentir, cada vez mais, que estamos unidos a Deus. As grandes tradições religiosas indicam que a oração e a comunhão com o Espírito, associadas à disposição de servir aos outros, constituem o melhor cominho para a elevação de nós mesmos e de toda a humanidade. A Fundadora da Christian Science, Mary Baker Eddy, escreve: “A oração que reforma o pecador e cura o doente é uma fé absoluta em que tudo é possível a Deus — uma compreensão espiritual acerca dEle, um amor abnegado. Indiferente ao que outros possam dizer ou pensar a esse respeito, falo por experiência. A oração, a vigilância e o trabalho, combinados com a imolação de si próprio, são os misericordiosos meios divinos pelos quais se realizou tudo quanto foi feito com êxito para a cristianização e a saúde do gênero humano” (Ciência e Saúde, p. 1).
Muitos reformadores perceberam que o comprometimento constante com uma causa, só é possível quando eles reconhecem que Deus opera neles e por meio deles. A Sra. Eddy, que foi contemporânea da Sra. Stanton e da Srta. Anthony, dedicou-se a dar prosseguimento às reformas de Jesus, alertando as pessoas para o fato de que o reino dos céus, a perfeição espiritual, encontra-se aqui mesmo. Sua obra monumental mostrou que o poder do Cristo para curar a doença é o resultado de uma Ciência divina, que pode ser demonstrada. Mas a missão da Sra. Eddy, ao seguir o próprio exemplo de Jesus, ultrapassou até mesmo o desejo compassivo de aliviar o sofrimento. Ela consistiu em glorificar a Deus, provando que Ele não admite o pecado ou a doença, qualquer que seja sua forma. Jesus provou que o mal é, na verdade, uma ilusão sem substância, que é destruída pela compreensão da totalidade de Deus. Promover o triunfo dessa reforma no pensamento humano é, sem dúvida, um princípio pelo qual vale a pena viver.
