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O capítulo 12 do Apocalipse se refere a cada um de nós

Da edição de janeiro de 2003 dO Arauto da Ciência Cristã


uma história bíblica que me ajuda muito sempre que tenho a impressão de que minha individualidade ou inspiração está sendo ameaçada. O capítulo 12 do livro do Apocalipse descreve uma mulher que está para dar à luz quando um enorme dragão vermelho, com sete cabeças e dez chifres, aparece para devorar a criança. Mas o filho dela é "arrebatado para Deus" e a mulher foge para um lugar seguro no deserto, onde cuidam dela durante três anos e meio.

A história continua com a narração de uma grande batalha no céu contra o dragão. O anjo Miguel e seus anjos combatem, e o dragão é expulso do céu. O único problema é que, embora o poder do dragão de se opor a Deus e Seus anjos tenha sido anulado para sempre, o dragão ainda importuna a mulher. Ela então recebe as asas de uma águia para retornar ao seu lugar seguro no deserto, mas o dragão envia uma grande quantidade de água para afogar a mulher. O relato bíblico continua, assegurando-nos que a terra engole a água. Mas o dragão se enfurece e continua a guerrear contra a mulher e seus filhos, que são descritos como aqueles que guardam os mandamentos de Deus e os que têm o testemunho de Jesus Cristo. A história termina com a insinuação de que o dragão continuará a enfraquecer as futuras gerações dos que acreditam em Deus.

Como pode uma história como essa, com um fim tão agourento, infundir-nos esperança? Bem, se pensarmos que a mulher representa cada um de nós e encararmos o filho dela como sendo o propósito de nossa vida, essa narrativa pode nos fazer perceber os recursos que temos para defender a razão de nossa existência. Em certas ocasiões, quando o ataque parece mais intenso, Deus nos concede um lugar seguro no deserto. Nós somos alimentados nesse deserto pelo Amor divino. No meio da batalha, podemos reivindicar a paz resultante de nossa união com Deus. Podemos confiar em que as mensagens espirituais, ou os "anjos" que Ele manda para nos defender, estão encarregadas de derrotar o dragão.

A tentativa de destruir nossos esforços para progredir é uma tentativa do mal de se opor a Deus.

Mesmo que a oposição ao nosso progresso espiritual insista em se manifestar de inúmeras formas, o mal não tem autoridade sobre nós, porque não consegue opor resistência ao poder de Deus, o qual nos protege. Os anjos nos mostram que a providência divina é precisa e tangível. Por fim compreenderemos que a oposição ao nosso progresso espiritual não é dirigida contra nós como pessoas. O que nos parece ser uma tentativa de destruir nossos melhores esforços para progredir é, em realidade, uma tentativa do mal, ou de Satanás, de se opor a Deus. Não ficaríamos temerosos de um ataque contra Deus, porque sabemos que Deus não pode ser destruído. Assim, o mal se apresenta de uma forma que faz com que pareça que há um ataque de qualquer natureza contra nós.

Eu passei por uma experiência que me fez compreender o significado desse relato bíblico. Durante meus primeiros dez anos no ministério da cura pela Christian Science, após eu ter começado a anunciar publicamente que ajudaria as pessoas a curarem seus problemas através da oração, o único lugar que eu tinha para trabalhar era metade de uma mesa que ficava num cantinho do meu quarto, e um quartinho onde eu conseguia falar reservadamente ao telefone. Naquela época, a maior parte da minha atividade consistia em contatos pelo telefone, com eventuais visitas às casas das pessoas. Se alguém quisesse vir à minha casa, eu precisava atender a pessoa na sala de visitas, sem nenhuma privacidade. Eu gostava tanto dessa atividade que nem havia notado que precisava de um local mais adequado para exercê-la.

Algum tempo depois, quando eu e meu marido conseguimos comprar uma casa com um cômodo que seria apenas meu escritório, isso até pareceu exagero. Era um belo aposento, que apanhava o sol da manhã e da tarde. Da janela eu conseguia ver os canteiros de rosas, bem como a plantação de framboesas e de hortaliças de meu marido. O melhor de tudo, porém, era que quando meus dois filhos estavam lá fora brincando, podiam ouvir quando eu os chamava. Eu adorava ouvir meu filho menor falando sozinho enquanto brincava na caixa de areia. Era um local inspirativo, onde eu sentia apoio para as orações que fazia em favor de outros, e onde comemorava as vitórias, aqueles momentos maravilhosos em que o paciente telefonava e dizia que estava sentindo um grande bem-estar, ou que havia se livrado da dor ou de alguma doença.

Certo dia, porém, algo muito estranho aconteceu. Uma das coisas que eu mais gostava de fazer pela manhã era ir ao meu escritório bem cedo, antes de as crianças levantarem, e ficar algum tempo sozinha orando e estudando. No entanto, nessa manhã especialmente, eu notei que não conseguia me sentar à mesa de trabalho. Eu me sentia muito agitada e inquieta. Finalmente, fui para a sala para orar.

Mais tarde, naquele dia, consegui trabalhar tranqüilamente em meu escritório. Porém, na manhã seguinte, aconteceu a mesma coisa. Dessa vez, quando o telefone começou a tocar, e eu sabia que deveria ser alguém pedindo ajuda, não consegui atender a ligação no meu escritório. Eu percebi que havia adquirido um tipo de medo irracional e, por isso, não conseguia ficar no meu escritório.

A princípio, tentei ignorar o medo trabalhando em vários lugares da casa. Mas essa sensação desagradável não me abandonava. Eu ia da sala para a cozinha, depois para a varanda, voltando para o quarto. Com a ajuda de um telefone sem fio, eu conseguia continuar atendendo os chamados, mas não estava resolvendo o problema.

Três meses depois eu já estava tão apavorada que não queria que meu marido e as crianças saíssem para ir à escola. Eu não conseguia falar com eles sobre o problema. Eu procurava manter uma fisionomia alegre, para que minha família não percebesse. Eu acho que pensava que, se eu conseguisse enganá-los, de algum modo eu conseguiria me enganar também, e resolver o problema. Eu sentia receio de estar com um quadro grave de doença mental. Fiquei desesperada.

Pela primeira vez pude perceber que a angústia era uma sensação que se contrapunha ao meu ser verdadeiro, e que procurava impedir uma maior dedicação a Deus.

Certo dia, eu me lembro de estar perambulando sozinha pela casa, sem saber em que aposento ficar. E os telefonemas recebidos estavam se acumulando na secretária eletrônica. Em profundo desespero, pedi que Deus me orientasse sobre o que fazer. Dessa vez, minha oração foi diferente. Ela incluía humildade. Eu desejava muito resolver o problema definitivamente, não apenas remediar a situação.

A mensagem que eu recebi de Deus veio na forma de uma pergunta: "Você conseguiria ficar no escritório se não tivesse de sentar-se à mesa de trabalho?" Isso significava sentar junto à janela que dava para o jardim. Pensei então em como era bom ver as plantas e ouvir as crianças. Senti-me tranqüila ao me apoiar no peitoril da janela, de costas para o resto do aposento. O vidro gelado do inverno parecia curiosamente restaurador. Fiquei apreciando com prazer a beleza das sempre-vivas cobertas de neve.

O sol havia derretido um pouco do gelo. Um bando de pardais se banhava na poça d'água que se havia formado em cima da tampa da caixa de areia do meu filho. Parecia que eles estavam comemorando a promessa de dias mais quentes.

Então, notei que um dos passarinhos não participava da brincadeira. Ele estava ao lado da poça, tremendo. Parecia que não queria se molhar, porque se virava toda vez que a água espirrava.

Porém, quando o bando de pardais foi embora, esse passarinho ficou ali. Ele, que estava agachado, levantou-se, alisou as penas com o bico e caminhou firmemente para a água, indo parar no meio da poça. Quando estava mergulhado até o pescoço, jogou a cabeça para trás e cantou.

Essa cena enterneceu meu coração. Fez com que eu percebesse que podia ter a coragem de enfrentar aquela escuridão mental que estava ameaçando minhas orações para outras pessoas. Eu poderia, como havia feito o pardal, caminhar firmemente em direção ao meu objetivo, e cantar.

Pela primeira vez, pude perceber que a angústia era uma sensação que se contrapunha ao meu ser verdadeiro, e que procurava impedir uma maior dedicação a Deus. Perguntei a mim mesma: "Será que eu sou uma ou duas pessoas?" Será que eu sou uma pessoa comprometida a usar meus talentos para a glória de Deus e para que a humanidade O compreenda melhor, e, ao mesmo tempo, uma segunda pessoa, encolhida de medo diante das limitações de uma mente humana que duvida da própria capacidade de realizar Sua obra?

Na verdade, a Bíblia está cheia de histórias de pessoas que se comprometeram a servir a Deus, e tiveram dúvidas sobre se conseguiriam fazer esse trabalho. Isso aconteceu com Moisés, Elias, Jonas. Até mesmo Jesus perguntou, durante aquela noite no Getsêmani, se a experiência da cruz poderia ser evitada. Cada um desses personagens bíblicos teve de aprender que, apenas através do fortalecimento espiritual, não por meio do talento pessoal, é que a obra de Deus poderia ser realizada com êxito.

A sensação de tranqüilidade que tive ao ler o capítulo 12 do Apocalipse veio da compreensão de que nós não somos a origem da oposição contra os nossos talentos. No Glossário de Ciência e Saúde, a definição do termo Dragão Vermelho inclui todos os piores instintos da mente carnal: "O erro; medo; inflamação; sensualidade; astúcia; magnetismo animal; inveja; vingança" (p. 593). Pode ser apavorante perceber esses sentimentos degradantes nascendo dentro de nós, como se fizessem parte do nosso próprio pensamento, especialmente quando eles se repetem e nos fazem pensar que somente cedendo às suas exigências é que eles deixarão de nos incomodar.

Defender nosso lugar exclusivo no universo significa defender nossa condição de harmonia com o Deus que nos concede talentos, nos oferece as oportunidades para utilizá-los, e é o responsável pelo resultado do nosso trabalho. A utilização dos talentos que Deus nos dá diminui a preocupação com nosso próprio ego, nossa capacidade mental e nossa própria vontade, fazendo com que humildemente respeitemos o impulso divino e a suprema satisfação de Sua criação por parte de Deus.

A oposição ao trabalho de uma pessoa pode parecer opressiva, mas a promessa contida no capítulo 12 do Apocalipse revela a natureza ilusória do mal.

Provavelmente foi o toque do telefone que me tirou da cadeira perto da janela naquela manhã, e fez com que eu me sentasse à mesa de trabalho. Nunca mais voltei a sentir os efeitos da fobia. Desde essa ocasião, há 16 anos, mudei meu escritório várias vezes. Atualmente estou em um local público, na cidade, e isso me agrada muito. Pessoas com as mais diversas experiências de vida procuram-me, para que eu as ajude a resolver seus problemas por meio da oração. Muitas vezes, precisei lembrar-me de que os anjos da história do dragão venceram a batalha do bem sobre o mal. Mas, toda vez que me sinto tentada a acreditar que há um dragão como que enviando uma grande quantidade de água para me afogar, eu imagino que essa é a repetição daquela velha história, ou seja, uma influência má tentando me deixar preocupada com uma falsa identidade que é vulnerável, inútil e está separada de Deus.

A oposição ao trabalho de uma pessoa pode, às vezes, parecer opressiva, mas a promessa contida no capítulo 12 do Apocalipse revela a natureza ilusória do mal. Não importa quão persistente seja a perturbação. "Nenhum poder pode resistir ao Amor divino", escreve Mary Baker Eddy (Ciência e Saúde, p. 224). Assim como o dragão não tem autoridade sobre Deus, ele não tem autoridade sobre o filho de Deus.

A boa nova que o Evangelho nos traz é que nossa individualidade espiritual é defendida e está sempre protegida pelo Cristo, assegurando-nos que nossa verdadeira substância está em perfeita harmonia com o trabalho que Deus designou para que fosse feito por nós.

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